No campo econômico, aguarda-se a divulgação pela Caixa Econômica Federal, do cronograma de saques permitidos aos proprietários das contas inativas do Fundo de Garantia, já antecipada no dia de ontem, segunda 13, em linhas gerais.
Cálculos iniciais davam conta de que tal medida, decidida ao final do ano passado em um esforço de estímulo à recuperação da economia, iria ser responsável pela injeção de um valor próximo de 30 bilhões de reais.
Refeitos esses cálculos, hoje, o valor atinge a cifra de 43 bilhões, dos quais o governo espera que 34 bilhões sejam sacados, o que se explica talvez pela desinformação, pelo desconhecimento, pela inércia de uma parcela do povo brasileiro, que acaba deixando de receber valores que lhe são devidos, muitas vezes por ignorância.
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Os valores, elevados, foram responsáveis, inclusive por críticas à medida provenientes da indústria da construção civil, temerosa de possíveis reduções dos recursos destinados ao financiamento de novos empreendimentos. Dessa forma, os órgãos representativos do setor pressionaram para a exclusão da medida do pacote anunciado pelo governo e, já derrotado em suas reivindicações, pressionou ainda para que o governo estabelecesse um valor limite para as retiradas.
Ambas as sugestões foram rechaçadas sob a alegação de que os valores de retirada por trabalhador são, em sua maioria, limitados.
Conforme noticiado no globo.com de hoje, mais da metade dos trabalhadores poderão sacar, no máximo R$ 500,00. Outros 24%, totalizando cerca de três quartos do total, não ultrapassam situam-se entre esse valor e os R$ 1500,00.
Assim, poucas são as pessoas que teriam recursos em maior quantidade que, uma vez sacado, poderiam ser transferidos para aplicações do setor financeiro, o que era um temor de alguns críticos da medida. O medo era que esse dinheiro não fosse dirigido para a chamada economia real, não alavancando gastos, sob a hipótese de que o trabalhador que tem quantias mais expressivas, deve ter também uma situação econômico-financeira mais controlada.
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Em tudo isso, a assinalar uma curiosidade: o número de trabalhadores que serão beneficiados com a medida. Para o site globo.com, algo como 30 milhões, para o portal UOL, cerca de 10 milhões de trabalhadores, o que é uma discrepância bastante significativa.
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Mas o que nos interessa aqui é mais a questão: os saques de contas inativas, por mais que façam justiça aos proprietários dos recursos que são seus, e pelos quais sempre receberam muito pouco, perdendo várias vezes para a inflação, utilizarão esses recursos para elevar seus gastos e como consequência, elevar a demanda agregada?
Em assim sendo, poderemos assistir a uma retomada do processo de produção e elevação do nível de contratações na economia?
Vejam que não me referi a queda do desemprego, devido a sua menor velocidade de recuperação, por vários motivos, tratados pela teoria econômica.
Entre alguns desses motivos, o fato de que ao perceber a recuperação no nível de demanda de trabalhadores pelas empresas, trabalhadores que estavam fora do mercado, por desalento, voltam ao mercado para se oferecerem, o que faz que a oferta de trabalho cresça mais que a demanda, por exemplo.
Outro motivo é o tempo de espera que as empresas adotam, para verificarem se o aumento da demanda é sustentável e não mero fogo de palha. Nesse caso, preferem trabalhar com a mesma força de trabalho, em jornadas ampliadas, ou turnos extras.
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Mas deixando de lado a questão da reação dos níveis de emprego, por mais importante que sejam, o que gostaria de tratar aqui é a hipótese de que os trabalhadores que tiverem valores a sacar irão elevar seus gastos.
A princípio, e os números vêm insistemente mostrando essa situação, as vendas têm apresentado quedas constantes, como divulgado pelo IBGE nessa manhã, mostrando o pior resultado em 15 anos, para o comércio. Em 2016, a queda das vendas no comércio atingiram 6,2% no ano passado.
Mais sério ainda, em dezembro, mês do Natal, as vendas caíram 2,1% comparado a novembro. Se comparado ao dezembro de 2015, a queda alcança 4,9%, sinal de que a economia deteriorou, e não o contrário, depois do golpe.
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Por tipo de atividade, a redução foi geral, destacando supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com 3,1% de queda. Destaque não pelo número ruim, mas pelo que o setor representa: queda de consumo mais essencial ou básico da população.
Ao contrário, as estatísticas indicam que o grau de inadimplência está se reduzindo. Ou seja, as famílias têm feito grande esforço para liquidar suas dívidas, fugindo de juros estratosféricos e todas as consequências nefastas de ficar com restrições em seu crédito.
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De todo esse quadro, é uma hipótese bastante plausível esperar-se que os recursos sacados do fundo voltaram sim, ao mercado financeiro, não como aplicações, mas como pagamento de débitos anteriores. Ou total ou parcial.
