segunda-feira, 22 de maio de 2017

Pitacos favoráveis ao impeachment ou substituição de Marcos Rocha, ontem; de temer etc.

Sempre fui defensor da qualidade técnica do futebol apresentado por Marcos Rocha, para mim, já há alguns anos o melhor lateral direito atuando no país.
Mas, convenhamos que na partida de ontem contra o Fluminense, no Independência, nosso lateral não foi sombra do jogador que estamos acostumados a ver.
Marcos Rocha errou tudo que tentou fazer, inclusive os lançamentos para a área, com as mãos em cobrança de lateral, ou mesmo em cruzamentos.
Pior ainda, talvez cansado, não teve pernas para acompanhar nem a Richarlison, nem a Henrique Dourado, quando caíam por seu lado.
O que era um deus nos acuda, já que batido Rocha, o adversário iria se defrontar com Felipe Santana....
Mas, se errou tudo que tentou, Marcos Rocha ainda cometeu um penalte completamente dispensável (embora quem estivesse dando cobertura a ele, por seu setor, na marcação de Richarlison fosse ... Felipe Santana!!!) ao tentar interromper a investida do jovem atacante tricolor.
E Rocha foi tão atabalhoado para tentar cortar o lance, que tropeçou e, com isso, acabou dando uma rasteira, involuntária, no adversário. Penalte sem discussão. Mas não lance para aplicação de qualquer cartão.
Depois, nem eram passados dois minutos do primeiro lance, a bola disputada e lançada por Henrique Dourado na área, pegou um Richarlison pulando completamente sozinho, nas costas de Marcos Rocha. E nosso lateral, que todos sabem ser muito baixo para disputar bolas no centro da área, nem sequer esboçou um movimento de saltar. Ao contrário, a imagem mostra que ele até se curvou ligeiramente.
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Mas pior que tal participação ativa nos dois gols do adversário, foi a declaração que os jornais trazem na manhã de hoje, de que se jogasse até a meia noite, ainda assim o Galo não teria condições de obter o gol de empate. Atitude que o Estado de Minas classificou como de desânimo. Desalento.
Está certo que o Atlético ainda criou algumas chances, mais na base da sorte que de jogadas tramadas, e jogou fora a oportunidade de conquistar ao menos o empate, com Fred, Cazares, Maicosuel e Elias, já ao final da partida.
Mas, não dá é para um jogador que, até pouco tempo atrás ostentava a faixa de capitão em alguns jogos, deixe que o desânimo possa dominá-lo, como Marcos Rocha parece ter admitido.
Por isso, a melhor solução ontem, teria sido o IMPEAHCMENT do nosso lateral.
Embora reconheça que Roger teria um problema sério em suas mãos: quem assumiria o lugar do substituído???
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Nesses tempos bicudos que o país atravessa, uma questão me chamou a atenção, embora deixada de lado pela imprensa: o jogo do Galo estava ainda no primeiro tempo e, de repente, próximo da área do Galo, um jogador do Fluminense caiu, sabe-se lá se fazendo cera, tentando ganhar tempo, ou por estar mesmo sentido alguma dor, do choque de que participou.
Foi então que Rafael Carioca resolveu jogar a bola para a lateral, para que seu colega de profissão pudesse ser atendido.
Na lateral do campo, as câmaras captaram um Roger nervoso, gesticulando sabe-se se em razão do lance de fair play de Carioca ou por outro motivo qualquer.
Por questão de justiça, devo dizer que o locutor do Premiére imediatamente acusou o lance. E até questionou se todo o nervosismo do técnico atleticando seria decorrente do fair play, quando o Galo acabou tendo interrompido um lance que poderia ter um desfecho mais favorável.
No entanto, se o locutor abordou a questão, que vai se transformando em uma questão cada vez mais espinhosa, depois de Rodrigo Caio ter isentado Jô, de punição no jogo entre São Paulo e Corínthians, na mesma hora uma segunda voz entrou para dizer em alto e bom som que não concordava com esse negócio de fair play; que fair play é coisa para árbitro decidir e interromper a partida, como se o árbitro pudesse, mesmo sem jogar ter fair play. Em minha opinião, o árbitro decide ou não, com autoridade que a regra lhe dá, paralisar a peleja e providenciar ou não o atendimento ao jogador contundido.
Mas, a voz que creio ser de Ricardo Rocha deixou muito clara a divisão porque passa nosso senso de oportunidade ou de ética. De certa forma, condenou Rafael Carioca de ter prejudicado seu time, naquele momento.
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Pois não é que no intervalo do jogo Rafael Carioca foi tirado do time, com Roger alegando um possível cansaço, decorrente de um possível resfriado que teria afetado tanto a Carioca quanto a Adílson?
Mas, sem querer por fogo na fogueira, acho que a obrigação de qualquer repórter seria de perguntar a Roger a razão de sua gesticulação no lance, e se tal fato teria alguma ligação com a substituição por ele patrocinada.
Afinal, sabe-se que a irritação com algum jogador é, algumas vezes, motivo para o técnico sacá-lo do jogo, e a questão do jogo limpo ser cada vez mais uma discussão incômoda, em um país em que a começar do golpista que ocupa a presidência da República, o jogo cada vez mais torna-se sujo, dando oportunidade cada vez mais a que oportunistas possam se tornar vitoriosos.
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Nas redes sociais, muita gente postando comentários de não ter bandido de estimação. Como se a cobrança de que as denúncias sejam apuradas com o mesmo rigor agora, que no caso de outros políticos seja ato de defesa dos outros suspeitos.
São incapazes de perceberem que todos erraram, mas não o fizeram de propósito. Votaram errado, seja em Lula, em Dilma, ou Aécio. Votaram em uma imagem, cultivada a peso de ouro de propinas, como as delações de João Santana e sua mulher deixam muito claro agora. Antes já fora com Duda Mendonça.
Cada vez mais, o marketing político anuncia e vende produtos que, ao que parecem, têm que fazer recall a todo instante.
A grande maioria dos eleitores vota no que é induzido a pensar do político. Alguns até por questões e motivos tão simples quanto terem tido a oportunidade de terem uma ascenção social, terem podido adquirir um carro ou outro eletroeletrônico. Alguns por não terem mais precisado passar fome. Outros por terem visto os filhos em condições, pela vez primeira, frequentarem uma faculdade ou até irem com bolsa para estudos no exterior.
Mas, todos votam acreditando que estão votando em pessoas sérias, íntegras, honestas.
Acreditar que votam ainda nos dias de hoje, no que rouba mas faz, e apregoa que rouba, é descrer por completo da democracia e de nossa capacidade de criarmos uma sociedade justa e ética.
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Ok, não vamos ser hipócritas. Há os que pensam apenas em como aproveitar melhor depois pelo voto dado, ou vendido.
E, reconheçamos, nossa sociedade não é formada por nenhum santo, ou ingênuo. O que permite que tantos concluam que nossa representação política é o que se apresenta, pelo fato de que nós também somos isso. Escolhemos e votamos no que nos representa, para o mal ou para o bem.
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Então, não são os eleitores que agora percebem que seus candidatos também não eram o que lhes parecia ou foi vendido, que são os corretos e agora iludidos. Acusar aos outros eleitores que votaram em outras pessoas de terem bandido predileto, parece apenas querer não admitir que também falharam nas escolhas feitas. E que são tão imperfeitos e falíveis quanto aqueles a quem acusam.
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Diferente é se estão acusando os demais cidadãos de estarem defendendo bandidos, por estarem cobrando mais provas que indícios ou evidências. Diferente é acusar os que pensam contrário, por terem firmado convicções mais movidos pelos desejos, pela ideologia, pela doutrinação a que foram conduzidos ou pela que tentam induzir aos demais.
Porque esse comportamento mostra e fere, cabalmente, que esses que postam tais mensagens se consideram, mais uma vez, ou seja, continuam se considerando como superiores aos demais. E superiores ao próprio Estado de Direito, às leis, à presunção de inocência, a tudo aquilo que tem, ao longo dos tempos e com tanta dificuldade e batalhas, mostrado ser a melhor forma de uma sociedade se formar e progredir.
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E isso aqui não é uma defesa de qualquer político. O benefício da dúvida afinal deve ser dado a todos, os que foram pegos em gravações comprometedoras, ou não. Os que tiveram direitos mínimos prejudicados ou não (estão aí as prisões preventivas que se estendem por meses a fio). Os que foram pegos correndo para taxis com malas cheias de dinheiro ou não, mesmo que o dinheiro seja para o amigo que os indicou como homem de confiança.
Não dá é para acusar de ter contas fora do país, em seu nome, caso elas não estejam no nome do suspeito ou que o nome do suspeito apareça como intermediário, beneficiário, gestor, etc. de um truste por exemplo.
Não dá é antes de acusar, procurar saber como o dinheiro de tais contas teria sido internalizado no país, ou por meio de consulta ao Banco Central, ou por meio de acordo com autoridades financerias de outros países, para que providenciem o rastreamento dos recursos.
Não dá é para acusar de ter propriedades, apenas por ter sido encontrado um contrato em branco de proposta de compra e venda, ou algo semelhante.
Eu mesmo aqui em minha casa tenho contrato de aluguel, ou de proposta de crédito que acham-se em branco, por que os trouxe para estudar a conveniência de concretizar o  negócio ou não.
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Podem me acusar de ingênuo, mas a verdade é que até sou tentado a acreditar que as evidências são muito fortes e que, seguramente, algum triplex pudesse estar sendo sim, objeto de doação, a título de pagamento de propina ou dinheiro escuso.
Mas, se descoberto e noticiado o negócio escuso, ele deixou de se realizar, não há mais como falar em propriedade, já que não foi concluído o acerto.
Em minha opinião cabe, bem mais, ficarmos todos atentos para sabermos como o negócio que se frustrou será liquidado agora ou no futuro próximo. Porque se havia suborno, corrupção, propina, o pagamento agora não realizado deverá deixar um crédito que, até mesmo na esfera do crime, deverá ser saldado em algum instante.
Afinal, quem não sabe que dinheiro do crime é sagrado, até para evitar outras formas de cobranças?
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Políticos pegos em gravações falando bobagem mais que ingenuidade, deveriam procurar verificar se o teor de suas conversas, para além de seu conteúdo republicano implicavam em crimes ou ameaças de crimes ou não.
Por que não adianta alegar que não sabia, que foi ingênuo, que foi uma brincadeira de mau gosto, ou qualquer outra desculpa.
Melhor seria aquele que foi pego com a boca grande na botija, admitir, reconhecer, e se afastar. Até em respeito a quem nele acreditou.
Seria a forma de o fair play ser introduzido na política, no lugar da pós-verdade.
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Nesse meio tempo, há que se destacar, em minha opinião, que não fossem diretamente na Procuradoria Geral da República, talvez as acusações dos irmãos Batista tivessem o mesmo destino dado pelo juiz moro, às questões - 21 perguntas - de Cunha, ao golpista temer. Ou seja, o engavetamento. Para deixar claro que não é moro o herói do país. Afinal, porque proteger o presidente, porque blindá-lo, deixando de enviar-lhe perguntas que, independente da carga de ameaça velada, podiam sim, ser elementos importantes da defesa do ex-deputado?
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Aliás, moro está sumido, desde que aqueles que mostravam em fotos de eventos tanta proximidade consigo, foram apanhados em meio a mal feitos.
E agora, onde anda moro? Preocupado talvez em apagar as fotos de suas presenças em festividades ao lado de quem agora é indiciado? Apagando fotos de redes sociais, como o fez Hulk?
Por que, vamos convir, o problema não é ser amigo, e até aproveitar de benesses de tal amizade. Ou aparecer em fotos e campanhas eleitorais.
Em minha opinião pior é correr para apagar os vestígios dessa amizade, tão logo tal amizade se mostre indesejável.
Por que isso evidencia que de amizade havia muito pouco.
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Enquanto isso, temer o usurpador, nega, nega. Faz bravata, mas inegavelmente falou e ouviu - mais ouviu que falou- coisas comprometedoras. Crimes sendo praticados. E nada fez. Não tomou qualquer providência para interromper a sequência de atos criminosos.
E vir dizer que não poderia ter combinado a compra do silêncio de Cunha por que o ex deputado dirigiu-lhe 21 questões destinadas a incriminá-lo, como prova de que o tal silêncio não foi objeto de negociação, é no mínimo, pueril
Afinal, pelo que a fita dá a entender, o compromisso com Cunha não andou sendo pago em dia. Foi isso que Joesley informou a temer: ele colocou a questão em dia.
Mais ainda, de lá para cá, Cunha aquietou-se. Deixou de fazer ameaças e sua esposa não foi, curiosamente, presa.
Quer melhor indício de que ele ficou satisfeito com o encaminhamento da questão do que até então era mera ameaça?
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Fica no ar, por sua esquisitice, a briga entre a Folha e o Estadão, de um lado, com a companhia da defesa que a Record fez de temer no Domingo Espetacular de ontem, versus o jornal e a rede Globo.
E fica no ar a indagação que não quer calar: o que a Globo ganha com a queda de temer?
O que está por trás da ação espalhafatosa da Globo?
Porque se a Globo está por trás, boa coisa não pode ser. Desde a teoria da conspiração que a une com os interesses de multinacionais americanas, ou outros interesses do grande capital externo, inclusive no sucateamento da Petrobrás.
Ou então na tentativa de provocar tamanho tumulto que os militares tenham que ser chamados para intervir na ordem pública e social.
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Em meio a tudo isso, o capitalismo é isso aí mesmo, embora o discurso que lhe sustente seja o da existência de liberdades individuais e de mercado.
Desde suas origens, seu surgimento, o Estado, em suas várias instâncias é que permitiu seu desenvolvimento e sua expansão. E foi do conluio entre empresas e Estado que surgiu a configuração do capital que existe hoje.
Conversa para ser aprofundada em outro pitaco.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Os campeões nacionais e a denúncia bomba

