segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Povo que ganha as ruas de volta no carnaval, afastando os desfiles de escolas pasteurizados, não reage às tramóias do poder para estancar a luta contra a corrupção

A proximidade do carnaval, com os blocos já tomando conta das ruas, das praças, dos bairros e das cidades, transforma nossa rotina e nossa vida, já em uma rotina de descompromisso e fantasia.
Um clima que é muito bom para um governo cuja preocupação central é a de tentar de todas as formas se blindar e, por que não?, estancar a sangria da operação Lava-Jato, que atinge em cheio a todos os seus principais colaboradores e apoiadores.
Assim, se os preparativos momescos indicam que o povo resolveu agir para voltar a ter as rédeas da brincadeira que sempre foi sua, e onde sua participação nunca precisou de organização de desfiles ou da existência de escolas para turista ver, a verdade é que o calendário permite também, que esse mesmo povo fique entorpecido, e ganhe novamente o direito de brincar o carnaval, mas vá perdendo a possiblidade de gerir o seu destino.
Ao menos gerir o destino de forma honesta, sem a corrupção que invadiu o Estado, os governos e até o país em todas as suas esferas.
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Uma observação a respeito do carnaval. Há muito tempo já vinha sendo dominado por um sentimento de que a maior e mais ansiada comemoração popular de nosso país vinha perdendo força. Justamente perdendo sua maior característica: ser popular.
Para isso, contribuía o indiscutível sucesso dos desfiles de escola de samba, cada vez mais sob um formato adequado às transmissões das televisões, com imagens que ganhavam e encantavam o mundo. Mas, cada vez mais dominados por alegorias e fantasias, o que mostra que a festa evoluia no sentido de assumir o formato de um espetáculo teatral, longe, muito longe do espetáculo da vida, da rua, do dia a dia, da representação do povo brasileiro. Dessa forma, até a alegria do povo tornava-se pasteurizada, mesmo quando em poucos momentos e oportunidades os enredos dos desfiles resvalavam mais próximo para o teatro do oprimido.
A pasteurização da festa e dos desfiles levou a que todas as escolas acabassem se tornando uma massa homogênea, uma coisa só, e com o tempo, os shows passassem a se tornar cansativos, repetitivos e tediosos.
Enquanto isso o povo, excetuada a ínfima parcela considerada passista ou integrantes das escolas, ficava como a musa da canção Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque, batendo palma com vontade e fazendo de conta que  é .
Nesse sentido, a formação dos blocos, que ganham as ruas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte é a retomada da folia cidadã, participativa, onde todos são como são e representam aquilo que são.
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Já do ponto de vista da situação política do país, o povo que se lançou às janelas batendo panelas e condenando a corrupção petista, ou que foi às ruas e praças para protestar contra o estado de deterioração que, acreditavam, o país tinha atingido, tem estado, nos últimos dias, inerte. Passivo. Situação que, prefiro acreditar, seja causada pelo entorpecimento causado pelo carnaval.
Porque do ponto de vista da situação real do país e desse (des)governo, a situação está muito pior do que era, especialmente do ponto de vista da corrupção.
O que permite que, deixando de lado o presidente usurpador e golpista, cujo nome aparece em várias ocasiões nas delações a que temos acesso e conhecimento a conta gotas, sempre seletivas, a cada instante, um novo ministro, um novo aliado do governo, um novo partidário da base seja citado.
E, independente disso, o povo a tudo assiste em silêncio, sem esboçar qualquer reação.
A ponto de permitir que arbitrariedades típicas de situações de democracia de fachada sejam praticadas, sem qualquer manifestação.
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Entre tais arbitrariedades, o apoio a que Botafogo fosse o candidato ungido com as bênçãos do Planalto para a presidência da Câmara, mesmo atropelando a legislação e a Constituição que veta reeleição ao cargo.
A respeito de tal veto, apenas a observação de que a tudo o Supremo, o órgão defensor da Carta Maior é o primeiro a fazer vista grossa e tornar o interesse da lei, letra morta.
O que indica que, como já muitos suspeitavam, embora sem muita convicção, está agora escancarado, em relação ao comportamento dos membros do Supremo. Estão todos em um mesmo barco, representando os mesmos interesses, desde que os seus corporativistas sejam sempre preservados.
