terça-feira, 26 de julho de 2011

O paradoxo da economia: Resultados econômicos positivos, consequências econômicas preocupantes

Notícias alvissareiras no front da economia brasileira. Ao menos no que toca a resultados obtidos pelo governo, e tão somente em relação aos resultados é bom que se frise, e no que toca às expectativas que daí podem advir.
No setor externo, embora ainda não terminado o mês, já se sabe que o resultado do superávit na balança comercial deverá superar os 3,13 bilhões de dólares. Fruto da elevação dos preços das commodities que constituem o carro chefe de nossas exportações, como o minério de ferro e a soja, em alta no mercado internacional.
Com isso, as exportações superaram as importações de produtos, e o resultado fez com que o superávit já alcance algo próximo dos 16 bilhões de dólares.
Analistas vinculados aos setores e instituições voltados ao comércio externo manifestam certa tranquilidade. Afinal, como os preços do minério de ferro são decicidos trimestralmente, por negociação em foros interncionais, não há muito como se temer a possibilidade de uma queda - especialmente acentuada, dos preços.
E são os preços muito mais que o volume físico que têm segurado nossas exportações. No jargão econômico, o resultado comercial deve-se, à melhora de nossas relações de intercâmbio, definido pelo quociente entre o preço de nossas exportações e o preço daquilo que importamos.
***
Se é positivo o resultado que se anuncia, há entretanto motivos para preocupação. Afinal, basear nossas exportações principalmente em produtos primários, acaba nos tornando reféns dos países consumidores. Isso significa que, se por qualquer motivo, a China, por exemplo, resolver reduzir sua taxa de crescimento, reduzindo suas compras, e se tal comportamento servir para ajudar a derrubar os preços das commodities, não há muito que possamos fazer, exceto lamentar.
E pior, lamentar em um momento em que nossa indústria sofre desaceleração, o que indica que nossas importações não poderão ser reduzidas no mesmo ritmo das exportações.
Dizendo de outro modo, ao exportar muito, trazemos dólares. Esses, junto ao fluxo avassalador de entrada de moeda estrangeira, proveniente de nossa política de juros exorbitantes (sob a alegação da necessidade de conter a demanda no afã de controlar o processo inflacionário), acabam valorizando o real, encarecendo nossa produção e estimulando a substituição de fornecedores internos por fornecedores internacionais.
Quer dizer, aumentando a dependência de nossa indústria, já combalida pela política de juros elevados, dos produtos importados.
A consequência é que, se houver qualquer redução de nossas exportações, por motivos alheios a nossa vontade, as importações não poderão ser reduzidas sob pena de uma recessão e um desemprego muito grandes.
***
Só para complicar, imagine que a China, maior possuidora de títulos do governo americano tenha que tomar medidas de corte de gastos, em função de um calote da dívida pública americano.
Bem, o calote americano está claramente colocado no horizonte, mercê da miopia ou mesquinharia política - lá como aqui, do partido Republicano, maioria da Câmara.
Diz Paul Krugmann, que parte da ação irresponsável do Partido Republicano tem ligação com a cor do presidente Obama, nunca aceito pelo establishment americano.
***
Só para lembrar, e agravar o quadro, o Brasil hoje detém a quinta posição no ranking dos países detentores dos títulos sujeitos ao calote.
***
Internamente, foi também anunciado um superávit primário significativo, de 55 bilhões. Com a arrecadação batendo recordes e o governo tentando reduzir o gasto em todas as frentes. Inclusive na questão do pagamento aos funcionários públicos, e da concessão de aumentos dignos a todos aqueles que são, em última análise os responsáveis pelo bom ou mau funcionamento dos serviços públicos.
Mas o anúncio repercute bem, especialmente junto aos setores vinculados ao mercado financeiro. Afinal, como ensinam os manuais de economia, o superávit primário é a certeza de que o governo está acumulando recursos para pagamento de sua dívida mobiliária e de seu serviço: ou seja, dos encargos dessa dívida.
***
A questão é complexa mas pode ser resumida facilmente. A SERASA estima que está havendo desaceleração nas consultas de compras no comércio. A indústria apresenta resultados que indicam desaceleração e perda de competitividade. Alguns índices de preços já começam a assinalar uma desaceleração, ou crescimento a taxas declinantes.
Nesse meio tempo, o mercado financeiro mantém suas previsões de inflação em alta e pressiona para que os juros sejam elevados. Refém dos mercados e do terror que eles geram quanto à inflação e seus efeitos deletérios, o governo eleva os juros.
Com isso remunera melhor os títulos públicos, elevando os ganhos de seus portadores, em geral, os grandes intermediários financeiros.
Para pagar os juros, corta gastos sociais e gera superávits primários.
Perde a população, perdemos todos. Mas, os senhores que controlam a mídia e a nossa vida econômica se regozijam.
E o governo ganha aplausos o que melhora o nível de expectativas do ambiente econômico. Pelo menos até a próxima reunião do COPOM, quando o setor financeiro tem novamente de pintar um quadro de crise...

Nenhum comentário: