Conhecida a inflação no ano de 2011, mantida no limite superior da meta estipulada para o ano pelo programa de metas inflacionárias, a saber, 6,5% (meta de 4,5% + 2 pontos percentuais, no caso), algumas observações merecem ou devem ser feitas.
Primeira delas e, corretamente destacada pelo BC, o guardião da moeda e de seu poder de compra: a inflação não fechou exara em 6,5%, número que seria muito suspeito. Fechou abaixo. A rigor, a inflação foi de 6,49 e alguma coisa insignificante a maior, permitindo uma folga para que o governo pudesse fazer o arredondamento.
A importância dessa informação é óbria por desfazer qualquer insinuação de que o governo teria ajustado a inflação para a meta, já que, para o mercado a inflação já teria fechado em 6,51 ou 6,55%, sempre acima de 6,5%.
Segunda obervação: para não perder o costume, ao analisar o anúncio feito, analistas correram a justificar seu engano, tendo um professor de economia, pronunciado em uma coluna na Folha de São Paulo que o índiice só foi obtido por que o governo adiou a elevação da carga tributária prevista (em especial a entrada em vigor da elevação da carga tributária sobre os cigarros) e reduziu tributos sobre outros produtos, a fim de incentivar a retomada da demanda.
Pode não ter sido a intenção do colega professor, mas que sua observação, por correta que seja, passa a impressão de que ele alegava ter havido uma certa manipulação do índice por parte do Banco Central, isso fica mais ou menos evidente.
Curioso é que, caso o governo mantivesse a elevação da incidência tributária dos cigarros, e nada fizesse para estimular a demanda por bens de consumo durárvel, ou materiais de construção, talvez este mesmo professor estivesse fazendo coro com todos aqueles que estariam culpando o governo e, em especial, sua sanha arrecadadora pelo descontrole da inflação.
E todos estariam cobrando do BC a redação da carta justificando a não obtenção da meta pretendida, por força de reconhecer que a culpa foi do próprio governo.
Acho estranho, mas me parece que a questão é que se se faz o afago com a mão direita, reclamam que a esquerda é mais carinhosa. Se o afago é feito com a mão esquerda, ele é feito de forma titubeante, ao menos pelos destros....
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Voltando ao índice de inflação, durante todo o ano, emiti a opinião de que a inflação que estava havendo não era proveniente de fatores que poderiam ser considerados de responsabilidade do governo.
Não via excesso de demanda acontecendo de forma generalizada na economia brasileira, caso contrário teríamos que estar acompanhando uma de duas situações: ou bem estaria havendo queda brutal de nossas exportações, embora essas estejam cada vez mais reduzidas a um grupo limitado de produtos commodities, cujo mercado interno não se rivaliza com o mercado externo; ou, caso mantivéssemos o nível de exportações, especialmente de produtos manufaturados, teríamos que assistir a algum tipo de desabastecimento interno, o que não estava ocorrendo.
Em síntese: se o país estava produzindo e, além de estar atendendo a sua população, estava conseguindo prosseguir atendendo a seu mercado externo, então não haveria motivos para se imaginar excesso de demanda e incapacidade de oferta generalizada. Essa minha linha de raciocínio.
Está certo e alguém poderia argumentar que estávamos exportando commodities e importando os bens que nossa capacidade produtiva não tinha condições de produzir para atender à demanda aquecida.
Ora, a resposta é simples: exatamente para isso, serve o comércio internacional. Para suprir dificuldades estruturais ou conjunturais de fornecimento de bens pelo país. Ou não?
Mas, nesse caso, de que estariam reclamando os industriais nacionais? Porque as suas queixas, constantes, de que estavam sendo prejudicados pela concorrência internacional, desleal?
Não parece óbvio que, se eles estavam reclamando é porque desejavam produzir e vender em um mercado em que, além de tudo o mais, o próprio câmbio os prejudicava, "roubando"-lhes consumidores?
Se é assim, então eles estavam produzindo menos do que poderiam ou estavam em condições de produzir. Mais um sinal de que não estavam utilizando plena capacidade.
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É certo que em alguns setores localizados houve sim, excesso de demanda. Em especial, em miinha opinião, na área de serviços, face à celebrada chegada ao mercado de uma nova classe média no país. Além disso, houve na área de construção civil também um aquecimento de demanda notável, não apenas pelo lançamento do governo de programas e facilidades para a aquisição de moradias, como o Programa Minha Casa, Minha Vida, mas também pela melhoria das condições de financiamento e concessão de crédito; pelo início de bolha imobiliária, proveniente tanto do crédito como, em parte, do fato de que havia anos que o setor de construção estava paralisado.
Ou seja: casos de excesso de demanda foram circunscritos, em minha opinião a certos setores, ligados a demanda de mão de obra de algum grau de qualificação.
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Então, em minha opinião, exposta aqui em várias ocasiões, o problema maior que alimentava a nossa inflação - sem que sobre essas causas a política monetária tradicional de juros elevados pudesse ter algum efeito razoável, exceto se feita de forma tão drástica que acabasse por combater a febre da alta de preços por conduzir o doente e todo a economia a óbito -,, era de choque de preços externos. Ou seja: a elevação de preços de alimentos, por aumento da demanda desses produtos em escala planetária, como a carne, soja, trigo, etc. Ou a elevação de preços de commodities, incluídas aqui petróleo.
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Acredito eu que choques externos, aos quais se juntaram em vários momentos choques da natureza, face a condições climáticas completamente variáveis em nosso vasto país, não se combatem com política de juros, razão porque não concordava com a elevação de juros praticada pelo BC no ínicio do ano. Em minha opinião, o que conseguíamos com aquela política era atrair mais capital externo, e derrubar ainda mais a cotação da moeda externa, que arrastava em sua queda nossa capacidade de exportar.
Por esse motivo, também, os aplausos à guinada na política de juros, a partir da reunião de final de agosto, provocada pelo agravamento das condições econômicas do resto do mundo, liderado pelos países da União Européia.
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Com inflação de 6,5%, dentro do previsto no Programa de Metas, o BC e em especial seu presidente, o Ministro Tombini, ganharam força, prestígio e confiança junto à sociedade, e mesmo junto aos mercados, o que é positivo para manter a tranquilidade e conter as pressões para o ano de 2012.
Quanto ao panorama para 2012, ainda é uma incógnita, dependente muito mais das decisões e da evolução da situação e da reação das economias centrais, européias em primeiro plano e da economia americana, chinesa, japonesa, em segundo plano.
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