terça-feira, 10 de maio de 2016

Economia em compasso de espera; política fervendo, mas não para ser levada a sério; América campeão e nós, sofrendo com Aguirre

Economia em compasso de espera, torna mais difícil a tarefa de dar os pitacos com maior frequência. A não ser que nos detivéssemos a analisar as várias conjecturas e as apostas que os jornais insistentemente nos têm trazido, especialmente sob a forma de entrevistas, a  maior parte das quais realizadas com diretores ou consultores de grandes instituições financeiras.
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Antes, contudo de tratarmos do conteúdo de algumas dessas entrevistas, é importante que algum pitaco seja direcionado para tratar de toda a imensidão da crise econômica, já depressão, que nos assola.
Primeiro para falar da resiliência, a insistência de a inflação permanecer em níveis elevados, acima do limite superior do intervalo estabelecido legalmente pelo sistema de metas, apesar da crise que o país atravessa representada por queda de vendas, queda de crediário, elevação sempre preocupante dos níveis de desemprego, e manutenção da taxa básica de juros da economia, a taxa Selic, em níveis extremamente elevados.
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Que a inflação que já estava elevada em nosso país, embora contida dentro do intervalo do sistema de metas até o final de 2014, ganhou combustível com as medidas adotadas por Dilma e o ex-ministro Levy, no início do ano anterior, de 2015,  ninguém discute. Claramente, os primeiros atos do segundo mandato de Dilma foram caracterizados por medidas destinadas à promoção de uma inflação corretiva de preços. 
Preços e tarifas públicas, defasados e causadores de prejuízos que dilapidavam o patrimônio das empresas que a elas estavam sujeitas, foram corrigidos tendo, principalmente as tarifas de energia elétrica peso importante na alta generalizada de preços.
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Para reforço da inflação, há que se admitir, contribuíram ainda a questão hídrica vivida pelo país e seus efeitos sempre deletérios sobre a produção de alimentos e os preços desses bens fundamentais. 
A tudo isso, deve ser somado o comportamento do dólar que, começando um movimento de valorização acentuado cada vez mais pela situação política vivida no país, acarretou elevação de vários preços de insumos, contribuindo para colocar mais lenha na fogueira da inflação.
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Mas, se os motivos principais da inflação eram os listados acima, por dever de consciência há que se fazer sempre uma observação fundamental. Nenhuma das principais causas se vincula ou tinha qualquer vinculação com elevação de demanda, o que claramente indica que medidas destinadas à elevação e posterior manutenção da Selic em alta, não iria resolver nada.
Muito pelo contrário. Ao elevar o valor dos juros pagos aos credores da dívida pública mobiliária, de caráter interno, apenas ampliava o nível de desembolsos que o governo deveria fazer junto aos seus grandes financiadores, a maior parte formado de bancos, agentes e instituições do mercado financeiro, grandes empresários. 
Ao todo, perto de 15 mil famílias que detêm o grosso dos títulos da dívida pública e receberam, no ano passado, a bagatela de mais de 500 bilhões de reais, apenas de juros.
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Claro está que, em meio à recessão que as medidas adotadas ou sugeridas por Levy contribuíram para fortalecer, compromissos com o pagamento de juros dessa magnitude iriam, muito mais que qualquer gasto social, com a Previdência ou com programas como o Bolsa Família, ou com os gastos obrigatórios com saúde ou educação, ou ainda com o pagamento da folha do funcionalismo, privocariam a expansão do endividamento público.
Como consequência e por força apenas de cálculos matemáticos simples, o aumento da conta de transferência de juros implicaria aumento do déficit nominal e, com a queda do PIB, aumento da relação dívida pública/PIB. Indicador que todo mundo fala, analisa e mostra que está apresentando evolução preocupante em nosso país, embora ainda situado na casa dos 70 a 80% do PIB.
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Observação: ninguém nega que o percentual é elevado, mas significativamente inferior a de outros países, desenvolvidos ou em situação de desenvolvimento, como o Brasil.
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Mas, se os juros não resolvem o problema de forçar a queda dos preços, por não serem o remédio adequado ao problema identificado como responsável pela doença, embora sejam muito eficientes em provocarem e aprofundarem a recessão, a queda das receitas do governo, qual a razão de continuarem sendo utilizados pela Autoridade Monetária. 
E pior, terem sua manutenção recomendada, ao menos no curto prazo, por alguns dos principais nomes apontados, pela imprensa, como possíveis candidatos a ocuparem o cargo de presidente do Banco Central em eventual governo temer, como foi mostrado em reportagem da Folha de São Paulo nesse final de semana?
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Discutindo o caráter mais conservador ("hawkish") das águias do mercado, que acreditam em que as taxas de juros deverão ser mantidas, ao menos por mais um bom  período de tempo, ou mais "dovish" menos conservador, mais cordato, de pombo dos que, como Tombini é acusado, gostariam de poder alterar os juros já a partir do início do segundo semestre, a reportagem traz nome de candidatos que pregam até mesmo a elevação das taxas... Tudo para combater um problema que já mostrou que tem outras origens. 
E não me venha falar que a elevação de juros não será suficiente para fazer declinarem os preços. Claro que vai conseguir seu intento. Afinal, todos sabem que a febre do doente irá cair de forma importante se ele morrer em função dos medicamentos que o intoxicarem.
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Curioso também é que os citados falcões parecem não considerar que em processos de elevação de preços, generalizados, os empresários passam a embutir em seus preços as expectativas de futuras elevações de preços. 
Como é natural, em estratégias defensivas, esses empresários não apenas não querem ser os últimos a elevarem seus preços, mas também não querem embutir uma expectativa que poderá ser superada pelo movimento real da economia.
Resultado?
Eles corrigem seus preços em maior valor que a inflação média, elevando a inflação futura, que fica mais difícil de ser controlada, em face do nível de dispersão que põe em marcha. 
E é bom alertar: fazem isso, por terem poder de fixação de preços no mercado. Ou seja: por terem poder de monopólio. 
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Tudo bem. Não serão os falcões do mercado financeiro, prontos a explorar o governo e o povo, que irão tomar medidas duras contra o poder empresarial de fixação de preços. Afinal, se o mercado aceita e paga??????
Seja sempre, tudo, com a desculpa de ser sancionado pelo mercado.
Mas que é curioso ver como falcões bravios viram meras cotovias, quando as coisas mudam de perspectiva, isso lá é de dar risadas...
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Temos mais de 370 bilhões de reservas em dólares, que não deveriam ser utilizadas para financiar, em minha opinião, nenhum projeto de desenvolvimento interno. Como todos sabemos, essas reservas funcionam como colchão de amortecimento contra possíveis problemas futuros, no âmbito externo. 
Mas, quanto custaria permitir o gasto de alguma parte dessa reserva, visando importar alguns produtos cujo poder de fixar preços dos empresários estivesse sendo uma ameaça ao controle inflacionário?
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Uma outra curiosidade. Em todas as entrevistas, como a feita com diretor do Credit Suisse, também pela Folha, há afirmações como as seguintes, que não reproduzo, mas apresento como as entendi. O que significa que se houver erro de interpretação, assumo o erro. Mas, em tese, as ideias expostas são:

