Tomar da pena ou do computador
procurar a folha de rascunho ou o formulário
contínuo
e contentar-se com qualquer pedaço de guardanapo
quadrado, virgem
cela para reter palavras condenadas
a servirem a meu deleite.
E através delas
veículos de minha liberdade
deixo-me vazar as entranhas
onde se acocoram neuroses
se acotovelam medos e pesadelos
refúgio sagrado de meus sonhos tresloucados.
Libertos,
meus pensamentos ganham altura
ocupam o universo de minha mente
redefinem meu espaço cósmico e rompem
a barreira de minhas limitações concretas
e revelam-se o inverso do que sou.
Neste instante perco o medo, a insegurança
encaro de frente minha própria estatura divina
e transformo-me em Criador.
Crio em palavras
pretas contra o fundo branco
as cores que não consigo senão sentir
que não posso mais que descrever
e que revelam meu estado de alma
infinita em sua magnitude e grandeza
ilimitada em sua voracidade
insignificante em meio a todas as palavras
já espalhadas ao vento
e que, como melodia
servem para nos dar alento
na viagem de volta àquilo que sempre fomos
limitados em nosso próprio mundo interior,
a representação singela
de nós mesmos.
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