Em 1989, Paulo Maluf era o candidato a presidente da República pelo PDS.
Em campanha, tratando da elevação do número de casos de crimes sexuais, alguns deles terminados em morte, cunhou uma frase que ganhou todas as midias da época e a reprovação de toda a sociedade.
Segundo ele, se o indivíduo está com desejo sexual...
“Tá bom. Tá com desejo sexual, estupra, mas não mata”.
Importa destacar que, por essa ocasião, ainda não havia acontecido o hediondo crime, capaz de causar a repulsa de toda a sociedade, que passou para a posteridade como o caso Caso Liana Friedenbach e Felipe Caffé, que iria ser ter lugar nos dias iniciais de novembro de 2003.
Em relação à perversidade do crime, pouco há a comentar.
Tendo se originado sob a forma de um roubo, transformou-se em sequestro quando os marginais perceberam que os estudantes não tinham valores em seu poder e, ao longo de alguns dias evoluiu para um estupro, culminando com o assassinato bárbaro do jovem casal de namorados.
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Mais recentemente esse caso andou sendo trazido à memória, ganhando as redes sociais, sendo tratado agora fora da esfera policial para ganhar conotações políticas.
A razão?
A discussão levantada pela identificação e punição de Champinha, na ocasião menor de idade, então apontado como o chefe do bando e principal responsável pela inominável selvageria praticada.
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Em reação mais que compreensível em um primeiro momento, a descoberta de que sua menoridade lhe colocava sob o abrigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, acabou gerando uma forte controvérsia que foi parar no Legislativo, questionando e exigindo modificações daquele Estatuto.
Revoltou à ampla maioria da sociedade que, por ser menor, Champinha não poderia ter o julgamento devido nem a punição merecida, podendo ainda recuperar sua liberdade em alguns poucos anos.
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Sedenta de vingança e sangue, insisto, o que é compreensível no calor dos acontecimentos, a sociedade por seus representantes no Congresso passou a discutir a redução da maioridade legal, discussão ainda não decidida.
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Apenas a título de observação, Champinha nunca pode sair, nem irá retornar nunca ao convívio da sociedade, identificado que foi por laudo psiquiátrico como portador de doenças mentais graves como transtorno de personalidade antissocial e leve retardo mental.
Ou seja, seu quadro pode trazer riscos para a sociedade, o que justificou sua transferência para uma Unidade Experimenal de Saúde, dirigida à recuperação de jovens infratores com distúrbios mentais, onde se encontra até hoje.
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Mas, o que me interessa não é trazer à memória um caso escabroso como esse.
Como afirmei antes, esse caso foi reavivado e ainda tem sido, por seguidores do tiranete que se pretende presidente do país, já que foi da discussão e controvérsia instalada na Câmara que se originou a agressão do tiranete autoritário à sua colega Maria do Rosário.
Foi desse bate-boca que nasceu a frase de que a deputada não merecia ser estuprada, por ser muito feia.
Frase que valeu a condenação junto ao STJ, do lobo que se fantasia de cordeiro e que se faz passar como inocente e puro.
Afinal, nada melhor que cultivar a ideia de que bandidos ou culpados são os outros.
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A lembrança de Maluf e de sua frase não me abandona, não com o intuito de espezinhar o político já abatido pela idade e pelas condenações de que é merecedor. Mas pelo fato de haver muita proximidade entre o capitão tirano, e o político paulista.
O capitão da reserva afinal fez parte por muitos anos do partido PP, em que Maluf despontava como um dos principais, senão o principal líder.
Partido ao qual pertencia também, por um período, o ex-ministro da ditadura militar, Delfim Netto.
Também ele, suspeito de participação em vários escândalos da época, apenas que, dada a situação política, não devidamente investigados.
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O que revela que nem o capitão pode ocupar o altar da santidade a que pretende se elevar, nem tampouco pode-se alegar que não teve escola.
Por exemplo, naquele período da ditadura militar, em que o tiranete sofria uma lavagem cerebral nos quartéis e passava a glorificar a tortura, Maluf era político vinculado ao regime até as entranhas, tendo sido, inclusive indicado prefeito de São Paulo, e Delfim era homem forte dos governos militares, situação que perdurou até o fim do governo Figueiredo.
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Logo, não há como a figura autoritária sair por aí se passando pela vestal que nunca foi nem poderá aspirar a ser.
Especialmente por utilização de verbas públicas de maneira imoral, aética, embora legal. Ou mesmo por uso de verbas públicas de forma ilegal, ao pagar funcionários particulares, considerados fantasmas em seu próprio gabinete.
