sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Divagações sobre o fim possível da democracia. Dia 7, não eleja o macaco (17), para tomar conta de loja de louça

Cinco de outubro.
A folhinha assinala que estamos há apenas dois dias de uma das mais estranhas eleições dos últimos anos.
Estranha não por conta da polarização entre as correntes antagônicas, de esquerda e de direita. Ou para não deixar no blog um rastro de bolor, dos que defendem as ações positivas do Estado, a favor da adoção de políticas públicas afirmativas, de inclusão social e voltada - ao menos no discurso - à população menos privilegiada, de um lado e, de outra parte, a opção por uma postura neoliberal, de defesa da não ação que vem a ser o raquitismo do Estado, cada vez menos interessado em servir de árbitro dos conflitos sociais.
Poderia ser dito que o confronto se dá entre a opção por um Estado omisso e descomprometido com a maioria de sua população, em oposição a uma noção de Estado que ainda tenta resistir, em vã pretensão de atuar para impedir que a selvageria do mercado e do poder que ele gera e permite manter sirva, apenas para sacramentar o direito do forte subjugar e explorar o mais fraco.
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O momento parece nos remeter à discussão dos filósofos liberais a respeito das origens e do tipo de funcionamento que justificam a existência de uma instância maior, que paira sobre toda a sociedade, com o objetivo de buscar impedir que o homem se transforme no lobo do próprio homem, impedindo que a força bruta pudesse se sobrepor ao espírito e funcionamento de normas de convivência social.
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Claro está que nem de longe a discussão se aproxima da visão de um Estado que representa o espaço privilegiado de resolução de conflitos,  o aparato que, a partir da revelação das contradições que opõem as classes e interesses sociais procura manter um mínimo de coesão social, mesmo tendo como seu fundamento a  identificação e a definição dos problemas da sociedade a partir de uma visão limitada, canhestra, míope até, que tem como norma e origem o interesse das classes econômica e politicamente mais fortes.
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Ao que parece, dando sequência a essa despretensiosa viagem por terras da ciência política, chegamos a um ponto que não há mais a necessidade nem mesmo do reconhecimento da existência dessa arena de conflitos e decisões, tão avassaladora a vitória das forças que comandam os mercados e todas as demais instituições que a ele prestam continuada vassalagem.
Refiro-me, aqui, especialmente à imprensa, nunca livre, já que, mesmo que objeto de concessão pública, sempre teve a organização empresarial, com base na lógica do capital, do lucro e da exploração, como sua forma de constituição.
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Mas para concluir nossa viagem, devo acrescentar apenas mais uma reflexão: pois cada vez mais, e não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, nos países desenvolvidos ou mais atrasados, o que se vê é a imposição, sem qualquer contrapeso, da vontade e dos interesses do poder exercido pelos ricos, para os mais ricos, sem considerar quaisquer outros interesses, na consagração do regime da plutocracia mais desavergonhada.
E que, nos países mais atrasados, tenta se impor, autoritariamente, pela força bruta e o desrespeito a qualquer princípio ético ou moral, na tentativa de constituição de uma classe de governantes destinada a exercer a mesma exploração ou expropriação das camadas mais amplas da população em prol de uma burocracia tão voraz e tão nefasta quanto a classe dos poderosos empresários capitalistas.
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Nesse estágio alcançado pelas forças sociais em atuação, onde não há mais qualquer espaço para o surgimento de novos grupos de interesse para tentar contrapor-se, objetivamente, à  correlação objetiva de forças dada, já não há mais razão ou justificativa para que o Estado continue a existir como espaço de arbitragem do que quer que seja em termos de conflitos sociais.
À morte dos conflitos, subjugada e/ou persuadida a ampla maioria da população quanto à inutilidade de sua luta e da ação destinadas a mudar e reconstruir o mundo e seu tempo histórico, já não há mais qualquer necessidade de que as instituições nem mesmo mantenham ou vendam a ilusão de um Estado para tratar dos interesses do povo.
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Já não há mais necessidade do Estado como instituição mantenedora do equilíbrio social, exceto para a administração da Justiça, cada vez mais representada pela arbitragem de interesses entre os capitalistas com maior poder de fogo, em geral com espaço de atuação mais amplo, tanto geograficamente quanto do ponto de vista dos segmentos empresariais, contra os capitalistas de atuação mais restrita e limitada.
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A luta que compete ao Estado regular deixa de se referir à oposição entre o capital e o trabalho, mas entre o mega capital e o capital menor, nacional, limitado.
Ao trabalho, resta tão somente se submeter, seja ao grande ou ao pequeno capital, ou à burocracia autoritária de ditaduras de periferia.
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Assim, não há mais necessidade de um Estado capaz de assegurar o bem estar. O bem estar será conquistado em luta renhida, encarniçada, coroando sempre a disposição e as melhores condições de partida, dos mais meritórios.
Afinal, não há como negar que já é um mérito sem correspondentes, partir de onde os outros, lá de longe, lá de trás, enxergam como a linha de chegada.
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Mas dizia eu que as eleições opõem uma visão ou corrente que se arvora como defensora, ao menos no discurso, das medidas de inclusão social, de favorecimento dos menos privilegiados em nossa sociedade.
E devo acrescentar que, ainda assim, há que reconhecer os méritos de todos que se filiam a essa corrente, muito embora tendo de reconhecer que o espaço que lhes resta para atuação é limitado, também ele pré-determinado pelos interesses maiores dos que enfeixam o poder em suas mãos.
O que faz com que, não seja nenhuma surpresa, ou não deveria ser pelo menos, que para poder melhorar minimamente que seja, a condição de vida das classes mais abandonadas, partidos no poder, como o PT tenham que negociar, compor e até favorecer, em maior parte, aos interesses dominantes, que aos próprios interessados originais.
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O que explica a questão da corrupção.
