terça-feira, 30 de junho de 2015

Crise econômica e crise moral: aonde pode nos levar esse tipo de delações?

Economistas ditos de esquerda reagem: o país não aguenta o arrocho a que está submetido!
O mercado já prevê uma inflação de 9% para o ano cuja metade já se esgota.
Felizmente, diria o otimista, o ano está passando rápido.
Ao que o pessimista, sempre de plantão, complementaria: também 2016 será um ano de crise econômica. Com as previsões de que a meta de inflação, de 4,5% apenas deverá ser atingida no final do período.
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Que haveria impacto da liberação das contas de energia represadas no primeiro mandato Dilma, todos sabiam.
O próprio Mercadante, ministro hoje da Casa Civil, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo ainda em meados do ano eleitoral de 2014 admitiu que havia alguma correção de preços que deveria ser feita mais à frente, já que, SIM, os preços estavam sendo contidos extra-mercado.
Mas... a correção seria feita, caso Dilma fosse reeleita, em um prazo mais dilatado, para evitar que todo o impacto atingisse a economia brasileira de um só golpe.
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Que a elevação de preços de tarifas de energia elétrica e também do combustível era necessária, então, parece que era admitido tanto fora quanto dentro do governo.
A divergência era em relação a como fazer esse processo de correção de preços. Para evitar que, como elemento integrante e importante da matriz de custos industriais e de outros setores econômicos do país, o reflexo de tais correções não se alastrasse de forma descontrolada.  
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Feita a descompressão como o foi, de uma só vez, o que se viu foi uma reação em cadeia, com repasses sendo feitos para todos os produtos, gerando um fenômeno de dispersão da inflação que passa a obrigar a correção de todos os preços relativos, e nominais.
A boa notícia é que, caso não haja novos choques do lado da oferta, não deve haver muito espaço para continuar alimentando a fogueira da inflação, e os preços podem continuar subindo, embora em velocidade cada vez menor.
Creio que foi a isso que Luiz Carlos Mendonça de Barros se referiu, em sua coluna da Folha de São Paulo da semana passada, ao afirmar que acredita que uma política monetária tão severa quanto a que está em curso no país, seja capaz de acabar não dando margem a qualquer novo movimento de elevação de preços em função de demanda, mais especificamente de demanda de consumo financiada justamente por crédito.
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Bem, com a taxa de juros básica postada no patamar em que se encontra, e já tendo circulado a informação de que deverá subir ainda mais, de forma a obrigar a convergência o mais rápido possível para o centro da meta, realmente seria muito difícil que restasse algum agente, suficientemente corajoso ou louco, para continuar elevando seus gastos, com recursos de empréstimos.
O problema aqui é bem diferente. Nada a ver com a inflação, com excesso de demanda.
Mas ao chegar a sua conclusão, o ex-ministro apenas destacou algo que todos já sabem, embora esqueçam ou ignorem. E, às vezes, o óbvio deve mesmo ser posto a nu.
O que o ex-ministro afirmou é apenas, de forma mais esclarecida, que ao desligar as máquinas que irrigam o organismo do paciente hospitalizado e com febre muito elevada, a febre irá ceder. Assim, como a vida do paciente que irá, ao menos, ter seu sofrimento interrompido.
Essa é a ação da política monetária: equivalente ao corte do oxigênio ou o sangue filtrado para o paciente em agonia.
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Ocorre que outro problema também começa a se manifestar, e esse mais sério. Agentes que se endividaram na época da bonança são obrigados, agora, e em função da combinação perversa de inflação, alta do custo de vida e, talvez perda de emprego, queda de sua renda média, perda de oportunidade de fazer extras, a renegociarem os compromissos financeiros em andamento.
E, se aquelas prestações ou parcelas que foram negociadas em épocas de juros mais decentes já não estão conseguindo ser pagas, já que competem com o aluguel mais caro, o combustível, a energia, os alimentos, as parcelas da escola, a renegociação necessária deve ser feita no pior momento da economia. Quando os juros mais castigam, o que acarreta apenas o desespero do endividado que, sem dinheiro novo, vê apenas expandir-se o prazo de sua dívida.
O que apenas renova o temor de mais lá adiante, a situação volte a ficar crítica.
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Mas, essa questão que afeta a milhares de famílias, não parece afetar muito os analistas de mercado nem os economistas do governo, que continuam pautando suas ações pela ideia de que a credibilidade da instituição que controla a política econômica é mais importante que a situação da população do país.
A política tem que se manter crível e com força, com energia. O povo, esse....
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Enquanto isso, no país das delações

