quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Recessão e inflação: a combinação explosiva do Carnaval de 2015

Nenhuma novidade no anúncio do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, considerado como uma prévia do comportamento do PIB e revelando a ocorrência de possível queda de 0,15% no ano de 2014.
Embora não seja a medida oficial do valor da produção brasileira, sob a responsabilidade do IBGE, e normalmente divulgado em março, o índice busca municiar a Autoridade Monetária de informações quanto ao ritmo de crescimento, tratando com  informações sobre o nível de atividade nos setores da indústria, comércio e serviços e na agropecuária.
Normalmente, seu acompanhamento orienta as decisões em relação a definição da taxa de juros básica, por parte do COPOM.
Assim, à medida que a economia começa a dar sinais de estar sendo afetada em seu nível de atividades, como parece estar se configurando agora, o Comitê responsável pela definição da taxa Selic, tende a adotar comportamento mais cauteloso, diminuindo o ritmo de elevações da taxa de juros, em face da já antecipada queda da demanda agregada, refletida na produção.
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Em nosso país, entretanto, não há motivos para se apostar na paralisação dos movimentos ascendentes da taxa básica de juros, tanto pelo pequeno índice de queda prevista, quanto do fato de que a inflação continua sendo influenciada por expectativas altistas, mesmo que justificada por causas que não guardam qualquer relação com a demanda e seu provável excesso.
Afinal, e esse é um dos pontos de crítica ao sistema de metas inflacionárias mais comuns, a ideia subjacente ao sistema é a de que qualquer movimento de recrudescimento da inflação deve ser combatido com a elevação da taxa de juros, como se toda a explicação para a inflação tivesse uma só e única causa: a demanda aquecida.
Em nosso caso, em que a previsão do IBC-Br mostra a possibilidade de obtermos a segunda pior marca de queda do crescimento da produção desde 2009, quanto foi registrada uma queda de 0,33%, a demanda já está dando sinais claros de redução.
Para tanto, contribui, em muito, as medidas do pacote fiscal - elevação de tributos sobre combustíveis, sobre operações de crédito, elevação do preço da energia elétrica, corte de subsídios, tanto nos juros para programas habitacionais, quanto para programas destinados ao financiamento estudantil - que inclui, ao lado de medidas destinadas a reduzirem a demanda privada, o corte de gastos públicos.
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Mas, até em função do tarifaço aplicado pela equipe econômica, os custos de insumos básicos se elevaram, acarretando uma nova onda de elevação de preços, que mantêm as previsões de inflação em patamar superior, bem mais elevado, que o limite de 6,5%.
E, independente de a causa da alta de preços ser a chamada inflação de custos, para o que contribui em muito a valorização do dólar, a cartilha ou receituário das Autoridades Monetárias, continua apontando apenas uma solução: a elevação dos juros.
Que, por um lado, derruba ainda mais a demanda, e com ela o nível de atividade econômica, o emprego, e a renda. Por outro, representa, um tiro no pé, já que, ao reduzir a produção e renda, diminui base importante da geração de receitas de impostos do governo.
Por outro lado, ajuda a compensar os cortes de gastos em especial de custeio, patrocinados por Levy Mãos de tesoura, por aumento da despesa de transferência por pagamento de juros da dívida mobiliária.
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Daí não é difícil perceber a reação de analistas do mercado, que não acreditam na capacidade de o governo gerar o superávit primário prometido, equivalente a 1,2% do PIB, ao final do exercício fiscal de 2015.
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As nuvens estão carregadas, pairando sobre nossas cabeças e sobre o nosso ambiente.
Mas, não para todos.
Para contribuir com o aperto de cinto a que estamos todos convocados, os deputados, aqui em Minas, votaram favoravelmente ao pagamento de auxílio moradia. Que contempla mesmo aqueles que moram na capital mineira e são aqui estabelecidos já há muitos anos.
Na Câmara, os deputados votaram uma PEC tornando obrigatório o pagamento de emendas parlamentares incluídas no Orçamento anual.
Menos mal que metade de tais emendas deverão ter como destino a área da Saúde.
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E, enquanto isso, com um furor que assusta a seus próprios correligionários e eleitores, o presidente da Câmara mais que infligir uma derrota atrás de outra ao Planalto, quer tutelar, da pior forma possível a sociedade brasileira.
Nem a que vaca tussa, como afirmou, levará a plenário a discussão da possibilidade de adoção por casais homossexuais, ou qualquer discussão sobre o aborto. E antes que os conservadores e religiosos fiquem satisfeitos e se ponham a comemorar, já está se mexendo para incluir na pauta a votação da proposta de criação do Dia do Orgulho Heterossexual.
Por si só, as medidas podem não se caracterizar como objetos de críticas pesadas, senão que de debates.
Mas a sinalização é em  um sentido que, ao menos a mim, preocupa.

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