Enquanto continuam ventando as cinzas do carnaval recém terminado, impedindo o retorno dos deputados à Câmara Federal para o batente, tal qual a fumaça do vulcão chileno dificultou pousos e decolagens dos aviões de carreira, o Banco Central divulgou o resultado externo obtido no mês de janeiro.
E, com o dólar em queda, e a invasão de recursos externos que alcançaram 5,433 bilhões de dólares apenas na forma de Investimentos Estrangeiros Diretos, os resultados mostram-se preocupantes.
Balança Comercial, com as importações superando as exportações em 1,292 bilhões. A Conta de Serviços, com déficit de 3,397 bilhões de dólares, com apenas o item viagens representando 1,335 bilhões. A Conta de Remessa de Rendas fechando com déficit de 2,575 bilhões, os juros alcançando 1,627 bilhões.
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Embora na divulgação do BC, e comparando com dados de igual mês do ano anterior, o resultado da Conta de Transações Correntes de 7,086 bilhões de dólares não seja alarmante, o fato é que a Autoridade Monetária tratou de agir na tarde de ontem, anunciando e depois fazendo operações de swap reverso, no mercado futuro, tentando evitar que a moeda americana caisse abaixo do patamar ou "piso" de R$ 1,70.
Ou seja, o BC tem consciência do perigo que representa um real supervalorizado, e o estrago para nossa indústria e nossas competitividade internacional.
Sabe do estrago que o dólar em baixa representa para nossa geração de emprego e renda, razão para que adote todas as medidas possíveis destinadas a reduzir, por exemplo, a taxa básica de juros da economia, tornando-a menos atraente.
Especialmente quando em ano eleitoral, o presidente Obama, tentando a reeleição propõe medidas para desonerar a indústria americana, reduzindo os impostos a um máximo de 38%, conforme noticiado, e buscando incentivar a produção e a retomada da competitividade daquele país.
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Em uma conta grosseira, projetado o valor de déficit de transações correntes para o ano, o déficit alcançará a casa de mais de 70 bilhões de dólares, uma verdadeira fábula.
Principalmente, quando se lembra que esse déficit deve ser financiado pela entrada de capitais externos, a chamada poupança externa, como o vem sendo, o que, na forma de Investimentos Externos, pode indicar a ocorrência de um processo de desnacionalização, e remessas de rendas mais elevadas em anos posteriores, resultado semelhante ao obtido na forma de aplicações financeiras, ou aplicações em carteira.
Ou seja: está em curso um processo circular vicioso, que urge ser interrompido já que, com as previsões para a economia da zona do euro indicando taxas negativas de crescimento da produção, ou seja, recessão; com o próprio FMI mostrando preocupação em relação à manutenção das taxas de crescimento da economia chinesa - também como reflexos da crise européia; e com os incentivos dados à economia americana, a capacidade de reversão dessa situação por uma elevação de nossas exportações não inspiram muita confiança, para dizer o mínimo.
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Cai a geração formal de novos empregos
Também ontem foi noticiada a redução da geração formal de novos empregos no país.
Embora a notícia tenha ganho destaque na midia, é bom lembrar que não houve queda no emprego formal. Não houve desemprego. Tão somente a taxa a que novos empregos vinham sendo criados sofreu uma redução.
Talvez seja importante deixar isso claro e os jornais televisivos deveriam ter dado mais destaque a esse ponto que, em minha opinião, é fundamental pois revela que a economia continua crescendo. Embora menos, o que não é de se estranhar quando a Europa prevê recessão e as taxas de crescimento em todo o mundo são revistas para menos.
Como noticiada a queda da taxa, lembrou-me quando levando nosso filho ainda de meses ao médico pediatra, preocupamo-nos com o fato de que ele, que vinha crescendo a mais de 1 cm por mês, apresentou um crescimento menor.
O que levou o médico a questionar: mas, quando ele tiver com mais idade e mais meses, com quantos metros ele deveria estar, caso mantivesse o crescimento anterior?
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Presente de grego
Os recursos vultosos do fantástico e bilionário pacote de ajuda à Grécia lembram mais um presente de grego.
Primeiro porque não resolvem os problemas econômicos daquele país, embora o submetam vergonhosamente a uma humilhação, que passa inclusive por abrir mão de parte de sua soberania.
Como já foi noticiado, se não resolve o problema grego, o objetivo maior não é o de sanear a economia ou as finanças públicas.
E parece que nem é o de humilhar um povo que, ao que consta, tanto tempo viveu além de suas contas.
No fundo o problema é ganhar tempo, para que os bancos ganhem fôlego e juntem forças e recursos para reconhecerem as perdas incorridas no calote grego.
Ou seja: tudo em prol dos mercados e do capital financeiro. Este sim, o grande objeto de preocupação da ajuda à Grécia.
Enquanto isso, para o povo grego, corte de empregos, demissão e redução de salários, corte de direitos e quem sabe mais o que virá pela frente...
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