Foi assim, e com grande alvoroço, que essa mesma imprensa destacou o anúncio feito pelo IBGE no dia de ontem do IPCA para o mês de abril, de 0,14%, que permitiu que a inflação acumulada no período de 12 meses atingisse, pela primeira vez em 8 anos, um índice inferior ao centro da meta proposta pelo governo.
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Sem dúvida uma conquista, não fosse o fato de tal queda ter se dado justamente em um período em que o Banco Central vem adotando uma política monetária considerada menos rigorosa, a julgar pelas sucessivas quedas das taxas básicas de juros, a Selic, situação que, à luz dos fundamentos do sistema de metas inflacionárias deveria levar a resultado oposto ao obtido.
Senão vejamos: de forma simplificada, podemos dizer que o Sistema de Metas Inflacionárias que orienta o governo tem como principal instrumento de atuação e correção de rumos, a manipulação das taxas de juros, ou a sinalização que a taxa média de curto prazo anunciada pelo COPOM para negociações com os títulos da dívida pública faz ao mercado e a seus agentes.
Desta forma, toda a vez que a inflação ameaça iniciar um processo de elevação, o colegiado de diretores do Banco Central integrantes do COPOM, anuncia uma elevação da taxa da Selic, a taxa de juros básica, o que serve para avisar ao mercado de que a Autoridade Monetária irá fazer tudo que estiver ao seu alcance para retirar dinheiro de circulação (uma política monetária restritiva) e influenciar a redução do crédito, de forma a fazer a demanda agregada perder força e declinar.
Conforme o raciocínio, ao levar os agentes a decidirem por adiar compras ou parar de gastar, e ao encarecer o custo do dinheiro para os empréstimos necessários para que os empresários financiem investimentos, a demanda irá se arrefecer e, como resultado, irá deixar de pressionar a capacidade produtiva do país, fazendo caírem os preços.
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Vale lembrar que, do ponto de vista dos empresários, a elevação dos juros torna mais racional o adiamento de qualquer decisão de investimento na ampliação da capacidade produtiva de suas empresas, substituída pela de aplicação de suas disponibilidades em títulos junto ao mercado financeiro.
Afinal, ao empresário capitalista, interessa tão somente a obtenção de lucros que o atendimento das necessidades da população.
Adicionalmente, dificilmente passaria pela cabeça de qualquer empresário ampliar sua capacidade produtiva em um ambiente em que o governo está induzindo a redução de gastos de consumo.
Assim, conforme a política econômica, quando os juros estão em queda, pode-se esperar que a demanda volte a reagir e se elevar, situação que pode acarretar o ressurgimento de pressões inflacionárias, a julgar pela tese exposta acima.
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Conforme a teoria macroeconômica mais simplória, exposta nos livros textos e nos manuais, o aquecimento da economia acarreta, necessariamente uma elevação dos preços.
Está lá no manual de Macroeconomia de Blanchard: a elevação da produção significa aumento do emprego, condições de ampliação do poder de barganha dos trabalhadores e elevação dos salários nominais; aumento dos custos de produção e elevção de preços, pelo repasse dos custos maiores para os produtos finais.
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Pois bem, como não passa despercebido a ninguém, há mais de seis reuniões do COPOM esse órgão vem anunciando reduções da taxa Selic que, em tese vai na contra-mão da redução tão festejada da inflação, o que exige uma explicação.
E a explicação está ainda no mesmo manual já citado, quando menciona a existência de um dilema, chamado de trade-off em círculos mais sofisticados, entre o comportamento da taxa de desemprego e a variação apresentada pela elevação generalizada de preços, ou inflação.
Conforme a teoria, se a taxa de desemprego que o país estiver experimentando, chamada de taxa efetiva, for superior à taxa natural de desemprego que assegura que a inflação real e a inflação esperada terão valores idênticos, a inflação apresentará variações cada vez menores, até negativas.
Em resumo, maior o desemprego, mais rapidamente se dará a queda da inflação.
