segunda-feira, 25 de maio de 2015

Anúncio das medidas e rebelião de Levy: as razões verdadeiras...

Mais interessante, BEM MAIS interessante,eu diria, não foi o anúncio do corte de 69,9 bilhões nos gastos do orçamento para esse ano de 2015, apresentado à sociedade na sexta feira, 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis, pelo ministro Nelson Barbosa.
Nem a desculpa meio esfarrapada para a ausência do ministro Levy, o dono da tesoura, vitimado por um resfriado. Nem, tampouco, as insinuações de que o ministro estaria insatisfeito e, quem sabe, até pensando em abandonar o barco...
Tudo bem. O ministro não estava satisfeito: o corte ficou aquém dos 82 bilhões que ele desejava. O tom da apresentação não foi tão dramático quanto  ele queria, nem tão carregado nas tintas. Embora o valor fosse praticamente o mesmo que a soma do contingenciamento orçamentário dos dois anos anteriores, 2013 e 2014, e praticamente o dobro de cada um desses anos, o que mostra a dimensão da tesourada, o ministro teme, com razão, o que o Congresso pode fazer para descaracterizar as outras medidas que compõem o pacote do ajuste fiscal pelo qual o ministro tanto briga.
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Contrariando o ministro da Fazenda, o contingenciamento foi apresentado como uma atitude comum. Dura, de valor significativo, mas comum. Afinal, como já falamos no parágrafo acima, também em Dilma I esses anúncios foram feitos. E os valores, à época já foram considerados fortes.
E cada um daqueles anos terminou com as contas públicas mais combalidas.
Por isso o ministro desejava e fazia pressão para que um discurso sombrio, catastrófico, fosse feito, de modo a impressionar a sociedade, a opinião pública e daí, ganhar cores ainda mais fortes e tenebrosas na midia, para acabar chegando ao Congresso e a cada parlamentar de forma que a aprovação na íntegra das medidas do ajuste fosse a única opção possível. Ou a aprovação ou o caos.
Sem qualquer desfiguração das medidas provisórias que integram o pacote Dilma e Levy de maldades.
E obrigando o Congresso a aprovar o pacote o quanto antes, para que as medidas, ou algumas delas já pudessem representar alguma economia o quanto antes.
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Bem, de tudo isso que cercou a apresentação dos cortes na sexta feira e os detalhes quanto a algumas desavenças internas à equipe econômica e até algumas atitudes de pirraça, etc. a midia fez questão de repercutir aquilo que foi manifestado e que consistia uma promessa do ministro Levy: o governo iria fazer política de realismo fiscal. E, tanto a arrecadação do governo prevista na peça orçamentária, quanto os gastos de investimentos, os dos programas sociais, ou os de custeio da máquina seriam apresentados sem maquiagem, transformando o orçamento em uma peça de gestão pública e não uma fantasia de intenções, algumas boas, outras nem tanto.
Por isso, o corte em investimentos, no PAC - a menina dos olhos dos governos petistas e, especialmente de Dilma, então apresentada um dia, como a Mãe do PAC. O corte nos gastos sociais, no Pronatec que D. Dilma citava tão orgulhosa na campanha eleitoral, o corte no FIES dessa pátria educadora.
Em custeio, por ser mais difícil, o corte foi pouco agressivo. Vai acontecer ao longo do período do mandato, com a não concessão de aumentos para os servidores públicos, se bobear, nem para repor a inflação do período. Vai se dar pela não reposição de quadros, mesmo naqueles casos como o absurdo caso que o Banco Central está vivendo, de contar com vários analistas concursados, aprovados, depois obrigados a fazerem o período de curso de treinamento - alguns abandonando outros trabalhos, sujeitando-se aos gastos de deslocamentos, a distância da família, etc, para agora não serem nomeados. Isso sabendo-se de que o Ministério do Planejamento aprovou a realização do concurso público - e difícil. E aprovou um número de vagas menor que o solicitado pelo Banco, o que só faz aumentar a suspeição de que encontra-se em andamento um desmanche da máquina pública.
