Embora não tenha qualquer significado, o título de campeão do primeiro turno é do Galo, qualquer que seja o resultado da partida contra o adversário maior, no próximo domingo. E qualquer que seja o resultado do Fluminense, que joga contra o Vasco.
Duas partidas difíceis, diga-se. A do Rio, independente da rivalidade, para que o time cruz-maltino não se afaste muito do seu adversário na tabela de classificação, criando uma distância para os dois primeiros colocados, difícil de ser superada, embora não impossível.
Já em BH, aliada à rivalidade há ainda dois outros elementos que influenciarão no jogo, tornando-o uma verdadeira guerra: a lembrança amarga do último jogo do Campeonato Brasileiro do ano passado, e do placar elástico e vergonhoso sofrido pelo Atlético; e a necessidade de o adversário tentar se reabilitar do resultado de ontem, quando protagonizou o que colegas aqui do banco, cruzeirenses, classificaram como uma vergonha.
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Mas como já disse um desses filósofos da bola: clássico é clássico e vice-versa. O jeito é aguardar a hora do início da peleja e ficar torcendo. Torcendo para que antes do jogo, não hajam brigas e nem as agressões completamente descabidas e desnecessárias, cujo grau de violência de algumas chega a assustar. Exemplo disso, mais um infelizmente, a troca de tiros culminando com a morte de - MAIS UM - torcedor do Vasco no Rio, ontem.
Torcendo para que o juiz não contribua para tumultuar o jogo como tem, infelizmente acontecido até aqui. E que o trio de apitadores de lata possa acertar mais que falhar. E, principalmente, que possa acertar mais nos lances mais fundamentais e decisivos do jogo, para não vir a influenciar no placar.
Torcendo, no meu caso, para que o Galo continue jogando com a seriedade e entrega que os jogadores todos do grupo têm demonstrado a cada novo jogo.
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Quanto ao jogo de ontem, mais uma vez o Botafogo mostrou ser um time "encardido". Difícil. Bem armado e bem postado em campo, com jogadores inteligentes, velozes, experientes. Afinal, o que falar de Seedorf em campo e seu toque de categoria, sua visão de jogo, seus passes e lançamentos precisos, como o que resultou no pênalty cometido por Léo Silva ontem, que culminou no segundo gol do Botafogo.
Aliás, como disse o João no intervalo do jogo de ontem, imaginar que um dia, desfilando sob nossas vistas, estariam jogadores como Seedorf, Andrezinho de um lado, e Ronaldinho Gaúcho, Jô, Rever, Victor de outro, todos jogadores com passagens por seleções e times memoráveis, não passaria pela cabeça de nenhum torcedor, mesmo o mais apaixonado.
E ontem o Independência teve a oportunidade de ver exatamente essa constelação de estrelas do futebol mundial. Vá lá que alguns já mais para o fim de carreira, o que não retira o brilho de suas atuações, agora mais baseadas em experiência e genialidade que em gás e correria.
Mas aqui, mais uma vez a gente queima a língua, essa característica que o jogo de futebol tem e que o distingue de outras competições: a de sempre conseguir queimar nossa língua. Pois não é que Ronaldinho Gaúcho, no segundo tempo, ainda consegue dar um pique improvável e com a categoria que lhe é peculiar consegue chegar à linha de fundo para apenas rolar para Jô, no segundo gol do Galo.
Como menino, Ronaldinho. Como um finalizador, de fato, Jô.
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Do jogo mesmo, a aplicação tática do Galo, merece mais uma vez destaque. Embora eu pessoalmente acredite que nossa vitória deveu-se, entre outros fatores, à substituição do lateral esquerdo botafoguense, ainda no primeiro tempo, ele que se machucou e que vinha dando muito trabalho ali pelo lado do Serginho.
Aliás, nada contra Serginho. Já houve um momento que eu achava que ele era uma das maiores promessas saídas da base atleticana. Em especial quando arrancava em velocidade, com a bola dominada, entrando pelo meio da defesa adversária, ele que mostrava ser bom driblador.
Mas, aí veio a primeira contusão do joelho. A cirurgia. Logo depois, outra, e Serginho nunca mais voltou a ser o mesmo. Daí que continuo achando curiosa essa insistência de Cuca em colocá-lo em campo.
Atualmente, disperso no jogo, sem saber que espaço ocupar do campo, a lembrança de Serginho é sempre pelas faltas que ele comete, a maioria desncessária e violenta, e pelas bolas que desperdiça durante o jogo.