Suponhamos que seja total o pagamento das dívidas acumuladas, o que é a melhor hipótese para as intenções da equipe do governo.
Nesse caso, seria razoável supor que, uma vez com o nome limpo, as famílias voltariam a se endividar, tornando a se encalacrar em uma situação experimentada recentemente, e da qual custaram a se ver livres? Ou seria melhor acreditar que as famílias aprendem com a experiência, e ao menos em um primeiro momento, iriam fazer o maior esforço para não se endividarem, gastando apenas o que puderem.
Até é bom lembrar aqui, que os que estão desempregados, por força de falta de comprovação de renda, nem mesmo poderão efetuar compras a crédito.
Logo, a reação será mais de usar os recursos para liquidar dívidas e limpar o nome, e não a de ampliar o gasto.
Mantido o gasto em consumo nos limites determinados pela influência da renda ( a boa e velha propensão a consumir), e com a renda em queda, não há porque estar otimista, esperando uma recuperação das vendas, ao menos no primeiro momento. Ou nos próximos dois trimestres, por hipótese.
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Assim, os setores da construção civil deverão pressionar o governo para que crie estímulos para os bancos privados passem a financiar suas atividades que, como sabemos, por ser baseada em financiamentos de longo prazo, costumam criar a situação de mercados incompletos, essa falha de mercado que explica porque bancos públicos sejam os principais agentes financeiros do setor.
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No campo político, a expectativa é em relação à decisão do ministro Celso de Mello, tido como amigo de temer, o golpista.
Com a decisão de ontem de temer, o ilegítimo, ele mesmo várias vezes delatado na Lava Jato, de demitir qualquer ministro transformado em réu na lava-jato, o decano do STF pode agora manter o Angorá como ministro. Ao menos por mais um período, o que seria uma vitória eivada de simbologia.
Afinal, Lula não pode. Mas com temer tudo é permitido.
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Até censura.
Como a Justiça determinou a censura às matérias sobre o hacker do celular de Marcela. E não que o problema fosse a existência ou não de fotos íntimas, nudes, o que quer que seja, relativo à privacidade da moça linda, recatada e do lar.
Embora antigamente as moças recatadas e do lar não fizessem nudes. Talvez por não existirem os celulares nem os aplicativos.
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No caso, em minha opinião, a questão real, como os jornais censurados (Folha e Globo) mostraram, é o áudio de Marcela e seu irmão, com conteúdo que poderia jogar o nome do usurpador na lama.
Pois bem, esse aúdio que sumiu do processo, junto com outros arquivos, por tratar de questões políticas, marqueteiros, etc. Por tratar de questões políticas, muito embora o personagem presente na conversa fosse marido e cunhado dos participantes, não pode o conteúdo ser tratado como questão de privacidade.
Em minha opinião, não se aplica aqui, ao aúdio, a lei Caroline Dieckmann.
Aplica-se mais apropriadamente, o que disse moro, em outra ocasião.
Conforme o InfoMoney: " o interesse público e o interesse constitucional de publicidade dos processos impedem a imposião da continuidade de sigilo sobre os autos."
Ok. Ele se referia na ocasião à gravação ilegal que fez de Lula e aí tudo era válido. Mas, vai que a regra de que pau que dá em Chico deve dar em Francisco comece a vigorar???
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Por falar em Lula, o UOL traz hoje a informação de que Lula foi contrário à demissão da médica "Dra. Jekyll" que divulgou exames de Marisa Letícia. Segundo Mônica Bergamo, o ex-presidente apenas sugeriu que ela passasse por um curso ética profissional.
Muito mais sensato, portanto.
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E, para terminar: não acompanhei a violência no Espírito Santo, de perto.
Soube que os noticiários anunciavam o aumento de mortes a cada dia, conforme informação da associação de policiais civis, já que havia a informação de que os números oficiais não poderiam ser checados.
Então, pelo anúncio, ocorreram mais de cem mortes, nos dias de tumulto provocado pelas famílias dos militares capixabas.
Bem, não houve qualquer notícia de morte de políticos ou autoridades. Também não vi qualquer menção a mortes de grandes empresários, mega empresários, grandes capitalistas, ou pessoas de maior dimensão, a ponto de criar comoção, no estado ou fora dele.
Sendo assim, e se verdadeiro o número de mortes anunciado, só se mataram pessoas comuns. Do povão. Quem sabe até aqueles pobres, moradores de rua, mendigos, ou meninos pretos da periferia da capital.
Ou pequenos bandidos, pequenos meliantes.
Ou pequenos bandidos, pequenos meliantes.
Ou seja, tudo cheira mais a uma ação de "limpeza urbana" por mais que o nome possa chocar.
Limpeza das cidades, com a eliminação de pessoas menos privilegiadas, junto a saques cometidos pela população, independente de suas classes sociais.
O que mostra que, nos saques, somos uma sociedade capaz de nos unirmos.
E nos clamores por justiça, também...
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