Não é pouco o esforço de se tentar manter estável o nível de emprego alcançado em nosso país. Nível de emprego que começa a dar sinais cada vez mais evidentes de que pode começar a declinar, seja por força da queda da demanda internacional das commodities brasileiras, seja por força dos pátios lotados dos estoques das montadoras de veículos.
É nesse quadro de ameaças ao nível de emprego, propício por exemplo a boatos de que uma grande montadora como a Fiat já pensa em concessão de férias coletivas, ou da demissão de grande contingente de pessoas pela Vale, que o governo resolveu adotar, em minha opinião como recurso até de algum desespero ou urgência, as medidas da última segunda feira.
Medidas duramente criticadas por tantos quantos acompanham e analisam a economia brasileira, prós ou contrários ao governo.
Como é exemplo o editorial da Folha do dia de ontem que, embora elogiando a medida de corte de IPI para as empresas do acordo automotivo, como medida de efeitos e retorno rápido, cobrava do ministro Mantega mais criatividade, já que as medidas relacionadas a redução de impostos para permitir a redução de preços dos automóveis e aumento do crédito já estariam alcançando o limite de seus resultados.
Na visão do editorialista, se é verdade que a indústria de automóveis e o setor automotivo e sua cadeia produtiva, agora estimulados, geram 20% do PIB, por outro lado há que se considerar que, as medidas ainda eram tímidas e que apenas, vou grifar pela repetição apenas tinham impactos imediatos no nível de emprego.
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Ora, pensando bem, se as medidas, mesmo que insuficientes tiverem o efeito de manter estável o emprego, isso não será um resultado apenas, mas um excelente resultado, em momento que a economia brasileira dá evidentes sinais de estar em desaceleração, com quedas em suas taxas de crescimento.
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Argumenta-se que as medidas são como dizem nossos hermanos argentinos "más de lo mismo". E que, mais uma vez, o governo preocupa-se em estimular a demanda de consumo, em especial de bens duráveis como automóveis, o que pode trazer benefícios imediatos para o nível de consumo, demanda agregada, produção, emprego e renda, de curto folêgo.
Argumentam alguns críticos que mesmo esse objetivo do governo pode estar equivocado, em especial por estar sendo todo fundado em um tipo de financiamento que é sempre um fator de risco: o crédito, o endividamento familiar, já bastante elevado desde a crise que teve início em 2008.
Alega-se que, dada a expansão do crédito, as famílias já atingiram o limite de seu nível de endividamento, talvez até indo além do nível considerado de segurança, razão que explica o recente movimento ascendente do nível de inadimplência.
Ainda hoje, jornais e comentaristas estampam a sua preocupação de que de 2008 até nossos dias, a política de liberalização creditícia permitiu que as famílias se endividassem sem que os salários crescessem na mesma proporção, o que implica que as margens de endividamento já foram atingidas e que, qualquer nova tentativa de crescimento do consumo via crédito pode trazer problemas sérios para os intermediários financeiros, com efeitos nefastos para a estabilidade do nosso sistema financeiro.
Ora, não alcançamos ainda o patamar de endividamento característico de países desenvolvidos como os Estados Unidos e Japão, por exemplo, mas face à nossa perversa distribuição de renda e desigualdade social, já alcançamos o limite seguro da capacidade de endividamento das famílias a que o governo estaria mirando, ao adotar tais medidas.
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Outros, como que se redescobrindo o óbvio, criticam que o verdadeiro crescimento não poderia ser feito com base em consumo, mas em investimentos, em especial com investimentos públicos que poderiam servir de força de impulsão para os investimentos privados.
Nesse sentido, alegam que mais que abrir mão de impostos para um setor específico, como o de bens duráveis de linha automotiva ou linha branca, o que deveria ser feito era uma reforma tributária mais radical, destinada permitir a redução ou desoneração da carga tributária que 'impede e desestimula nossa atividade empreendedora'.