No meio desse caminho por si só bastante sinuoso, assistimos ao verdadeiro carnaval promovido pela midia irresponsável, a partir do combustível da delação premiada do dono da UTC.
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Meu amigo Pieroni, que já criticou outro dia minha postura, e meus pitacos, não vai gostar mas, paciência. Meu respeito por ele não diminui por esse motivo, muito ao contrário.
Mas eu não sabia, e talvez nem ele, é que na delação, Ricardo Pessoa afirma que deu recursos de caixa dois ao PT, à campanha de Lula e de Dilma, ao prefeito Fernando Haddad e até ao ministro Mercadante e Edinho Silva, mas deu mais, muito mais dinheiro à campanha de Aécio e do PSDB.
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Seria risível a hipótese, mas parece que é isso mesmo que os advogados do Fluminense e dos partidos de oposição estão tentando nos convencer: as doações para PSDB e outros partidos - na verdade praticamente todos os maiores - foram todas lícitas. No caso do PSDB, apenas a doação de Aloysio Nunes, o vice de Aécio, veio de forma escusa já que seu nome foi o único que a imprensa deu destaque.
Já para Paulinho do Solidariedade, a alegação é que a doação foi para se ver livre de greves.
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Ora, que é necessário uma faxina em nosso país, isso é mais que certo, mas que estamos vivendo um período muito perigoso, que pode descambar para algo muito pior, mais sério e, seguramente menos democrático, isso não há muita dúvida, infelizmente.
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Ainda ontem, na Folha, Celso Antônio Bandeira de Mello, jurista respeitado e reconhecido, mesmo que não da simpatia da oposição, afirmava do risco de transformação da nossa sociedade em palco para a implantação de um movimento fascista.
Desnecessário dizer que também temo por isso.
Mas, mesmo certo de que a luz do sol é o melhor dos detergentes, e que tudo e todos têm de ser investigados, não há como não admitir que Sérgio Moro, o juiz da Lava-Jato está extrapolando. Cometendo abusos como já foram reconhecidos por ministros do próprio Supremo, ao menos parcialmente, ao simpatizarem e se manifestarem a favor da ideia de que é sim, coação a prisão para obrigar alguém a concordar em fazer a delação.
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Foi a isso que Dilma se referiu ontem nos Estados Unidos e que, infelizmente, Boris Casoy e seu apreço por extratos sociais menos favorecidos da nossa sociedade, que talvez já tenham sido varridos pelos garis para as deslembranças, não entendeu. Ou não quis entender, ao comentar que há diferença entre a delação espontânea e aquela que os torturadores tentaram extrair da presidenta.
O problema que Bóris não quis ver é que a delação sob coação mesmo moral, é tão violenta quanto a outra.
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Precisamos passar o país a limpo, mas não fingindo que apenas há uma parte podre, no cesto que, de longe, exala podridão.
Mas, não há de ser com um juiz que, cada vez mais mostra seu caráter autoritário, messiânico que o país saberá descobrir e punir a todos que o merecem. E depois construir juntos e de forma democrática a sociedade que saberá impedir que tais eventos venham a se repetir.
Sérgio Moro tem um papel importante na nossa necessária operação de faxina. Mas não pode querer ir além do papel que lhe cabe e é tão honroso que já lhe assegura lugar na história, de ter sido que iniciou o processo. E só.
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De mais a mais, não há como tratar de forma desigual quem foi pego com a boca na mesma botija, como a imprensa mais canhestra está fazendo, justo essa imprensa que incensa o juiz Moro.
Mercadante, por exemplo, declarou as doações da UTC, pelo que alega. Nos valores citados pelo delator.
Ora, se eram recursos de caixa 2 e foram declarados ao Tribunal, algo de podre acontece não apenas no reino da política, mas também na imprensa, nos tribunais responsáveis por julgarem as contas, etc. etc.
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A verdade é que não dá para acreditar, apenas.
Afinal, não tem virgem nesse tipo de casa...

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