segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A análise fria e já atrasada do Galo no Marrocos

O desejo de dar um tempo e refletir melhor sobre o que foi a campanha do Galo no Marrocos é que explica a ausência de qualquer comentário desde a última postagem, feita pouco antes do jogo de quarta feira, contra o time do Raja.
Afinal, mesmo tendo feito aqui comentários distintos daqueles feitos pela maioria dos comentaristas e jornalistas ou torcedores, que acreditavam que seria um jogo tranquilo para o Atlético; mesmo tendo sempre registrado nesse blog o meu receio em relação ao que seria o jogo, em especial porque o time do Marrocos mostrou ser um time bem armado, com atacantes velozes e rápidos, ainda assim, ao final da partida nem mesmo eu conseguia entender ou explicar a ponto de tentar escrever, sobre o que eu havia visto em campo.
Por isso, a decisão de dar um tempo. Esperar a próxima partida. Esperar que a poeira baixasse e que a cabeça desinchasse.
Para não repetir o que eu vi, e achei ridículo, de comentários que culpavam apenas uma pessoa pela derrota, como no caso do programa conduzido pelo Kajuru, no canal 9 da Net.
Sem saber as razões, sem querer saber porque, apenas registro que o controverso repórter atribuiu a Cuca toda a responsabilidade e toda a falha pelo que aconteceu em campo, o que mais que um absurdo, é um disparate.
Afinal, da mesma forma que não consigo entender a valorização que nossa imprensa esportiva faz da figura e do papel do técnico, endeusando os Luxemburros, os Felipões, os Tites da vida,  já que nenhum desses homens entra em campo ou joga e se esforça, também não poderia concordar com essa postura do Kajuru, responsabilizando o técnico, que ficou fora de campo, da derrota.
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Mas, para começar meus comentários, apenas para registro, gostaria que alguém me explicasse porque o Atlético veio para o jogo, tanto na primeira partida contra o Raja, a do vexame, quanto na segunda contra o time chinês, outro jogo muito ruim, portando o seu segundo uniforme, o todo branco ou com predomínio do branco, lembrando uma noiva.
Porque o GALO não entrou com seu uniforme tradicional, o que invoca a raça atleticana, o da camisa preta e branca que, quando pendurada no varal em noite de tempestade leva o atleticano a torcer contra o vento?
Posso estar falando uma bobagem, mas ao ver o time aparecer no túnel de entrada em campo com aquele uniforme, uma impressão muito ruim se apossou de mim, e o que poderia ser definido como se fosse uma intuição acompanhou-me durante todo o jogo.
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É importante que eu registre que, do que lembro e posso estar enganado, as últimas partidas que o Atlético jogou com aquele uniforme o time acabou derrotado, como por exemplo, a partida contra a Ponte Preta no segundo turno da competição. Uma semana depois de aplicar uma goleada impiedosa na própria Ponte, no Independência.
Jogando fora, sem o uniforme tradicional, o Atlético jogou algumas partidas do campeonato tão mal, já na reta final dos preparativos para o Mundial que eu cheguei a pensar se não estaríamos nos preparando para um vexame.
Está certo que não havia a presença de Ronaldinho, mas o time como um todo mostrava uma defesa muito mal postada, um meio campo sem qualquer criatividade ou capacidade sequer de destruição e um ataque tão bisonho que Alecsandro, invariavelmente entrando no final dos jogos, amargando o banco chegou a terminar a competição como nosso artilheiro, ou um dos dois artilheiros.
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Antes de qualquer coisa, então, acho que qualquer análise séria do futebol praticado pelo Atlético deveria começar pelo uniforme. O time não jogou com a mística. E daí nem dá para falar que não honraram a gloriosa camisa do Galão. Ao menos porque a camisa não entrou em campo no Marrocos.
Em segundo lugar, acredito que devo fazer referência a outro assunto: o técnico Cuca.
A princípio para dizer que tenho muitas dúvidas e chego a questionar se Cuca tem essa capacidade toda que lhe atribuem de armar um time. E isso, falado nesse momento, pode parecer  uma crítica  injusta, mas meu raciocínio, já deixado gravado aqui em outras ocasiões (e passível de ser até pesquisado e confirmado) sempre foi nessa direção.
