segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Urge estarmos prontos e conscientes para o dia 30 de outubro, com a lembrança de Umberto Eco e o fascismo eterno

Talvez não seja prudente realizar qualquer análise de eventos sociais sob a influência do calor do momento. O risco que se corre advém do envolvimento do analista, cujos interessess, emoções e sentimentos podem levá-lo a distorcer a realidade em curso.

Este tipo ‘consagrado’ de pensamento, expresso no mito do método científico, seria aplicável às ciências exatas, físicas, químicas, biológicas,  passíveis de reprodução de experimentos controlados e testes em laboratórios.

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Sujeitas à prova e a uma pretensão de imparcialidade do cientista, impossível de ser alcançada na área das ciências sociais, onde o pesquisador é, ao mesmo tempo, analista (exterior) e parte do objeto em estudo (interior), afetando a imparcialidade necessária.

Daí a percepção geral da ciência social como mera discussão ideológica (alicerçada por distintas visões de mundo, interesses e experiências do estudioso!).

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Opinião diversa tinha o professor Chico de Oliveira que, negando o mito epistemológico, advogava que,  ideologia era, justamente o material que a assegurar a cientificidade desse ramo do saber humano.

A impossibilidade de reprodução de experimentos e a alteração das condições de investigação, seja por mudança do meio, seja por mudança do próprio analista (conforme Heráclito, homem algum se banha no mesmo rio duas vezes!) não impediriam se fazer ciência  e permitiriam o fornecimento de explicações.

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Para tal objetivo, a observação dialética do movimento e do estabelecimento de regularidades exerceriam papel de destaque.  

O que poderia estar em consonância ao conceito de modernidade líquida de Zygmunt Bauman, tivesse eu um conhecimento mais aprofundado para discorrer sobre este conceito e autor.

Quanto a isso, reconheço minha ignorância e, antecipadamente, peço desculpas.  

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Por tudo quanto dito até aqui, acho temerário tentar fazer análises e extrair conclusões sobre o resultado das eleições do dia de ontem.

Admito que o resultado funcionou, para mim, como uma ducha de água fria. Afinal, meu desejo inconsciente era de estar vivendo em uma sociedade que respeitasse valores mínimos de solidariedade; liberdade, justiça e equidade; evolução, progresso e desenvolvimento; uma sociedade que respeitasse e zelasse pela conservação do meio ambiente e pela sustentabilidade, visando a preservação da vida em nosso planeta, tanto no presente quanto no futuro.

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Confesso que me decepcionei, não pelo resultado para os cargos majoritários, embora esperasse a vitória de Lula em primeiro turno e a possibilidade de um maior questionamento da gestão Zema em Minas, saindo de estereótipos do matuto mineiro e gestor privado de excelência, para tratar de questões mais objetivas e fundamentais para a totalidade do povo mineiro. Fora da ideologia neoliberal.

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Quanto ao, desgraçadamente atual, presidente do país, eu esperava que seus modos grotescos e a vergonha que tem feito o nosso país passar teriam um impacto, digamos mais nacionalista.

Porque entendo que ser patriota ou nacionalista não é apenas envergar a camiseta verde amarela da seleção de uma CBF corrupta. É muito mais.

É zelar pela população durante todo o período de mandato, não se lembrando de conceder auxílios APENAS A 3 MESES DA ELEIÇÃO.

Auxílios que não têm previsão de se prolongarem para 2023, findando em dezembro. E não têm previsão em documentos legais, como o projeto de LEI orçamentária.

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De forma ingênua, acreditava que o grosso da população não ia se deixar levar pelo discurso de um misógino. Ainda ontem, ao dar declarações sobre o resultado que o levou ao segundo turno, eu observei que não respondeu e nem deu atenção a perguntas a ele dirigidas por qualquer jornalista mulher.

Aqui um reconhecimento: tampouco os colegas masculinos deram espaço ou oportunidade para que suas colegas pudessem fazer indagações! O que mostra que sofremos não só um racismo estrutural, mas ligado a essa tragédia uma misoginia estrutural.

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Por outro lado, não acreditava que mais de 44% de eleitores, ditos esclarecidos, iriam aprovar o comportamento do portador da morte em relação às vítimas da Covid. E aos homossexuais.

E pior, a ambos.

Até hoje, a memória de esse pústula do Planalto estar imitando falta de ar, é muito lembrado. Até sua famosa declaraçao irônica  “estou com Covid” , sob gargalhadas.

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Importa destacar, em relação à essa última declaração, não foi apenas uma ironia com a doença. Foi uma agressão, mais uma grosseira aos homossesuais e a todos os LGBTQIA+.

