terça-feira, 30 de outubro de 2018

Uma autocrítica e desculpas ao Júlio; e os eleitores de Bolsonaro, querendo ensinar como aceitar a derrota, o que não fizeram há 4 anos atrás

Autocrítica

Adotei como norma, desde o início, não comentar qualquer comentário feito às minhas postagens. Em minha avaliação era uma forma de permitir que cada manifestação, fosse qual fosse seu conteúdo, autor, ou intenção, pudesse ter espaço livre para apresentar suas ideias, discordâncias, críticas.
Posso estar enganado, mas sempre pensei que agindo assim, estaria sendo democrático, prezando por esse valor que cultivo: o respeito à opinião alheia, mesmo que divergente.
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Aliás, lembro que houve uma vez que postei algo que criticava uma atitude de torcida organizada de futebol e, ao tratar da questão, fiz referência à Fiel.
Naquela oportunidade, recebi um comentário daquela torcida organizada corintiana, e cheguei a fazer uma mensagem, em que reconhecia todo o trabalho social que desconhecia a Fiel geria.
Pois bem, a minha postagem de ontem provocou um comentário que muito me tocou.
Primeiro, por ser de um ex-aluno que, mais que aluno, sempre considerei um amigo. Por quem minha admiração é tão grande, que até citei, em outras passagens, uma história de sua vida, que ele achou por bem, me contar.
O que, na hora, percebi como uma homenagem a mim.
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O comentário de ontem, me incomoda principalmente porque apenas agora, fui informado de que, em sala de aula, no distante ano de 2012, magoei uma pessoa querida.
E, com enorme atraso, aproveito esse espaço para pedir perdão ao Júlio, pelo comportamento que o chateou.
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Em minha defesa, se é que há alguma defesa, apenas vou lembrar que sou professor de economia e, como tal, sempre apresentei o conteúdo das matérias da forma que ele gostaria, ou seja, apresentando o tema, seus conceitos e efeitos, junto com as opiniões favoráveis e também as críticas.
Isso independente de minhas opiniões pessoais, por minhas opiniões e posicionamento político.
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A essa altura, não consigo me lembrar do episódio mencionado, mas pela descrição tratava-se de assunto importante, mas que implicava opinião pessoal, sobre tema não imediatamente vinculado à questão econômica. Se estiver enganado em minha avaliação, nesse caso, confesso, a falha é da memória.
Mas gostaria de deixar registrado que, até por respeito a todos os alunos que me solicitam comentários a respeito de assuntos não vinculados diretamente ao conteúdo, sempre deixei claras minhas posições e ideias. Nunca as escondi. Nunca as soneguei a quem quer que fosse.
Sempre agi de forma a deixar perceptível a quem me escuta, que posso estar com um olhar viesado. Porque como todo ser humano, também eu como professor estou sujeito às paixões humanas.
E para não negar essa minha característica, que é de todos nós, prefiro explicitar minhas posições.
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Até aqui, honestamente, achei que essa seria a melhor forma de não tentar manipular ninguém. Não tentar vender uma imagem, sem alertar à pessoa, que ela deveria ter em relação, mesmo à minha fala, de uma visão crítica.
Não sou oráculo. Não sou, nem pretendo ser guia. Pretendo ser alguém que semeia a ideia de que, cada um tem o dever de descobrir sua verdade. E que para isso, não deve aceitar passivamente a verdade de outros.
Aproveitar para aprender com o que se conecta com nossa realidade é uma coisa. Acreditar sem questionar, é outra.
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Pelo que vi, no comentário, a crítica que fiz, e que parece não ter sido à pessoa do Júlio, mas a suas fontes, a levou a procurar novas fontes, fazer novas leituras, amadurecer opiniões através da reflexão e se tornar mais crítico.
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Mais uma vez, o Júlio se mostra digno de toda a consideração e amizade que sempre lhe tive: ele reconhece que cresceu. Não por minha atitude ou comportamento naquele dia. Mas por não ter ficado estático, ter corrido atrás, ter saído atrás de leitura e conhecimento. Ter corrido atrás do saber.
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Se alguma contribuição minha houve nesse fato, foi mínima. Ainda assim, renovando meu pedido de desculpas, fico com a sensação do dever cumprido.
E prometo ficar atento para que o cumprimento dessa função que me impus executar, não seja nunca por meio de uma atitude de desrespeito, descortesia, ou arrogância.
É isso.
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Ainda da eleição