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Tudo bem que houvesse o desmanche, se o exemplo não tomasse o Banco Central, o responsável pela fiscalização do setor financeiro como principal vítima, nesse momento.
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Mas, como afirmava, a imprensa toda elogiou o realismo agora buscado na peça orçamentária. E, já chamaram a atenção para que há ainda receitas superestimadas, em especial, pelo fato de que a recessão que está posta à mesa, servida pelo governo à população, será mais profunda e a receita sobre um PIB bem menor será, obviamente menor.
A receita prevista não será alcançada e o governo deverá ter de fazer novos aumentos de alíquotas de impostos ou novos cortes, ao longo do ano, agora com menos alarde.
Mas, se a imprensa está tão zelosa, e atenta, o comportamento da grande imprensa, conservadora, tradicional e nem um pouco confiável não muda de todo. Afinal, o uso do cachimbo faz a boca torta.
Nesse sentido, a imprensa brindou satisfeita, o fato de que o ministro Levy e as projeções, para serem realistas, acabaram aceitando que o PIB cairá 1,2% esse ano, como tantos analistas e consultores do mercado financeiro vêm indicando há tanto tempo, nas pesquisas que dão origem ao Boletim Focus, publicado pelo Banco Central.
Além de aceitarem a queda do PIB, sugerida pelo mercado financeiro - ou aquela já precificada pelo mercado, o governo e seu núcleo econômico aceitaram também a taxa de inflação que o mercado vem considerando em suas projeções e análises, de 8,3%.
Ou seja, para ser bastante realista, não basta, aos olhos da grande imprensa, e do próprio núcleo da Fazenda, trabalhar e montar modelos, mesmo que os modelos sejam falhos e não confiáveis. Não há necessidade de realizar análises ou pesquisas, etcs. Basta olhar o que o mercado está utilizando como parâmetros.
Ou como sugestões. Ou como números a serem adotados.
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Mas, quem há de perguntar: não estaria o mercado pautando o governo? Não estaria determinando as ações do governo, ao invés de se submeter ao governo?
Digo, quem há de perguntar tais questões e tentar sanar algumas dúvidas, nos órgãos de comunicação mais conhecidos, já que devem se submeter aos anúncios que os bancos e instituições financeiras pagam e mantêm os jornais vivos???
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Contra os interesses mais poderosos e fortes, ninguém se rebela. Ao menos os que são mais espertos e oportunistas...
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Mas, de tudo isso tratado até aqui, o que mais me deixa pasmo é saber pela Folha de ontem que o que mais criou mal estar no ministro e que evitou que o Ministro Levy estivesse presente ao anúncio das medidas do contingenciamento foi que ele se sentiu traído.
Não com o corte de 70, contra os 82 que, curiosamente era o que todos os analistas do mercado financeiro pregavam. Não com o tom mais ameno do anúncio.
Mas, com o fato de que, ESTÁ LÁ NA FOLHA!, o ministro queria mais tempo para preparar o espírito dos bancos, para que eles tivessem condições de se prepararem para o aumento da alíquota do CSLL, que os atingiu na quinta feira.
Ou seja, o ministro ficou revoltado ou chateado, por não ter podido passar aos seus mentores as informações que lhes permitisse não se sentirem traídos por um de seus funcionários mais próximos.
O medo do ministro foi ser tratado como traidor dos interesses de seus patrões.
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Ok. Qualquer um reagiria no caso, como o fez Levy.
Mas, a essa altura, já deve ter sido perdoado pelos seus chefes. Afinal deixou claro seu repúdio.
E até estimulou, ele mesmo a possibilidade de entregar o cargo.
O que não deixou muito preocupado aos banqueiros e donos de capital financeiro, que sabem que Dilma já se curvou e se submeteu. E, agora, qualquer outro funcionariozinho do setor financeiro pode entrar para cumprir o papel de anunciar as medidas que os patrões mandarem.
É isso.

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