O assunto dominante é o futebol e a Copa que se aproxima, faltando já três dias para a abertura do evento.
As seleções vão chegando ao Brasil, outras vão ultimando os preparativos e todos começam a se deixar contagiar pelo ambiente de patriotismo que faz as bandeirolas verde-amarelas invadirem as ruas e tomarem conta das janelas dos apartamentos e das fachadas dos prédios.
Sob esse espírito de festa, fica muito difícil tratar de outros assuntos considerados mais sérios e que, para não destoarem do ambiente, acabam sendo tratados de forma mais "light".
Nesse caso, enquadra-se a discussão dos nomes de possíveis membros da equipe de governo de Aécio Neves, por exemplo, caso eleito.
O que é no mínimo curioso, já que o mineiro será ungido candidato do PSDB em convenção realizada agora em junho, sem estar ainda confirmado o nome de seu vice ou seja, sem a chapa estar formada.
Situação que vale também para que todos reflitamos sobre o significado dessa figura do vice, de tanta importância na história recente do nosso país, para não dizer de toda história republicana. Afinal, não foram poucas as ocasiões que vices acabaram tendo que ocupar o cargo para o qual não foram escolhidos, valendo lembrar de forma rápida, apenas para refrescar a memória dos casos de Nereu Ramos, de João Goulart, o Jango, ou mais recentemente ainda, de Sarney, que tomou posse por força da doença e falecimento de Tancredo, ou de Itamar, por força do impeachment de Collor.
Mas, não é apenas em relação ao cargo principal do Executivo que a questão do vice mostra sua importância. No Legislativo, por exemplo, a questão é muito mais complexa, já que o suplente de um deputado ou pior, de um senador, não precisa aparecer na chapa, nem ser votado.
Consequência: Minas Gerais tem hoje, por exemplo, dois senadores que não foram votados para estarem representando os interesses do Estado no Senado Federal. São eles os senadores Clésio Andrade, que ocupou a vaga com o passamento de Elizeu Rezende, e Zezé Perrela, que ocupou a vaga deixada por Itamar Franco.
Não posso dizer que não seriam eleitos para os mandatos, especialmente o segundo dos citados, que elegeu seu filho como deputado estadual em Minas, já que ocupou por muito tempo o cargo de presidente do Cruzeiro, mas o caminho mais fácil para chegarem ao poder era sem dúvida, esperar a poeira descer, levando de volta ao pó, os representantes eleitos.
Pois bem, sem vice, como levar a sério a discussão de prováveis nomes para comporem a equipe de governo, já que pelo visto, do cargo principal para baixo, todos os cargos podem ser objeto de negociação?
De qualquer forma, ouvi o nome de Armínio Fraga para provável ministro da Fazenda, ele que se notabilizou por ser o presidente do Banco Central responsável pela implantação do Sistema de Metas de Inflação e que deu sequência à medida que os presidentes que o antecederam já haviam sido obrigados a adotar, do câmbio flutuante.
Tendo assumido o cargo de presidente do Banco Central, que na época ainda não tinha o status de Ministro, já que isso foi um prêmio dado a Henrique Meirelles para que seus processos de crime contra o sistema financeiro fossem tivessem seu andamento paralisado em instâncias que não o STF, Armínio conseguiu dois fatos importantes: o primeiro de conseguir recolocar a economia brasileira nos trilhos, ela que tinha entrado em colapso com o câmbio fixo, e déficits em conta corrente tão elevados que alimentou um processo de corrida contra nossa moeda.
Janeiro de 99, e Chico Lopes no Banco Central, e a economia brasileira perdendo tantos recursos que foi obrigada a deixar o câmbio flutuar, indo na contra-mão das recomendações do Plano Real e de seu mentor, o FMI.
Interessante realizar a leitura de tais fatos hoje, passados já mais de 15 anos, já que muitos parecem esquecer, mas o Brasil se antecipou à Argentina, quebrando primeiro, embora isso já tenha caído no esquecimento há muito.