Afinal, Cuca montou um time espetacular no primeiro turno do Campeonato Brasileiro de 2012, encantando a todos apreciadores de um bom futebol e assumindo a liderança daquela disputa, com uma campanha irrepreensível.
Naquele time de Danilinho e Bernard como ponteiros que voltavam para ajudar a fechar o meio-campo, dando apoio aos laterais, com trocas de passes velozes e triangulações que contavam muito com a visão e inteligência de Ronaldinho Gaúcho, e o pulmão de Danilinho e Bernard, além de um feliz Jô, fazendo o papel de pivô, o futebol fluía e encantava. E dava força ao que a imprensa especializada atribuiu ao fato de Cuca ter o time nas mãos.
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No entanto, no segundo turno, lá pelo mês de setembro ou outubro, o time do Galo teria que jogar coisa de 8 ou 9 partidas, jogando no meio de semana e nos finais de semana, o que era um sacrifício inegável. Lembro-me de Cuca, em entrevista, afirmando que começava ali o período pior para o Atlético.
E começava ali o período em que o Galo completou várias partidas sem vencer, deixando os seus adversários o alcançarem e, no caso do Fluminense e Grêmio, até ultrapassá-lo.
Posso estar errado em minha avaliação, mas ao dar uma declaração que representa um sinal de fraqueza, creio que o moral do grupo de atletas ficará abalado. Afinal, o comandante do grupo é o primeiro a admitir que o resultado de derrota não é tão fora de propósito. E com isso, em minha opinião, a queda do futebol apresentado e até da disposição e da fibra que forja o time campeão é, senão obrigatório e normal, ao menos algo plausível.
Mas, mais importante que a declaração infeliz de Cuca, foi que o time perdeu Danilinho, por indisciplina, ou qualquer outro motivo, mas ao perder o jogador, Cuca não conseguiu mais armar o time.
Comentei aqui, algumas vezes, que Cuca parecia estar encarcerado naquele esquema, feito à feição de Danilinho e não conseguia mudar o posicionamento do time, levando em consideração as características do jogador novo, que completava o time.
Ou seja: se soube montar o time, não conseguiu fazer a correção em pleno vôo, necessária quando seu esquema foi desmontado.
E, por isso, tanto quanto a CBFlu, deixamos de ser campeões naquela oportunidade.
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Para o lugar deixado vago por Danilinho, e não ocupado por Escobar, pelo cai-cai Berola, etc, o Galo trouxe Tardelli e o time ficou mais forte.
E, com a chegada de Tardelli, mais uma vez Cuca conseguiu armar um time veloz, criativo, com Jô utilizando seu tamanho na área para amortecer a bola chutada lá da defesa, para o aproveitamento de jogadores rápidos, leves, como Bernard e Diego Tardelli.
Até mesmo a chegada de Donizete começou a ser notada, o que fez crescer o volume de jogo do Galo, campeão mineiro, e depois reconhecido como o time mais espetacular da primeira fase da disputa da Libertadores.
Com uma campanha tão notável, que com direito a aplicar goleadas no time argentino do Arsenal, lá dentro da Argentina, ou goleada no São Paulo, capaz de calar, inclusive, a boca de idiotas travestidos de comentaristas como o tal Paulo Morsa, e sua análise de futebol do time, não com base no que ele via e até reconhecia, mas baseado no comportamento passado de alguns atletas do grupo.
Pois, o cavalo paraguaio de Morsa foi o campeão da Libertadores. Por obra e graça de São Victor e da força da fé da torcida, já que findo o período da primeira fase, após a interrupção provocada pela disputa da Copa das Confederações, o Galo passou a jogar de outra forma, um outro futebol, mais feio. De pior qualidade.
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Só não viu quem não quis que o Galo parou de marcar a saída de bola no campo do adversário. Que os times aprenderam a neutralizar Ronaldinho Gaúcho e o jogo baseado na bola alçada em Jô. Que, parece que cansado, o time começou a marcar no seu campo, sem opção de jogadas exceto a bola recuada para Victor ou Réver, de onde saía o chutão que Jô até conseguia amortecer, mas aí, já com o time contrário todo recuado e marcando a R10 ou a Bernard.
