segunda-feira, 22 de outubro de 2012

E o Galo, hein?

Se houve um jogo desse campeonato brasileiro que valeu a pena ser assistido, dizia Tostão em sua coluna do meio da semana passada, esse certamente teria sido o jogo do Fluminense contra o Grêmio. De acordo com o ex-jogador de futebol, duas equipes que deixaram de lado os chutões de lado, e trocaram a famosa ligação direta dos times de três brucutus postados frente à área, pela bola no chão, e a inteligência e visão das jogadas tramadas, dos lançamentos de um armador à moda antiga.
Ok, mesmo que seja bastante econômico em todos os instantes em que o time a ser analisado é o Galo, exceto claro, quando a análise é a crítica pura, Tostão talvez tivesse mesmo razão quanto à qualidade da partida disputada por cariocas e gaúchos.
E mesmo que tivesse evitado de entrar nos méritos do Grêmio, capaz de não se abater quando ficou com um jogador a menos, nem que não tivesse tocado nas questões de arbitragem, sempre confusas. Sempre, cheias de erros e falhas, algumas pequenas, no meio campo, de inversões de lances que nada têm de cruciais, exceto por terem a capacidade de irem minando a paciência, a calma de um time. E, nesse campeonato brasileiro, curiosamente, sempre favoráveis ao time tricolor do Rio.
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A verdade é que Tostão, mesmo com razão já que não possui bola de cristal, não tinha visto o jogo do Galo no domingo.
Jogo que, em seu blog, Juca Kfouri deixou de lado certa parcimônia (e até algumas gozações) para elogiar o futebol do Atlético Mineiro, para reconhecer que "O Galo cantou alto ontem em Belo Horizonte, numa exibição inesquecível do que há de melhor no futebol mundial." E, em alguns parágrafos à frente: "Se você, por algum motivo, andava de mal com o futebol e viu o jogo de ontem, certamente ficou de bem.E se não viu, procure ver. É irresistível."
Para concluir: "O Galo, repita-se, pode não vir a ser o campeão. Mas o Galo cococorô. Maravilhosamente.
E quem gosta de futebol, agradece, penhorada e comovidamente."

