sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mantega e o financiamento ao consumo

A economia não cresce às taxas previstas pelo governo.
Em evento contando com a participação de industriais nacionais o ministro Mantega conclui que nossa economia cresce apoiada em duas pernas mancas, uma a redução de crédito para o gasto de consumo das famílias; outra, o baixo crescimento da economia no resto do mundo.
É verdade que a economia do resto do mundo começa, apenas agora, a dar sinais de recuperação, com as estatísticas que estão sendo divulgadas dando sinais de estar chegando ao fim a fase de recessão que enfrentavam. Mas, ainda é cedo para maiores comemorações, embora eu acredite que o ministro está no papel dele, de tentar infundir confiança no empresariado, em relação ao cenário que se desenha para o ano de 2014.
Afinal, como se sabe, as decisões empresariais, especialmente aquelas relativas aos gastos de investimentos, são extremamente dependentes do grau de confiança e das expectativas formadas pelos empresários, e dessa forma, inegavelmente afetados pela confiança em uma recuperação da economia mundial.
Até mesmo as decisões de produção, como ensinava Keynes, são dependentes de expectativas de curto prazo, razão porque creio ser uma das funções do ministro a preocupação em transmitir ao menos a confiança em que 2014 apresente condições mais favoráveis aos negócios.
Entretanto, gostaria de fazer  uma reflexão quanto à outra crítica feita pelo ministro, desta feita ao sistema financeiro que, em sua opinião, está restringindo a concessão do crédito, o que impede a manutenção dos elevados gastos de consumo que vieram, em anos recentes, sendo o principal motor de crescimento de nosso PIB.
Ora, mesmo sem dados suficientes para fazer uma abordagem mais fundamentada, é certo que o Brasil ainda dispõe de um grande espaço para poder elevar os níveis de crédito concedidos pelo setor bancário às pessoas físicas, em suas várias modalidades, dada a ainda pequena participação do total do crédito concedido em relação ao PIB.
Além disso, as estatísticas têm demonstrado uma importante redução do grau de inadimplência, mês após mês, o que tem sido considerado uma surpresa quando se  considera que os juros têm apresentado tendência de alta, em função da elevação da taxa Selic, dos juros básicos da economia brasileira, patrocinada pelo Banco Central, como forma de combater a inflação.
Também não pode ser esquecido que todos os analistas financeiros recomendam, em toda a oportunidade que têm, que os trabalhadores utilizem o seu 13º para liquidação de dívidas antigas, evitando entrarem em uma espécie de buraco negro de um endividamento crescente.
Creio mesmo que, por força de toda essa campanha para a redução do grau de endividamento, já tradicional, há sim, uma tendência que pode ser percebida, de queda da inadimplência nos meses finais do ano. Alimentada essa queda até mesmo pela preocupação de vários devedores, de procederem à limpeza de suas fichas cadastrais, em tempo de poderem voltar a utilizar o crediário para realização de suas compras natalinas.
De mais a mais, por força da atuação do nosso Banco Central e sua diretoria de fiscalização, os bancos têm que manter padrões elevados e rigorosos de análise para a concessão de créditos, o que restringe a possibilidade de uma elevação indiscriminada de novos empréstimos e financiamentos. De quebra, impede que tenhamos a formação de uma crise bancária, como a ocorrida nos Estados Unidos nos anos 2007/2008, responsável por toda essa situação de crise que persiste no cenário internacional.
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Mas, não podemos nos esquecer do fato de que, por trás da concessão de novos financiamentos ou empréstimos está uma questão mais importante que é a da evolução da renda do trabalhador brasileiro que, por força da própria lei que rege o reajuste do salário mínimo, não deve apresentar uma tendência firme de crescimento, já que em sua fórmula leva em conta as reduzidas variações do PIB dos últimos anos. Por outro lado, a fórmula considera também a inflação havida, que significa que houve perda de renda real dos consumidores, ao longo do último ano.
Ora, em havendo inflação, há elevação dos preços e, embora ela possa ser mais localizada em alguns produtos ou grupo de produtos, o fato de a midia e os meios de comunicação estarem repercutindo muito esse problema cria um ambiente de incerteza e insegurança. E em ambiente de incerteza, recomenda o bom senso que se evite gastos, especialmente os desnecessários.
O que explica a redução do consumo, que o ministro critica, como se apenas influenciada pelo comportamento dos agentes fornecedores de crédito.
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Mas o que eu queria comentar é que, depois de  anos de crescimento puxado pelo aumento do consumo, chega um ponto em que as famílias já não têm mais novos bens a serem adquiridos, uma vez que aqueles bens comprados há pouco tempo ainda têm pouco tempo de utilização para que possam já ser descartados ou trocados por outros. Ou seja, há que se esperar um tempo para que possa ter início o consumo de reposição de bens comprados pelas famílias brasileiras na etapa de crescimento inicial do consumo.
Por outro lado, deve-se reconhecer que, para algumas famílias que compraram ou trocaram recentemente seu automóvel, ou seu primeiro tv de led, ou seu computador ou notebook, é menos importante a aquisição de um segundo bem dessa espécie, sendo difícil mesmo admitir-se que a família de classe média teria condições de sustentar dois ou mais carros, com pagamento de impostos, combustíveis a preços mais elevados, gastos de manutenção, também em alta.
Em contrapartida, muitas dessas famílias passarão a pensar na aquisição de imóveis, na casa própria ou na melhoria ou reforma de suas habitações, ao invés da reposição por desgaste de mobiliário recentemente adquirido.
Então, mesmo concordando com a postura do ministro, e entendendo sua mensagem aos industriais, acho que o foco maior deveria ser dedicado, agora, não ao financiamento ao consumo, mas à aquisição da casa própria, o que não poderia, de qualquer forma, ser feito sem rigor por parte dos agentes financeiros e do Banco Central, de modo a não colocar em marcha a formação de uma bolha, cujas consequências poderiam ser mais danosas para nossa economia.

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