segunda-feira, 23 de junho de 2014

A surpresa da Copa e a falta de foco e de surpresa das convenções partidárias

E aos poucos, a Copa de 2014, a nossa Copa, aquela que se propunha a ser a Copa das Copas, vai se transformando em uma das edições mais surpreendentes dos últimos anos, senão dos anos 2000.
Países sem grande tradição na prática do esporte, outros que nunca tiveram muita expressão ou resultados que os credenciassem a fazer uma boa campanha acabaram se mostrando mais surpreendentes, mais bem preparados, tanto física quanto taticamente, que outras seleções de maior fama e maior número de títulos.
Nem me refiro ao caso do Brasil, e sua chave, já que a Croácia, embora de menor tradição, já havia obtido um terceiro lugar em Copa anterior. Além de ter sido, em minha opinião, gritantemente prejudicada pela arbitragem contra a seleção dos donos da casa.
Quanto ao México, os últimos resultados sempre têm mostrado uma seleção capaz de dar muito trabalho a nossa equipe, o que tem sido suficiente para que nosso eterno favoritismo passe a ser questionado.
Tudo bem que em competições oficiais, com as equipes principais, o México continua sendo quase que um freguês, mas ninguém pode negar que a cada jogo entre as duas equipes, a equipe mexicana apresenta maiores dificuldades.
Hoje, contra Camarões, não deverá haver dificuldades maiores para o selecionado brasileiro avançar, até com a expectativa de um jogo de muitos gols. Afinal, Camarões perdeu para o México pela diferença de um gol, apenas por ter sido prejudicado pela arbitragem.
Na partida seguinte, contra a Croácia, Camarões tomou uma goleada de 4 a zero, sendo que menos importante que o placar, foi o fato de os jogadores africanos terem mostrado o grau de desentendimento que predomina no elenco, tendo protagonizado um lance constrangedor, de briga entre dois jogadores.
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Contudo, a arrogância - nunca admitida - de nossa seleção frente a Camarões, tanto quanto frente ao México pode ser nosso maior adversário essa tarde, na cidade de Brasília, que não existia sequer, na primeira edição da Copa realizada em 1950, em nosso país.
Naquela ocasião, Brasília nem sequer era um sonho, e creio eu que a imprensa toda devia - nesse caso, sim, mostrar para todo o mundo como em menos de 70 anos, nós os brasileiros fomos capazes de sonhar e construir uma cidade, e mais ainda, capazes de tornar aquele sonho uma das cidades mais sofisticadas, mais bonitas, mais corruptas, mais .... mais tudo das Américas...
Embora seja o centro do Poder e, como tal, merecedora do crédito dado em relação à corrupção e etc, ainda assim creio que termos uma cidade como Brasília deveria ser motivo de orgulho para todos nós tupiniquins.
Especialmente, sabendo-se que o jogo será no Mané Garrincha, o estádio-arena considerado mais bonito e mais caro - e como maior nível de estouro de orçamento de quantos hospedam os jogos da Copa.
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Nos outros grupos também, a zebra tem dado as caras, sem qualquer cerimônia.
Assim vimos Gana forçar a Alemanha a fazer das tripas coração, para poder arrancar um empate, notável por ter o segundo gol alemão sido o tento que permitiu a Klose tornar-se, ao lado de Ronaldo Nazário, o maior artilheiro de todas as Copas, com 15 gols.
No grupo chamado da morte, por contar com a presença de três ex-campeões, a Costa Rica ter sido a primeira a garantir sua passagem para a próxima fase, das oitavas de final, enquanto a Inglaterra despedia-se melancolicamente da Copa.
A bem da verdade, embora sempre temida a seleção inglesa nunca foi esse bicho papão, como a Itália ou a Alemanha são consideradas, tendo chegado apenas uma vez ao título, justo na Copa disputada na terra da Rainha, e com a ajuda escandalosa do juiz na partida decisiva contra a Alemanha. Isso, no ano de 1966.
Antes disso, em 62, embora temida, teve a oportunidade de enfrentar e perder de 3 a 1 para as pernas tortas infernais de Garrincha, que fez dois gols naquele jogo, se não me falha a memória.
Na verdade, ouvindo a transmissão pelo rádio, confesso que naquela tarde, minha preocupação maior era poder correr para a sacada do apartamento de minha tia, localizado na esquina de Espírito Santo com Goitacases, para poder jogar lá embaixo os baldes de jornal e papel picado que ficávamos cortando esperando o momento de nova comemoração.
Depois, em 70, a Inglaterra mais uma vez enfrentou o Brasil em jogo duro, que terminou em 1 a zero, com gol que nasceu de jogada pela esquerda, de Tostão, que serviu creio que a Pelé, para terminar nos pés de Jairzinho, de onde foi parar no fundo das redes.
Pois nessa Copa, a Inglaterra saiu sem mostrar a que veio, ou mostrando que não basta nome ou títulos para vencer um torneio que se disputa e se vence dentro dos gramados. Durante noventa minutos de jogo.
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O Chile, também classificado, é outro time que tem mostrado em campo que nome vale menos que a vontade e o bom preparo. Merece e tem merecido as vitórias e a classificação.
No mais, Portugal levando de 4 da Alemanha e suando muito e contando com a sorte para empatar com o bom time dos Estados Unidos, nos minutos finais da partida, mostram também um time que é apenas mediano, embora dele se esperasse muito exatamente por trazer aquele que é considerado na atualidade o maior jogador do mundo. Ou seja, a presença de um jogador, Cristiano Ronaldo, que nega o espírito de equipe que é a alma do futebol, é que tem sido apresentado como o grande trunfo da seleção portuguesa, cujo time é fraco.
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Quanto à Espanha, já desgastada e com um futebol que, se encantou há quatro anos, já dá sinais da passagem do tempo e de perda de objetividade, foi desclassificada de forma merecida. Embora é necessário reconhecer que perder para a Holanda fosse um resultado normal. Entretanto, perder de 5 como foi, representou uma surpresa muito grande, quase uma zebra.
Algo como a dificuldade de a Argentina superar o Irã.
Afinal, brilhou o gênio de Messi, ou melhor, a sorte. Mas afinal, Messi mostrou que uma chance que tenha já é motivo para preocupação para qualquer adversário.
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Importante, fora a sempre temida Alemanha, a França e sua surpreendente campanha, a Bélgica e seu ainda não confirmado favoritismo, é o fato de estarmos com México, Costa Rica, Colômbia, Uruguai, Chile, Argentina e o Brasil, em condições de mostrar que é nas Américas que se pratica hoje o melhor futebol, incluída aí, a própria seleção dos Estados Unidos.
É isso.
O que nos tira o foco das convenções que os partidos vêem fazendo, e as bobagens que vêem sendo ditas nos discursos, para a confirmação de seus candidatos para o torneio mais importante que teremos depois, em outubro.

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