Infelizmente, não dá para evitar, no dia de hoje, de tratar da delação dos irmãos proprietários de um dos nossos empreendimentos selecionados para ser um de nossos "campeões nacionais" pela política econômica (de cunho industrial) implantada em nosso país, a partir do governo Lula.
Antes de tratar diretamente do tema, contudo, é importante mais uma vez retomar essa questão dos campeões nacionais, defendida pelo professor Luciano Coutinho e vários outros importantes especialistas desde o início da década de 1990.
A propósito, já no Relatório de pesquisa desenvolvida sob a coordenação do professor Luciano Coutinho, com o objetivo de avaliar o grau de competitividade da indústria nacional e/ou alguns de seus setores, que gerou entre outros produtos o livro Made in Brazil, nos anos 90, ficava bastante evidente a ideia de se adotar um programa de desenvolvimento empresarial bastante calcado no mesmo tipo de política considerada tão exitosa na Coréia do Sul.
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Paradigmática, a Coréia era considerada um modelo a ser seguido, especialmente pelo fato de análises comparativas indicarem que, no início da década de 60, a situação do país asiático era senão semelhante, algo pior que a situação da economia brasileira.
De lá para cá, a implementação de uma política educacional profunda, em um horizonte de duas gerações transformou a Coréia não apenas em um país de população educada, mas plantou as bases para a formação de um quadro de técnicos, pesquisadores, cientistas, aptos a transformarem aquele país em um dos maiores desenvolvedores de tecnologias de ponta no mundo.
Do ponto de vista econômico, o modelo adotado, "voltado para a exportação (export led)"  obrigou aquele país a ampliar sua competitividade e sua produtividade, programa que logrou êxito, em função da ampla ajuda recebida como consequência dos fatos que se seguiram ao primeiro choque da alta de preços do petróleo, no ano de 1972/73.
Apenas a título de reavivar a memória, extremamente dependente de importações de petróleo, base de sua matriz energética industrial, o Japão viu-se na contingência de ter que reduzir drasticamente suas importações do produto. Até por questão de sobrevivência econômica, o Japão decidiu praticar um tipo de política industrial voltada para desmobilizar as indústrias, como a de alumínio, sabidamente consumidoras de energia.
Ao propor indenizações para a desmobilização dessas empresas grande consumidoras de insumo energético, o governo japonês negociou com seu vizinho, a Coréia, a transferência para aquele país, das empresas em desmonte, de forma a não condenarem empresários japoneses a perderem suas fábricas, suas empresas e sua experiência.
As empresas japonesas migraram para a Coréia, de onde podiam, com facilidade, exportar e, dessa forma, atender à demanda de seu país original.
Daí, parte da explicação do êxito do modelo voltado para fora adotado.
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Ainda no tocante ao seu programa de desenvolvimento industrial, e talvez até mesmo seguindo a experiência japonesa de formação de empresas gigantescas, melhor definidas como conglomerados, os keiretsu, a Coréia passou a fomentar a implantação de Chaebols, de configuração similar à do Keiretsu.
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Foi desse sucesso coreano, da formação dos grandes grupos, da capacidade de promover uma mudança radical na educação e dar um salto tecnológico significativo, que nasceu a ideia de se repetir aqui no Brasil, uma revolução semelhante.
Que, a bem da verdade, era uma exigência, uma demanda de grande parte da sociedade, inclusive de setores mais especializados que queriam que o Brasil trilhasse os mesmos rumos da Coréia do Sul.
Daí o embrião da política de formação e apoio aos campeões nacionais,
Daí também a decisão de, como foi na Alemanha desde sua industrialização, depois em outros países como o Japão e Coréia, além de outros tigres asiáticos, utilizar como braço financeiro da operação, um grande banco, de caráter público.
No nosso caso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o bom e antigo e respeitado BNDES.
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A propósito, tendo trabalhado no BDMG, e conhecendo a estrutura de aprovação de projetos que era calcada em vários comitês de análise, em níveis hierárquicos distintos, creio que o nosso banco de desenvolvimento ao abrir sua caixa preta, irá mostrar que não há, em suas operações, a quantidade de desvios e mal feitos que agora lhe imputam.
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Quanto à política de campeões, de minha parte, acho que deveria ter sido, minimamente discutida de forma mais clara com toda a sociedade, já que ao privilegiar alguns, de maior potencial, conquistava a oposição de milhares de outros pequenos empresários, também dignos de terem condições de sobrevivência, e de concorrerem em condições de igualdade no nosso mercado.
Apenas lembrar que, basicamente, a formação de grandes grupos tinha como principal foco, permitir que o país tivesse players importantes no cenário internacional.
Para terminar o assunto: claro, ao final dos anos 90 e virada dos anos 2000, a globalização produtiva em escala global teve impactos importantes em relação a essa questão de formação de grandes empresas nacionais que, parece-me não foram devidamente equacionados. (Embora isso seja mero palpite meu e, nesse sentido, deve ser considerado).
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Bem os donos da JBS foram um desses campeões nacionais, privilegiados (e, pelo visto bem escolhidos!), a julgar pelo seu crescimento exponencial.
Mas, como já afirmei antes, o capitalista (aqui usado no mesmo sentido empregado por Marx, de persona, para expressar não uma pessoa, mas um, digamos agente representativo) que acumula capital na velocidade espantosa dos irmãos Batista, vindos de origem humilde, certamente não estão isentos de várias ações, digamos, moralmente questionáveis.
Uma delas, a de se submeter ao financiamento de campanhas políticas. Melhor dizendo, a de se sentirem suficientemente fortes para financiar eleições e candidatos, em uma espécie de contratação de subordinados aos seus interesses. Em uma expressão: comprar os políticos e as medidas posteriores que, como pagamento dos favores prestados, eles irão ter de prestar aos seus financiadores.
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Alguém duvida que o golpista temer esteja envolvido nesse caso, depois de saber de toda sua trajetória como presidente do partido mais corrupto do país, desde o fim do ciclo da ditadura militar?
E alguém em sã consciência pode acreditar que a corrupção era cria do PT, como foi muito explorado por algumas pessoas bem intencionadas, mas menos experientes em cometer análises de cunho político e social, que muitas vezes superavam seu horizonte de atuação e até de vida?
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Como antes já teria sido um absurdo temer receber um empresário no Jaburu, para sacramentar a concessão de financiamento de campanha eleitoral com recursos suspeitos, da ordem de 40 milhões, como delatado por Marcelo Odebrecht, mas considerado algo anterior ao exercício do mandato usurpado e, portanto, não passível de investigação. Afinal, como já dito anteriormente, seria a confirmação de que negócios públicos e privados estavam acontecendo e andando de mãos dadas.
Como foi também um absurdo, esquecido pela midia propositadamente, um presidente (assim como acontece agora com Trump, por exemplo) contatar um ministro para sugerir a aprovação de um projeto de interesse nada público, nada republicano de outro ministro, mais íntimo do presidente, no famoso caso Geddel.
E junto a tudo isso, causa estranhamento e repulsa, a confirmação de que em seu escritório em São Paulo, sua presença servia de aval para a operação da Odebrecht, de financiamento de campanha com propinas, caixa dois e etc. Mais uma vez não levada adiante por quem decide o que deve ser informado aos Simpsons do país.
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Agora, a  bomba estoura, dada a referida existência de uma gravação, no Palácio de residência oficial - no caso do ex-vice, o Jaburu, onde foi comunicado de que estava sendo paga mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador financeiro do PMDB, para que se mantivessem calados. Para que não fizessem qualquer delação.
Independente de se referir ou não à necessidade de se "manter isso aí", como a denúncia levada a público informa ter sido recomendada pelo usurpador, apenas o fato de estar informado de um ilícito e não ter adotado qualquer medida, como a lei determina que  todo agente público deve agir, informando a quem de direito da ocorrência de um crime de que teve ciência, já é suficiente para a abertura de um processo de impeachment, agora sim, com a existência cabal, comprovada de um crime de responsabilidade.
E sério. E grave.
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Esperar-se de temer, o traidor, golpista, que mostrou ter caráter muito aquém do desejado, ao articular pela derrubada daquela que era sua cabeça de chapa, um gesto de renúncia, seria demais.
Afinal, sua pequenez não lhe permite gestos de grandiosidade como até mesmo uma renúncia exige.
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Mas pela primeira vez, vou admitir que subestimei temer, durante todo esse tempo.
E, por essa razão, vou escrever pela primeira vez seu nome com maiúscula, dando-lhe o devido destaque: afinal, como parece estar já comprovado, Temer é o chefe da turma que aceitava negociar o país, em benefício próprio. E, convenhamos, com capacidade e desenvoltura inquestionáveis.
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Quanto a Aécio, que meu amigo Pieroni sempre me condenou por criticar não há muito mais o que falar.
Nem mesmo da suposta brincadeira de que mandaria matar o emissário, antes que ele pudesse fazer qualquer delação, o que demonstra apenas a disposição do "menino mimado do Rio" de fazer brincadeiras de muito mau gosto.
Mas não vou tripudiar do aecim. Seria chutar cachorro morto. Nem ele merece isso. Merece tão somente o esquecimento. O desprezo, sob a forma da indiferença.
Afinal, esse vestal viu algo como um cinto, um retalho cinza próximo a seu guarda roupa. Puxou o objeto do chão para verificar do que se tratava.
Ao verificar que era algo preso no interior do armário, puxou com força.
Só quando o armário desabou sobre sua cabeça, viu que por cima das tábuas, havia um elefante, cujo rabo ele insistiu em puxar.
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Assim foi seu comportamento ao não aceitar a derrota, como qualquer menino mimado, derrotado nas eleições de 2014. Afirmando que não deixaria Dilma governar, jogou o país em verdadeiro thriller de suspense, mistério e horror.
Situação que, agora volta-se contra ele. O que apenas faz lembrar que quem tem telhado de vidro não pode sair à rua com atiradeira.
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Ainda assim, por mais grave que seja a denúncia, a ele deve ser dada a ciência de todos os fatos de que lhe acusam, como já havia sido determinado anteriormente por Gilmar Mendes, em outra denúncia.
Afinal, a justiça não precisa de pegadinhas, ou surpresas para poder ser cumprida.
Exceto, claro, se o acusado responder pelo nome de Lula, em que fotos, agendas, etc. podem surgir em alegações finais, de surpresa, como visto na data de ontem. Pena que em denúncia menor, dado o escãndalo que os irmãos empresários protagonizaram.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Atendendo a pedidos, uma análise econômica parcial. E as culpas e méritos da Lava Jato