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Bem, a Folha de São Paulo em sua edição impressa, e agora na parte da manhã dessa quinta feira, até no Bom Dia, Brasil, da Globo, as notícias em comemoração à queda da inflação, ontem tão alvissareiras e elogiosas à diretoria do BC, ao seu presidente Ilan e até mesmo ao ministro da Fazenda, começaram a serem substituídas por outras, de caráter mais comedido.
A inflação caiu, não porque a diretoria do Banco Central recuperou sua credibilidade; não porque os mercados passaram a confiar que Ilan não irá promover na instituição que dirige uma política irresponsável, de caráter populista; não porque a diretoria e o Ministério da Fazenda não vão promover uma autêntica guerra contra a elevação de preços sempre que tal fenômeno ameaçar surgir no horizonte.
Muito menos a inflação caiu, como afirmado ontem por Henrique Meirelles, porque o governo está dando ao mercado a sinalização de que está adotando uma política fiscal responsável, com o limite aos gastos públicos, a reforma da previdência que avança no Congresso, ou a reforma trabalhista, já no Senado.
No fundo, o sucesso da redução da inflação tem causa, tem rosto (milhares de rostos), tem nomes, CPF's, endereços, desejos e sonhos, inclusive de consumo. Só não tem emprego.
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É o desemprego que explica o êxito em combater a inflação de um governo que não foi eleito pelo povo, não tem qualquer legitimidade, considerando-se as pesquisas de popularidade feitas e divulgadas recentemente, e que, por estar completamente divorciado do povo, privilegia o combate à inflação e não como o governo anterior, o combate ao desemprego.
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Justiça seja feita, o governo anterior embora tentasse, fracassou rotundamente em suas tentativas atabalhoadas de combater o desemprego. O que conseguiu produzir foi apenas uma quantidade de medidas destinadas a beneficiar a grupos empresariais e setores econômicos, sem deles exigir ou impor qualquer contra-partida mais efetiva para que o quadro se revertesse.
Pior, praticou tais ações, a maior parte delas na direção contrária à de manter minimamente saudáveis as contas públicas, no mesmo instante em que patrocinava cortes de gastos, anunciava contingenciamentos expressivos, especialmente afetando os investimentos públicos.
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A causa de a inflação ceder é o desemprego, muito embora já haja, no horizonte mais longínquo, preocupações dos analistas do mercado financeiro com uma elevação da inflação para o próximo ano.
Afinal, para citar alguns exemplos apenas, o tomate já começa a retomar sua escalada, e a questão hídrica continua sendo uma preocupação, dada a necessidade de retomada das bandeiras vermelhas nas contas de luz, especialmente agora, depois de a energia e os alimentos terem sido os principais componentes da redução dos índices da inflação.
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Nesse quadro, de redução da inflação, a midia e os analistas de mercado se alvoroçam em prever quedas mais pronunciadas das taxas de juros, que poderão chegar até a reduções de 1,25%, para que a Selic ao fim do ano, esteja no patamar de 8%.
Situação possível de acontecer, embora tal taxa não seja capaz de garantir, por si só, qualquer retomada da economia, principalmente das decisões de investimento.
Primeiro porque apesar da queda da Selic, não há qualquer sinal de redução das taxas de juros dos vários instrumentos de crédito disponíveis à população, capazes de promoverem um movimento sustentado de retomada do consumo.
As taxas do crediário, na ponta do varejo continuaram elevadas, as do cartão de crédito e do cheque especial também não permitem prever recuos, o que irá dificultar a elevação das despesas de consumo.
Sem essa expectativa de elevação das vendas, é pouco provável que as empresas queiram expandir suas instalações, ampliando os graus já elevados de ociosidade.
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Por outro lado, não podemos nos esquecer, a reforma trabalhista em discussão, se aprovada, irá acarretar uma precarização do trabalho, cuja principal face será a incapacidade de trabalhadores conseguirem negociar melhorias salariais.
Somado ao desemprego elevado, à baixa qualificação da mão de obra, etc. a perspectiva é de que a renda do trabalhador brasileiro não tem razões para se elevar.
