Não houve qualquer surpresa. Deu o lógico: o Fluminense, mais uma vez, ganhou no Tapetão.
Ou poder-se-ia dizer que deu a lógica. Venceu o legalismo, mesmo que injusto, ou ilegítimo. Ou amoral.
Mas, como diriam aqueles que, desde sempre, adotaram a famigerada lei do Vila Rica, de que o que importa é levar vantagem em tudo, "dura lex, sed lex".
No cabelo só Gumex, completava a propaganda do cabelo comportado, cortado escovinha ou Príncipe Danilo, tão arcaico quanto o veredito do STJD.
E agora vem a imprensa carioca, e até alguns membros da imprensa paulista alegar que a decisão não pode criar um ambiente ou gerar uma situação que signifique algum tipo de represália ao time do presidente eterno da CBF e da FIFA, ou do representante mor dos interesses que aquela capitania representa, João Havelange.
Afinal de contas, o time das Laranjeiras, tão somente defendia, e com a competência de sempre seus direitos.
E como combater ou criticar alguém que esteja defendendo seus direitos?
Ainda mais no futebol, onde os direitos das agremiações, e de outros participantes e atores não podem ser discutidos na Justiça Comum, que em qualquer lugar que zela pelo Direito seria a última e derradeira instância de defesa do que agora os cínicos tricolores argumentam.
E, nem foi o tal Fluminense que correu atrás dos direitos alegados. Foi o procurador geral do STJD que apresentou a denúncia e que tomou as dores que deveriam ser do Flu. Que entrou apenas como parte interessada, coitadinhos.
Porque ao que parece, nem defender seus direitos eles conseguem mais, tamanha a vergonha ou desfaçatez. E justo neste tribunal que, conforme dizia um antigo professor de Direito Penal da antiga Universidade Católica de Minas Gerais, hoje PUC-MG, criminalista famoso aqui em BH, era um tribunal (e uma justiça, por extensão) por esporte.
E que celeridade para julgar a favor da turma da elite, que o time das Laranjeiras tão bem encarna e representa, velocidade que não se vê por ser extremamente incomum, quando o que está em julgamento é algum direito ferido de algum pobre, ou preto, justo aqueles que o time proibia de entrar em seus domínios. De vestir sua camisa. A ponto de se celebrizar com o apelido de pó-de-arroz, única forma de tentar disfarçar a cor da pele de seus jogadores...
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Pois bem, esse timezinho de segunda, que evita disputar o torneio que, há alguns anos atrás lhe valeu a queda para a 3a divisão, é que vem querer falar em fazer justiça. É que assume, agora a defesa do legalismo.
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E para que não persista qualquer dúvida, e antes de que venham criticar a minha opinião, seria bom que antes do julgamento, ao menos fosse aberta uma investigação séria.
Porque, afinal, ao que parece, a partir de algumas colunas que tenho lido, foi justo a CBF que recomendou o nome do advogado que representou a Portuguesa no julgamento. O mesmo advogado que pousou para foto tietando Fred, não por acaso, jogador do Flu.
E que agora a Portuguesa acusa de ter passado a informação errada, quanto à punição dada ao jogador da Lusa.
Mas não é só. Porque não é crível que, no meio de tanto desencontro de informações, o tal jogador impedido de jogar foi escalado entrar em campo apenas quando o jogo já estava definido e a Lusa com o direito conquistado de permanecer na divisão principal do futebol brasileiro.
Ora, um time que faltando apenas 10 minutos para encerramento do jogo de sua vida faz uma substituição dessas, colocando para jogar um jogador envolvido em tanta celeuma, deve querer explicações mais convincentes de todos os envolvidos na trapalhada, em especial sua comissão técnica, e sua diretoria de futebol.
É o mínimo que se exige: que seja feita uma investigação rigorosa do que estava por trás dos acontecimentos que parecem talhados para servir de argumento para salvar o Flu.
Do mesmo jeito que o jogador Gum, do Flu, solicitou ao juiz que não o expulsasse, depois de falta violenta e digna de cartão (no caso, amarelo, o que caracterizaria o segundo amarelo na mesma partida e, dessa forma, o vermelho!) para, logo em seguida, consagrar-se como o autor do gol que deu mais fôlego aos sonhos do Flu de escapar ao rebaixamento.
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Nem vou comentar aqui, do caso do Cruzeiro, lembrado ontem em programa esportivo de BH, para mostrar que as decisões do STJD são para valer, pero no mucho, ao menos quando há interesses de senadores mineiros envolvidos no episódio, como ocorreu no caso da perda de um mando de campo do Cruzeiro. Justo na partida que, segundo a imprensa definiria o campeonato (o que não era verdade de forma alguma!), e que por intervenção, e atendendo a pedidos de Aécio Neves e Perrela, o presidente da CBF, José Maria Marin, acabou determinando que seria disputada na casa do Cruzeiro.
Com a pena do STJD sendo atropelada e alterada, sob alegação das mais estaparfúdias.
O episódio serviu, ao menos, para mostrar o grau de seriedade desse suposto tribunal, que administra os interesses da CBFlu.
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Bem, mas se a coisa é para se manter nos limites estreitos da lei, não haveria como algum torcedor entrar contra a decisão, justificando que não quer ver em campo, o que é seu direito, um time que não mereceu estar disputando o campeonato da divisão principal. Isso não equivaleria a vender gato por lebre?
Nesse caso, o Estatuto do Torcedor não poderia ser alegado para justificar que o campeonato não pode ser disputado por quem não obteve sua classificação dentro de campo. Sob pena de o que acontece dentro de campo não ter mais nenhuma importância e validade?
Seria interessante ver os donos de padaria de São Paulo, ou o maestro João Carlos Martins entrando na Justiça, reclamando que foram feitos de tolos e ludibriados quando se dirigiam ao campo, para assistir a algo que não seria respeitado.
Fora dessa hipótese, a solução seria aquela de colocar o Fluminense disputando um campeonato solitário, sem ter de jogar com qualquer outra agremiação. Para ao final, ser-lhe entregue o troféu conquistado por força e artimanhas da CBF.
Enquanto isso, os demais clubes disputavam um campeonato paralelo, apenas para manter um respeito mínimo pelo futebol e o que ele representa, como atividade esportiva que diz ser.
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