Para desgosto da Veja e de seus leitores. Para desgosto de todos os conservadores de plantão, enrustidos ou não, Haddad foi eleito ontem, prefeito de São Paulo.
Vitória de Lula, que já havia feito referências a um poste, e ao fazê-lo permitiu que eu me lembrasse de um provérbio italiano, muito comum há muito tempo atrás: "se tutti i cornuti portassero un lampione, che bela illuminazione!".
Pois bem, contra tudo e contra grande parte da mídia, Globo incluída, Lula elegeu um segundo poste e, como ele mesmo falou, a cada poste que elege, mais o país vai se iluminando.
A frase é boa, mesmo quando os jornais são dominados por manchetes de apagões de energia elétrica, cada vez mais comuns. E no momento em que, trazendo novamente à lembrança a frase do juiz da Suprema Corte americana, que via na luz do sol o melhor detergente, finalmente o nosso Supremo venha lançar alguma nesga de claridade sobre a penumbra que recobre a política nacional e seus labirintos.
O Supremo julga, mesmo que às vezes com o senso de justiça zero, prejudicado por uma conspiração da mídia conservadora e dos interesses mais escusos das classes sociais que vêm ampliando a cada dia mais a perda de seus privilégios em nosso país e condena o Partido dos Trabalhadores e suas lideranças.
Qual o Coliseu romano, a cada juízo ou voto emitido, o sangue que jorra em profusão vai atingir uma platéia que uiva ensandecida, e que se regojiza com o circo a que assiste, insuflada pelos poderosos meios de deturpação de massa, cujas lutas têm outros (e mais secretos e pútridos) interesses.
Do lado de fora da arena, entretanto, o povão que se acotovela não tem condições de pagar os preços dos ingressos para ver a carnificina. Alguns, ao contrário, ali estão na tentativa de buscarem alguma brecha para tentarem empreender, vendendo seus churrasquinhos ou cerveja de latão a 3 reais.
É esse povo, que tem conseguido alguma oportunidade para comecar a melhorar sua qualidade de vida ou de trabalho, que tem se beneficiado nos últimos tempos das políticas que custaram tão caro ao país. É toda essa gente antes marginalizada e excluída que é a origem do ódio que muitos conservadores destilam contra o sapo barbudo do PT que resolveu dar início a um sempre prometido resgate (de direitos e cidadania) "nunca antes na história desse país" (sic) tentado.
E dá-lhe a criação de cotas e a ampliação dos programas de bolsas que trouxeram, esses sim, para a luz do sol, aqueles antes condenados a viverem uma vida sem cor, sem luz, sem energia. Apenas trabalho e exploração.
É esse povo que aproveitando ter a oportunidade de vislumbrar a luz do sol, aprendeu a gostar da iluminação e prefere e opta por postes iluminados, demonstração inequívoca de que sabe que o mensalão e a podridão que o acompanha foi o preço pago às elites e privilegiados, em troca da aprovação das conquistas que obteve.
E mais: sabe que o mensalão é um marco na história de nosso país, por ser a oportunidade primeira em que o corruptor é punido, essa figura que deveria ser punida sempre, e que no Brasil de antes de 2000, sempre escapou por ser a representação do lado mais poderoso. E rico.
Então, sendo a primeira vez, o mensalão e seu julgamento já têm uma importância ímpar, o que não pode servir para que, pelo alvoroço provocado pela novidade, se esqueça de que também os corruptos devem ser punidos. Afinal, não é porque agora se consegue punir os personagens ativos do processo, que os corruptos passivos de sempre devam ser esquecidos. Bagrinhos ou não, não podemos nos esquecer da quantidade de gente, de siglas, de partidos envolvidos, E NÃO APENAS O PT. Sejam quem for. Estejam onde estiverem.
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É isso que a Globo, a Veja, e outros que tais não perceberam e que, como o povo costuma entoar: "o povo não é bobo. Fora a rede Globo".
Mas, como a Globo não tem título de eleitor, não pode votar. E o povo vota. Com Lula. Com quem os resgatou da miséria de vida que levavam e os tratou de forma mais digna, mais humana.
Vá lá. Lula não é santo. Fez o que fez guiado por vários interesses, inclusive por demagogia. Mas, foi o primeiro que fez, na história recente. E, depois de dado o primeiro passo, ninguém segura mais aquele que aprendeu a andar.
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A respeito do mensalão, e só para não deixar passar em branco, concordo com colunista da Folha, acho que o Jânio, ontem, domingo de 2° turno de eleições: há algo de muito podre no sistema que é capaz de condenar os Nardoni, a menos tempo que o operador Marcos Valério.
E isso, considerando que o crime financeiro, mesmo sem sangue, é capaz de provocar muito mais males que um assassinato brutal. Afinal, enquanto o crime financeiro atinge - e até mata, a milhões, indistintamente, o outro, da barbárie, atinge a apenas um, mesmo que uma criança inocente e indefesa.
Em minha opinião, então, o crime financeiro é sim, passível de ser punido com rigor - o que significa cadeia!!! Mas, definir penas com mais virulência que as de outros criminosos muito mais selvagens, é algo que deve ser debatido.
Por que o gosto de sangue que parte da classe média de cabeça formada pela mídia deseja contém um amargor corrosivo, capaz de ficar muito mais tempo trazendo prejuízos não para a boca e garganta, mas para o cerébro ou a própria alma.
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Tudo isso para repetir, eu que tenho cá minhas críticas ao oportunista e boquirroto Lula: via Haddad, o poste, o ex-presidente foi o grande vencedor do segundo turno da cidade de São Paulo.
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