quarta-feira, 4 de junho de 2014

Duro não vai ser ver os jogos do Brasil na Copa. Mas acompanhar as patriotadas de narradores do Sportv e Globo e cia.

Está certo. Somos todos brasileiros e, no final das contas, acabaremos torcendo para a seleção de nosso país conquistar a Copa do Mundo.
Temos já experiência com isso. Pelo menos desde a Copa de 70, em que, aos poucos, a seleção foi dobrando um a um daqueles que começaram torcendo contra, ou nem se importando com os jogos no México.
Como já suficientemente abordado, ao final, até mesmo aqueles que participavam dos movimentos considerados subversivos, ou de guerrilha, etc. acabaram postados em frente à televisão, assistindo aos jogos e às vitórias do time de Pelé, Tostão, Gérson e Rivelino, para citar apenas alguns.
Naquela época, éramos 70 milhões em ação, e o refrão de pra frente Brasil, de tantas e distintas conotações, acabou nos envolvendo a todos, ligados na mesma emoção e no mesmo desejo e objetivo: salve a seleção.
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De lá para cá, por uma série de razões, e para alguns de nós, a forma de encarar a disputa ou a própria conquista foi se alterando ao longo do tempo, a cada quatro anos, o que afetou a nossa forma de torcer, de participar, de comemorar as vitórias.
Para alguns, a razão principal estaria no fato de que a seleção não representa mais, como antes, o futebol que se pratica no país, já que integrada em sua maioria por atletas que jogam em outros centros, fruto da globalização que alcançou o futebol e do poder e da força da grana. Ou da organização do esporte lá fora.
Assim, não é raro ouvirmos algum torcedor manifestar mais orgulho e prazer e dor, ao ver seu time em uma competição que a seleção brasileira.
Algo como se a seleção brasileira não tivesse mais a capacidade de nos representar ou nos sentirmos representados.
Mas nessa hora, nada disso importa. O futebol continua sendo o esporte da preferência e da paixão nacional, como o demonstra a confusão provocada pela venda de ingressos - sem qualquer padrão FIFA, especialmente dos últimos lotes disponíveis.
Sinal de que teremos casas cheias. Pelo menos no período da disputa, já que finda a Copa vai ser difícil encontrar utilidade para alguns dos elefantes brancos erguidos para sediar os jogos.
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Mas o tema que eu queria tratar, hoje, é outro. E diz respeito ao fato de que, independente de todo o natural ufanismo que o sentimento de ver e torcer pela seleção desperta, vai ser muito difícil acompanhar as transmissões de jogos da Copa, para os que não conseguiram ou não tiveram condições de adquirir ingressos.
Foi o que pude perceber ontem, no dia em que a seleção enfrentou o poderoso e fortíssimo esquadrão do Panamá.
Desculpem a ironia, mas diante do que vi e ouvi de comentários na transmissão do SportTV, fico me perguntando se a ironia não foi do locutor.
Que começou acompanhando a entrada dos jogadores brasileiros no gramado e dos jogadores reservas que se posicionavam no banco, quando então veio a pérola. Uma das muitas que se seguiram. Ao ver passar o goleiro Victor, o locutor comentou, da passagem do atleta e soltou algo como que entrou na última hora, no lugar de Diego Cavalieri.
Ora, faça-me o favor, carioquismo e bairrismo deveriam ter limites. Ou a relação de nosso locutor, que graças a Deus não quis nem saber o nome, com Felipão é tão íntima que ele sabia que Felipão pensava em convocar o goleiro do Fluminense, no lugar do goleiro que atua em Minas.
Daí para a frente, foi um show de ufanismo, como se o destino da pátria dependesse do jogo e da vitória, reeditando o pior do famoso bordão da seleção ser a pátria de chuteiras.
Jogando mal, sem qualquer objetividade e poder de penetração que fosse capaz de furar o bloqueio da seleção panamenha, o locutor se esforçava em mostrar que o Panamá era sim, um adversário duríssimo, já que ficou em quarto lugar no torneio classificatório, perdendo nos dois últimos minutos, já da fase de descontos da portentosa seleção dos Estados Unidos.
Eu não era vivo, mas quantas vezes não ouvi a história de que o maior feito da seleção americana foi a surpreendente vitória por um a zero da seleção inglesa, no Independência, aqui mesmo em BH, na Copa de 50?!!
Alguém vai lembrar que os americanos passaram às oitavas de final e fizeram um jogo duríssimo contra o Brasil, em 94, mas com o time retranqueiro de Parreira, que conquistou uma Copa nos penalties, qualquer jogo era duríssimo.
Pois bem, é a essa seleção americana que o locutor se referia para mostrar a dificuldade de jogar contra a seleção panamenha... que ficou fora da Copa...
E ainda assim a temida seleção da América Central ainda tentava alguma jogada de ataque, o que obrigou David Luiz a dar uma espanada geral, para limpar o terreno.
Quando a seleção já recebia as primeiras vaias da torcida goiana, Neymar fez uma jogada em que deixou de tocar para Fred livre, em verdadeira demonstração de individualismo, criticado pelo pessoal da transmissão. Como recebeu falta em seguida, próxima à área, e bateu sem chance de defesa para o goleiro, o locutor se sentiu à vontade para voltar a infernizar os telespectadores com comentários completamente desprovidos de um mínimo de senso de oportunidade.
A ponto de em determinado momento, brindar-nos com outra pérola, a respeito da boa pontaria da seleção de Felipão que acertou metade dos quatro chutes dados ao gol adversário.
Nessa altura, o jogo estava em dois a zero e o gol de Daniel Alves apenas mostrou como o goleiro da equipe panamenha era fraco, o que valeu até uma observação do comentarista.
E o locutor então se preocupou em mostrar como o lateral direito havia mirado na toalhinha jogada dentro do gol, o que permitiu a ele acertar o chute, etc.
Ainda bem que Edinho, creio eu, não embarcou nesse papel ridículo, observando que a toalhinha nem poderia ter sido vista por Daniel Alves, já que vários jogadores o impediam de ter essa visão. Aproveitou para dizer que o goleiro também pode ter sido prejudicado, chegando tarde na bola, por força dessa visão encoberta.
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Ou seja, vai ser insuportável acompanhar a transmissão de quem está querendo nos impingir uma coisa que todos nós estamos podendo acompanhar sem tanta patriotada.
Será que "esses pessoais" das empresas Globo não se tocam, que não há necessidade de forçar tanto a barra e que esse tipo de comportamento ao contrário até afasta àqueles que gostam e entendem de futebol?

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