Tardelli começou a dar demonstrações de cansaço. E o meio campo do Galo sofreu com a contusão de Donizete, enquanto a defesa, até então esbanjando segurança, completamente insegura.
Réver, depois do campeonato mineiro não voltou mais a ser o mesmo. O que pode ser comprovado por um fato tão simples quanto o fato de que ele, maior beque artilheiro do Atlético, não voltou mais a fazer qualquer gol pelo Galo.
Nessa hora, mais uma vez, Cuca não conseguiu perceber e se percebeu, não conseguiu montar uma alternativa ao esquema que, mais uma vez o aprisionou.
E assim, o Galo foi campeão da Libertadores, mais com fé e a força da torcida e seu Eu Acredito. E a pressão exercida no Horto, onde quem caía acabava morto...
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Mas o time já não jogava como antes, e a perda de Bernard, vendido, só reprisou a mesma situação de Danilinho, de um ano antes.
Cuca não conseguiu reestruturar o time e, como quem se agarra e eterniza aquilo que deu resultado positivo, em dado momento, continuou com o mesmo padrão tático, mesmo com jogadores novos e distintos no time.
Isso, mesmo considerando que Fernandinho entrou no time e, em minha opinião, dava maior consistência ao futebol de nosso time que o franzino, embora craque, Bernard.
Mais parrudo, Fernandinho era menos frágil e o ataque mais pesado, mas não menos veloz. E Fernandinho é exímio driblador.
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Para não ser injusto, temos de reconhecer que R10 se contundiu e que o time perdeu seu maestro.
Mas, mesmo nessa situação, sem seu melhor jogador, o time de Cuca continuava jogando da mesma forma de antes, quando R10 estava em atividade.
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De Cuca, apenas para esgotar a análise, apenas mais algumas opiniões, todas a respeito de sua postura e suas declarações. Coincidentemente ou curiosamente, todas na mesma direção: DESESTABILIZADORAS.
A primeira, já campeão da América, ao dizer que não iria dar atenção ao Campeonato Brasileiro, preferindo privilegiar a Copa do Brasil, título e troféu ainda não conquistado pelo Galo.
Ora, um técnico que dá um declaração dessas, mais uma vez, está dando a senha para seus jogadores. E a senha revela que não é necessário correr e se sacrificar para vencer uma competição. Antes mesmo de qualquer resultado, esforcem-se ou não, todos os jogadores já estarão "absolvidos". Nesse caso, esforçar-se e correr atrás da bola, para que?
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É por isso, que admiro Marcos Rocha, atleticano, que continuou, apesar disso, querendo correr, disputar os jogos, chamar para si a responsabilidade de tentar sair para o jogo. De vencer.
Embora com limitações que ele tem, claras, principalmente no quesito capacidade de marcação.
Por seu comportamento, Cuca reconhecendo sua disposição e esforço, atribuiu a ele a responsabilidade, várias vezes de ser o jogador que sairia para armar a jogada,  com a bola no pé e no chão.
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Derrotado na Copa do Brasil e eliminado, Cuca então deu outra declaração, parece que mostrando arrependimento, valorizando a disputa do campeonato brasileiro, já naquela altura com o time do Cruzeiro disparado lá na frente.
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No Marrocos, Cuca mais uma vez não conseguiu ver o que era necessário mudar no time para sair do sufoco do time marroquino.
Vendo o jogo pela Fox, foi boquiaberto que vi o locutor, aos 15 minutos do primeiro tempo, afirmar que o time da casa tinha mais de 70% de posse de bola.
Situação que veio, aos poucos, sendo modificada no decorrer da partida, embora o time africano terminou o jogo com mais posse de bola.
E olhe que, no final, a pressão toda era do Galo, já que inteligentemente o time adversário se encolheu e jogou em contra-ataques.
E o Galo continuou jogando mal mesmo depois de Ronaldinho cobrar a falta com a qualidade de sempre, e conseguir empatar o jogo, o que era uma injustiça para com o time marroquino.
