Reconhecer o resultado das urnas é, como se sabe, um dos pilares da democracia. Consequência fundamental do jogo jogado, sinal de caráter e civilidade. Um dos maiores indicadores do espírito democrático.
Fosse no jogo de futebol, ou qualquer outro evento esportivo, o comportamento de aceitação do resultado, positivo ou negativo, desde sempre serviu para ndicar o elevado grau de esportividade e espírito elevado dos competidores.
Se já importante em termos da formação de caráter e do perfil dos concorrentes, a aceitação do resultado assume uma importância ainda maior quando o que está em jogo é o respeito à manifestação popular, à vontade dos cidadãos transmitida pelas urnas.
E, assim como é importante lutar, participar, competir, mais importante ainda é saber perder ou saber vencer.
Saber perder, em respeito aos que pensam diferente, e apoiam outras alternativas e outras ideias e soluções para problemas que todos admitem.
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No entanto, dizer que os problemas são de conhecimento geral não é expressão da realidade. O mesmo problema pode ser visto de ângulos distintos, a mesma realidade, sempre facetada, encarada e identificada sob óticas parciais.
Forçoso reconhecer que não temos, nem a capacidade, nem a pretensão de possuirmos o conhecimento global, totalizador, inteiro, de qualquer questão que nos é apresentada, ou que experimentamos em nossa vida.
E a causa é exatamente, ao menos em parte, essa: sempre nos apoiamos em nossa vida, em nossas experiências e nossa visão de mundo. E por incapazes que somos de viver a vida de outros, e passar pelas experiências que os marcam, não podemos achar que somos os que vêem os problemas de forma mais completa, ou correta.
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Logo, cada um vê um problema de forma diferente, e mais importante, cada um vê uma causa diferente, a depender do ângulo de aproximação da questão.
O que implica termos soluções diferentes para resolver uma mesma dificuldade.
Aqui devo então, referir-me a uma pessoa com quem tive a oportunidade de trabalhar e aprender muito: Roberto Pereira da Silva. Especialmente lembrando de sua advertência: no fundo, todos queremos o mesmo. Resolver uma questão. Contribuir para a melhoria da vida, nossa e de toda nossa sociedade.
Apenas que os caminhos, os meios de chegar até lá podem ser diferentes.
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Escrevo tudo isso, que vários conhecem a fundo e mais e melhor que eu, para reforçar o fato de que, não sendo donos da verdade, devemos ter a humildade de respeitar os que pensam diferente, especialmente com a maioria ao seu lado.
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Mas também e até mais importante, é saber vencer. Vencer sem querer depois se impor aos derrotados, ou sem querer humilhá-los. Admitindo, tão somente, que conseguimos apresentar soluções consideradas melhores, ou que fomos mais felizes na apresentação e convencimento da maior parte das outras pessoas, agentes e destinatários últimos de nossas propostas.
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Dito tudo isso, devo deixar registrado que, para nem tanta surpresa de minha parte, não foi esse o comportamento adotado por um dos dois candidatos à presidência, justa e curiosamente, o mais bem votado.
Cujo comportamento merece, uma vez mais, uma observação.
Tendo fugido de todas as oportunidades em que teria que enfrentar o debate com seus opositores, algumas das vezes com razão inquestionável, já que vítima da violência que serviu de base, muitas vezes, para seu próprio discurso, é interessante destacar que nem mesmo à comemoração em um hotel, agendada por seu próprio grupo de apoio, o candidato se dignou a ir.
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Antes, para fazer justiça ao candidato, uma consideração: ele foi sim, ao debate da Band, o primeiro deles, onde demonstrou toda sua fragilidade e de suas ideias e propostas.
Razão que levou seu grupo de apoiadores, a recomendarem que ele passasse a evitar esse tipo de programas.
Porque, como vários analistas políticos têm assinalado, o ex-capitão não tem proposta alguma, limitando-se a ficar repetindo bordões, em favor da pátria, de Deus (de quem ele sempre tentou se apropriar), da segurança, do conservadorismo de costumes e do anti-petismo.
Especialmente esse último, parece que foi o que mais atingiu ao nosso eleitorado, de perfil mais conservador e, suficientemente, bombardeado por mensagens que a mídia jamais negou de divulgar contra o Partido dos Trabalhadores.
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O capitão reformado, mais uma vez, antevendo a necessidade de dar uma entrevista coletiva, que se transformaria naturalmente em uma sabatina onde demonstraria a sua falta de preparo, preferiu, mais uma vez, não comparecer.
E foi às redes sociais, que aceitam tudo e qualquer coisa, para questionar, mesmo que sub-repticiamente, a validade do resultado, a partir do levantamento de suspeição sobre as urnas.
Só isso, já me leva a olhar com muita cautela esse político que, amparado pelo povo, não se dignou em momento algum, a ir a público, manifestar suas opiniões. Não em redes sociais com audiência selecionada, ou com script preparado de antemão, mas ir a público para ser submetido a uma saraivada (felizmente, em tempos ainda de proibição de porte de armas, não de tiros!) de perguntas e confronto de ideias.
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O perfil autoritário, arrogante, inflexível do capitãozinho, que a todos encanta, é exatamente o que me faz temer por nosso futuro e a manutenção de nosso regime democrático.
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Mas, por tudo que disse até aqui, não posso ir contra a vontade da grande maioria da população. E, se é verdade que Vox Populi, Vox Dei, então temos que aceitar que tal perfil de político foi o que o povo escolheu, para ir ao segundo turno com outro candidato, do partido que se quer defenestrar da vida política do país.
Ou nem tanto, já que Haddad teve votação suficiente, e representa parcela significativa de cidadãos brasileiros, que o colocaram no segundo turno.
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Agora é esperar os desdobramentos da sequência da campanha e dos resultados do último domingo.
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Individualmente, o que não me preocupa nem um pouco, sou obrigado a declarar que não elegi nenhum de meus candidatos a cargos majoritários.
Perdi em minhas escolhas para a presidência, para o governo de Minas, para o Senado, colaborando para a eleição apenas dos representantes na Assembleia de Minas e da Câmara Federal.
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E falo isso porque percebo, em vários conhecidos, a preocupação em poder dizer que elegeu o seu candidato. De minha parte não é assim. Aliás, sinto-me feliz de perceber que, se nosso país está tão mal quanto falam, então não foram minhas escolhas que nos levaram a tal situação.
Há muito tempo não voto em quem vence ou acaba passando para o segundo turno.
Dessa vez, não foi diferente.
O que não significa que não vou me envolver no segundo turno, que vou me manter omisso. Afinal, continuo com minha opinião, divergente da maioria, de que não há ídolos nem super seres para resolver nossos problemas.
E nós, o povo, é que temos, aos trancos e barrancos, discussões e até um ar de desordem, mas com respeito e sem violência ou autoritarismo, construir o país e o futuro que formos capazes.
Futuro mais radiante, quanto maior o respeito à regra do jogo democrático.
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Ao segundo turno, com Haddad e o capitãozinho, em nível nacional.
Aqui em Minas, com a surpresa de um empresário que apenas conseguiu chegar onde chegou por mostrar-se simpático ao ex-capitão - o que demonstra o prestígio do pensamento conservador e autoritário -, indo para o segundo turno com um ex-governador, representante do golpismo tão ao agrado do espírito de conjuração do povo mineiro que não pode alegar mais estar em luta contra a corrupção.
Afinal, aquele que é macho o suficiente para afirmar que mata quem o trair, independente de ser seu primo, foi eleito e volta para as benesses da Câmara Federal.
Com 2 milhões de reais a mais no bolso, gentilmente cedidos pela JBS.
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