Dono de um humor ácido, às vezes, e uma ironia capaz de causar, em alguns momentos, um certo incômodo em todos aqueles a quem seus comentários são dirigidos, é inegável que Tarcísio Americano Barcelos, colega de muitos anos do Banco Central e a quem aprendi a respeitar e admirar tem o poder de nos retirar de nosso imobilismo e de nos induzir a realizar uma autoanálise e uma reflexão que, nem sempre desejadas, são sempre necessárias,  por nos levarem a questionar nossas convicções.
Afinal é de nossa tendência, acho eu, preferirmos os elogios sem adjetivações. Puros. Simples,  mesmo que às vezes tolos ou vazios.
Mas, no caso de Tarcísio algumas das críticas têm também um outro objetivo, que é a de nos dar oportunidade de buscar melhorar sempre.
Daí com o tempo, eu ter aprendido a respeitar e entender Tarcísio e seus comentários. E sua ironia.
O que me leva também a ficar ainda mais orgulhoso de saber sua opinião a respeito desses pitacos que eu cometo, de quando em vez.
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Claro que Tarcísio nem pode nem deve concordar sempre com o teor de minhas opiniões, mas mesmo quando essa concordância não se dá, já é suficientemente bom que, especialmente nesses tempos que estamos vivendo,  de divisões profundas em relação a tantas concepções distintas de o que ter como objetivo e metas, o que  fazer, como etc. na busca de melhorar nosso país e nossa sociedade, possamos manter discordâncias legítimas e sempre civilizadas.
A propósito, lembro-me de um primo, com quem trabalhei no início de minha vida profissional como assessor na Prodemge, Dr. Roberto Pereira da Silva, que então me afirmava que todos tínhamos sempre os mesmos ideais e queríamos alcançar os mesmos objetivos e metas: uma sociedade mais justa, mais solidária, mais equânime.
Segundo ele, a razão das divergências estaria em como chegar lá, ou o que fazer para atingir tais resultados.
Confesso que, embora algumas ocasiões me sentia tentado a concordar com sua visão, acabava sempre retornando à ideia que era sempre objeto de discussões e diagnósticos de nossa sociedade como resultado de seminários, debates, artigos de jornal, palestras, editoriais, livros e opiniões de técnicos, cuja opinião unânime é de que faltava um projeto de nação, quem sabe um projeto de sociedade para o Brasil.
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Dessa forma, sem um projeto de consenso nacional, a visão do Dr. Roberto acabava se desfazendo no ar. Éramos então, como somos hoje, um país dividido. E a visão e objetivos de nossas classes dominantes eram completamente antagônicas àquela de nossas classes menos privilegiadas. E cada um defendia, como é óbvio o acerto de sua visão, mesmo que sob o grande guarda-chuva do bem para todos.
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Mas voltemos ao colega que me brinda com o fato de ler, e confessar que sempre lê esses pitacos, os quais são imperdíveis, conforme sua irônica classificação.
Tudo bem. Até para evitar que eu fique escrevendo e obtendo comentários em um gueto do pensamento, o importante é que todos leiam e critiquem os meus pitacos. Mesmo que, como o Tarcísio várias vezes me relatou, parece que há alguma dificuldade no blog, de o leitor poder publicar qualquer comentário.
(Confesso que essa não é uma queixa apenas do colega,  e que já procurei nas configurações verificar se há algum erro de minha parte, em liberar os comentários para quem os deseje fazer. De minha parte, liberei todos e quaisquer comentários, mas parece que não consegui meu intento. Não sei o que estou fazendo de errado).
Mas para não evitar de dar sua opinião o Tarcísio utiliza-se do facebook, como o fez no dia de ontem, em que publicou a seguinte postagem a respeito de análise que eu realizei sobre o primeiro ano de governo temer e o comportamento da imprensa a respeito, principalmente encobrindo, em minha opinião, o fato de que o governo usurpador ampliou o desemprego, resolveu promover o ajuste fiscal ampliando os déficits primários do país, e obtendo aprovações de reformas impopulares por meio do sempre "elogiado" modo de se fazer política em nossas terras, o é dando que se recebe.

"Sem falar na tragédia de 600 milhoes de brasileiros que perderam o emprego devido aos caprichos do juiz de Curitiba. Seria ótimo se você pudesse fazer uma análise econômica parcial em uma próxima edição do imperdível blog "Também Quero Dar Pitaco". Fica a sugestão."

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Então, para atender ao colega e a outros leitores que, caso existam, possam comungar com sua opinião, vamos lá.
Não é o Dr. Sérgio Moro, nem poderia ser, o responsável por uma quantidade de desempregados que supera a própria população total do país. Não é a operação Lava Jato, e suas descobertas de tantos crimes cometidos pelos empresários que frequentam a classe social mais refinada de nosso país que tem culpa na elevação dos índices de desemprego grave que nos assola.
A operação só revela aquilo que vários de nós já desconfiávamos, quanto mais fortuna alguém faz nesse sistema econômico em que vivemos, e quanto mais rápido atinge fortunas, mais provável é de que tenha obtido seus bens por métodos não muito toleráveis do ponto de vista ético, para não acusar a ninguém de estar cometendo crimes.
O problema é que a imprensa que tanto destaca a Lava Jato, talvez, e apenas talvez por ser também formada por empresas cujos donos sejam empresários e de fortuna gigantesca construída rapidamente, prefere ignorar que o crime pior é cometido pelo lado responsável pela corrupção ativa, pelo que, do alto de seu poder e até de sua expressão que parece lhe assegurar alguma imunidade, pratica caixa 2, oferece propina, transforma não apenas seus operários ou funcionários em mercadorias. Compra políticos e funcionários públicos e oficiais, e todo tipo de pessoas, sem qualquer constrangimento.
Afinal, agem como acreditam que são os donos do mundo.
Veja que nem digo donos do Brasil, ou de nosso país, ou de nossos políticos, porque a própria Lava Jato está mostrando que os tentáculos de uma Odebrecht, para citar apenas uma, alcançam vários países da América do Sul, América Central, Europa, África e até mesmo os Estados Unidos.
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A conclusão a que chegamos é que a ação criminosa - que tem sim, inegavelmente a contraparte do corrupto passivo, do que aceitou propina, etc. - não é prática apenas brasileira e, se analisado com a mesma profundidade da Lava Jato, poderíamos perceber que o mesmo fenômeno repete-se em escala planetária, como é exemplo a Coréia do Sul e suas relações promíscuas com a Samsung.
Aliás, para não perder a oportunidade, foi lá na Coréia do Sul que surgiu uma prática de adoção de políticas públicas, caracterizada pela formação dos grupos campeões nacionais tão criticada aqui, recentemente. Mas que permitiu à Coréia dar o salto que retirou o país do atraso e a colocou no rol de países desenvolvidos, do ponto de vista da produtividade e tecnologia.
Interessante que muitos admiram o modelo coreano e seus grandes gigantes, e sempre reclamam de não seguirmos o  modelo de desenvolvimento daquele país, que implica relações entre Estado e empresário que não  fossem de algum grau de promiscuidade, mas criticam quando aqui se adota alguma política semelhante às de lá, como a de seleção de campeões nacionais.
Quer dizer o modelo da Coréia do Sul serve para algumas coisas, mas não para outras.
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Em minha opinião a questão da corrupção tem origem naqueles que são donos do dinheiro e, por esse motivo, só podem ter como objetivo ter sempre mais dinheiro, ou fazer seu dinheiro valorizar-se sempre, ampliar-se sempre. Por que meios forem necessários, para isso.
Mas, a imprensa aqui não toca nessa questão e apenas atua no sentido de condenar aos nossos políticos, nossos funcionários públicos, o gigantismo do Estado etc.
Não vou defender nossos políticos, a maioria dos quais, indefensáveis e de caráter que é melhor não falar. Até em respeito a um Lula de muitos anos atrás, para quem o Congresso (com que ele tanto compôs algum tempo depois!) era composto de mais de 300 picaretas.
Lula errou. Eram muito mais. E não apenas picaretas, mas vigaristas, ladrões, safados. E outros adjetivos que cada leitor pode complementar à vontade.
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Dizer que a Lava Jato descobriu toda essa teia de corrupção, mas só lembrar de culpar políticos, ou a eles de preferência, não exime a operação de ser autoritária, conduzida de forma parcial, de estar usando e abusando de métodos ilegais para jogar a opinião pública na direção que é mais conveniente a interesses nem sempre claros, como a dos vazamentos de grampos telefônicos que nem poderiam ter sido efetuados, a rigor; ou a prisão por tempo indeterminado, verdadeira forma de tortura, para levar o investigado a um nível de exasperação que o transforme em delator.
Pior, em minha opinião, que faz do investigado, suspeito, seja o nome que se lhe dê, um delator e, depois, um homem livre para gozar dos frutos dos crimes que ele alegadamente teria cometido.
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Nesse quadro, com empresários cada vez mais envolvidos nos crimes descobertos pela operação, não é de se estranhar que as empresas que eles representam ou são donos tenham perdido obras, contratos tenham sido interrompidos, e que empregados tenham sido dispensados.
Mas seria a Lava Jato a responsável por esse desemprego? Ou os responsáveis pelo desemprego são todos aqueles que estavam saqueando nossos recursos em proveito próprio e de meia dúzia de pessoas com influência para ajudá-los em seus mal feitos?
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Claro, sem ter expectativas de que a operação já chegou ao seu limite, e não ao seu final, frise-se, o ambiente de novas licitações, novas concorrências, novas contratações só pode estar prejudicado. E, nesse clima de incerteza e insegurança em relação  ao que ainda está por vir, é sabido que as empresas não procuram se expandir. Não contratam mão de obra. Não investem.. Não crescem. Ampliam o desemprego.
A culpa é da Lava Jato? Por caminhos tortos, sim. Mas melhor esse desemprego se contribuir para sanear o país. Embora não vá conseguir sanear o mundo e nem atingirá as empresas estrangeiras que adotam os mesmos comportamentos em outros países.
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Tudo isso, entretanto, não tem nada a ver com a minha afirmação de ontem, de que o governo temer, vendido como a última pílula salvadora do pote de remédios, para tirar o país da crise em que Dilma e o PT o lançaram, tenha aumentado o número de desempregados.
Admito que o governo temer não fez muito mais para contribuir para sua elevação que já tinha sido feito por Dilma e sua política de sujeição aos interesses do mercado.
Mas, é verdade que o governo usurpador manteve juros acima do nível considerado mais adequado, por mais tempo que o necessário, conforme os próprios analistas de mercado.
Ao cortar gastos públicos de forma indiscriminada, em medida que seria necessária em alguns casos, acabou ampliando o declínio da demanda agregada, já comprimida pela queda de renda e de consumo das famílias, e de investimentos de empresários que não vêem um ambiente de confiança que os inspire a investir. Dessa forma, contribuiu sim para a queda do nível de atividade e sua consequência natural: o desemprego.
Mas o governo foi mais além. Vendeu em alguns momentos uma imagem de que a economia precisava de um ajuste brutal, e levou a população à adoção de comportamentos de maior contenção de gastos, de maior responsabilidade financeira, cujo resultado embora não condenável, não consegue ser revertida nem quando o governo começa a aliviar o crédito, promover reduções de juros, ou liberar recursos do FGTS.
Ou seja: as medidas para estimular a economia, adotadas agora, encontram o povo tão atemorizado por toda a imagem que foi criada de caos econômico, que grande parcela da população apenas quer evitar compras.
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Mas, deixemos de lado a questão do emprego. Vamos ao outro ponto da análise de ontem. O governo e a imprensa toda elogiam a possível recuperação econômica recém iniciada.
Afinal o índice do Banco Central que antecipa o PIB assinala que houve crescimento de 1,12% no trimestre, o que nos permite comemorar a saída da recessão.
Será?
O próprio índice do Banco Central, em março, mostrou queda em relação a fevereiro, no cômputo mensal.
O jornal Valor Econômico traz várias opiniões de analistas afirmando que a expectativa para o próximo trimestre é de retorno a índices negativos de atividade. Ou seja, o índice positivo alcançado no primeiro trimestre foi acidental, nada sustentado.
Causado por uma super safra, extraordinária como há muito tempo não era vista no Brasil, à qual se une um câmbio favorável por motivos que, em outras circunstâncias seriam objeto de crítica: os juros elevados, a atração de capitais externos, a desvalorização do dólar. Até mesmo a confiança que os investidores externos demonstram no governo temer.
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Para a indústria o cenário é tétrico, já que perdemos vendas no exterior. Mas o resultado no caso de commodities agrícolas, onde somos produtores e vendedores importantes, independente do preço, tudo isso é positivo. Amplia a renda em reais de nosso agronegócio.
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Mas está lá no Valor, nos comentários dos analistas, nossa recessão talvez ainda não tenha sido debelada, apesar de todo o esforço de marketing do governo e toda a campanha de otimismo fingido que a mídia tenta nos impingir.
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Quanto ao sucesso maior do governo, que continua assistindo a quedas sucessivas da arrecadação tributária, que continua vendo os investimentos privados patinando e que consegue obter receitas extraordinárias com medidas como repatriação, programas de perdão de dívidas ou juros, como a renovação do Refis, já que não há recursos para investimentos em obras necessárias de infraestrutura, assinale-se é o combate à inflação, que tivemos a oportunidade já de comentar.
O êxito no combate à inflação é apenas decorrência de uma política de aprofundamento do desemprego, face à manutenção de elevadas e desnecessárias taxas de juros.
Ah! Claro. Temos que admitir que se tudo isso é fruto do governo temer, justiça seja feita, o usurpador está tentando melhorar o emprego, gastando com reformas inúteis no Alvorada, com a contratação de babá pelo serviço público e ampliando os gastos com cartão corporativo, como noticia vez ou outra a imprensa, tudo para continuar vendendo a imagem sempre elegante daquela que é nosso orgulho nacional, por tudo que tem de pura, recatada e do lar.
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Espero que minha análise tenha sido parcial, como solicitada pelo colega Tarcísio. E que tenha deixado mais uma vez evidente, a razão de os pitacos deste que aqui escreve, serem considerados imperdíveis.


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Pitacos olhando fatos da semana que passou, inclusive o aniversário de governo do usurpador e o depoimento de Lula

A semana acabou com as tradicionais reportagens e análises relativas a um ano do governo golpista, do usurpador temer. Que vai fazendo história, em função de estar conseguindo alcançar os mais baixos índices de popularidade que um chefe do Executivo já obteve.
O que, convenhamos, no caso específico dessa figura menor da política de nosso país, não é de se assustar. Afinal, ele não foi eleito. E chegou onde chegou de carona, na chapa e no programa que a candidatura vitoriosa prometeu ao povo.
Desnecessário lembrar, toda hora, que a própria candidata cabeça da chapa, tão logo vitoriosa, cuspiu no prato que apresentou como iguaria aos seus 54 milhões de eleitores, e foi a primeira a não cumprir o prometido, correndo para abraçar as recomendações e os nomes de técnicos que o mercado recomendava, como uma forma de tentar um armistício com os verdadeiros donos do poder.
Mas, se a presidenta Dilma praticou um autêntico e inegável estelionato eleitoral, ao menos ela foi eleita.
E seus eleitores saberiam e saberão cobrar dela as promessas frustradas, as ilusões pisoteadas, no momento oportuno.
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Mas com temer, esse anão da política nacional, o quadro é diferente. Manobrando pelas sombras, em que costuma agir, como o indica o fato de ter sua imagem pública frequentemente comparada à de Drácula ou outras figuras vampirescas, vimos ele conseguir sair de sua condição medíocre de nada no cenário nacional, como ele mesmo se definiu em carta à presidenta, figura inexpressiva por completo, para vir a receber, jogado em seu colo, o presente de ocupar a cadeira no Planalto, que um impeachment fajuto lhe ofereceu. 
Acostumado apenas a brilhar dentro das sombras do partido que presidia, aquele que é considerado o mais corrupto, o mais sombrio, o mais inescrupuloso e mais venal do país, o que lhe assegurou a pecha de ser sempre o fiel da balança do jogo pevertido de poder, nesses tempos de governo de coalizações, temer não poderia agir diferente do que lhe era comum: assumiu o governo montando a equipe de governo de nível mais baixo em termos de relevo, expressão e honestidade. 
Não à toa, não foram poucos os ministros afastados logo nos primeiros movimentos dessa orquestra desafinada aos olhos da população e muito bem ensaiada para dar curso às práticas do que de pior nossa política pode nos ofertar. 
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Também não por acaso, temer tem entre seus ministros de hoje, mais de 7 suspeitos de propina e corrupção e outras acusações até mais graves, sob investigação autorizada pelo Supremo. 
Mas, apesar de líder do governo mais corrupto, que inclui na lista de suspeitos sua própria pessoa, e não em apenas  um caso ou situação, mas em várias e repetitivas ocasiões, a sorte da fortuna que lhe colocou no cargo, fada má de nossa trágica história, não permite, enquanto no exercício do cargo, que o líder do grupo de más intenções possa ser investigado. 
E, além de estar no cargo protegido ou blindado por uma legislação completamente obtusa (que permite que qualquer suspeito de ações ilícitas possa permanecer no mais alto posto da República uma vez a ele tenha chegado, tão somente por que não se sabia antes de seus mal feitos, ou seja, mesmo de caráter o mais duvidoso, permanece no cargo todo o tempo de duração de seu mandato), o que vemos é um total silêncio e até ao contrário elogios da grande midia, e de setores empresariais e financeiros do país, a respeito de seu comportamento. 
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Claro, esses setores, mídia e grandes grupos empresariais, a nada criticam e silenciam-se, tão somente por serem eles mesmos, grupos suspeitos de participarem de um sem número de ações ilegais, ilícitas, criminosas, como a formação de cartéis nas licitações e concorrências públicas, ou o comportamento de corruptor ativo ou ainda o pagamento de propinas, a existência de caixa dois e outros crimes mais não deixam a gente ter qualquer dúvida quanto ao caráter dos grupos que não apenas se silenciam, mas apóiam ao governante atual.
E o fazem, sem qualquer sombra de dúvidas, por saberem que estão fazendo negócios e acertos e combinando reformas de legislações - verdadeiros assaltos aos direitos sociais e trabalhistas conquistados após longos anos de batalhas e vitórias -, com pessoas do mesmo baixo nível daquelas que ocupam seus quadros de controladores, de gestão ou de puxa-sacos. 
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Por isso, por estarem todos envolvidos no mesmo conluio, calam-se e mantém um governante usurpador, de quem não aqueles cidadãos de juízo não deveriam pensar em comprar sequer um palito.
Assim temer mantém-se apenas por ser o serviçal mais cômodo, já que sem qualquer condição, moral ou  de qualquer outra categoria, para tentar dar algum golpe em proveito próprio. Sua estatura permite apenas que cumpra o que lhe é determinado e sua capacidade não deixa que ele possa ser elevado a mais que aquele papel que lhe permitem exercer de fato. Equivalente ao papel que no crime, corresponderia ao de soldadinho de manobra ou bucha de canhão.
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Só para lembrar, desde que instalado no governo, já se sabe que temer pressionou um auxiliar, para que atendesse a interesses privados de outro auxiliar, mais próximo, em caso típico de crime de responsabilidade a que todos fecharam os olhos, já que implicava em dar tratamento de governo a assunto de interesse de um amigo, ministro, baiano.
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E não foi essa a única situação a que temos conhecimento, de uso de espaço público para tratar de questões particulares, desde que até jantares e pedidos de verbas de financiamento ilegal de campanha de seu partido medíocre, foram feitas em residência oficial do vice, o Palácio do Jaburu. 
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Quanto às ações adotadas por temer, destinadas a melhorar a economia, não há como esconder, embora a imprensa  não se presta e nem deseja ou pode, realizar uma análise séria. 
Porque senão teríamos que destacar que ao assumir o país "em frangalhos" com tão graves problemas nas contas públicas, temer elevou a proposta de déficit orçamentário de 90 bilhões para mais de 170 bilhões, abrindo espaço para que pudesse negociar com seus comparsas venais, a aprovação de medidas de, pasmem!,  ajuste fiscal!!!
Ou seja, o ajuste, representado pela PEC do teto de gastos, na verdade, apenas uma estratégia para se aprovar a Reforma da Previdência, abrindo espaço para que a previdência privada ou complementar pudesse progredir no país, foi saudado como um exemplo de boa gestão.
Mas, a imprensa se silenciou, e nada foi dito ou publicado de forma a criticar o absurdo de que,  para aprovação da medida, e mais recentemente agora, para deputados passarem a reforma na Comissão que a analisava, ou ainda para aprovação da reforma trabalhista, aproveitou-se de bilhões previstos de déficit previamente autorizado, para financiar a compra dos votos. 
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Então, a verdade é que se é para beneficiar os interesses, ou aprovar medidas que beneficiem interesses dos seus patrões, temer gasta à vontade - para isso até projetou aumento de déficits- e ninguém se incomoda. Para prejudicar os interesses dos menos favorecidos, dos trabalhadores, dos aposentados, dos mais idosos, etc. etc. temer corta gastos e todos aplaudem o governo por sua responsabilidade fiscal. 
Seria trágico, como é, se não fosse tão cômico. 
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Nesse meio tempo, a economia de temer eleva o desemprego de 10 para 14 milhões de pessoas; elimina os programas como Ciência Sem Fronteiras, reduz o Fies, prejudica a Educação; faz a venda no varejo cair de forma recorde, apesar de continuar sendo elogiado por estar promovendo a recuperação econômica, de um país que só cresce por conta do agronegócio e das exportações que são a demanda existente e capaz de fazer a indústria reagir ao quadro de estagnação que a domina. 
Mas isso não se comenta. Ninguém analisa. Ninguém informa que, a economia reagir a estímulos externos não é causa de elogio a governo ou governante algum, que não contribuíram em nada para o surgimento seja do estímulo, seja da reação.
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O que é curioso. Muitos dos analistas hoje em silêncio, sempre deixaram muito claro que a economia nos tempos de Lula, tinha muito pouco de ações de seu governo, já que Lula surfava nas ondas do crescimento mundial. Mas, agora, embora a situação se repita, os méritos são da boa e responsável equipe econômica do governo usurpador. 
O pior é que dá para entender o porque de toda essa situação. 
O que é uma pena para o Brasil que, em minha opinião, não tem nada para comemorar. Só perdas, a lamentar. 
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Outro assunto que dominou a semana foi o depoimento de Lula que, injustamente, em minha opinião, está sendo acusado de ter repassado toda a "sua" culpa para Dona Marisa, que não pode mais se defender. 
Embora eu respeite muito Jânio de Freitas, com quem concordo que Lula não se eximiu de responsabilidades, transferindo-as à sua falecida esposa, não tenho, por motivos óbvios, a condição de fazer a consideração que esse conceituado e sério jornalista fez ontem, em sua coluna na Folha.
Segundo Jânio, o caráter de dona Marisa era autoritário, a julgar por seu comportamento ao ver que, em prefácio que o jornalista foi convidado a escrever para o livro que André Singer publicou por ocasião da campanha vitoriosa de Lula em 2002, descobriu que o prefácio tinha o nome de Luriam, a filha de Lula, no título. 
Conta Jânio, que a reação de Marisa foi de proibir o texto, a referência. Ou seja, de fazer um escarcéu a que Lula não fez qualquer oposição. 
***
Não tenho, como disse, elementos para dar qualquer testemunho do comportamento ou tipo de reação próprios de dona Marisa. 
Mas, lembro que ela conheceu Lula, já viúva. Logo, não poderia casar-se com o metalúrgico em regime de comunhão de bens. Além disso, foi ela quem comprou uma cota de um apartamento tipo, desses empreendimentos populares que, mesmo sendo na praia das Astúrias no Guarujá, destinam-se a um público que "irá desvalorizar toda a vizinhança", conforme os mais ricos e tradicionais moradores de bairros com tais características. 
O apartamento tipo, de interesse de dona Marisa, financiado por uma cooperativa, não foi objeto de qualquer crítica, nem o fato de a decisão de ser adquirido não foi nunca objeto de crítica a Lula, por certa passividade. 
Mas, tendo os desdobramentos que o caso tomou - a cooperativa falir; a OAS assumir o empreendimento, descobrir que dona Marisa era uma das proprietárias, ou até a OAS ter assumido justo por tal motivo; a empreiteira querer dar a Lula um agrado, que Lula talvez até aceitasse,  mas sempre fica uma sombra de dúvida já que o apartamento tinha mais de 500 defeitos;  a insistência para que a mulher de Lula, com autonomia para agir e até tomar decisões, fosse visitar o imóvel, para convencer talvez o marido a ficar com o mimo; e, por fim, até a lembrança de que dona Marisa pudesse saber da secretaria em condições especiais mantida por Lula, e a partir de então, tomar decisões a respeito de vários assuntos, sem comunicar nada a seu companheiro, tudo isso me leva a crer que Lula não acusou sua mulher de nada. 
Não houve transferência de responsabilidades, ao meu ver, nesse caso, já que parece evidente que Lula adota mesmo esse comportamento em relação a outras propriedades de amigos seus.
Mas, ao ser questionado se dona Marisa voltou ao imóvel, ter respondido que sim, voltou e até pode ter voltado mais vezes; que ela poderia estar olhando o imóvel por uma série de motivos dos quais Lula não fora informado, tudo isso faz sentido em minha avaliação.
***
Mas mais fundamental é que não foi Lula que trouxe a pergunta referenciando dona Marisa. Nem foi ele que tocou nas visitas dela. Foi o juiz, ao questionar. 
Lula só respondeu. E ao responder, não havia como deixar sua ex-companheira de fora. 
***
Assim, é bom que se frise, nesse caso, acho que mais uma vez, acusar Lula de estar se valendo de sua ex-esposa, já falecida, para se safar, mostra apenas a limitação de caráter de quem o acusa de agir como talvez agiria caso estivesse em situação semelhante. 
É isso. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Queda da inflação, desemprego e o confronto Moro e Lula, calcado em hipóteses muito forçadas

Enquanto em Curitiba a grande imprensa de nosso país armava o palco e ultimava os preparativos para o espetáculo em que se transformou o depoimento de Lula no processo em que foi acusado de ter recebido um apartamento triplex no Guarujá, como parte de pagamento de propina pela OAS, pelos benefícios ilícitos prestados à empreiteira, o Brasil real continuava funcionando alheio ao circo, quase caçada ao ex-presidente e ao seu partido.
Foi assim, e com grande alvoroço, que essa mesma imprensa destacou o anúncio feito pelo IBGE no dia de ontem do IPCA para o mês de abril, de 0,14%, que permitiu que a inflação acumulada no período de 12 meses atingisse, pela primeira vez em 8 anos, um índice inferior ao centro da meta proposta pelo governo.
***
Sem dúvida uma conquista, não fosse o fato de tal queda ter se dado justamente em um período em que o Banco Central vem adotando uma política monetária considerada menos rigorosa, a julgar pelas sucessivas quedas das taxas básicas de juros, a Selic, situação que,  à luz dos fundamentos do sistema de metas inflacionárias deveria levar a resultado oposto ao obtido.
Senão vejamos: de forma simplificada, podemos dizer que o Sistema de Metas Inflacionárias que orienta o governo tem como principal instrumento de atuação e correção de rumos, a manipulação das taxas de juros, ou a sinalização que a taxa média de curto prazo anunciada pelo COPOM para negociações com os títulos da dívida pública faz ao mercado e a seus agentes. 
Desta forma, toda a vez que a inflação ameaça iniciar um processo de elevação, o colegiado de diretores do Banco Central integrantes do COPOM, anuncia uma elevação da taxa da Selic, a taxa de juros básica, o que serve para avisar ao mercado de que a Autoridade Monetária irá fazer tudo que estiver ao seu alcance para retirar dinheiro de circulação (uma política monetária restritiva) e influenciar a redução do crédito, de forma a fazer a demanda agregada perder força e declinar. 
Conforme o raciocínio, ao levar os agentes a decidirem por adiar compras ou parar de gastar, e ao encarecer o custo do dinheiro para os empréstimos necessários para que os empresários financiem investimentos, a demanda irá se arrefecer e, como resultado, irá deixar de pressionar a capacidade produtiva do país, fazendo caírem os preços.
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Vale lembrar que, do ponto de vista dos empresários, a elevação dos juros torna mais racional o adiamento de qualquer decisão de investimento na ampliação da capacidade produtiva de suas empresas, substituída pela de aplicação de suas disponibilidades em títulos junto ao mercado financeiro. 
Afinal, ao empresário capitalista, interessa tão somente a obtenção de lucros que o atendimento das necessidades da população.
Adicionalmente, dificilmente passaria pela cabeça  de qualquer empresário ampliar sua capacidade produtiva em um ambiente em que o governo está induzindo a redução de gastos de consumo. 
Assim, conforme a política econômica, quando os juros estão em queda, pode-se esperar que a demanda volte a reagir e se elevar, situação que pode acarretar o ressurgimento de pressões inflacionárias, a julgar pela tese exposta acima. 
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Conforme a teoria macroeconômica mais simplória, exposta nos livros textos e nos manuais, o aquecimento da economia acarreta, necessariamente uma elevação dos preços. 
Está lá no manual de Macroeconomia de Blanchard: a elevação da produção significa aumento do emprego, condições de ampliação do poder de barganha dos trabalhadores e elevação dos salários nominais; aumento dos custos de produção e elevção de preços, pelo repasse dos custos maiores para os produtos finais. 
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Pois bem, como não passa despercebido a ninguém, há mais de seis reuniões do COPOM esse órgão vem anunciando reduções da taxa Selic que, em tese vai na contra-mão da redução tão festejada da inflação, o que exige uma explicação.
E a explicação está ainda no mesmo manual já citado, quando menciona a existência de um dilema, chamado de trade-off em círculos mais sofisticados, entre o comportamento da taxa de desemprego e a variação apresentada pela elevação generalizada de preços, ou inflação. 
Conforme a teoria, se a taxa de desemprego que o país estiver experimentando, chamada de taxa efetiva, for superior à taxa natural de desemprego que assegura que a inflação real e a inflação esperada terão valores idênticos, a inflação apresentará variações cada vez menores, até negativas. 
Em resumo, maior o desemprego, mais rapidamente se dará a queda da inflação.
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Bem, a Folha de São Paulo em sua edição impressa, e agora na parte da manhã dessa quinta feira, até no Bom Dia, Brasil, da Globo, as notícias em comemoração à queda da inflação, ontem tão alvissareiras e elogiosas à diretoria do BC, ao seu presidente Ilan e até mesmo ao ministro da Fazenda, começaram a serem substituídas por outras, de caráter mais comedido. 
A inflação caiu, não porque a diretoria do Banco Central recuperou sua credibilidade; não porque os mercados passaram a confiar que Ilan não irá promover na instituição que dirige uma política irresponsável, de caráter populista;  não porque a diretoria e o Ministério da Fazenda não vão promover uma autêntica guerra contra a elevação de preços sempre que tal fenômeno ameaçar surgir no horizonte. 
Muito menos a inflação caiu, como afirmado ontem por Henrique Meirelles, porque o governo está dando ao mercado a sinalização de que está adotando uma política fiscal responsável, com o limite aos gastos públicos, a reforma da previdência que avança no Congresso, ou a reforma trabalhista, já no Senado. 
No fundo, o sucesso da redução da inflação tem causa, tem rosto (milhares de rostos), tem nomes, CPF's, endereços, desejos e sonhos, inclusive de consumo. Só não tem emprego.
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É o desemprego que explica o êxito  em combater a inflação de um governo que não foi eleito pelo povo, não tem qualquer legitimidade, considerando-se as pesquisas de popularidade feitas e divulgadas recentemente, e que, por estar completamente divorciado do povo, privilegia o combate à inflação e não como o governo anterior, o combate ao desemprego.
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Justiça seja feita, o governo anterior embora tentasse, fracassou rotundamente em suas tentativas atabalhoadas de combater o desemprego. O que conseguiu produzir foi apenas uma quantidade de medidas destinadas a beneficiar a grupos empresariais e setores econômicos, sem deles exigir ou impor qualquer contra-partida mais efetiva para que o quadro se revertesse. 
Pior, praticou tais ações,  a maior parte delas na direção contrária à de manter minimamente saudáveis as contas públicas, no mesmo instante em que patrocinava cortes de gastos, anunciava contingenciamentos expressivos, especialmente afetando os investimentos públicos. 
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A causa de a inflação ceder é o desemprego, muito embora já haja, no horizonte mais longínquo, preocupações dos analistas do mercado financeiro com uma elevação da inflação para o próximo ano. 
Afinal, para citar alguns exemplos apenas, o tomate já começa a retomar sua escalada, e a questão hídrica continua sendo uma preocupação, dada a necessidade de retomada das bandeiras vermelhas nas contas de luz, especialmente agora, depois de a energia e os alimentos terem sido os principais componentes da redução dos índices da inflação. 
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Nesse quadro, de redução da inflação, a midia e os analistas de mercado se alvoroçam em prever quedas mais pronunciadas das taxas de juros, que poderão chegar até a reduções de 1,25%, para que a Selic ao fim do ano, esteja no patamar de 8%. 
Situação possível de acontecer, embora tal taxa não seja capaz de garantir, por si só, qualquer retomada da economia, principalmente das decisões de investimento. 
Primeiro porque apesar da queda da Selic, não há qualquer sinal de redução das taxas de juros dos vários instrumentos de crédito disponíveis à população, capazes de promoverem um movimento sustentado de retomada do consumo. 
As taxas do crediário, na ponta do varejo continuaram elevadas, as do cartão de crédito e do cheque especial também não permitem prever recuos, o que irá dificultar a elevação das despesas de consumo.
Sem essa expectativa de elevação das vendas, é pouco provável que as empresas queiram expandir suas instalações, ampliando os graus já elevados de ociosidade. 
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Por outro lado, não podemos nos esquecer, a reforma trabalhista em discussão, se aprovada, irá acarretar uma precarização do trabalho, cuja principal face será a incapacidade de trabalhadores conseguirem negociar melhorias salariais. 
Somado ao desemprego elevado, à baixa qualificação da mão de obra, etc. a perspectiva é de que a renda do trabalhador brasileiro não tem razões para se elevar. 
Ora, é a renda baixa, a perda de renda, aliada a juros estratosféricos que justificam a elevação da inadimplência, que realimenta o processo de elevação das taxas de juros na ponta do tomador de crédito. 
O que gera um círculo vicioso e prejudicial à recuperação econômica. 
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Assim, é pouco provável que taxas de juros mais reduzidas sejam suficientes para estimular a economia. 
Ao contrário, podem começar a trazer problemas para a atração de dólares do exterior e até mesmo para o câmbio. 
Vamos esperar e ver. Independente de toda a comemoração da imprensa.
***

E em Curitiba

Enquanto isso, Moro questiona Lula que se esquiva e, por mais que o pessoal da Globo, como a Miriam Leitão, insista em passar a ideia de que Lula mentiu ou ocultou informações em seu depoimento, entrando em contradições, o fato é que se houve a promessa de se dar de propina um ap no Guarujá,  a promessa não foi concretizada. 
Por mais que uma série de indícios possam continuar sendo apontados, nenhuma prova foi apresentada. 
O que é curioso, já que Moro, durante algumas questões mencionou a existência no processo, de fatos comprobatórios. 
Mas nenhum foi apresentado. 
***
Por uma questão de justiça, deve-se reconhecer que o comportamento de Moro foi cortês, elegante, o que o próprio Lula reconheceu ao se referir ao tratamento com fidalguia. 
Se houve algum momento que Moro derrapou, foi na insistência em trazer para o caso do triplex, a reforma do sítio que Lula também insiste em dizer não ser sua propriedade. 
O Moro de ontem, espertamente foi diferente do juiz Moro de costume, cada vez menos adotando o papel de juiz, magistrado imparcial, e cada vez mais candidato a cargo eletivo em 2018.
A questão é que Moro pode ser bom juiz (em minha opinião autoritário, arrogante e prepotente, além de imparcial, e midiático), mas como figura política é um anão perto de Lula. 
E não apenas em comparação com Lula, mas com várias das raposas da política que podem surgir à frente, almejando concorrerem aos mesmos votos que Moro aspira obter. 
***
Se houve contradição de Lula, como no caso de afirmar que dona Marisa não gostava de praia, ou que sua influência gigantesca no PT, não é um fator tão massacrante assim, já que o partido tem toda uma organização, uma estrutura e instâncias de decisão várias de que ele não faz parte, a verdade é que saiu-se bem no caso do elevador, ao afirmar que teria sido preferível solicitar que o elevador do triplex fosse instalado na residência em que mora. 
De qualquer forma, há que se reconhecer que o caso do triplex, como está e do ponto de vista da hipótese de ser um pagamento disfarçado de propina parece muito mais o caso do se colar, colou. 
Tipo assim: a OAS cede o apartamento. Reforma todo ele, atendendo a quem irá recebê-lo de presente. Mas tudo isso feito sem qualquer documentação, capaz de assegurar que foi dado em retribuição de qualquer ação anterior do presidente. 
Passados alguns anos, caso o assunto do apartamento caia em esquecimento, os documentos são transferidos e Lula assume, efetivamente a posse e a propriedade. 
Atá lá, nada. O ap é da OAS. A reforma foi feita para tentar ampliar as chances de venda. Para qualquer interessado. 
***
Embora até plausível, a história ganha contornos cada vez mais enigmáticos, e duvidosos. 
Porque dado o estardalhaço, nunca mais a opinião pública se esqueceria ou deixaria de cobrar caso o apartamento fosse transferido a Lula, constituindo o caso típico de uma propina que não poderia ser nunca saldada. 
Também é estranho acreditar que, caso houvesse o tal pagamento de propina, depois de todo esse circo, Lula já não teria combinado outra forma de pagamento junto ao Leo, seu amigo. 
***
De qualquer forma, persiste a questão: tudo não passa de indícios e ilações. Nenhuma prova foi apresentada, a meu juízo. 
Igualmente, tudo parece ser muito mais parte de uma conspiração destinada a impedir a candidatura de Lula e uma possível vitória em 2018.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Quando a sede demais acaba podendo até quebrar o pote: um texto para a reflexão "Um golpe na Lava Jato"

Pela importância, tanto do autor (meu cunhado favorito) quanto do conteúdo do texto, a opinião (muito mais abalizada que um mero pitaco!), do Dr. João Francisco Meira, diretor da Vox Populi.
O texto é muito bom e leva à reflexão, mais que necessária.

Vamos ao texto:

Um golpe na Lava Jato

Um jornal de Piratininga publicou, neste 30 abril, mais uma pesquisa de opinião, realizada por sua " personal polling house ”, contemplando a atual a conjuntura política e pré-eleitoral. 

Seus resultados, além de confirmarem a acachapante de rejeição à administração em ofício e sua agenda legislativa - notícia requentada, e expressa até nas sondagens encomendadas pelo Planalto; apresentaram, desta vez, a inovação de incluir na lista de candidatos putativos um juiz em pleno exercício de suas funções, contrastando seu nome contra os de alguns outros mais frequentes nas listas dos institutos. Não é qualquer um, mas o autor intelectual e maestro da versão indígena das “Mani Puliti”.

Não é igual ao caso do ex-ministro aposentado Joaquim Barbosa- que ficou afamado depois de sua performance na primeira temporada da nossa opereta judiciária. Este, após concluir seu encargo na Corte Suprema, houve por bem e direito, deixar a instituição e se dedicar à sua agenda pessoal. Como qualquer outro cidadão brasileiro válido, portanto, pode perfeitamente ser considerado possível candidato e entrar, como entrou, numa lista de intenções estimuladas de voto.

Mas o juiz na ativa, por sua mesma qualidade,  não pode ser ao mesmo tempo as duas coisas: magistrado e pré-candidato à Presidência da República. Não pode porque, obviamente, todos os atos por ele praticados na condição de juiz passam a ser objeto de suspeição; a sua conduta de ofício torna-se parte de um projeto de natureza eleitoral; e os poderes e instrumentos ao seu dispor para a prestação da justiça transmutam em meras ferramentas de marketing.