Acho interessante que muitos eleitores de Bolsonaro, o presidente eleito do Brasil, venham agora, nas redes sociais, virem postar mensagens querendo ensinar e determinar a todos os que não votaram em seu mito, como é que eles devem se comportar.
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Da mesma maneira que achei curioso, para dizer o mínimo, que alguns postassem a frase do candidato do partido republicano nos Estados Unidos, depois de confirmada sua derrota para o presidente Obama.
É mesmo digna de respeito a posição do adversário que reconhece a derrota e afirma como McCain que daquele momento em diante, cumprimentava não apenas o adversário, mas o seu presidente.
O presidente de todos os EUA.
OK! Gesto nobre, sem dúvida.
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Mas McCain jogou o jogo da democracia. Foi aos debates, expôs suas ideias, pode se confrontar com seu adversário, com quem travou um embate que estava conformado pelas regras do convívio em alto nível.
Pode-se dizer que o político do Arizona, saiu de campo derrotado, mas enfrentou o bom combate.
E, ao que é de meu conhecimento, respeitou seu adversário. Não apenas comparecendo nos debates, mas depois, reconhecendo a derrota.
Democraticamente.
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Bem diferente do que vimos acontecer no nosso país, onde Bolsonaro fugiu ao debate. Não respeitou em nenhum momento aquilo que é um dos pilares da democracia: a troca de ideias, a busca de consensos, a demonstração clara das divergências, quanto a ideias e visões de mundo.
Mais que fugir dos debates, Bolsonaro mostrou postura agressiva, falando em redes sociais para seus iniciados. E só falou por meio das redes e só para seus iniciados.
Onde agrediu aos adversários. Chamou a todos de canalhas. Acusou a todos de agirem com desonestidade, bem ao estilo Trump de fazer política e conseguir se eleger.
Espero apenas que, diferente de Trump, não adote esse mesmo estilo de seu modelo, para governar.
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Diferente dos Estados Unidos, em que as instituições funcionam, e que existem vacinas e antídotos para impedir atitudes atabalhoadas de quem esteja no exercício do Poder Executivo, o Brasil não aguentará e nem ainda tem instituições suficientemente fortes para poder ser governado por alguém que inventa a história que deseja que o povo passe a acreditar, difundido inverdades via Twitter.
Trump faz declarações desavergonhadamente falsas todo o tempo, e a opinião pública americana já o trata como uma caricatura. Uma chacota.
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Com tanta desigualdade e problemas, o Brasil não pode ser tratado da mesma forma.
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Mas, ao agredir e acusar e caluniar, como no caso do kit gay, que continua sustentando e acusando Haddad de querer difundir para conspurcar a mentalidade ingênua das nossas crianças, por que o acusado teria de ser cavalheiro, portador de fair play e vir cumprimentar o eleito.
Se o próprio Bolsonaro afirmou que não iria cumprimentar Haddad, caso o resultado fosse diferente?
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Quantos desses que vieram criticar se omitiram quando seu mito falou essa frase, antes que voltasse atrás e falasse que não era bem assim, etc.?
Infelizmente, o próprio Bolsonaro, em entrevista ao Jornal Nacional, admitiu que tudo não passava de bravatas, de frases de efeito no calor do debate ou da discussão.
Será que era isso mesmo ou esse jogo de cena é só mais tergiversação?
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Mas nem qualquer um de seus eleitores criticou as falas duras de seu mito, dirigidas à Haddad, à oposição, às pessoas que divergissem de suas ideias, nem me lembro de ter visto, dessas mesmas pessoas, qualquer indignação há 4 anos atrás, quando o moleque do Aécio anunciou que não deixaria Dilma governar.
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Agora, acusam os derrotados de não serem patriotas, de serem maus brasileiros. De não saberem perder.
Mas há quatro anos atrás, pregaram em seus carros plásticos onde diziam não ter nada com o país, e a crise que ele começava a atravessar. O plástico dizia isso: "votei no Aécio".
O que era aquilo, reconhecimento de que votaram em corrupto e que aceitavam a corrupção desde que fosse para o lado delas?
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A desfaçatez e o cinismo apenas é que podem explicar agora quererem cobrar ou vir às redes ensinar como os derrotados deverão se comportar.
Desde logo, como eles não se comportaram no passado recente.
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Para mostrar que estão passando o Brasil a limpo, estão usando a velha frase: façam o que digo, não façam o que fiz...
Com tal equipe de faxina, melhor não reclamar da sujeira...