Quanto a esse argumento, nem vou me estender muito. Claro está, de há muito, que é necessário que se discuta um novo projeto de reforma tributária para nosso país. Não para reduzir a carga de impostos, mas para desonerar a produção e servir de estímulo à instalação de novas fábricas e à elevação do produto e renda. Não para reduzir o nível de carga tributária bruta, como alegam alguns críticos, mas para fazer com que a carga tributária líquida, que é a que importa, já que refletindo a parcela de impostos que fica à disposição do governo para o financiamento de seus gastos, inclusive de investimentos, possa se expandir.
Ou seja, para que as transferências pesadas que o governo é obrigado a fazer, e que representam a diferença entre o que o governo arrecada e o que fica em suas mãos possam ser reduzidas.
E, é bom que se esclareça que tais transferências, que dados de estudo do presidente do IPEA indicam que rondam a proporção de 2/3 da arrecadação total, englobam dinheiro que apenas passeia nos cofres do governo, retornando à sociedade, ou melhor, à parte privilegiada dela.
Senão vejamos, a título de recordação o que compõe tais transferências: isenções e subsídios, concedidos aos setores empresariais; transferências de seguridade social, entre os quais pensões e aposentadorias da Previdência e os programas de assistência social, que foram a mola mestra da elevação da renda e da retirada do nível de miséria de tanta percentagem da população brasileira nos últimos anos. E o pagamento do chamado serviço da dívida, ou dos juros atrelados aos títulos da dívida pública do governo e que têm como base de remuneração a SELIC.
Bem, fica claro que a maior parte do dinheiro absurdo que o governo nos retira de forma escorchante, já que também os mais privilegiados têm acesso, por menos que isso represente à aposentadoria e pensões, a verdade volta aos setores empresariais ou mais abastados, em especial sob a forma de remuneração de seus ativos financeiros.
Logo, a reforma que os setores que tanto gritam e gastam para sustentar uma bobagem marqueteira como é o tal Impostômetro no centro de São Paulo, e que tanto atrai a atenção sempre inocente e acrítica da midia, querem é uma que os permita pagar menos ainda, embora não necessariamente afetando o volume de benefícios que auferem, o que implica que outros segmentos da sociedade é que terão que arcar com a desoneração de tributos. Seja por meio de aumento da carga tributária já de sua responsabilidade, seja por força de queda na qualidade dos serviços públicos e, EM GERAL GRATUITOS, a que a população em geral tem acesso.
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Tudo bem: com a queda ou desaparecimento dos serviços públicos, como os de saúde, educação, segurança, sempre se abriria espaço para que a iniciativa privada invadisse esse espaço, prestando tais serviços com muito maior eficiência!!! se regiamente recompensada.....
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Em minha opinião, achar que o ministro Mantega é tolo, ou que toda sua equipe ou assessoria o seja, é análise muito canhestra, ou talvez baseada em algum tipo de idiossincrasia em relação à figura do ministro. Ele não é tolo, e a prova disso é que as medidas já foram adotadas com prazo definido para vigorar, embora nada impeça que seja prorrogado tal prazo: 31 de agosto.
Isso revela que o governo visa tão somente o curtíssimo prazo. Não para crescer custe o que custar no ano de 2012. Mas, para superar esse momento crítico do segundo trimestre, em que as condições econômicas da Europa, Grécia em particular, parecem atingir seu nível máximo de deterioração, podendo ter consequências ou respingos para nossa economia, que já sinaliza estar em processo de redução de atividades e degradação de expectativas, cujos reflexos são a paralisação de investimentos e a consequente redução de empregos, aí sim, com queda significativa do consumo, da demanda e, enfim a crise.
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Manter o consumo e tentar superar esse momento mais crítico, sem permitir que o emprego seja afetado é importante, e nessa direção as medidas tomadas são, em minha opinião, muito acertadas (mesmo que insuficientes). E o que elas visam não é pouco, nem trivial.
Um comentário:
Pode-se dizer que é aquela "Marolinha"(lembra?),fraca, boba, chata e constante, MUITO constante....
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