É certo que há notícias econômicas que poderiam ser o assunto inicial de nosso pitaco. Por exemplo, há o anúncio, suficientemente alardeado pela mídia, de que o IPCA, o índice de preços que é o balizador do regime de metas de inflação, alcançou 0,74% em maio, acumulando uma alta de 8,47%, no espaço de 12 meses.
Certo que para o regime de metas deve ser considerado tão somente o período de 12 meses que se estende de janeiro a dezembro do ano civil. Mas, no presente caso, mesmo que a inflação ficasse bem comportadinha nos sete meses que restam, de junho até dezembro, seria uma aposta muito arriscada, independente de ser completamente fora da realidade, contar com uma taxa de inflação situada dentro dos limites da meta, de 4,5% mais dois pontos percentuais.
Afinal, até o mês de maio o índice acumula já 5,34%, superior ao valor do centro da meta em quase 1%.
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O número, que parece ter surpreendido às pitonisas do mercado, já traz como uma de suas consequências, a revisão, para maior, da expectativa de inflação para o ano, pelo mercado, esse nosso deus supremo.
E já tem assessorias e analistas apostando em 9% no ano.
Previsão que deve alimentar nova rodada de cobranças para que o Copom eleve as taxas de juros básicos da economia, superando a taxa atual, pelo visto ainda ineficaz de 13,75%.
Curiosa é a lista de vilões da puxada de preços: mais uma vez o tomate, a cebola, tarifa de energia elétrica e, pasme, jogos de azar.
O que nos fornece um retrato no mínimo curioso desse país em que o Banco Central eleva as taxas de juros; a demanda agregada, que vinha se alimentando das despesas das famílias em consumo, grande parte delas sustentada pelo crediário, despenca. A indústria super-estocada paralisa a produção e demite, e as famílias sem uma fonte de renda assegurada correm para as loterias, para tentarem as sorte grande.
E, em face da elevação de preços das apostas da Caixa, para obter mais recursos para ajudar no esforço fiscal, a inflação sobe.
E retomamos a ciranda: nova reunião do Copom, nova subida de juros, nova queda de vendas, novas demissões, e mais jogos, que é para ver se a sorte muda...
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Ao contrário do que víamos acontecer durante a gestão do ministro trapalhão Mantega (trapalhão aos olhos da imprensa e do sacrossanto mercado, a que ele não se curvava sem resistências), a grande imprensa aceita, agora, a responsabilidade da questão climática nos preços de produtos como tomate, já o principal vilão da inflação dos alimentos em 2013.
Apenas que, como é curioso, mas verdadeiro, desta vez não foi a crise hídrica a responsável pelos problemas da safra. Ao contrário, dessa vez foi a chuva e, pela primeira vez, vejo o jornal (no caso específico à Folha - edição do dia de hoje, 11 de junho, página A 19) dar espaço à explicação da coordenadora do IBGE, para quem as chuvas aumentam a umidade, o que propicia o surgimento de pragas, cujo custo para combatê-las é muito elevado.
Daí o problema com o tomate, esse sim, preferência nacional, e com a cebola.
Além da explicação climática, um outro problema surge da elevação do preço do dólar, que encarece produtos como o pão de sal, dependente da farinha de trigo importada.
Na mesma direção entende-se porque da cebola argentina, que começou a frequentar as bancas das feiras e sacolões há poucas semanas, não é capaz de promover a queda do preço da nossa cebola.
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Mais uma vez a energia, também vinculada ao clima, no caso e contrariamente à questão da seca no Nordeste, tem grande parcela da responsabilidade, na alta de preços, afetando mais a região Nordeste. E afetando também Vitória, mas aqui, mais uma vez, em função do esforço fiscal do governo, ou seja, devido ao aumento do PIS/Cofins, incidente sobre a energia elétrica.
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Ou seja, à ciranda dos juros, podemos acrescentar outra justificativa; visando acertar as contas públicas, sobem os impostos, o governo corta despesas, muitas das quais fundamentais como o Fies, etc. e com isso cai a demanda agregada, e cai a produção, e cai o nível de atividade e emprego, e o governo perde receita. E, com os juros mais elevados, o déficit fiscal se eleva ainda mais, e o governo deve elevar novamente as receitas, que pressionarão os preços, exigindo elevação dos juros, que levarão a nova elevação do déficit nominal...
E eu me pergunto até quando o ministro Levy continuará sendo poupado pelo mercado, e a culpa de políticas econômicas que já mostraram em outras ocasiões não serem capazes de resolver os problemas, principalmente da inflação, continuará sendo despejada em Mantega.
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Mas, não há razão para maiores problemas. Afinal, em meio a tantas tesouradas nos gastos públicos, gerando o que Marcos Pestana, o deputado peesedebista de Minas, deu a entender que seria o final melancólico do PAC, empacado conforme discurso por ele proferido na tribuna da Câmara no dia de ontem, o governo lança um grande programa de concessões para obras de infraestrutura.