Armínio Fraga veio dos Estados Unidos e desembarcou aqui com a orientação de promover o tema que mais era o objeto de debate na época, a transformação da economia brasileira em um sistema de currency board.
No Banco Central onde trabalhava naquela ocasião, fomos os funcionários brindados com palavras do novo presidente, por circuito interno de TV. Não sei se a memória me trai, mas das palavras que ouvi, e interpretação que fiz, Armínio foi convencido a dar mais uma oportunidade ao sistema de câmbio flutuante, antes de adotar a dolarização da economia, sua tarefa principal.
Armínio não dolarizou a economia e a economia voltou a se recuperar, com apagões e empréstimos cada vez mais significativos de nosso mentor mor, o FMI.
A segunda participação importante de Armínio, se deu em 2002, quando como representante dos defensores da ideia de um Banco Central independente, ele agiu para criar o ambiente de terrorismo cujo objetivo era o de derrotar o líder nas pesquisas eleitorais, Lula.
Agiu politicamente tanto para a manutenção de seu partido no poder, quanto agora alguns da imprensa acusam o partido no poder de estar fazendo. Embora naquela época não se chamasse de aparelhamento do Estado...
Curioso, que Serjão foi o ministro das Comunicações que primeiro pregou os 20 anos no poder do PSDB; que foi Armínio quem fez o terrorismo que elevou a inflação no chamado efeito Lula, que perdeu as rédeas que Henrique Meirelles teve de correr atrás para controlar depois; que foi Armínio que antecipou medidas necessárias e corretas do Banco Central, como a de marcação a mercado dos bancos e fundos, antecipando datas anteriormente previstas, mas que geraram perdas em todas as carteiras de títulos e aplicações, prejuízo calculado para gerar o medo, quase temor da chegada de Lula ao poder, foi o PSDB que em seu discurso de Banco Central independente, transformou a política econômica em instrumento de disputa eleitoral e a imprensa só fala do que o partido hoje no poder está fazendo.
Talvez porque o PT não cria nada e age como o Chacrinha pregava: tudo se copia. E o PT deve mesmo ser combatido por estar copiando um partido como o PSDB.
Esse partido que foi o lançador da ideia do mensalão, da compra dos votos e Ronivaldos, da ideia do apagão agora redivivo na possibilidade de rodízio de água em São Paulo, na corrupção dos metros e da Allstom, etc.
E é o PSDB que vem agora para uma convenção sem apresentar o seu candidato a vice, para ter a oportunidade de prosseguir negociando cargos, ele que critica a transformação do governo em balcão de negócios...
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Seria tudo motivo de riso, se não fosse sério e se isso não fosse o Brasil, com Copa e eleições logo à frente.
Copa que acho que não iremos vencer, e torço para que Kajuru esteja errado em sua afirmação de que a Copa já está decidida a favor de nossa seleção. O que seria uma pena, já que o esporte seria o maior derrotado de todo esse evento que é feito exatamente para elevar seu conceito.
Também acho que vencida ou não a Copa, pouco efeito isso trará para as eleições. Trará mais efeito e terá mais importância o fato de fazermos ou não uma copa digna de elogios, se não pelas obras, pela festa.
E pelo calor humano que o brasileiro tem, reconhecidamente, no trato com turistas e visitantes de fora.
Ou seja, se formos elogiados e, no fim de todos os percalços formos capazes de fazer um torneio que seja reconhecido como tendo ocorrido sem problemas maiores, então, esse reconhecimento poderá afetar o humor de nossos eleitores. Caso contrário, o eleitor poderá vir a se manifestar, como já está fazendo e as pesquisas têm mostrado isso, como tendo chegado a seu limite. Ou seja, não dá mais para continuar achando que simpatia, sorriso e jeitinho irão consertar nossa situação e melhorar nossas vidas.
Temos que fazer alguma coisa, e isso passa pela mudança de política, de políticos e de nomes e maneiras de pensar.
Daí os resultados das pesquisas indicarem que cai Dilma, mas ninguém sobe em seu lugar. Afinal, tudo é farinha do mesmo saco...
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