Afinal, embora a pecha sempre será jogada sobre o colo e a responsabilidade dos políticos e dos governantes - do que Lula é prova cabal! - a classe empresarial que é a autêntica responsável por puxar as cordinhas e mais se beneficia de toda a composição, até mesmo para poder dar anéis e preservar jóias mais valiosas, e não apenas os dedos! - fica de fora da cobrança da sociedade.
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Curioso é assistir a essa classe que manipula e faz dos políticos meros títeres de suas vontades, se apresentar, como o fazem os Amoêdos e Dórias, e Skafs e Zemas e Meirelles, e outros de partidos que só são Novos no nome, como as vítimas do processo de que foram os principais beneficiários e agentes ativos.
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Ainda assim, há que se admitir: melhorou sobremodo a vida dos mais pobres, dos que viviam abaixo da linha de miséria no governo Lula. Mesmo não tendo havido a distribuição de renda que o país exigia, já que os lucros capitalistas aumentaram em proporção muito maior.
Mas inegável que houve uma redistribuição de renda, intraclasse, dos que ganhavam pouco, a classe média, para os que nada tinham.
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Interessante é observar que essa classe média, de mentalidade pequeno burguesa, ou seja, que se mede e se avalia pelo êxito financeiro e econômico obtido ao fim de sua vida, muitas vezes por mero acaso da deusa da fortuna, é a que com mais vigor empunha a bandeira da luta contra a corrupção. Não fora, seu representante nesse momento (apenas para comprovar que cada um escolhe mesmo seu cada qual! e que quem tem mentalidade tacanha não iria escolher nenhum luminar da raça humana!) um mero ex-capitão.
Não um oficial de patente superior.
Um reles capitão que baixou à reserva para evitar punição maior como a expulsão das Armas, que ele agora se propõe a defender com tanto ardor. Embora na época de seu processo, não titubeou em abraçar um plano para explodir bombas em quartéis. O que poderia causar vítimas em seus próprios colegas de caserna!!!
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Deputadozinho inexpressivo, que só conquistou holofotes quando se posicionou a favor da tortura e dos torturadores, da violência explícita dos carrascos da democracia, ao defender o cúmulo de o Estado ir contra seus próprios cidadãos!
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Pois é esse zé ninguém que a pequena burguesia, mulheres incluídas, homens que se acham cultos por terem obtido um diploma de graduação qualquer, elevaram à categoria de ídolo e representante máximo.
O que nem consegue ser novidade em um país que, de tempos em tempos, para ser exato a cada rodada de 29 anos se lança em experiências autoritárias, todas fracassadas.
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Foi assim em 1960, com Jânio Quadros, o político que trazia na mão a vassoura para varrer a corrupção para fora do governo. E que culminou com sua tentativa desastrada e desastrosa de dar um golpe de Estado, fechando o Congresso para poder reinar absoluto.
Razão para que o sonho autoritário da classe média tupiniquim, sempre à procura de um pai protetor, não durasse mais que oito meses agitados.
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Foi também assim com a eleição do caçador de marajás, então o símbolo da corrupção e do corporativismo no governo, Fernando Collor de Mello, em 1989. Aventura que terminou com sua renúncia em 1992, sob acusações diversas de corrupção e que foi enterrada de vez com a morte de seu comparsa PC Farias.
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Como a história quando se repete é como farsa, reproduz-se agora com o autoritário ex-militar, deputado de cinco mandatos e cheio de predicados a lhe destacarem a virilidade. Sempre a virilidade, já que não há qualquer outra capacidade humana que possa lhe dar destaque, como por exemplo, a inteligência, o sentimento de empatia, etc.
Virilidade que serve para explicar porque mulheres ainda votam nessa espécie de homem das cavernas, que qual Brucutu moderno, decide se quer ou não, vai ou não estuprar a uma delas???
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Pois bem, as eleições já estão aí. E o personagem que mais representou o papel daquilo que não é em sua vida pessoal é o que mais agrada, mais atende ao figurino do eleitor.
Verdade seja dita, ao menos ele nunca mentiu em sua intenção de ser o coveiro da democracia, esse regime tão complexo de convívio, já que em tese, todos têm direito de manifestarem suas opiniões, e de discutirem e discordarem.
E nisso, reconheçamos, ele posa de coveiro da democracia e da vontade dos que não concordam com sua forma de ver o mundo, de forma irrepreensível.
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Mas como disse ontem em manifestação no Facebook, não acho que esse herói de araque seja a solução para nossos problemas. Nem isso significa que eu seja a favor do PT e da corrupção.
Primeiro porque a corrupção não é primazia nem exclusividade do PT.
Nesse mesmo barco podem ser encontradas siglas como PP, PSDB, PMDB, e até pessoas, como as de Temer, Geddel, Aécio, Meirelles (blindado por Lula, como ministro, para sepultar processo administrativo contra ele, em andamento no Banco Central), e até nomes de quem contrata funcionários e os remunera com dinheiro público, embora eles sejam considerados fantasmas no gabinete do parlamentar. Afinal, a senhora Wal não deve ser esquecida, nem o irmão fantasma do deputado ex-militar e que se passa por o caçador de corruptos!!!
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De mais a mais, contra a corrupção, existem leis em nosso país. E contra corruptos, essas leis e as instituições que as fazem cumprir não apenas já funcionaram, como seguem funcionando.
Isso quer dizer que sou mais eleger o PT ou um petista, porque se apanhado em crime, há leis para julgá-lo e puni-lo, mesmo que sob forte comoção e acusações de processos viciados.
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Mas não sei e nem lei tem, para os potenciais assassinos da democracia.
Sem nos esquecermos que, regimes de ruptura institucional não costumam respeitar Constituições, nem ordenamento jurídico de regimes anteriores.
Ou seja, o risco de termos uma nova Constituição de notáveis, ou notórios, sob as ordens do general Mourão, já que o capitão não tem patente para durar mais que meia dúzia de meses, nem terá apoio de nossa classe média que, da mesma forma que desconhece a história, muda de opinião sem qualquer pudor.
Afinal, de mentalidade tacanha, essa espécie de pessoas apenas quer ver resolvidos seus problemas mais imediatos.
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Por isso, não ao capitãozinho que já traz no nome o que mais lhe interessa cuidar: o Bolso.
Não ao voto no fim da democracia.
Não ao macaco (17), em loja de louças finas.
***
É isso.