Em outro blog,  Bruno Voloch afirma que o Atlético-MG foi irresistível, e Ronaldinho nota 10.
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Mas, temo que Tostão não vá falar poder falar muito do nosso Galo, não por não gostar do time ou não ter visto o jogo, ou gostado. O problema, no fundo, é que Tostão costuma analisar jogo de futebol, e ontem, o que houve na arena do Horto foi um passeio de um time só: o GALO.
O Fluminense, a rigor, não entrou em campo no primeiro tempo. E se conseguiu algum destaque nesse tempo da partida, foi apenas por força de questões nem um pouco vinculadas ao futebol, como são exemplos: a percepção de como Deco, além de excelente jogador, bate muito, deixando sempre alguma ponta do pé, algum chute perdido, na canela do adversário; como Fred, mesmo parecendo não estar em campo, consegue catimbar e reclamar do juiz; como o goleiro do Fluminense dá sorte. Como os homens do apito gostam de dar uma mãozinha ao time do coração de Havelange.
Ninguém discute que Diego Cavalieri é bom goleiro, e que está fazendo um campeonato brasileiro muito bom, o que revela sua qualidade. Daí a dizer que é o melhor do Brasil, ou mesmo o melhor do campeonato, já é algo mais discutível. Admito que esteja sendo o mais regular, o que para um goleiro não é pouco.
Mas, se o Flu sempre se caracterizou por ter goleiros bons, como Castilho, Félix, Paulo Vitor e outros, também é de se lembrar que Castilho era conhecido como a leiteria, por causa da sorte que o acompanhava, mesmo nos lances mais incríveis ou mais improváveis.
Hoje vejo que a sorte talvez não fosse companheira de Castilho, goleiro da seleção bicampeã do mundo, mas do próprio tricolor das laranjeiras.
Porque, além das três grandes defesas que Cavalieri teve a oportunidade de fazer no decorrer do primeiro tempo, três bolas na trave, todas com destino certo, e mais o beque rebatendo a bola com o goleiro já batido são a expressão de que há algo mais entre o chute e o gol que supõe nossa vã esperança de torcedor.
E, nem vamos falar do gol de falta, e da alegada falta, muito discutível, de Leonardo Silva na barreira do CBF-lu.
Discutível não porque Tiago Neves, contra o Vasco marcou um gol de falta em que o jogador de seu time deslocou toda a barreira, promovendo um strike e abrindo o espaço onde justamente a bola pôde entrar, sacramentando mais uma vitória do time mais ajudado pela arbitragem nesse campeonato.
Mas, porque em meio à formação da barreira, quando jogadores do time adversário se posicionam no meio dos contrários, há um empurra-empurra natural, tão natural quanto os agarrões e safanões que são trocados, sem que os juízes o coíbam ou sequer vejam, na cobrança de escanteios.
Que Leonardo Silva aparece empurrando na imagem, é verdade, mas ninguém se preocupou em verificar o porque ele já parece na foto desequilibrado, quase caindo. Não teria ele sido empurrado antes, levando-o a perder o equilíbrio, já que outros jogadores do Atlético nitidamente aparecem trocando empurrões com outros jogadores do Flu, mais à direita da imagem?
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No segundo tempo, dois lances de oportunismo definiram os gols do Fluminense. Embora no primeiro eu particularmente tenha ficado com a impressão que o início da jogada foi por meio de uma roubada de bola faltosa, lá na frente, no R-49.
Que Fred é catimbeiro e reclama todo o tempo, pressionando o juiz, não tenho dúvidas. Como não tenho dúvidas que é perigoso, oportunista e que,  mesmo não jogando bem, não pode ficar solto em campo. Em duas jogadas de que participou, saíram os gols do Fluminense, os gols que só não dá para reclamar ou classificar como injustiça porque foram eles, também na minha opinião que tornaram o que era uma grande partida do Galo, em termos de aplicação tática, em uma exibição de gala. Um show, para ninguém botar defeito.
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Quanto ao Galo em si, acho que no primeiro gol do Flu, Pierre não estava atento e não marcou ninguém, deixando Wellington Nem, sempre perigoso, livre às suas costas. Desatento, Pierre nem teve o timing para fazer a linha de impedimento.
No segundo gol do Flu, Berola não voltou para marcar o lateral esquerdo do tricolor. Quando Marcos Rocha foi no combate ao lateral, a bola foi passada para um companheiro que estava ao lado. Marcos Rocha parou o combate ao lateral e ameaçou entrar no jogador com a bola nos pés que, inteligentemente voltou a bola para o lateral, à essa altura, muito à frente de Marcos. O cruzamento encontrou o vão das pernas de Leonardo Silva e chegou ao meio da área, onde Fred de carrinho mostrava o faro de artilheiro.
Descrevo o lance por não concordar com amigos que criticaram Marcos Rocha no lance. Afinal, é ele o jogador que mais corre,  tendo de ser ao mesmo tempo, ponta, armador, volante, lateral direito, e até avante, chutando a gol, como ontem, mais uma vez o vimos fazer.
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Quanto ao mais: Ronaldinho deu um show de competência e visão de jogo. De garra e vontade de jogar e ganhar. Pierre anulou Deco, colando na sombra do jogador mais inteligente e de visão do Flu. Donizeti jogou talvez a sua melhor partida no Galo. Foi a frente, tentou chutar e foi, por meio de sua jogada e seu chutão na trave que, em minha opinião sacudiu o time e mostrou que era possível. Transformou o que era para ser uma ducha de água fria em um típico banho de cachoeira, na hora de calor mais intenso.
Júnior César subindo com raça e vontade foi, em especial no primeiro tempo, um jogador sempre muito perigoso.
Guilherme, enquanto em campo, fez um passe. Sinal de que melhorou muito em relação a outros jogos onde também não conseguiu defender, não marcou, nem armou, nem conseguiu, por sua lentidão, nada além de desperdiçar jogadas promissoras.
Jô marcou dois gols mostrando oportunismo e boa colocação. Ontem, fez melhor o papel de pivô que nas últimas partidas. E Bernard, endiabrado foi sempre um perigo.
Cuca engoliu taticamente o técnico do time carioca que, para mim é um técnico muito bom para armar um time para golear de 1 a zero. Especialmente se o juiz ajudar a chegar ao gol, e manter o zero lá atrás. E depois vai à tv ironizar que vão falar que o time está sendo beneficiado pelos árbitros.
Fazer o que, se é a mais pura verdade? Não fosse isso, a diferença de pontos hoje não seria a favor do time da CBF, mas do Galo.
É isso.

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