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Dessa espécie de gente, de origem humilde e sem maiores posses ou mesmo educação, é curioso saber como conseguiu amealhar o patrimônio que hoje detém embora sempre reconhecendo que, como deputado recebedor de penduricalhos mil, tem renda sim, para ter criado um patrimônio - independente de tal patrimônio constar ou não de sua declaração.
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Ou seja: ladrão por ladrão, até a Bíblia ensina que é preferível apoiar e perdoar ao bom ladrão. Justo aquele que teve humildade para se arrepender e deixar de lado sua arrogância.
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E fazendo a analogia da passagem bíblica, quem é o candidato que a cada dia mostra, por suas declarações ou por seus assessores e auxiliares que não é capaz de perder a agressividade e a empáfia?
Quem é pai do deputado capaz de incitar que basta um soldado e um cabo para fechar uma das principais instituições da manutenção em vigor do regime democrático?
Pior: ainda afirmar que atribuindo tal missão aos soldados, não estaria relegando-os a tarefas menores ou insignificantes.
O que é ato flagrante de crime tipificado na Lei de Segurança Nacional.
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Curioso: como reagem a mídia e a sociedade dita de bem?
De forma diversa de quando Lulla afirmou que o STF estava acovardado.
Naquela ocasião o ex-presidente tinha perdido a oportunidade para ficar calado, mostrando seu lado autoritário.
Agora, o que dizer da recepção da sociedade, muda, e certamente concordando intimamente com o ato criminoso?
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Ah! depois pai e filho vêm dizer que foi uma brincadeira de mau gosto e pedir desculpas.
E, claro, acovardados, os ministros aceitam o pedido de desculpas, perdoam, não sem antes falarem meia dúzia de abobrinhas, louvando a preservação das instituições e do Estado de Direito.
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Será que não perceberam que esse estado democrático já está mais que suficientemente ameaçado?
Será que não têm força ou vontade ou capacidade, ou apenas têm é muito medo mesmo, de uma possível reação de parcela dos soldados do Exército, aquela dos trogloditas torturadores, que se fazem acompanhar por trogloditas apoiadores, que são apenas bossais agressivos e seres humanos de formação incompatível com o mínimo de dignidade que um ser humano deve preservar.
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Não nos esqueçamos, foi o próprio pai tirano, que afirmou que não iria reconhecer o resultado das urnas, a que acusou de fraudadas, ainda no hospital depois do ataque desprezível de que foi vítima.
Foi ainda ele mesmo que disse que torturar foi errado, devia era de ter matado 30 mil.
Também de sua autoria é a pérola de que, se eleito, irá matar ou expulsar a petralhada, termo que cada vez mais vem se tornando a maneira genérica de se referir a qualquer pessoa que tenha opiniões contrárias às dele.
Contrárias, antagônicas, talvez porque pensadas, racionais, fruto do uso do cérebro que parece estar embotado nele e em seus seguidores.
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Se é montagem ou não, a verdade é que o youtube traz, até mesmo como estratégia de atemorização e para quem sabe fazer se impor pelo medo, a fala - "hangout" (?) de militares, ameaçando lotar as ruas e praças para fazer correr sangue, caso o tiranete não seja proclamado eleito.
A eles pouco importa se as regras do jogo foram ou não fraudadas. A eles como a vários admiradores do tirano, pouco importa que recursos ilegais tenham ou não sido utilizados para criminosamente, espalhar inverdades contra os adversários.
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Depois essas pessoas que se dizem preocupadas com o país e racionais, afirmam que são o Caixa 2 ou até 3, do capitão autoritário.
E ainda, nas redes sociais, alegam não ter bandido de estimação, quando o deles está incrustrado no seus corações. E ocupa o lugar da massa cinzenta que deveria estar ocupando o seu cérebro, vazio, oco, devidamente lavado.
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E são esses mesmos que têm a capacidade de se afirmarem ser bobagem trazer de volta a questão da tortura. Que essa questão, dificilmente reconhecida, deveria ser esquecida, apenas para comprovar a sua indignidade enquanto ser dito humano.
Mais uma vez, curioso.
Não esquecem o Champinha. Não esquecem criminosos outros, de facções distintas daquelas a que parecem estar associados.
Para eles a máxima: não vamos nos esquecer nunca do que foi feito contra nós e que nós não gostamos, e nunca nos recordemos das atrocidades que nós patrocinamos.