Apenas antes de encerrar, gostaria de dizer que retornamos, depois de mais de um mês, acompanhando doença em família.
Agora, graças a Deus, está tudo, de novo, sob controle.


3 comentários:

Tarcísio disse...

Fique tranquilo meu caro PC, o candidato pendurado no número do macaco não tem nada de liberal.
A propósito, avise aos suissos, japoneses, ingleses, neozelandeses etc, que o liberalismo não funciona.
Receio que eles não descubram isso nunca.

Unknown disse...

Paulo, sábias e lúcidas palavras. É sempre apropriado rever a história, mas penso que os eleitores do 17 nesse momento estão tomados por sentimentos como o ódio e, assim, incapazes de usar a razão. Parabéns pelo texto.

Anônimo disse...

Caro Paulo,
desnecessário dizer a consistência do seu post de hoje. Brilhante reflexão!
Enquanto eu o lia, lembrei-me do dia 09.11.89.
Eu e dois amigos na capital germânica em meio à intensa agitação, o famigerado muro era posto abaixo em meia à alegria, euforia e esperança por dias melhores.
Eu e meus dois amigos bebíamos cerveja enquanto divagávamos. Eu me sentia particularmente angustiado. Estado de espírito que contrastava com todos que ali estavam. Meus amigos, também de esquerda, comemoravam aquilo que eles chamavam de fim do stalinismo.
Eu me limitei a dizer: sinto que perdemos nosso irmão mais velho. Tenho apenas um irmão, 3 anos mais novo. Uma ocasião ele foi agredido por um vizinho, mais velho do que ele e eu tomei as dores dele, retribuindo a agressão.
É desta forma que vejo o avanço do liberalismo. Um rolo compressor, a divinização do mercado.
Neste complexo e nem tão longo processo o mercado incorporou tudo, em especial a capacidade de crítica, já tão limitada em nossa cultura.
Repare que nestas últimas semanas a crise argentina foi pouco retratada nos meios de comunicação... é a brutal manipulação de uma imprensa serviçal e de um empresariado medíocre e sem identidade, que não a do lucro fácil e do poder tirânico.
Penso que o soldadin já venceu, indiferente dos resultados das urnas. A sociedade e as famílias estão divididas e irradiam a mesma intolerância por ele celebrada e defendida. Neste tempero incluem ainda as religiões fundamentalista e o cínico "mote" dos valores cristãos. Emblemas das maiores atrocidades já cometidas na história humana.
O liberalismo posa como a solução dos problemas para a miséria de milhões... e é abraçado inclusive por quem, supostamente, deveria saber com exatidão o que isto representa.
Isto sem falar na mutilação da educação em nosso país em todas as suas dimensões.
De forma que estou, como naquela tarde/noite, angustiado.
Grande abraço.

Fernando Moreira