quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PIB frustrante e mais do mesmo na economia e nas críticas

Não! Este blog não está passando por reformas, ainda que estas pudessem ser necessárias. Tampouco a falta de postagens implica ou permite levantar a hipótese de desativação do blog.
O problema é outro, relacionado ao final de semestre, um semestre que passou voando e que parece-me muito curto, especialmente quando analisado do ponto de vista do semestre letivo.
Afinal, não é novidade que o segundo semestre parece ser mais curto que o primeiro, especialmente para as atividades acadêmicas. É que junho é um mês que poderíamos chamar de útil. Enquanto dezembro não.
Por conta das festas de fim de ano, das compras natalinas, da organização de Natal e das viagens de tantos cujas famílias vivem no interior.
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Além desse motivo, há outro: a economia brasileira parece ter começado a entrar já em compasso de espera. E as novidades do mundo político também já não são tão novas assim.
No campo econômico, a continuidade de fatos que já ocuparam a atenção em períodos recentes, como por exemplo, a sequência do processo de deterioração das contas públicas, expressas pela redução do superávit primário que não alcança metade da meta prevista para todo o ano, já quando tem início o último trimestre.
Processo de deterioração que permite uma crítica cada vez mais exacerbada ao governo (especialmente ao governo federal) já que os dados divulgados revelam uma elevação da arrecadação bruta que tem batido recordes, sinal de que o problema situa-se no exagerado acréscimo das despesas públicas. E, para reforçar a histeria dos críticos, um acréscimo das despesas de custeio.
Elevação que causa um alvoroço que, em minha opinião, é completamente despropositada e desproporcional caso nos debrucemos sobre os dados de forma a realizar uma análise minimamente isenta de interesses para não dizer honesta.
Acontece que é normal que haja um crescimento vegetativo das despesas de custeio. Afinal, a própria inflação é causa de elevação dos preços dos produtos que também o governo deve consumir para poder prestar serviços minimamente decentes à população, o que diga-se de passagem não ocorre.
Por outro lado, acusa-se o governo de elevar os gastos com a folha de pessoal, passando a impressão de que o governo tem praticado uma política salarial completamente equivocada, quando uma análise simples indicaria que os reajustes concedidos pelo governo Dilma, consubstanciados em três parcelas anuais de reajuste de 5%, totalizando 16 % até 2015, sequer asseguram aos funcionários a reposição das perdas inflacionárias.
Uma análise séria mostraria que os gastos com pessoal têm apresentado redução quando considerados como proporção como proporção do PIB, isso independente de haver o crescimento vegetativo, decorrente da aplicação de dispositivos legais que, em qualquer atividade são comuns, de concessão de vantagens pessoais como anuênios e progressões na carreira.
E independente, também, da necessária contratação (via concursos) de novos servidores, objeto também de críticas que remetem à ocorrência de um inchaço do serviço público, e que não passa da necessária reposição dos quadros por força do número de aposentadorias, por exemplo.
Nesse caso, parece que  interessa aos críticos é a desestruturação dos serviços públicos que, por força de insuficiência de pessoal não poderia prestar serviços da qualidade exigida à população, alimentando e reforçando a ideia da ineficiência da atividade pública e da necessária privatização de todas as atividades a cargo e de responsabilidade do governo. Ou pior ainda, impedindo que órgãos de fiscalização tivessem efetivo para poder agir, punindo e impedindo abusos tão frequentes, da ação de agentes privados.
Pouco importa a razão, nesse momento, o que queremos demonstrar é que, a razão da elevação dessa despesa, em relação ao PIB, deve-se ao fato de o PIB estar demonstrando um crescimento pífio, quando existente.
E aqui entramos em outra questão importante. A arrecadação embora crescendo, o faz em ritmo decepcionante, muito em razão das medidas de desoneração adotadas pelo governo, para atender a demanda dos setores empresariais e estimular a recuperação do nível de atividade econômica.
Aqui a questão, também antiga e já tratada nesse espaço, é que o governo fez aquilo que o setor empresarial lhe solicitou, o que resultou em queda da arrecadação, com impactos óbvios no resultado primário apresentado, ou seja, redução do superávit primário, necessário para assegurar o pagamento dos juros da dívida pública.