Os funcionários públicos tiveram aumentos muito elevados, e está na hora de recair sobre eles parte do ônus do ajuste. 
Ou então: não tem sentido os aumentos de salários mínimos que agem como indexadores da economia serem tão acima da inflação, como foram no período recente. É necessário desvincular o salário mínimo de outras obrigações do governo, em especial de benefícios previdenciários. 
Ou algo como deve ser revista a lei do salário mínimo. 
Ao que se complementa, dizendo que os gastos públicos deveriam ser desvinculados completamente. 

Para ser justo, há sempre críticas ao fato de ser necessário fazer cortes em desonerações, em incentivos dados aos empresários e nunca correspondidos, e até mesmo se falou em revisão de situações tão esdrúxulas como as da Zona Franca de Manaus e outros benefícios, além de alteração de cobrança de impostos de profissionais liberais, transformados em PJ (pessoa jurídica) para, no regime de micros e pequenas empresas, de caráter individual, poderem evitar de pagar a parcela de tributos que seria compulsoriamente paga, caso se mantivessem como assalariados. 
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Claro que essa questão dos PJ's, implica em redução de custos e direitos sociais para alguns empregados, o que mostra que sua manutenção auxilia as empresas e o capital. Mas, para isso,  todos os analistas sempre se lembram de que é necessária uma flexibilização na legislação trabalhista, da qual um dos carros chefes é o projeto de terceirização. 
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Ou seja, a julgar pela recomendação dos sábios do mercado financeiro (há economistas outros, de outras tendências e escolas e formação, ou até mesmo que atuam em outras áreas que não concordariam com grande parte da receita) o Brasil corre o sério risco de, com apoio das classes mais ricas, empresariais, da imprensa, e até de parcela da classe média de maior poder aquisitivo, implantar esse conjunto de medidas, no governo que se pretende impor à sociedade, pela vontade das elites. 
E, se é quase certo que em dois anos, talvez, o país estivesse com as condições econômicas recuperadas, e sanadas suas dificuldades, com o governo com um tamanho mínimo, adequado a um governo moderno, ágil, que apenas toma conta das regras de funcionamento e do ambiente econômico, na verdade, do ponto de vista da grande maioria de sua população, da maioria esmagadora dos trabalhadores, dos funcionários públicos, sempre bodes expiatórios, o que teríamos seria uma involução, um retrocesso que nos mandaria de volta para os anos 40, com muita boa vontade, anos 50.
Época em que, mesmo sem lutas, já que as conquistas foram uma forma de cooptação (corrupção, para usar a linguagem mais moderna), os trabalhadores tiveram alguns benefícios reconhecidos.
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Em minha opinião, é isso que nos espera: os mercados financeiros e seus associados cada vez mais inseridos no mundo da modernidade, da evolução e da financeirização internacional. Vivendo no melhor dos mundos.
Os trabalhadores e a grande maioria da população tendo que se virar para poder ter acesso a direitos mínimos que passarão a ser fornecidos por mercados privados, o que os alijará da possibilidade de competir, com alguma condição, nos mercado de trabalho.
5% da população bem, no paraíso. 90% da população apenas na corrida frenética para tentar sobreviver.
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Enquanto nos bancos os problemas, e as crises, são outros

