quarta-feira, 7 de março de 2012

Reunião do COPOM reabre a mesa de apostas

Em minha opinião, 1% de redução na Selic.
Para analistas do mercado, redução oscilando de 0,5 a 0,75%, com essa última ganhando maior força, especialmente após o anúncio - pífio- do crescimento do PIB em 2011.
Um esclarecimento necessário: ao taxar de pífio o crescimento da produção brasileira no ano de 2011, não o fazemos baseado em uma crítica ligeira, fundada apenas na comparação da taxa alcançada de 2,7% com o crescimento apresentado no ano de 2010, de  7,5%. 
Também não estamos  nos referindo apenas a uma possível comparação com a taxa média de crescimento do PIB no segundo mandato do presidente Lula, ou nos mandatos anteriores ao da presidenta Dilma.
Conforme estudos, com ênfase para estudo realizado pelo professor Ricardo Carneiro, da UFRJ, a taxa média do governo Lula, nos dois anos de mandato alcançou a 4%, divididos em 3,5 nos primeiros quatro anos e 4,5 nos quatro anos seguintes, até 2010.
Anteriormente, FHC havia obtido taxas médias de crescimento de 2,6 e 2,1, consideradas aquém das possibilidades da economia brasileira.
Claro que, a cada período alteram-se as condições econômicas objetivas que influenciam o comportamento de nosso sistema produtivo,  tendo em conta tanto o cenário nacional (o governo FHC estava em pleno processo de estabilização da economia e implantação do Plano Real, por exemplo), quanto o cenário internacional (se Lula enfrentou um período de elevada liquidez e estabilidade e crescimento na economia internacional, esse panorama se reverte agudamente a partir da crise de 2007/2008).
Nesse sentido, não é possível julgar o resultado obtido pelo governo da presidenta Dilma, em seu primeiro ano, sem levar em consideração alguns fatos que marcaram a economia e as relações internacionais.
E, dentro das condições enfrentadas pela economia mundial durante o ano de 2011, principalmente nos  países do bloco mais rico, em consequência ainda dos reflexos da crise financeira e econômica de 2008/2009, não há como admitir que o país teve um resultado razoável. E que esperar-se mais, era aquilo que a literatura econômica costuma denominar "wishful thinking".
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Pois bem, minha crítica pretende-se de caráter não tão simplista.
E nossa argumentação exige que retornemos ao início do ano, quando já aqui nesse blog, criticávamos a política de combate à inflação implementada pelo governo Dilma, recém-empossado.
Justiça seja feita, depois de certo descontrole nos gastos de fim do governo Lula, principalmente por força das eleições, o próprio presidente do BC de então, Henrique Meireles deu início ao processo de elevação da taxa Selic.
Mas, empossado o governo Dilma, e pressionado pelos abutres travestidos de analistas do mercado (financeiro), o presidente Tombini em conjunto com a diretoria da Autoridade Monetária passou todo o primeiro semestre de 2011, patrocinando elevações da taxa de juros nas reuniões do COPOM.
A alegação era da necessidade de se elevar a taxa básica de juros como forma de se desacelerar a demanda agregada, então considerada responsável pela elevação das taxas de inflação e pelo seu comportamento centrifugo, em relação à meta de inflação prevista pelo governo.
Embora houvesse inegavelmente um movimento ascendente de preços, sempre argumentamos aqui que esse era um fenômeno mundial; que vários outros países também estavam enfrentando movimentos semelhantes devidos ao aumento de preços de alimentos e de commodities; que a inflação era importada e que, dessa forma, não havia como medidas destinadas a reduzirem a demanda interna conseguir êxito.
O impacto das elevações de juros só funcionariam, pelo fato de as taxas elevadas atraírem para nosso país recursos externos em volumes gigantescos, provocando a valorização do real e aumento de importações. Essas, embora mais caras na origem, acabavam se tornando artificialmente mais baratas, graças ao câmbio.
Por outro lado, há que se admitir também que se não se arrefecesse a demanda interna, a inflação importada teria espaço para se manter no mínimo estável.
De minha parte, o que eu afirmava era que, se outros países aceitavam um patamar maior de inflação, também nós deveríamos estar aptos a aceitar essa realidade, não sacrificando um crescimento que mal começávamos a fazer deslanchar.
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Bem, a demanda agregada cedeu, face aos juros e às medidas de caráter prudencial adotadas em boa hora pelo BC, e que funcionaram na mesma direção.
E aí sobreveio a crise, ou chegaram com força os respingos das medidas adotadas pelos governos dos países mais desenvolvidos para evitarem um colapso dois anos antes.
Injetando recursos nos sistemas financeiros, a título de resgatá-los da bancarrota, reduzindo impostos e criando mecanismos de troca de títulos em condições favoráveis, para limpar o balanço dos bancos do lixo tóxico neles contido, os governos elevaram seus níveis de endividamento.
Se o sistema financeiro foi resgatado, entretanto, a economia real não respondeu como esperado e a recessão surgiu e reduziu a carga de receita dos governos, tornando explosiva a gestão da dívida pública dos países ricos.
Para conterem suas dívidas, os governos fizeram cortes de gastos, o que apenas serviu para aprofundar a redução da demanda agregada e a recessão. O quadro foi se deteriorando e se agravando...
Foi quando o BC em nosso país resolveu passar a promover cortes de juros, tentando reestimular a economia, e aceitando conviver com uma taxa de inflação que rompia o programa de metas.
Em minha opinião, se não havia necessidade de se elevar a taxa, qualquer corte já viria em atraso.
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Mais interessante, porém, é que a demanda interna estava contida, e a demanda externa também, seja como consequência da própria crise e recessão, seja pela questão de nosso câmbio. Tudo contribuindo para reduzir nossa competitividade e fazendo o setor externo trabalhar contra o crescimento do PIB.
Nessa condição, o crescimento de 2,7 pode ser considerado bom. Para mim, a história poderia ter tido outro rumo, fosse outro o encaminhamento original.
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Agora, nossa presidenta critica o uso de política monetária expansionista nos países desenvolvidos, não acompanhadas de política fiscal que gerem sustentação da demanda agregada. A economia desses países não reage, e a liquidez injetada, para não ficar empossada, toma o rumo de nosso país, por culpa da atração dos juros altos.
Mas, e aqui no nosso país, onde a política fiscal também privilegia o corte de despesas públicas, o contingenciamento do crédito, a geração de superávits primários, em detrimento da manutenção da despesa pública?
Não terá esse comportamento influenciado a reduzida taxa de crescimento?
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Ora, a política fiscal não tem mudanças previstas no horizonte. Continuamos fazendo economia, e agora corretamente até tentando reduzir o pagamento de despesas de juros, alegadamente para obter recursos para alavancar nossa capacidade de investimento público.
Tal investimento, que todos reconhecem necessário, parece não estar programado para decolar de forma definitiva nesse ano, ao menos no primeiro semestre.
Resta pois, fazermos aqui, o que criticamos nos outros. Politica fiscal restrita e monetária frouxa. O que significa que, para crescermos os 4% a 5% desejados, os juros devem tomar um tranco.
1% de redução na Selic agora, não seia nada extravagante.

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