E passam ao país o exemplo pior, de que tudo pode e tudo é permitido, especialmente se você tiver flexibilidade e jogo de cintura e, ainda por cima, estiver no exercício do poder e daí dessa posição, puder assegurar que os dignos magistrados tenham cada vez mais vantagens acompanhando suas dignidades.
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Mas, dizia eu, não bastava Rodrigo Botafogo Maia, para ocupar a cadeira que vai pautar as principais medidas a serem adotadas no país, todas elas, em prejuízo do povo, todas em benefício dos grandes interesses empresariais, já que os interesses de empreendedores e pequenos e microempresários serve apenas como discurso para angariar apoio e desviar o foco do verdadeiro interesse por trás das reformas: ampliar o espaço da atuação, criar mercados e permitir que a classe empresarial de maior relevo e importância possa se fortalecer, recuperar sua hegemonia e voltar obter lucros monumentais.
Isso que os meios de comunicação chamam de recuperação da economia e crescimento. Já diagnosticado há muito tempo por um ditador, como a situação em que a economia vai bem, e o povo vai muito mal...
Tinha ainda que indicar para o Senado outro político denunciado em delações, e para presidir a Comissão de Constituição e Justiça, um terceiro, envolvido junto com seu filho, em atos duvidosos, desde ao menos a época do governo Sarney.
E vai caber à CCJ, e a seu presidente Lobão, sabatinar ao novo indicado para assumir a vaga no STF: o inaceitável Alexandre de Moraes. Cujo histórico de atuação, seja agindo contra movimentos sociais ou mandando agredir professores, seja agindo e MENTINDO, em situaações tão drásticas como os casos ocorridos nos presídios do país, no início do ano, só poderiam ter como complemento as mentiras de seu currículo pessoal, como a existência de cursos não realizados ou o flagrante plágio em suas obras.
Ou seja, Alexandre de Moraes tem estatura apenas para hombrear-se e para dignificar a Casa a que foi indicado, já ela também desmoralizada e repleta de gente capaz de afrontar a ética e a lei e o direito, dependendo dos interesses em jogo (e de seus interesses).
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Não será surpresa que gilmar mendes consiga adiar o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral, de que é presidente, para dar a chance de duas vagas serem abertas no órgão, e os indicados para ocupar tais postos já virem com a tarefa de punir Dilma e livrar seu companheiro, e principal beneficiário de fazer parte de sua chapa.
Como não será surpresa que, na Segunda Turma, também influenciado por gilmar, mas sob os auspícios de Toffoli (que tanto interesse tem em que a Lava Jato seja estancada), e por esse decano que mais deveria receber a titulação honorífica de desencanto, celso de mello, acabem reconhecendo que o juiz moro não pode ficar mantendo em prisão indeterminada apenas aqueles que não interessam que fiquem mantidos presos. Para ser mais claro, interessa manter Marcelo Odebrecht preso, por seu potencial de delatar maus feitos de Lula e de petistas. Logo: mantenha-se Marcelo preso.
Não interessa a ninguém, nem a temer, nem a Erica ou a juízes, angorás, botafogos ou índios, que Eduardo Cunha - que tanto sabe, seja mantido em condições de ter de, como último recurso, partir para um esquema de delação premiada.
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Por ter muito a dizer e muita gente graúda a incomodar, melhor liberar Cunha. E, quem sabe, até fazer  uma advertência ao juiz amigo do PSDB e de seus líderes, para que evite tais prisões sem prazos.
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Certo, em nosso país, e antevendo o resultado da sabatina a que Alexandre de Moraes terá seu nome apreciado, especialmente em semana que inicia o Carnaval é que o governo vai tomando a forma do verdadeiro baile de fantasias, como assinalado por Zé Simão.
No executivo, um drácula a temer, no Senado um índio, na presidência da mais alta Corte, Bento Carneiro, o vampiro brasileiro. Com a posse de Alexandre de Moraes, o tio Funéreo. E enquanto o país vive de fantasia e bailes, a realidade se impõe. Nenhum dos citados acima está fantasiado. Eles são assim mesmo. A expressão de nosso descalabro. Em todos os sentidos

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