Mas queria comentar no pitaco de hoje, como fiquei preocupado, ao saber que, em razão da crise e de seu aprofundamento, os bancos principais do país experimentaram uma queda brutal em sua lucratividade, no primeiro trimestre desse 2016. 
Felizmente, nada que significasse aumento pronunciado de desemprego no setor. Ainda não.
Mas, ter uma redução de lucros para uma média de apenas 5 bilhões, é de tirar o sono de qualquer um. 
O que justifica a preocupação dos grandes jornais com a queda brutal, de lucros, enquanto atividades produtivas, e geradoras de riqueza real, fecham as portas. 
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Muitos se preocupam, claro, pelo fato de os bancos estarem experimentando uma elevação de seus níveis de inadimplência, o que os faz reconhecer a possilidade de perdas, e a obrigatoriedade de constituição de provisões. 
O que significa aumento de despesas e explica parcialmente a queda dos lucros.
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Mas poucos explicam que as provisões são cautelares. E se as prestações das operações de crédito concedidas forem pagas, os bancos poderão até mesmo providenciar a reversão dessas provisões, voltando a contabilizar esse recurso como receitas e lucros. 
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Mas, isso não é falado, porque implicaria em discutir medidas para evitar a inadimplência. Ou seja: medidas destinadas a assegurar emprego e salários dos endividados. Ou a renegociação de débitos, em condições menos draconianas. 



América Campeão

Saudações ao grande Givanildo a quem admiro e respeito muito. Parabéns ao América, o Coelhão, campeão mineiro de 2016.
Apesar de acreditar, sem querer desmerecer o Coelho, que perdemos para a incompetência de nosso treinador, e para nossos erros. Que na verdade têm como fulcro o erro maior: o que esse Aguirre está fazendo aqui no Galo?????

Política

A política e a situação do país está tão curiosa, especialmente quando todos saem atacando, sem quererem averiguar motivos, razões e, principalmente competências para adoção de medidas quaisquer que sejam, que não é sensato fazer comentário algum sobre os últimos acontecimentos.
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Mas,  ver as agressões feitas ao deputado Maranhão, presidente da Câmara, por seus próprios colegas, ou por senadores; assistir ao "ministro" gilmar mendes, que pelo respeito que aprendi a nutrir por seus atos e comportamentos merece as aspas e o nome na forma grafada, vir a público manifestar sua discordância com a medida adotada na Câmara; assistir ao tal "ministro" ferir a harmonia e a autonomia dos poderes (nesse caso, parece-me que não há problema no desrespeito à harmonia), logo ele que, como "ministro", pode ter que se pronunciar sobre o tema, apenas mostra que o Brasil não é, definitivamente um país para ser levado a sério.
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Vejam bem. Ele é um país sério. Tudo está sendo feito seguindo um script, habilmente traçado para que a vontade do povo fosse deixada de lado, trocada pela vontade das poderosas elites. 
Isso mostra um grau de seriedade e compromisso que não há como se negar. 
Mas, é golpe e é antidemocrático, por não respeitar a maioria. 
Então, embora sério, é para não ser levado a sério, ao menos da perspectiva do povo. 
Mas, afinal, como diria o campeão de votos que agora conquista o governo, temer, para que interessa o povo????

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