2 comentários:

Julio Cesar Ferreira disse...

Paulo,você é um grande professor, mesmo não querendo se torna "guru" de seus alunos, as vezes quando chegamos à faculdade, somos tão crus que, uma pessoa com eloquência e uma dose enorme de conhecimento como é seu caso, faz com que desejemos ser "seguidores" ao menos até aprender voar com as próprias asas.
No momento da critica, eu ainda não estava pronto para voar, me senti empurrado abismo abaixo sendo forçado a aprender a esticar as asas ainda desengonçadas e com pouca força, aquele episódio me fez melhor, aprendi a criticar e analisar as coisa sem a ardente e cega chama das paixões, neste longo caminho, bati em algumas paredes, tomei alguns tombos mas eles me fizeram mais forte.
Você foi de uma enorme importância para meu aprendizado, sempre lhe tive como um amigo também, fiz questão de informar quando fui embora e quando voltei, isso porque sempre foi e será uma pessoa muito importante pra mim.
Quando colei grau em Fortaleza, fiz questão de lembra-lo em minha monografia, te respeito e serei grato ao seu empurrão por toda vida.

Minha critica foi primeiramente ao modelo de abordagem das ideias que os mestres tem,quando temos uma convicção diferente,nós, alunos, temos por vezes, vergonha de expor nossas ideologias, pois elas são, na grande maioria mal embasadas e com fontes frágeis.

Reitero meu aprendizado com o episódio, no momento gerou um misto de raiva, tristeza e decepção, mas por ter mexido com meu brio, me fez correr em busca de outras fontes e assim amadurecer, analisar os ambientes e me adaptar aos desafios.

Muito obrigado por responder com o texto isso só mostra o quão solidário você é. Grande abraço,do seu amigo Julio Cesar.

Anônimo disse...

Meu caro,
O exercício de nossa profissão não é de fato para qualquer um. Afinal entendo que nosso papel é apontar as portas aos nossos alunos, cabendo a eles abri-las. Uso a frase que minha mãe, ex-professora primária na década de 1950, costuma utilizar para classificar os professores. Uma pena que nossa profissão já esteja em processo de extinção. Infelizmente somos frequentemente mal compreendidos, especialmente em momentos onde as paixões andam tão afloradas.

Em relação ao nosso presidente recém eleito, trata-se de um vendedor de ilusões que encontrou, a meu ver, três tipos de público: um míope, ávido por respostas e receitas fáceis para seus males. Outro é aquele público intolerante e autoritário, preconceituoso de diversas ou em todas as dimensões, mas sem coragem suficiente para sair do armário... ficando à espera de um berranteiro... que finalmente encontraram. E por fim o público dos endinheirados, que antes estavam com Alkimim ou Amoedo, mas que abraçaram o soldadin tão logo viram o naufrágio daqueles.

A empáfia do "mito" pode ser percebida na resposta ao cumprimento do Professor Fernando Haddad, escreveu este:
"Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte!"

A resposta do soldadin: “Senhor Fernando Haddad, obrigado pelas palavras! Realmente o Brasil merece o melhor”
A sugestão é clara, mas o que esperar de um indivíduo absolutamente desqualificado? Há um provérbio antigo que diz que é na vitória que conhecemos melhor as pessoas.

Acredito como li em algum lugar, (desculpe-me, mas não me lembro onde) que esta "lua-de-mel" com a classe média não durará muito. As apostas estão abertas.