sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Olimpíadas e a falta de espírito esportivo do nosso povo que assiste à continuidade do golpe passivamente

Vai se encerrando a festa olímpica, no Rio de Janeiro. Hora de retomarmos a vida normal, longe das telas de televisões, dos jogos e suas emoções, das medalhas, hinos, e da série de patriotadas e comentários completamente dispensáveis de jornalistas, ex-jogadores, e tantas pessoas que, sem terem o que falar, preferem, como é comum, abrir a boca para comprovar aquilo que todos já suspeitavam há muito tempo: o tamanho da ignorância de todos eles.
Embora qualquer generalização seja sempre ruim, e uma injustiça flagrante, ao redigir o parágrafo anterior, tinha em mente a transmissão do jogo de voley entre o Brasil e a Argentina, feita por Datena pela Band.
E do espanto que me causou, entre interjeições de admiração e elogios à qualidade do jogador Conte, ver o locutor/apresentador mencionar que foi uma pena que o jogador tivesse conseguido voltar ao jogo, não tendo maior consequência a torção que ele havia sentido no tornozelo, pouco antes.
Por pouco não reclamou de nosso adversário não ter sofrido uma fratura, ou alguma contusão mais grave, já que, no afã de torcer, "de ser brasileiro, com muito orgulho e muito amor", e de ganhar audiência por meio de um emocionalismo barato, conseguiu mostrar toda a falta de cultura esportica, espírito esportivo e olímpico do povo brasileiro.
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Alguém poderá me perguntar o que eu fazia à frente de um canal de televisão em que Datena é quem está transmitindo qualquer coisa. Ok, falha minha.
Mas e o que dizer de Marcelo Negrão, nosso medalhista do voley masculino, que entrou no espírito ou na falta de espírito de Datena, para fazer comentários semelhantes, lamentando o retorno à partida do melhor jogador do time argentino?
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Mudando de competição e de canal, vimos todos a conquista brilhante de Thiago Braz no salto com vara, com direito a quebra do recorde olímpico, e a vaia dedicada ao concorrente francês, destinada a atrapalhar sua concentração e atrapalhar o seu salto.
Até aí, por mais criticável que esse tipo de comportamento possa ser, a vaia veio do público presente ao Centro Olímpico. Provavelmente um público de maior poder aquisitivo que um mero geraldino desdentado dos antigos estádios de futebol. Da época em que futebol não era esporte de elite e pobre ia ao campo para exorcizar todos os seus problemas.
Pois bem, talvez fosse exigir demais, mas não me lembro de ter visto qualquer comentário de nossos locutores, com as críticas necessárias e devidas ao público que demonstrava não possuir, nem diria "fairplay", mas qualquer educação.
Só mais tarde, já em programas de fim de noite, na Sporttv, ouvi um comentarista referindo-se à falta de cultura esportiva do brasileiro, que transforma toda competição em um arremedo de jogo de futebol. Por questão de justiça, e como esqueci o nome do comentarista, devo dizer que ao seu lado estava Milton Leite, que concordou e reforçou a opinião do colega.
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Mas não vi, em outros programas de outros canais a necesária veemência nas críticas a comportamento capaz de mostrar ao mundo toda nossa falta de educação. Motivo para que eu, como professor fique indignado simplesmente por acreditar que contribuir na educação e formação de um povo, seja uma das funções dos meios de comunicação.
Alías, o que ouvi, incrédulo, foi que um jornalista teria dito que o público vaiar não é problema, se considerarmos que no exterior, ao invés de apupos, o que a torcida faz é jogar bananas no campo. Em nítida tentativa de amenizar nosso comportamento indevido, por que em um jogo de futebol (justo aquele de público menos qualificado!), atitudes racistas terem sido praticadas.
Ora, atitudes racistas, em qualquer instante, ou lugar, merecem toda crítica e reprovação. Mas, daí a vir lembrar de um fato como esse, para tentar dar um ar de naturalidade ao comportamento indevido de um dos nossos, é completamente descabido.
Aliás, por vários motivos, dos quais listo apenas dois: o fato da banana não aconteceu em jogo que ocorria no país do atleta que foi vaiado na competição e depois,  na cerimônia da entrega de medalhas. O fato de comportamento semelhante, de mesmo viés preconceituoso, já foi praticado aqui mesmo no nosso país, em caso recente, que não pode cair no esquecimento, com o goleiro Aranha.
Então, a questão de preconceito, embora seja muito mais grave que a da deseducação no trato dispensado a um adversário, concorrente, não pode ser alegada, ao menos nesse caso, para justificar ou minimizar a atitude antiesportiva e deselegante do público.
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Atitudes tão comuns nas arenas, que o raio Usain Bolt, sempre aclamado pela torcida, por sua simpatia, alegria e carisma, manifestou-se surpreso com as vaias direcionadas a seu competidor, Gaitlin.
Provavelmente até amigo seu, embora adversário.
Que o concorrente seja marrento, ainda assim, não se justifica que seja vaiado apenas por estar em posição oposta ao atleta de nossa predileção.
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Nesse sentido, é sempre positivo e não pode nunca cair no esquecimento a atitude das duas atletas da corrida feminina dos 5 mil metros que, depois de se atrapalharem foram vítimas de uma queda. E, sentindo alguma contusão mesmo que mais leve, além de uma frustração compreensível, ajudaram-se mutuamente a se erguerem e cruzarem a linha de chegada, lá atrás.