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OK, o pênalte da nossa derrota não houve, em minha opinião e favorecido pelo erro crasso da arbitragem (que Simon na Fox dizia estar sendo uma arbitragem caseira!) o Raja passou a frente. Merecidamente, mas com gol que decorreu de erro.
Daí para a frente, não há o que fazer, exceto partir como o Galo partiu para a frente no desespero. Pronto para levar, como o fez, outro gol.
O placar de 3 a 1, embora tenha feito justiça, já que a vitória coube ao time que fez por merecer e jogou melhor, foi elástico demais, e talvez não acontecesse, caso o juiz não tivesse cometido o erro que cometeu.
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Quanto a Cuca, apenas tentou mexer mal, em minha opinião, trocando o jogador que mais tentava ir à frente, com alguma qualidade, que era Marcos Rocha, por Luan.
Vá lá que Luan entrasse. Talvez no lugar de um Tardelli irreconhecível e parado em campo. De um Fernandinho batalhador, mas sem qualquer inspiração. De um Jô que até tentou no início, para parar depois. De um R10 que só não esteve apagado, porque bateu uma falta com perfeição e, depois foi quem mais marcou o jogo, protagonizando o lance mais curioso e inusitado. Embora depois de a partida já ter sido encerrada.
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Marcos Rocha, indignado com sua substituição, errou ao sair como saiu, queimando sua imagem, junto à torcida do Galo, que já não o aceita muito e junto ao mundo inteiro.
Réver e Leo Silva, pesadões, lentos e sonolentos, foram muito ruins. Réver, sem acertar qualquer jogada. Léo Silva, ao menos ainda tentando.
Já Lucas Cândido, só Cuca não viu que estava completamente fora de si. E, incapaz de qualquer coisa útil, já deveria ter sido substituído antes. Ou melhor, nem deveria ter entrado. Muito inseguro, claramente inexperiente. Fraco e comprometendo, inclusive, o trabalho de Pierre, Josué ou quem estivesse ali, no meio, como Donizete.
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E, o pior: contra o time chinês, repetiram-se os mesmos problemas, sem que Cuca tivesse capacidade de alterar qualquer coisa, tomar qualquer atitude.
Outra vez, não fosse Marcos Rocha, muito bem na frente, apoiando com disposição e muito mal na defesa, marcando deixando espaços e falhando em algumas saídas de bola, o time não teria obtido o primeiro gol. Nem tomado o primeiro gol, também.
Se não fosse a presença insegura e ruim, muito fraca de Lucas Cândido, o time não teria sofrido a virada.
Se não fosse a fragilidade de Réver, na defesa, ou o meio campo inoperante e um ataque sem qualquer vibração, o jogo teria outro resultado.
O Galo foi terceiro colocado. O que não é um resultado ruim.
O gol vitorioso foi conquistado por jogada de Luan, que Cuca colocou em campo, numa substituição acertada. Com passe magistral de Tardelli, que já havia feito o primeiro tento.
Mais uma vez houve um gol em cobrança magistral de falta de R10. Que só fez isso, na partida inteira.
Além de ser expulso, merecidamente pelo revide e injustamente pela agressão sofrida no lance.
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Agora, independente de qualquer coisa, Cuca reunir o grupo e dizer que estava saindo antes do início do torneio é apenas mais uma das trágicas conversas e falas de Cuca. Que não acho que foi mau-caráter. Mas que não tem qualquer noção de timing para abrir a boca.
Que vá ser feliz na China, já que merece ter êxito.
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E que o Galo possa ser feliz, com as bênçãos de Deus. Porque só assim, acho que teremos jeito de sorrir em 2014. Com Autuori.
Sinal de que Deus terá mesmo de trabalhar muito. E o atleticano ter muita fé.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro PC,

Você disse tudo, o atléticano torce contra vento e não para o atlético, por isso vevem de ilusão. Atléticano não entende de futebol, entende é de carinho e paixão, estes são a razão de suas vidas.
Por último, o Ronaldinho disse que só renova se derem mais carinho e paixão a ele.

Grande abraço e grande 2014.
Élcio