Esforçado ele é, ninguém o nega. Mas, é pouco. Muito pouco para quem tem Felipe Souto no banco, podendo ainda optar por Richarlyson.
E Cuca entrou com Serginho e ali abriu-se uma avenida que M. Azevedo, se não me engano explorou muito, levando perigo enquanto esteve em campo. A ponto de Seedorf, também jogando por ali, ter sofrido um pisão de Serginho, dentro da área, em pênalty não marcado pelo juiz. Lance que, das cadeiras da arena, pareceu ser apenas encenação do holandês.
Mas, se não deu esse pênalty, o juiz deixou de dar, como todos que prestaram atenção no escanteio de Ronaldinho, um agarrão que foi dado em Serginho, por trás, um verdadeiro abraço, já no segundo tempo. Lance que a Globo mostrou ontem, depois do Fantástico, com requinte de detalhes. Inclusive mostrando a participação não apenas do jogador que agarrou Serginho, mas do goleiro Jefferson.
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O Galo começou meio nervoso, e logo Pierre foi amarelado e o juiz começou a inverter faltas, irritando ainda mais os jogadores e torcida. Mas pior mesmo foi quando Seedorf, com sua experiência deu uma verdadeira bronca no juiz. Bronca equivalente a um cartão amarelo ao árbitro, em uma inversão de papéis e o juiz nada... Situação que se repetiu depois, quando o camisa 28 do Botafogo, que bateu o jogo todo, também pôs o juiz em seu devido lugar e, mais tarde, até o 9 do time carioca resolver dar a sua dura no juizão. Que afinou em todas as oportunidades e não amarelou a nenhum deles.
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Em minha opinião, Cuca mexeu errado quando tirou Escudero, jogador que vinha fazendo um papel importante de fechar o meio. Jogador que já tinha feito um gol de oportunismo, iniciando nossa reação. Saiu Escudero, e Serginho continuou em campo, errando jogadas e errando bolas fáceis, embora tivesse melhorado e se firmado mais na marcação.
Mas a mexida fez o meio campo do Atlético ficar ainda mais sacrificado do que estava, com Pierre, Leandro tendo de se desdobrarem para cobrir o vácuo na direita da defesa.
Réver, mais uma vez, um grande zagueiro. Mais uma vez querendo sair jogando e driblando em frente à entrada da área. Mais uma vez perdendo a bola e quase, por muito pouco, entregando a rapadura.
Já era hora de Réver perceber que tem hora que, se o jogo é de campeonato ... bola para o mato. E bumba meu boi, não é vergonha se o time ganha e não leva gols.
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De Ronaldinho Gaúcho não há o que falar. Apenas se esmera em mostrar porque duas vezes foi escolhido o melhor do mundo. O que não é pouco. Ainda mais se nos relembra desses prêmios em duas, três jogadas, ou dois ou três lançamentos que faz em meio ao jogo.
Dele, só destacar que ele organiza o Galo em campo, cantando todas as jogadas que ele, com sua visão privilegiada de jogo, consegue vislumbrar, antes que os companheiros.
Importante esse papel do R49, ao qual a imprensa vem dando pouca atenção.
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Agora, que falta e que saudade do Marcos Rocha e do Danilinho.
E o Berolinha, hein? que volta triunfal. Que jogada bonita a do gol, desde a tentativa do passe de letra de Léo Silva, que foi interceptada, até a recuperação da bola, a virada para a direita, o passe de calcanhar de Carlos César, felizmente posto no lugar de Serginho e o toque sutil de Berola.
E o Galo lá, brilhando. Líder e campeão do primeiro turno.
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Mas, emocionante mesmo foi, antes de tudo isso, ver os heróis do jogo entrarem em campo, embora sem o destaque que mereciam que, no meu caso acho que incluia serem anunciados pelo auto-falante do estádio.
Refiro-me ao pai e ao Felipe, o menino guerreiro, atleticano, cuja paralisia não impediu de se mostrar um vencedor. E, claro, ao pai que criou uma forma de dar pernas ao filho e mais que uma botina, inventou as asas que sustentam os vôos da imaginação de seu filho.
A esse pai, o verdadeiro herói, todos deveriam reverenciar, assim como o fez Ronaldinho, o R49 das reverências da massa.
Viva o Felipe. Viva o pai do Felipe.
E Viva o Galo!!!
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