Em suas mãos estão processos contra políticos que poderão amanhã  ser seus adversários numa eventual disputa, como Aécio Neves Geraldo Alckmin José Serra e tantos outros, mas sobretudo Lula. Como acreditar que seja capaz de julgar um possível concorrente ao Planalto com isenção? Independente até da eventual gravidade das acusações; a sentença nunca estará livre de segundas ou terceiras interpretações. Se favorável ao réu, ali verão um provável aliado; se condenatória, um adversário a ser impedido de concorrer.

Ainda mais grave, é que, se permitida tal condição, toda a reputação do aparelho judicial passa também estar em causa, ao tornar-se trampolim para acesso ao posto máximo do Poder Executivo.

Não tenho conhecimento, até esse ponto; de qualquer manifestação, sugestão ou expressão de mínimo interesse da parte de S. Exa. a respeito dessa possibilidade. Neste aspecto, mais que o decoro formal, o silêncio pode até ser ensurdecedor. Mais eloquente, esse silêncio, se levarmos em consideração outro dos foros privilegiados que se abrigam nos esconsos da legislação eleitoral: juízes podem ficar até seis meses antes das eleições no abrigo de sua função antes de se lançarem oficialmente. Enquanto os políticos comuns precisam observar ritos e prazos mais dilatados, os magistrados gozam do favor do tempo: ao passo que os adversários se expõem às intempéries do escrutínio público, togados se enrolam em suas negras capas e podem posar de vestais por mais tempo.

A falta de juízo político, então, só deve ser atribuída ao veículo e à sua cúpula editorial. Ao criar um factoide no afã de buscar qualquer nome remotamente competitivo para a disputa com o grande favorito, o Fígaro Tupiniquim pode ter realizado, ainda que involuntariamente, o sonho de consumo de Cunha Temer, Jucá e associados: matar a Operação Lava Jato por contaminação eleitoral radioativa.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Pitacos sobre a reforma trabalhista e previdenciária, a perda de direitos e a conquista de competitividade, embora espúria.

Provavelmente fosse o ano de 1999 ou outro qualquer, vizinho da data mágica da virada do ano 2000, com suas ameaças que iam do bug do milênio, ao fim do mundo.
"Bug do milênio" que colocou todo o sistema financeiro em polvorosa e obrigou o Banco Central a criar uma equipe especial para monitorar qualquer problema que pudesse surgir com as contas e valores depositados e que acabou sendo semelhante à volta do planeta Halley à terra em 1986, uma grande frustração.
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Mas nos anos vizinhos à virada do século e do milênio, em alguns semestres, fui indicado para lecionar a cadeira de Economia Internacional, às vezes para o Curso de Ciências Econômicas, às vezes para o Curso de Comércio Exterior, ambos da Una.
E, entre os vários modelos apresentados e discutidos com os alunos, devidamente ancorados nos capítulos do livro texto de Economia Internacional de Krugman e Obstfeld, um tema que despertava grande interesse dos alunos, inclusive motivando a realização de seminários e debates, tratava da análise das questões ligadas ao protecionismo e às suas novas formas.
Lembro-me que, então, época em que o Consenso de Washington do final dos anos 80 e suas ideias e sugestões de política se difundiam especialmente pelos países em estágio de desenvolvimento, e em que o processo denominado de globalização e suas companheiras, as ideias neoliberais, concentravam o debate e conquistavam mentes e corações, uma questão sempre preocupante relacionava-se ao tipo de medidas que deveriam ser adotadas pelo Brasil, de forma a permitir, finalmente, sua inserção no concerto econômico internacional.
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Naquela época, embora já demonstrasse sua verdadeira face vinculada à financeirização das relações internacionais e da liberalização sem limites dos fluxos de capitais, com a queda das regulamentações e controles a esses fluxos, o fenômeno da globalização era tratado quase exclusivamente pela ótica da globalização produtiva.
O destaque ia sempre para as possibilidades de expansão dos fluxos de comércio, provocados pela grande escala e papel das empresas transnacionais e suas instalações em vários pontos distintos do planeta, de forma a permitir a elaboração ou montagem de produtos gerados a partir de peças, partes, componentes produzidos a custos cada vez menores, em países distintos, que apresentassem vantagens comparativas - muitas vezes vinculada à suas dotação de fatores de produção e/ou aos seus recursos naturais.
Era a época em que as manchetes destacavam a produção do carro mundial; época em que a China começava a abrir sua economia para participar da expansão das transações mercantis, admitindo a chegada em seu território de quantidade sem conta de grandes empresas estrangeiras, todas ávidas para aproveitar das vantagens de um país com mão de obra abundante e extremamente barata.
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Lembro-me que uma preocupação constante em todos os locais em que o tema era objeto de debates era, como continua sendo nos dias de hoje, a baixa competitividade de nossa indústria, em grande parte em razão de nossa principal vantagem ser também ligada a uma significativa quantidade de mão de obra, embora com qualificação muito aquém da necessária.
Sem contar com mão de obra com qualificação técnica ou científica, pelo menos não em número suficiente, nossa capacidade de competir com a indústria chinesa naqueles produtos mão de obra intensivos eram muito reduzidas.
Chegávamos à conclusão, então, de que ao país restaria, face a sua situação precária de capacitação e qualificação de mão de obra, dedicar-se cada vez mais aos produtos em que suas vantagens produtivas estavam presas a alguns poucos produtos vinculados à existência de recursos minerais ou à terra. Ou seja, tínhamos tudo para nos concentrar em produtos primários, que iríamos exportar para todo o mundo, adotando um comportamento futuro que consagrava nosso retorno ao passado, e ao atraso do modelo primário exportador.
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Na indústria de tecidos, por exemplo, desde o final da década dos 80s, fomos invadidos por produtos chineses, estando presentes na memória de vários de nós, mais velhos, a lembrança de tecidos chineses e, especialmente, de sapatos chineses, feitos de pano.
Produtos vendidos por camelôs nos centros urbanos, a preço de banana, quase que por quilo, mas que o consumidor sabia que tinha prazo de validade muito curto.
Não havia problemas, o preço muito baixo, permitia que o consumidor usasse um par de sapato por mês, se necessário.
Camisetas e camisas de procedência asiática invadiam nossa vida, embora sempre de qualidade questionável, dado o fato de também a mão de obra chinesa não primar pela capacitação. Sua competitividade vinha, na verdade, do fato de os chineses, oriundos de um sistema econômico que nos era completamente estranho, não serem remunerados da mesma forma que nossos trabalhadores assalariados. Nem terem qualquer direito trabalhista ou previdenciário a eles assegurado.
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Nas aulas, lembro-me de que a discussão sempre resvalava para a hipótese de que a China conquistava mercados para seus produtos (na verdade, de empresas americanas) por praticarem o que muitos denominavam de "dumping social".
Em sala, projetávamos e discutíamos um documentário premiado, que mostrava as condições inumanas a que os trabalhadores chineses eram submetidos e que não se restringiam à baixa remuneração, mas à própria definição da jornada de trabalho, férias e intervalos de descanso, que chegavam mesmo ao tipo de acomodações a que estavam sujeitos.
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Apenas a título de curiosidade, uma observação: com o passar do tempo, e isso foi objeto de destaque nas discussões em sala de aula, empresas como a Nyke, uma das primeiras a se instalarem naquele país milenar, estavam preocupadas em mudar para países asiáticos vizinhos, já que a legislação chinesa passou a exigir um tratamento mais respeitoso ao trabalho infantil.
A Nyke mudou-se, se a memória não me engana, para a Malásia.
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Ficava claro para todos que o que estava acontecendo e que a globalização promoveria em escala cada vez maior era aquilo que o exemplo da Nyke nos mostra com clareza estarrecedora. Para conquistar mercados a partir de preços irrisórios, os trabalhadores teriam que ser penalizados e tratados como no início da industrialização na Europa, com remuneração equivalente tão somente ao nível de sua subsistência. Situação que, mais cedo ou mais tarde iria ter que alcançar outros países que tivessem que competir com a produção intensiva em mão de obra não especializada da China.
Nesse caso, lembro-me de que chegávamos à conclusão de que para que nossa produção pudesse se tornar competitiva, especialmente em condições de competir com os produtos chineses, nossa legislação trabalhista teria que ser toda alterada.
E, curiosamente, para nosso sofrimento, nós que não tínhamos sequer chegado a algo próximo à instalação de  um Estado do bem estar social, como nas nações da Europa Ocidental, teríamos que abdicar, mais cedo ou mais tarde, das conquistas trabalhistas, poucas, que tínhamos nos assegurado.
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Claro, havia exceções, como foi exemplo a Coteminas, firma do ex-vice-presidente da gestão lulista, José Alencar, que aceitou o desafio e, investiu pesado em modernização de suas instalações, conseguindo ganhos de produtividade que, em pouco tempo, permitiam recuperar o mercado nacional de tecidos para o produto nacional.
Ao lado da Wembley, também de sua propriedade, as camisetas chinesas de qualidade inferior foram expulsas do mercado nacional. De quebra, das bancas de camelôs e de nossas ruas.
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Em sala de aula, sempre ao final do debate as discussões estavam centradas em como a classe empresarial iria acabar tornando-se competitiva, a partir da eliminação dos direitos consagrados dos trabalhadores nacionais.
Na época, já se falava em aumento da jornada de trabalho; da elevada e inviável legislação social, com encargos sociais cada vez mais onerosos, que atingiam até a 102% do valor da folha de pagamentos mensal; da eliminação do 13º; da redução do período de férias, etc. etc.
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O que não se admitia é que os encargos sociais não eram encargos relativos a custos apenas, mas verdadeiros direitos dos trabalhadores, conquistados uns, ganhos outros pela benesse de Getúlio, como a luta pela licença maternidade, depois expandida para os pais, e outros direitos que eram alvo da crítica dos empresários e analistas que preferiam adotar a postura de defesa do lado mais forte, do capital e da geração desmesurada de lucros, que do lado mais fraco, do trabalhador.
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De lá para cá, e curiosamente, em um governo que tinha um empresário como vice, o petismo conseguiu refrear, via crescimento e via uma capacidade de surfar no aquecimento da economia mundial e nas commodities a que como produtores fomos reduzidos a negociar, qualquer movimento de redução de direitos.
Mas, a fase de expansão econômica em escala mundial passou. Veio a crise financeira de 2008. A globalização mostrou sua verdadeira face financeira. Os países assistiram à formação da União Europeia, agora se desfazendo.
E porque se desfaz?
Pelo mesmo motivo, no caso da Inglaterra: para o trabalhador inglês se tornar produtivo, competitivo, ele deverá aceitar abrir mão de direitos sociais conquistados, o que ele não admite.
Embora o discurso seja de uma direita populista, retrógrada, o que Le Pen representa na França é, em parte, a mesma reação contrária ao avanço da concorrência internacional sobre empregos e postos de trabalho dos franceses. O que acabará afetando a outras conquistas e direitos assegurados aos trabalhadores daquele país.
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Foi também isso que permitiu eleger Trump, nos Estados Unidos. A globalização e a competitividade que setores da economia americana perderam, já que não querem abrir mão, como é natural, de seus direitos e regalias.
Tornam-se pois, trabalhadores caros, sem qualificação. Cujos direitos passam a ser constantemente foco de críticas e ameaças.
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Nada diferente do que acontece hoje em nosso país, já que é bom destacar sempre: está sendo vítima de um governo ungido por um golpe, sustentado por uma elite capitalista canhestra, de origem financeira, mas não só, que tem o dever apenas de atender e acatar aos interesses daqueles que o sustentam, independente de ser ou não dirigido por uma escória, ou algo próximo a tal definição, tamanha a quantidade de criminosos, suspeitos, investigados, etc. por crimes contra a economia, contra o país, contra o povo.
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Mas é contra o povo que as reformas trabalhistas estão sendo adotadas, afinal de contas.
Para ampliar nossa produtividade, nossa competitividade que nossos empresários não têm capacidade para obter de outra forma, senão contando com o apoio de um governo composto por lacaios, serviçais de seus patrões.
Que não se preocupa com a educação e políticas dedicadas a ampliar nossa qualificação e capacitação, a forma mais benéfica, embora de custo elevado e tempo mais longo, de obtenção de competitividade não espúria.
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Essa é a reforma trabalhista de temer, o anão.
Essa é a sociedade que esse governo usurpador está instalando. Paraíso para os empresários. E um inferno dantesco, para os trabalhadores e para aqueles que, hoje achando-se a salvo das perdas de direitos irão, mais cedo ou mais tarde, perceber que a história, que parece eles desconhecem, trata também deles.
É isso.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Sobre os comentários e a ignorância da greve e o início conturbado de maio. E uma despedida de Belchior