Ora, é a renda baixa, a perda de renda, aliada a juros estratosféricos que justificam a elevação da inadimplência, que realimenta o processo de elevação das taxas de juros na ponta do tomador de crédito.
O que gera um círculo vicioso e prejudicial à recuperação econômica.
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Assim, é pouco provável que taxas de juros mais reduzidas sejam suficientes para estimular a economia.
Ao contrário, podem começar a trazer problemas para a atração de dólares do exterior e até mesmo para o câmbio.
Vamos esperar e ver. Independente de toda a comemoração da imprensa.
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E em Curitiba
Enquanto isso, Moro questiona Lula que se esquiva e, por mais que o pessoal da Globo, como a Miriam Leitão, insista em passar a ideia de que Lula mentiu ou ocultou informações em seu depoimento, entrando em contradições, o fato é que se houve a promessa de se dar de propina um ap no Guarujá, a promessa não foi concretizada.
Por mais que uma série de indícios possam continuar sendo apontados, nenhuma prova foi apresentada.
O que é curioso, já que Moro, durante algumas questões mencionou a existência no processo, de fatos comprobatórios.
Mas nenhum foi apresentado.
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Por uma questão de justiça, deve-se reconhecer que o comportamento de Moro foi cortês, elegante, o que o próprio Lula reconheceu ao se referir ao tratamento com fidalguia.
Se houve algum momento que Moro derrapou, foi na insistência em trazer para o caso do triplex, a reforma do sítio que Lula também insiste em dizer não ser sua propriedade.
O Moro de ontem, espertamente foi diferente do juiz Moro de costume, cada vez menos adotando o papel de juiz, magistrado imparcial, e cada vez mais candidato a cargo eletivo em 2018.
A questão é que Moro pode ser bom juiz (em minha opinião autoritário, arrogante e prepotente, além de imparcial, e midiático), mas como figura política é um anão perto de Lula.
E não apenas em comparação com Lula, mas com várias das raposas da política que podem surgir à frente, almejando concorrerem aos mesmos votos que Moro aspira obter.
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Se houve contradição de Lula, como no caso de afirmar que dona Marisa não gostava de praia, ou que sua influência gigantesca no PT, não é um fator tão massacrante assim, já que o partido tem toda uma organização, uma estrutura e instâncias de decisão várias de que ele não faz parte, a verdade é que saiu-se bem no caso do elevador, ao afirmar que teria sido preferível solicitar que o elevador do triplex fosse instalado na residência em que mora.
De qualquer forma, há que se reconhecer que o caso do triplex, como está e do ponto de vista da hipótese de ser um pagamento disfarçado de propina parece muito mais o caso do se colar, colou.
Tipo assim: a OAS cede o apartamento. Reforma todo ele, atendendo a quem irá recebê-lo de presente. Mas tudo isso feito sem qualquer documentação, capaz de assegurar que foi dado em retribuição de qualquer ação anterior do presidente.
Passados alguns anos, caso o assunto do apartamento caia em esquecimento, os documentos são transferidos e Lula assume, efetivamente a posse e a propriedade.
Atá lá, nada. O ap é da OAS. A reforma foi feita para tentar ampliar as chances de venda. Para qualquer interessado.
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Embora até plausível, a história ganha contornos cada vez mais enigmáticos, e duvidosos.
Porque dado o estardalhaço, nunca mais a opinião pública se esqueceria ou deixaria de cobrar caso o apartamento fosse transferido a Lula, constituindo o caso típico de uma propina que não poderia ser nunca saldada.
Também é estranho acreditar que, caso houvesse o tal pagamento de propina, depois de todo esse circo, Lula já não teria combinado outra forma de pagamento junto ao Leo, seu amigo.
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De qualquer forma, persiste a questão: tudo não passa de indícios e ilações. Nenhuma prova foi apresentada, a meu juízo.
Igualmente, tudo parece ser muito mais parte de uma conspiração destinada a impedir a candidatura de Lula e uma possível vitória em 2018.
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