Para o deputado mineiro, uma atitude merecedora de festas e grande alegria, por marcar o reconhecimento definitivo pelo PT, das vantagens e benefícios da privatização, e a entrada daquele partido, outrora tão crítico, no espírito maior da unanimidade burra do neoliberalismo.
Em minha opinião, nada de novo sob o sol, já que o programa prevê a realização de investimentos de 198 bilhões de reais, dos quais perto de 70 bilhões ainda no mandato de Dilma, isso caso o setor privado resolva gastar nos projetos apresentados, o que depende, antes de mais nada, de boa vontade dos empresários e de obtenção de recursos.
Como lembra em sua coluna Jânio de Freitas, no Brasil, seriam as grandes empreiteiras, todas envolvidas no escândalo da Lava Jato, que teriam condições, talvez, e interesse em tais concessões. Isso se lhes for facultado o direito de continuarem participando de licitações e concorrências para fornecimento de serviços ao governo.
Mas, o escândalo apenas, já levou várias delas a situações bastante críticas do ponto de vista financeiro, o que as levaria a depender de financiamentos. A essa taxa de juros que estamos praticando no país, às taxas de juros de mercado, já que agora nem o BNDES poderá mais ficar fazendo empréstimos mais semelhantes a doações de pai para filhos, à taxa de juros da TJLP?
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Como disse Jânio, cheira mesmo a expediente para atrair capitais estrangeiros, empresas de engenharia internacionais, alicerçadas e alimentadas por dinheiro a custo quase zero, do capital financeiro internacional que Levy dá demonstrações de estar tão preocupado em representar e defender.
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Mas, não há problema! Internamente muita gente irá ficar satisfeita se nossos serviços de engenharia forem derrotados pela concorrência, o que evitará, para todo o sempre, que possamos participar de construção de obras tão importantes como o porto de Cuba. Aquela ilha comunista que cada vez mais os nossos setores conservadores querem ver longe, e por isso, mais ela se aproxima e estreita laços com aquele outro grande país comunista, os Estados Unidos...
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Só para lembrar, grande parte do tal programa de concessões é, conforme a Folha de ontem, uma versão reciclada de outro anunciado em 2012.
Cujo modelo na época foi criticado pela presidenta, por ser oneroso para o usuário. Mas, agora, com Levy à frente, não, já que agora o povo é quem menos importa.
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Chegou a hora de parar de ficar bajulando e exigir mais futebol
Não vi o jogo todo do Galo ontem, apenas trechos do primeiro tempo.
Mas vi um comentarista da rádio Itatiaia, que reconheceu que foi um dos que acreditaram e difundiram a ideia de favoritismo do Atlético para a conquista do Brasileiro, e continua acreditando nisso, dizer que acendeu-se uma luzinha de preocupação.
Para o tal comentarista, ao golear, Fluminense, Vasco, Avaí, o Galo mostrou linhas compactas, velozes, ultrapassagens, triangulações, que o credenciam a ser considerado o melhor ou um dos melhores times na disputa.
Mas, nas duas últimas partidas, contra Cruzeiro e Santos, ontem, essas jogadas em velocidade, mas sincronizadas, etc. etc, não aconteceram. E, para ele, está na hora de o Galo verificar o que está acontecendo, para não perder o senso do coletivo.
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Paro aqui. Em minha opinião, o tal comentarista, independente de torcer ou não para o Glorioso, acaba fazendo mais mal que bem para o time.
Falar de partidas contra autênticas galinhas mortas, como o Fluminense do início do campeonato, e Vasco e Avaí, candidatos fortíssimos a caírem, mais o carioca que o catarinense, é brincadeira.
Pior, o Galo jogou contra aqueles times já mostrando que estava de salto alto. Marcava um, dois gols e já se sentia vitorioso, começando a se poupar, quando os adversários se fossem respeitados, deveriam levar 7, 8 gols, já que eram forma para isso.
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É isso que atrapalha o Galo. Esses comentaristas de araque, que não vêem um palmo à frente do nariz e acham que o time está às mil maravilhas, quando percebe-se a existência de falhas cada vez mais grotescas.
Afinal, entrar de primeira como Léo Silva foi na jogada de Ricardo Oliveira no primeiro gol do Santos, é brincadeira. Colocar apenas Léo Silva, já com mais idade, para disputar na corrida com o avante do Santos, é outra brincadeira.
Há muito tempo venho falando que a defesa do Galo fica muito desguarnecida. Não que eu seja contrário ao uso de apenas um volante, já que sempre critiquei a incapacidade de Donizete sair jogando e trocando passes que sempre acabam nos pés do adversário e em lances de perigo de gol contra o arco de Victor.
Mas, para jogar com um só volante, como Carioca, há que se manter um esquema que impeça que fique apenas um único jogador no mano a mano, como aconteceu ontem.
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Felizmente não vi o segundo tempo, por compromissos profissionais.
Mas, que está faltando ao Galo mais que apenas um espírito coletivo, isso fica cada vez mais claro. Está faltando, na verdade, é futebol. E raça, muita raça e vontade de vencer.
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