Pois é. O Menino chegou, exatamente no dia 25, como previsto. Sinal de que a medicina continua tendo uma média de acertos em suas previsões bem superior àquela apresentada pela meteorologia.
Mas, sufocado pela pilha de compras e presentes que fazem a alegria dos empresários, e o barulho de fogos à noite, nem foi possível ouvir com nitidez o primeiro choro do recém-nascido.
Cuja vinda não passou despercebida por muito pouco.
E olhe que, pelos levantamentos que estão realizando, foi o Natal mais frustrante para os comerciantes, que venderam bem menos do que o que esperavam. Pelo que dizem, o pior Natal dos últimos 11 anos.
Sinal de que o brasileiro está ficando mais controlado, mais racional, mais contido nos gastos ou de que já havia gastado todo seu dinheiro em Miami, ou nas compras em outras cidades no exterior, cujo volume permitiu que o ano que vai se encerrando quebrasse todos os recordes de gastos com viagens internacionais? Reforçando ainda mais o nosso déficit em conta na balança de serviços e, como consequência na própria conta de transações correntes?
Números robustos, que impressionam, como apresentado na edição de ontem da Folha, na coluna de Eliane Catanhêde, para quem os brasileiros, nós, já gastamos mais de 20 bilhões de dólares no exterior esse ano.
Situação que levou a presidenta Dilma a adotar mais uma medida na tentativa de contenção desses gastos, representada pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, o IOF, atingindo as compras com a utilização de cartão de débito em moeda estrangeira.
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Eliane, a colunista da Folha reclama. Para ela a ação do governo, mais uma vez, erra o alvo, procurando corrigir o efeito, no lugar da causa. Embora reconheça que as compras no exterior movimentam o comércio e geram empregos nos países alheios, o que rouba empregos e não favorece o crescimento de nossa indústria e, daí, da nossa própria economia, alega que a causa real do problema é o elevado nível interno dos preços. Argumenta que os produtos brasileiros estão com preços mais elevados que os concorrentes estrangeiros, mesmo em feiras populares. Quanto aos importados, custam em nosso país, o triplo do que custam lá fora.
Para ela, é sobre os preços abusivos que o governo deveria agir e não adotar uma medida que, à primeira vista, apenas serve para encarecer o produto de fora, dificultando sua entrada em nosso país, e reduzindo a concorrência de mercado.
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Refiro-me à edição do último domingo do ano da Folha, por ser exatamente nesse mesmo exemplar que, no caderno Mercado, p. A17, tem uma excelente entrevista com o sempre lúcido Prof. Luiz Gonzaga Belluzzo, para quem o grande problema da economia brasileira não se encontra no abandono dos chamados fundamentos da economia, consubstanciados no tripé do câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e manutenção da política de austeridade fiscal.
Para ele, esse modelo, nada mais é que uma maneira de enquadrar ou organizar as expectativas, não podendo ser tratado como vem sendo considerado, de maneira mecânica, quase como uma convicção de fé.
Para o professor, o grande problema de Dilma encontra-se na questão do câmbio, na política cambial que, apesar dos custos, especialmente aqueles relativos à inflação, está completamente fora de lugar, sendo necessário que sua defasagem atual, pela casa dos 30% fosse corrigida.
Ora, talvez isso explique o problema que Eliane reclama. E explica muito da questão da queda da importância da indústria brasileira na geração da produção e no baixo crescimento experimentado pelo país.
O fato é que, como também nós já tivemos a oportunidade já pudemos comentar e postar há muito, certamente sem o brilho e a capacidade de argumentação do professor da Unicamp, o nosso desequilíbrio cambial, representado pela valorização estúpida do real é que justifica o fato de nossa produção estar mais cara, hoje, que no exterior.
Ora, como também são racionais, os industriais brasileiros perceberam tanto quanto os demais consumidores que comprar lá fora é mais barato e, portanto, passaram a substituir por produtos fornecidos no exterior, as peças, partes, componentes utilizados como insumos em suas produções.
A elevada taxa de juros, durante muitos anos praticada em nosso país, sob a desculpa de controle da inflação foi a responsável pela atração de vultosos montantes de capital externo para nosso país, elevando o valor de nossa moeda, de forma artificial.
E barateando toda a compra feita lá no exterior, em dólares enfraquecido.
A decisão de comprar lá fora, que Belluzzo alega ter transformado nossos industriais em meros comerciantes importadores, corretamente, é compreensível do ponto de vista microeconômico.
Mas, o influxo de capitais só atingia os volumes a que nos acostumamos, por falta de outros lugares que apresentassem a mesma lucratividade, capaz de se equiparar à rentabilidade desses capitais aplicados no Brasil. E a maior parte de tais capitais nem se destinou, necessariamente, a investimentos produtivos, senão que ao mercado financeiro.
E, agora, com a melhoria das economias mais avançadas, como a americana, e o fim da política de dinheiro fácil nos mercados, a rentabilidade desses países deve se elevar. O que faz ressurgir países e mercados financeiros e títulos em condições de concorrerem com nossa economia, pela atração desses capitais.
No nosso caso, possibilitando uma saída, não uma fuga, de capitais. O que encarece o dólar e os preços internos.
Então, Eliane está correta, em parte. Mas o processo de elevação dos juros e desvalorização do dólar, que vivemos desde o Plano Real até o final do governo Lula é o verdadeiro responsável pela situação. Contra a qual Dilma pode fazer muito pouco.
Enfrentando além disso o que o prof. Belluzzo menciona como a queda de braço da desenvolvimentista Dilma e o mercado financeiro.
E que, infelizmente, explica nosso baixo nível de crescimento do PIB e o fato de que Dilma recuou para compor com o mercado financeiro, que é mais forte, no mundo inteiro que qualquer governo.
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Mas, o Natal não é apenas compras e passeando pelos shoppings e pelas feiras de rua e até no mercado central, a queixa da maior parte das pessoas era a mesma: o Natal mudou. Não só pelo menor volume de vendas, mas até mesmo pelo ambiente. Pela falta de um espírito de Natal, que antes ainda aparecia e que, dessa vez, parece ter ficado de lado. Esquecido.
Ao menos essa foi a queixa que ouvi de um senhor em uma banca do mercado. Até as pessoas estão diferentes. Menos alegres, menos esperançosas. Menos felizes, talvez.
Menos natalinas.
O que é uma pena. E marca 2013, tanto quanto o campeonato do Galo na Libertadores, ou a eleição do Papa Francisco, para mim, disparado o maior evento do ano. Pelo que a figura de Francisco representa. Seja lá o que isso significa para cada um.
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