quinta-feira, 18 de maio de 2017

Os campeões nacionais e a denúncia bomba

Infelizmente, não dá para evitar, no dia de hoje, de tratar da delação dos irmãos proprietários de um dos nossos empreendimentos selecionados para ser um de nossos "campeões nacionais" pela política econômica (de cunho industrial) implantada em nosso país, a partir do governo Lula.
Antes de tratar diretamente do tema, contudo, é importante mais uma vez retomar essa questão dos campeões nacionais, defendida pelo professor Luciano Coutinho e vários outros importantes especialistas desde o início da década de 1990.
A propósito, já no Relatório de pesquisa desenvolvida sob a coordenação do professor Luciano Coutinho, com o objetivo de avaliar o grau de competitividade da indústria nacional e/ou alguns de seus setores, que gerou entre outros produtos o livro Made in Brazil, nos anos 90, ficava bastante evidente a ideia de se adotar um programa de desenvolvimento empresarial bastante calcado no mesmo tipo de política considerada tão exitosa na Coréia do Sul.
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Paradigmática, a Coréia era considerada um modelo a ser seguido, especialmente pelo fato de análises comparativas indicarem que, no início da década de 60, a situação do país asiático era senão semelhante, algo pior que a situação da economia brasileira.
De lá para cá, a implementação de uma política educacional profunda, em um horizonte de duas gerações transformou a Coréia não apenas em um país de população educada, mas plantou as bases para a formação de um quadro de técnicos, pesquisadores, cientistas, aptos a transformarem aquele país em um dos maiores desenvolvedores de tecnologias de ponta no mundo.
Do ponto de vista econômico, o modelo adotado, "voltado para a exportação (export led)"  obrigou aquele país a ampliar sua competitividade e sua produtividade, programa que logrou êxito, em função da ampla ajuda recebida como consequência dos fatos que se seguiram ao primeiro choque da alta de preços do petróleo, no ano de 1972/73.
Apenas a título de reavivar a memória, extremamente dependente de importações de petróleo, base de sua matriz energética industrial, o Japão viu-se na contingência de ter que reduzir drasticamente suas importações do produto. Até por questão de sobrevivência econômica, o Japão decidiu praticar um tipo de política industrial voltada para desmobilizar as indústrias, como a de alumínio, sabidamente consumidoras de energia.
Ao propor indenizações para a desmobilização dessas empresas grande consumidoras de insumo energético, o governo japonês negociou com seu vizinho, a Coréia, a transferência para aquele país, das empresas em desmonte, de forma a não condenarem empresários japoneses a perderem suas fábricas, suas empresas e sua experiência.
As empresas japonesas migraram para a Coréia, de onde podiam, com facilidade, exportar e, dessa forma, atender à demanda de seu país original.
Daí, parte da explicação do êxito do modelo voltado para fora adotado.
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Ainda no tocante ao seu programa de desenvolvimento industrial, e talvez até mesmo seguindo a experiência japonesa de formação de empresas gigantescas, melhor definidas como conglomerados, os keiretsu, a Coréia passou a fomentar a implantação de Chaebols, de configuração similar à do Keiretsu.
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Foi desse sucesso coreano, da formação dos grandes grupos, da capacidade de promover uma mudança radical na educação e dar um salto tecnológico significativo, que nasceu a ideia de se repetir aqui no Brasil, uma revolução semelhante.
Que, a bem da verdade, era uma exigência, uma demanda de grande parte da sociedade, inclusive de setores mais especializados que queriam que o Brasil trilhasse os mesmos rumos da Coréia do Sul.
Daí o embrião da política de formação e apoio aos campeões nacionais,
Daí também a decisão de, como foi na Alemanha desde sua industrialização, depois em outros países como o Japão e Coréia, além de outros tigres asiáticos, utilizar como braço financeiro da operação, um grande banco, de caráter público.
No nosso caso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o bom e antigo e respeitado BNDES.
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A propósito, tendo trabalhado no BDMG, e conhecendo a estrutura de aprovação de projetos que era calcada em vários comitês de análise, em níveis hierárquicos distintos, creio que o nosso banco de desenvolvimento ao abrir sua caixa preta, irá mostrar que não há, em suas operações, a quantidade de desvios e mal feitos que agora lhe imputam.
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Quanto à política de campeões, de minha parte, acho que deveria ter sido, minimamente discutida de forma mais clara com toda a sociedade, já que ao privilegiar alguns, de maior potencial, conquistava a oposição de milhares de outros pequenos empresários, também dignos de terem condições de sobrevivência, e de concorrerem em condições de igualdade no nosso mercado.
Apenas lembrar que, basicamente, a formação de grandes grupos tinha como principal foco, permitir que o país tivesse players importantes no cenário internacional.
Para terminar o assunto: claro, ao final dos anos 90 e virada dos anos 2000, a globalização produtiva em escala global teve impactos importantes em relação a essa questão de formação de grandes empresas nacionais que, parece-me não foram devidamente equacionados. (Embora isso seja mero palpite meu e, nesse sentido, deve ser considerado).
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Bem os donos da JBS foram um desses campeões nacionais, privilegiados (e, pelo visto bem escolhidos!), a julgar pelo seu crescimento exponencial.