E qual foi a resposta do setor privado? A desconfiança. A crítica contra o intervencionismo estatal, que não deixa espaço e não transmite ao setor empresarial a necessária tranquilidade capaz de assegurar que serão mantidas as regras e respeitada as regras do jogo.
O que, anteriormente, foi sugerido nesse blog que se tratava apenas de uma chantagem posta em marcha pelo setor privado, exatamente para colocar o governo em situação que no jogo de damas é denominado de curé, ou seja, sem movimento, exceto prosseguir na concessão de benefícios aos empresários. Processo que apenas alimenta o que tem sido a característica mais notável e marcante de nosso capitalismo tupiniquim, a de se estabelecer o capitalismo sem risco.
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Do ponto de vista econômico, ainda, mais uma elevação da taxa Selic, retornando aos dois dígitos, agora fixada no patamar dos 10%, o que também já havia sido previsto aqui.
Sem querer fazer futurologia, nem querer dar uma de mãe Dinah, já há algum tempo, havíamos mencionado a possibilidade de que o governo Dilma pudesse praticar uma política monetária mais drástica, atendendo aos reclamos do mercado e dando demonstrações inequívocas de sua preocupação com o controle da inflação que apresentava sinais de descolamento da meta proposta. Tudo no sentido de ratificar a manutenção da política de metas inflacionárias.
Pois bem, o Banco Central apertou o controle monetário, elevando as taxas de juros e interferindo no montante de crédito da economia, o que conseguiu conter as expectativas pessimistas que indicavam descontrole da política econômica.
A inflação foi contida e o mercado já trabalha com valores inferiores a 6% para a taxa anual em 2013 e equivalente a 5,8 ou 5,9% para 2014, ano de Copa do Mundo e eleições.
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Conforme já havíamos comentado, não estava afastada do horizonte a adoção de uma política mais austera, representada pela elevação da Selic, inclusive para o primeiro trimestre do próximo ano, tudo para arrefecer as chamadas expectativas e criar espaço para que, no segundo semestre, mais próximo das eleições, o governo tivesse maior espaço para praticar políticas mais voltadas para a expansão.
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O resultado de tudo isso é que o governo elevou as taxas de juros, como esperado e até justificado. Dados do IBGE revelam que o PIB apresentou queda no terceiro trimestre, de 0,5%, puxada por uma queda do nível de investimentos que encolheram 2,2%, dando força à queixa de Dilma que se sentiu traída pelos empresários que não "cumpriram sua parte" em resposta ao que o governo fez por eles.
Por outro lado, o consumo vem dando sinais de arrefecimento, muito como reação ao encurtamento da capacidade de endividamento da população, seja por já terem alcançado seu limite, seja como fruto de uma mudança de postura, influenciado pelas notícias e análises nada otimistas quanto ao futuro próximo de nossa economia.
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No campo político, Dilma reafirma sua força e mostra que deve conquistar um novo mandato, mais por força da incompetência das forças de oposição (oposição? a que?  e só agora?) que de acertos de seu governo, como os analistas e críticos não se cansam de tentar nos convencer. (Parece até que essa era a intenção - FRUSTRADA - dos críticos!!!).
Afinal, apesar de toda a crítica, o Brasil cresce. Pouco. Em ritmo insuficiente, mas cresce em um mundo em que os principais países estão satisfeitos de não apresentarem resultados negativos de sua produção.
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Mas, interessante mesmo, em minha opinião, é ver que em encontro de economistas e empresários no Rio, nessa semana, e com divulgação bastante relevante, o governo foi duramente atacado. E que um empresário como Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, defenestrado do cargo por Dilma, tenha tido tanto espaço para poder afinal, manifestar toda sua mágoa.
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De resto, apenas perceber e destacar a importância, de resto suficientemente destacada por Keynes, das expectativas econômicas.
O que retira da economia, em minha opinião, cada vez mais o "caráter" de ciência já que tão sujeita ao impacto de profecias auto-realizadas.
Ou, como dizia Chico de Oliveira, falta de objetividade "científica"  que é exatamente o que assegura às ciências sociais o status de ciências.
É isso.
Continuamos por aqui.












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