De pessoas assim quero distância. Para que a mera presença delas, não venha agredir minha dignidade.
Afinal, a julgar pelo "andar da carruagem", dentro em pouco estarão pedindo para esquecer ou até negando o holocausto e a ascensão de Hitler na Alemanha dos anos 30.
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Já que eles já esqueceram ou negam a história, ao apoiarem um filhote de Hitler e da intolerância que paira constantemente sobre nosso planeta.
No Roda Viva
Depois de assistir um Roda Viva em que Manuela foi agredida e pouco teve espaço para a entrevista em que ela era a personagem a ser inquirida, ontem o grupo de repórteres, alguns com posturas reconhecidamente mal intencionadas, tentaram espremer o professor Haddad de todas as formas.
Atitude inútil.
Primeiro porque, diferente de seu antagonista, que se esquivou mais uma vez de ir apresentar a verdade de que nada tem para apresentar, Haddad não é bobo.
Segundo porque não é autoritário ou agressivo ou mal-educado.
E porque ter obtido quarenta e tantos milhões de votos não dá a candidato nenhum o direito, democrático de fomentar a insegurança, a ruptura, e eliminar a própria democracia.
Ser democrático é justamente o oposto de se arvorar em o exterminador da democracia utilizando-se de práticas democráticas tão sagradas como o voto.
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A verdade é que o capitão e seus seguidores fazem a gente ter que enfrentar certo cheiro acre que exala de parcela do PT, não aquela a que Haddad faz parte, seguramente; cheiro que exala, como de resto de vários outros partidos existentes, para votar a favor da preservação da ordem institucional.
Para votar a favor da democracia.
Um comentário:
Meu caro,
o seu pitaco de hoje me fez lembrar de algumas passagens da história de nosso grande, lindo e bobo país:
1. Nossa independência foi conduzida pelas elites que aqui estavam e na história oficial pouco se fala dos muitos movimentos e revoltas com a tutela portuguesa;
2. Nossa república foi "proclamada" por militares ligados às elites econômicas que sustentavam a monarquia. Os republicanos de fato, foram afastados;
3. No processo de redemocratização a emenda das "diretas já", foram derrotadas e logo foi abraçada a candidatura de um político de centro direita, identificado com a oposição aos militares, mas que não representava rigorosamente nenhum risco ao "establishment"... adiando assim uma nova constituição e eleição para presidente. Deixando tudo como antes... entoando pelo simbólico bordão: "revanchismo não"...
Relembro, superficialmente, estes fatos para sustentar uma explicações possíveis para o deslumbramento com a candidatura do ex-capitão: no Brasil nunca houve rupturas com o opressor, assim como o país não escreveu a história da ditadura civil militar de 1964/1985.
Ao contrário da Argentina que encarcerou os algozes, aqui nós fingimos que os acontecimentos foram, quando muito, desvios de conduta. Penso que esta postura castrou a formação de milhões de jovens e também a de seus pais que hoje manifestam apoio ao tiranete, ludibriados facilmente por um discurso que tem a profundidade de uma lâmina de barbear deitada. Conheço muitos que tem a minha faixa etária que não acreditam que houve tortura contra cidadãos de bem, e muitos outros que dizem que a ditadura aqui foi suave... o tiranete disse que deveriam ter matado 30.000... afinal a história do país não foi devidamente estuda, debatida e escancarada!
A reação do judiciário de forma geral (não apenas do STF) ao que disse o filhote do tiranete é absolutamente repugnante. Quando digo que o judiciário de forma geral, me refiro aos "paladinos" desta instituição. Primeiro Joaquim Barbosa; pelo papel que teve no mensalão, alto nível de popularidade; Segundo, Sérgio Moro, por motivos óbvios. Dada a "imagem ilibada" que possuem junto à sociedade seria de bom tom que convocassem uma entrevista coletiva para repudiar a fala do filhote de tiranete. Mas eles não dão as caras, talvez por compartilhar do conteúdo, ou por conveniência ou por covardia.
A frase é mais uma demonstração do absoluto desrespeito pelo estado democrático de direito, seguindo o exemplo do pai.
Para terminar quero lembrar de duas frases.
A primeira, creio que dita por Luter King “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”; tenho visto pessoas de bem, se deixando enganar pelo tiranete, e já inoculada pelo vírus que dele vem.
A segunda de Pedro Aleixo quando Costa e Silva assinou o famigerado AI5 "Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o País; o problema é o guarda da esquina".
Abraços e obrigado por todo o aprendizado.
Fernando Moreira
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