Mas, como já afirmei antes, o capitalista (aqui usado no mesmo sentido empregado por Marx, de persona, para expressar não uma pessoa, mas um, digamos agente representativo) que acumula capital na velocidade espantosa dos irmãos Batista, vindos de origem humilde, certamente não estão isentos de várias ações, digamos, moralmente questionáveis.
Uma delas, a de se submeter ao financiamento de campanhas políticas. Melhor dizendo, a de se sentirem suficientemente fortes para financiar eleições e candidatos, em uma espécie de contratação de subordinados aos seus interesses. Em uma expressão: comprar os políticos e as medidas posteriores que, como pagamento dos favores prestados, eles irão ter de prestar aos seus financiadores.
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Alguém duvida que o golpista temer esteja envolvido nesse caso, depois de saber de toda sua trajetória como presidente do partido mais corrupto do país, desde o fim do ciclo da ditadura militar?
E alguém em sã consciência pode acreditar que a corrupção era cria do PT, como foi muito explorado por algumas pessoas bem intencionadas, mas menos experientes em cometer análises de cunho político e social, que muitas vezes superavam seu horizonte de atuação e até de vida?
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Como antes já teria sido um absurdo temer receber um empresário no Jaburu, para sacramentar a concessão de financiamento de campanha eleitoral com recursos suspeitos, da ordem de 40 milhões, como delatado por Marcelo Odebrecht, mas considerado algo anterior ao exercício do mandato usurpado e, portanto, não passível de investigação. Afinal, como já dito anteriormente, seria a confirmação de que negócios públicos e privados estavam acontecendo e andando de mãos dadas.
Como foi também um absurdo, esquecido pela midia propositadamente, um presidente (assim como acontece agora com Trump, por exemplo) contatar um ministro para sugerir a aprovação de um projeto de interesse nada público, nada republicano de outro ministro, mais íntimo do presidente, no famoso caso Geddel.
E junto a tudo isso, causa estranhamento e repulsa, a confirmação de que em seu escritório em São Paulo, sua presença servia de aval para a operação da Odebrecht, de financiamento de campanha com propinas, caixa dois e etc. Mais uma vez não levada adiante por quem decide o que deve ser informado aos Simpsons do país.
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Agora, a  bomba estoura, dada a referida existência de uma gravação, no Palácio de residência oficial - no caso do ex-vice, o Jaburu, onde foi comunicado de que estava sendo paga mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador financeiro do PMDB, para que se mantivessem calados. Para que não fizessem qualquer delação.
Independente de se referir ou não à necessidade de se "manter isso aí", como a denúncia levada a público informa ter sido recomendada pelo usurpador, apenas o fato de estar informado de um ilícito e não ter adotado qualquer medida, como a lei determina que  todo agente público deve agir, informando a quem de direito da ocorrência de um crime de que teve ciência, já é suficiente para a abertura de um processo de impeachment, agora sim, com a existência cabal, comprovada de um crime de responsabilidade.
E sério. E grave.
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Esperar-se de temer, o traidor, golpista, que mostrou ter caráter muito aquém do desejado, ao articular pela derrubada daquela que era sua cabeça de chapa, um gesto de renúncia, seria demais.
Afinal, sua pequenez não lhe permite gestos de grandiosidade como até mesmo uma renúncia exige.
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Mas pela primeira vez, vou admitir que subestimei temer, durante todo esse tempo.
E, por essa razão, vou escrever pela primeira vez seu nome com maiúscula, dando-lhe o devido destaque: afinal, como parece estar já comprovado, Temer é o chefe da turma que aceitava negociar o país, em benefício próprio. E, convenhamos, com capacidade e desenvoltura inquestionáveis.
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Quanto a Aécio, que meu amigo Pieroni sempre me condenou por criticar não há muito mais o que falar.
Nem mesmo da suposta brincadeira de que mandaria matar o emissário, antes que ele pudesse fazer qualquer delação, o que demonstra apenas a disposição do "menino mimado do Rio" de fazer brincadeiras de muito mau gosto.
Mas não vou tripudiar do aecim. Seria chutar cachorro morto. Nem ele merece isso. Merece tão somente o esquecimento. O desprezo, sob a forma da indiferença.
Afinal, esse vestal viu algo como um cinto, um retalho cinza próximo a seu guarda roupa. Puxou o objeto do chão para verificar do que se tratava.
Ao verificar que era algo preso no interior do armário, puxou com força.
Só quando o armário desabou sobre sua cabeça, viu que por cima das tábuas, havia um elefante, cujo rabo ele insistiu em puxar.
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Assim foi seu comportamento ao não aceitar a derrota, como qualquer menino mimado, derrotado nas eleições de 2014. Afirmando que não deixaria Dilma governar, jogou o país em verdadeiro thriller de suspense, mistério e horror.
Situação que, agora volta-se contra ele. O que apenas faz lembrar que quem tem telhado de vidro não pode sair à rua com atiradeira.
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Ainda assim, por mais grave que seja a denúncia, a ele deve ser dada a ciência de todos os fatos de que lhe acusam, como já havia sido determinado anteriormente por Gilmar Mendes, em outra denúncia.
Afinal, a justiça não precisa de pegadinhas, ou surpresas para poder ser cumprida.
Exceto, claro, se o acusado responder pelo nome de Lula, em que fotos, agendas, etc. podem surgir em alegações finais, de surpresa, como visto na data de ontem. Pena que em denúncia menor, dado o escãndalo que os irmãos empresários protagonizaram.

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