Atitude tão digna do verdadeiro espírito que deveria nortear as competições olímpicas que o Comitê, pelo gesto das corredoras, decidiu considerar as duas classificadas para a sequência da competição.
Afinal, nunca é demais lembrar-mo-nos de que ainda 5 ou 6 mil anos antes de Cristo, na Grécia antiga, até as guerras entre as cidades Estados eram interrompidas para que os atletas participassem das competições.
E eles competiam de forma justa, limpa, mesmo sabendo que dali a alguns dias, iriam estar se matando nos campos de batalha.
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De lá para cá, os Jogos da era moderna já desandaram várias vezes, como em 36 e a transformação dos jogos em arma de propaganda política, ilustrado pelo tratamento dispensado ao atleta negro americano, Jesse Owens. Ou depois, em 1972, nos jogos de Munique e a chacina com atletas irsraelenses.
Ou ainda na Olimpíada de 1980, com o boicote incentivado pelos Estados Unidos, aos jogos da União Soviética.
Assim, não admira que os jogos tenham chegado a um ponto em que, o próprio esporte deixa de ser o principal personagem, a competição passa a ser deixada em segundo plano, e tudo que estiver ao alcance possa ser utilizado para a conquista de uma vitória.
É nesse caso que se enquadra a questão do doping, ao menos da forma como ele é entendido nos dias de hoje, o doping pelo uso de substâncias ilícitas, já que, no futuro vários profissionais da área médica já indicam que o doping alcançará uma dimensão muito maior e mais preocupante, ou esportiva: através da manipulação genética.
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Mas, em minha opinião, a realização exitosa dos jogos em nosso país não pode deixar apenas a marca da alegria e das festas, mas servir para contribuir para a formação e a educação de nosso povo, tão reclamada por uma eliite que tem apenas e tão somente dinheiro.
Ok. Têm dinheiro...
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Um último comentário que considero devido. Vimos nos últimos dias as redes sociais serem invadidas por comentários dos ignorantes e mal intencionados de sempre, referindo-se à importância do Exército e do apoio dado por aquela Arma aos nossos atletas,  o que se confirma e comprova com a elevada proporção de soldados que alcançaram o pódio.
Esses mal intencionados, tão desinformados quanto todos nós, o restante da população, apenas descobriram a informação dos atletas 'militares' quando de seu comportamento no pódio, ao baterem continência ao hasteamento da bandeiira.
Mas correram para as redes sociais para tentar mostrar como o Exército era importante e como servirira de exemplo dispensar à sociedade uma organização melhor, mais eficaz, com mais ordem e, quem sabe, mais progresso...
A maioria das postagens criticava a 'esquerda', por não dar o reconhecimento devido ao Exército e sua importância na formação de nossa juventude sarada e atleta, ideario que essas pessoas que seriam consideradas  como relativamente incapazes estivesse em vigor ainda hoje o antigo Código Civil, desejam alardear em nossa sociedade.
Coitados. Para mim, apenas 'loucos de todo tipo', embora, no fundo, viúvas da ditadura, que lhes tutelava.
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Nesse sentido, nunca é demais fazer a devida referência à reportagem da Folha de São Paulo para desmistificar essa versão.
A importância não apenas do Exército, mas de todas as Forças Armadas não pode jamais deixar de ser mencionada.
Mas, como disse um treinador de atleta 'militar' medalhado, não cabe nem coube às Forças Armadas a formação do atleta.
Elas apenas incorporam o atleta já desenvolvido, de preferência de elite, em seus quadros. E, nem são todos os que têm tal privilégio.
A Folha em boa hora mostrou que o programa de apoio a nossos atletas, data do governo Lula, de um convênio de interesse das Armas, que desejavam contar com atletas de alto nível para representá-las nos Jogos militares.
Ou seja, talvez mais as Forças Armadas tenham sugado os atletas e se aproveitado de suas habilidades que o contrário.
E, depois de provas e seleções, que me parecem rigorosas, o que o atleta tem, e reconheçamos já é muito, mas não o bastante, é um posto temporário de 3° sargento, e um soldo compatível, que na verdade representa uma espécie de bolsa, de 3200 reais, para que o atleta assegure, minimamente sua sobrevivência.
Então os atletas não são militares. Eles estão militares.
E tampouco o Exército é essa incubadeira de atletas, servindo de paradigma para a formação de nossa juventude dentro dos ideais de mente sã, em corpos sãos.
Mais uma das patacoadas dessa turma que não se acha em condições de agir soberanamente e conviver democraticamente com quem tem opiniões divergentes.
Uma pena...
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A volta à vida normal não deve se dar ainda sob o efeito inebriante das competições, em especial, por força de o ciclo das competições não se encerrar, já que vêm aí os Jogos Paralímpicos.
Não podemos nos deixar paralisados por esse momento de anestesia para deixar de lutar contra o golpe e a usurpação de poder que continua em marcha em nosso país, com temer, o usurpador, e aecim, coitado, tão pequininim que não dá mais para continuar tratando-o por letras maiúsculas.
aecim e seu partidim, que agora colocam as manguinhas de fora, e cobram mais participação nesse arremedo de governo que estamos vendo dominar o país, somente para implantar as propostas e programas que, nas urnas, o povo decididamente não sufragou.
É golpe.

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