A própria circunstância e  fala, referiam-se a um tipo de tratamento de aplicação de ozônio retal, anunciado em Santa Catarina, para tratamento da Covid.

O sociopata afinou a voz, como se fosse efeminado, e de forma acintosa, imitou alguém interessado em penetração anal. (Desejo inconsciente?)

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A maioria da população do país de forma democrática optou por escolher representantes de extrema direita, de inspiração fascista.

Assim, para não traçar qualquer análise crítica, no calor dos acontecimentos, antes externar um juízo de valor, aproveito o pitaco de hoje para abordar o livro de Umberto Eco, publicado em 2019 pela Editora Record, intitulado O Fascismo Eterno.  

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No livro, fruto de conferência apresentada em 1995, Umberto Eco lista e eu reproduzo abaixo,  14 características ou lições para identificar o neofascismo.

Abaixo vou reproduzir apenas para difundir as lições, sem comentários. Espero que sirvam para que cada um faça um exame interno, e possam se posicionar em relação à situação que estamos vivendo em nosso país.

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Às lições para identificação do fascismo (baseado em resumo de João Moreno): 

- Tradicionalismo ou culto à tradição: rejeição do progresso. A verdade já foi revelada no passado. (João, 8: 32 ?)

- Recusa da modernidade.

- Culto ao irracionalismo: rejeição ao pensamento científico  (terraplanismo, comportamento antivacinas) – “As universidades são um ninho de comunistas (…)  suspeita em relação ao mundo intelectual”

- Culto ao consenso e apelo à unidade: racista. A diferença é sempre um problema, e torna-se um instrumento de batalha.

- Origem identificada na frustração da classe média:   “(…) tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos”

- Nacionalismo: visão conspiracionista em relação a inimigos internos e externos (defesa da Amazônia contra possível invasão de inimigos externos. A Amazônia é nossa!)

- Transmutação de forças: inimigo ora forte ora fraco

- Militarismo, culto à arma e violência

- Desprezo pelos fracos: a base da força do líder está na fraqueza do povo. Este povo, incapaz de decidir, atribui ao líder poder para governar. A sociedade adota um padrão de comportamento baseado na existência de uma de hierarquia militar.

- A Educação é tratada como uma ponte ao heroismo.

- Militarismo e heroísmo levam ao machismo e rejeição ao diferente: hermetismo sexual

- Rejeição à democracia; povo é massa. Repúdio ao parlamento

- Novalíngua: educação para alienação

- Fascismo reside no cidadão comum, no cotidiano.

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Para concluir: com o Senado sob seu controle, alterações no Poder Judiciário tornam-se possíveis, bem como podem ser postos em prática seus planos de vingança contra ministros que o obrigaram ao cumprimento irrestrito das leis.

Reformas eleitorais, permitindo novas reeleições não estão fora do horizonte.

URGE VOTAR CONTRA ESSAS AMEAÇAS. URGE VOTAR LULA dia 30 de outubro!

2 comentários:

Anônimo disse...

É fato que votar em Lula é absolutamente necessário. Neste mar poluído e fétido em que estamos é ele, agora mais do que nunca, nossa taboa de resistência.
Sua análise é irretocável: o STF está agora na mira e tão acossado quanto nos anos de chumbo. Me vem à lembrança uma cena do filme Batman: Bruce Wayne ainda criança leva um tombo, Alfred ajuda o garoto, depois ao fazer o curativo lhe faz uma pergunta: "Por que caímos patrão Bruce?"
Esta pergunta me martela desde ontem a noite, formulada de maneira diferente: Por que chegamos neste nível tão baixo?
Na angústia que me atormenta desde ontem encontrei inúmeros culpados:
do nosso modelo circense de educação, propositalmente incapaz de formar cidadãos a uma oposição partidária medíocre;
de uma elite mesquinha e sovina à uma formação cristã hipócrita e cretina;
de uma oposição incompetente à eficiente guerra híbrida travada em escala global;
do nosso passado escravocrata ao presente de auto-ajuda...
O preconceito (tácito ou não) que reside em pindorama não é estrutural, ele é multidimensional, formatado nas instituições sociais. Ou seja nas escolas, nas igrejas, nas famílias.
De forma que qualquer pensamento fora do padrão é rapidamente classificado como "comunista".... e assim rotulado, embalado e pronto para a marginalização...
No pessimismo em que me encontro não vejo saída, o mar fétido e poluído talvez não me afogará, mas já me deixou doente.

Fernando Moreira

Anônimo disse...

Amigo, vou lhe fazer uma crítica : seu texto é perfeito , mas nos tempos atuais , onde poucos se dedicam a leitura, convém inverter a ordem ! Mostra primeiro o intuito do seu texto! Affff, me desculpe.


Stella Maris