Fim de abril, e uma série de novidades interessantes no cenário político do país. 
A começar da greve geral convocada para o dia 28 de abril, em protesto contra a aprovação pela Câmara da dita reforma trabalhista e contra a proposta da reforma previdenciária enviada ao Congresso por esse governo ilegítimo, usurpador e inteiramente viciado.
Curioso que, no direito, qualquer ato jurídico que apresente algum vício, principalmente de origem, é fuzilado de nulidade plena. 
Ou seja, é considerado nulo, como se não tivesse existido nunca e nem pode gerar qualquer tipo de consequência ou efeito.
Mas, no caso de aprovação de uma lei, ou pior,  um conjunto de leis cuja razão primeira é beneficiar os interesses poderosos do grande capital, principalmente do capital financeiro, o vício de origem não conduz à nulidade. Um governo surgido em consequência de um golpe, portanto, anti-democrático, e integrado por vários políticos delatados e suspeitos de terem recebido propinas, ou desviado recursos públicos, ou ainda utilizado recursos ilícitos do famigerado e criminoso caixa 2, podem propor, votar, e alterar todo um arcabouço legal, na maioria das vezes, mas não sempre, com efeitos nefastos para o conjunto de trabalhadores, ou os estratos sociais menos favorecidos. 
Enfim, esse é o nosso Brasil, país cujas origens coloniais deixaram heranças tão profundas que, ainda nos tempos atuais, insistem em continuar reproduzindo, agora pelas elites nacionais, o mesmo tipo de exploração praticada pela metrópole portuguesa. 
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Voltando à greve, interessante é ver a forma como a manifestação foi tratada pela nossa grande imprensa, principalmente pelas grandes redes de televisão, Globo à frente. 
Mas, justiça seja feita, a referência à Globo deve-se, sem qualquer dúvida, à importância, à liderança em termos de audiência que a rede carioca ostenta, uma vez que o comportamento da Band, por exemplo, chega às vezes a ser mais vergonhoso, mais deplorável, mais puxa-saco que o de sua concorrente. E isso, independente de seu âncora ser um Ricardo Boechat, um jornalista menos venal que alguns analistas que infestam as outras redes. Alguns analistas cujas opiniões, sempre contrárias aos interesses populares e sociais não surpreendem a ninguém, considerado seu passado de serviçais da ditadura militar de 64.
Bem, a greve exitosa, conforme se depreende de leitura de jornais e sites sérios da imprensa estrangeira, não mereceu mais que algumas poucas frases de nossa mídia, a maioria delas destinadas a noticiar os atos de vandalismo que ocorreram em alguns pontos isolados das principais cidades do país.
Ou então, notícias destinadas a criticarem o fato de que os grevistas impediram aqueles que não desejavam fazer qualquer movimento paredista, de poderem exercer seu direito de trabalharem livremente. 
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Coisa mesmo de país sem qualquer experiência e cultura democrática, de povo tratado como gado, como boiada, tangida pelos interesses de uma elite completamente divorciada dos interesses da massa a que apenas lhe interessa explorar em proveito próprio. 
Essa mesma elite que reclama de que os grevistas pararam os serviços de transporte público, inclusive alegando que o sucesso da paralisação foi muito menos por vontade do povo participar mas por impedimento de poderem ir ao trabalho, constrangidos pelos "vagabundos".
Elite para quem a greve deveria se dar nos finais de semana, para não prejudicarem o interesse e desejo da alegada maioria que, ao que parece, está plenamente satisfeita em perder direitos e ver os ricos cada vez mais favorecidos. 
Porque o que mais me deixa perplexo é que, sentindo-me partícipe da greve, e tendo me manifestado favorável ao movimento, fui então chamado de vagabundo, como os demais brasileiros que ainda se interessam em lutar na defesa de seus direitos conquistados a duras penas e lutas várias. 
E fui chamado de vagabundo pelas redes sociais, sempre permeáveis a qualquer tipo de pronunciamento por mais cretino que possam ser, por algumas pessoas até conhecidas minhas que, curiosamente, são aqueles que estão mais propensos a se tornarem vítima da precarização do trabalho, especialmente a partir de uma certa idade e tempo de carreira, como também serão aquelas pessoas que mais têm a perder com as novas idades determinadas para a aposentadoria, ou com a nova regra que obriga o trabalhador a ficar mais de 40 anos trabalhando para ter, quem sabe, um salário correspondente a uma média, calculada de forma a reduzir o valor de seu benefício futuro. 
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Em relação a esses conhecidos, ou a alguns deles, apenas me reservo o direito de pensar que são a ilustração mais cristalina da falta que a educação formal de mais conteúdo possa provocar em um povo. 
É uma pena. Mas alguns dos que estavam nas redes reclamando dos vagabundos são os que mais ralam, e menos obtém rendimentos, por serem os que menos tiveram acesso, seja por que motivo for, a uma educação e capacitação profissional de qualidade.
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Saídos da greve, já no primeiro dia útil do mês de maio tivemos a oportunidade de verificar o acerto daqueles que sabem que direitos só se conquistam com muita luta. Afinal, depois do espetáculo da invasão do Congresso, com direito a quebradeira, pelos policiais federais, exigindo alteração na proposta previdenciária do governo, em relação à sua categoria profissional, ontem quem partiu para o movimento de invasão e ameaças e quebradeira, agora no Ministério da Justiça em Brasília, foram os agentes carcerários. 
Assim como os policiais federais, não duvido que os agentes serão atendidos em suas justas reclamações, como o foram também, por serem considerados policiais, os servidores que integram a polícia do Legislativo. O que é uma brincadeira. 
Daqui a pouco, também serão retirados das alterações da previdência - aquela que tinha como principal conquista igualar a todos os trabalhadores sem exceção -, os seguranças, inclusive, privados, que travam luta muito mais renhida e diuturna, com maior exposição a riscos, inclusive de vida, que os policiais do Congresso. 
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Ou seja, no afã de aprovar ou mais ainda de criar um temor gigantesco na população trabalhadora do país, inclusive mentindo e apresentando dados senão falsos, pelo menos incompletos, sob a situação de viabilidade futura da Previdência, o governo admite abrir mão de alguns de seus princípios (como o da igualdade), desde que, contando com o apoio sempre explícito da grande imprensa, a ideia de previdência privada complementar possa continuar a ser difundida e a conquistar cada vez mais adeptos e consumidores. 
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Maio teve início como é costume, com um discurso do presidente da República em comemoração ao dia Internacional do Trabalho. 
Ou não.
Porque nosso usurpador e golpista temer, não tem coragem para se dirigir às redes de tevê para fazer qualquer aparição, desejando fugir do panelação que, tolamente, acredita que iria ocorrer. Coitado, mal sabe que a Globo não mandou ninguém fazer panelaço. E ainda que alguém insista em fazer ruído em protesto, não seria notado. Ao menos não seria noticiado de forma alguma. 
Mas nosso fugitivo das luzes corre para se esconder nas redes sociais, mostrando o acerto de todos que criticam sua imagem pessoal: não fosse assemelhado fisicamente ao nobre conde Drácula, agora ficamos sabendo que, do ponto de vista mercadológico, não convém aparecer em público que o compara com uma representação demoníaca. 
E esse é o homem que vai mudar o Brasil, aproveitando de sua notória impopularidade e sua falta de estatura moral para se livrar das forças que o colocaram onde se encontra, para ajudar a construir um país mais justo e digno.
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Ainda no início de maio, vimos mais uma vez Dallagnol querer se mostrar maior que o seu tamanho real, achando-se com forças suficientes para constranger ao Supremo, o que lhe valeu uma severa reprimenda pública de um dos ministros da Corte, justamente aquele que mais motivos dá, perante à sociedade, para que o respeito devido à Suprema Corte do país, seja cada vez mais lançada ao ralo. 
Com isso, Eike, Zé Dirceu e outros vão fazer companhia à Adriana Anselmo, mulher de Cabral, ou ainda a outros criminosos de renome e projeção que gilmar mendes não viu qualquer problema em determinar sua liberação. 
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E, mais uma vez, vemos uma crise institucional se instalar em um país que atribuía a culpa por todos os seus problemas à mera presença do PT no poder. Assim como toda a corrupção que se acreditava e divulgava que era fruto apenas do governo petista, já que os demais partidos eram compostos por candidatos à santidade, ainda em vida. 
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E maio está apenas começando. Mas promete, inclusive na economia, onde parte dos índices e estatísticas, inclusive do número de desempregados, continua, insistentemente, não concordando em se comportarem como as redes de televisão e a equipe do governo fingem estar ocorrendo. 
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Para concluir esse primeiro pitaco do mês em que se comemora o dia do trabalho, das mães, do centenário da aparição em Fátima, e da Abolição da Escravidão (que temer parece querer anular), uma despedida sentida de apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso e vindo do interior. 
Alguém que ousou querer que seu canto, como faca, cortasse a carne de todos que o ouvíamos. 
Ou que romanticamente, mas não inocentemente, com medo de avião, segurou pela primeira vez na mão de alguém...
Belchior, grande poeta, segue agora pelas paralelas que não levam ao infinito do Corcovado, mas levam a outros mundos e outros planos.
Quem sabe?