Desde a semana passada, vindo de lá das bandas de Tietê, exala um odor prá lá de esquisito.
Nada a temer, diria Zé Simão, para quem a chegada à presidência de seu novo ocupante, com seu semblante e fisionomia de personagem de filme de terror à la Bela Lugosi, pode apenas ter como consequência a proibição de que o sol volte a brilhar, no país.
Mas, ainda não foi banido o alho, muito embora, acompanhado de seu ministro das Relações Exteriores, José Serra, pode ser que tal medida não venha a tardar.
Afinal, não há como não reconhecer a semelhança de Serra com Nosferatu, assim como a de temer com Drácula. Embora pare aí, na semelhança física. a irreverência de Zé Simão.
Por mim, acredito que ainda a ironia poderia ser levada mais adiante, com o povo sendo exposto às mordidas e ataques necessários a proporcionarem o sangue que deverá alimentar e dar nova vida, ao menos ao capital financeiro.
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Do ponto de vista pessoal, apenas o elogio necessário ao homem de 75 anos, que em aparência, consegue manter ao seu lado uma bela e jovem mulher, que a mediocridade e conservadorismo daquele lixo que consegue ser a principal revista semanal da Editora Abril, definiu como "bela, recatada e do lar..."
Ou seja, a que acompanha e dá suporte a, mas não procura se envolver em assuntos de reconhecido domínio masculino.
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E, não é que a revistinha tinha razão?
Ao ver o ministério notável anunciado por temer, chamou a atenção o fato de não ter qualquer mulher. E mesmo que temer possa vir a dizer que há sim, uma mulher no primeiro escalão, atuando como uma das mais importantes assessoras, por ocupar o cargo de chefe de seu gabinete, a verdade é que a sua resposta à entrevista dada com exclusividade ontem ao Fantástico, quase resvala para o ridículo maior, caso fosse dada a interpretação de que aos olhos de temer, o papel da mulher redurzir-se-ia, tão somente ao de secretária.
E olhe que o papel de secretaria executiva, bilingue ou trilingue, exige cada vez mais qualificação, formação especializada, profissional, e cada vez mais as mulheres que se graduam nesse tipo de curso,para o qual já tive a honra de lecionar a matéria de Economia, devem estar cada vez mais preparadas.
Para fazer justiça, à questão da diversidade de gênero, nas turmas de secretariado executivo, havia também a presença de alunos, com reconhecida dedicação ao curso.
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Mas, o meu medo, que não tem nada a ver necessariamente com o ocupante ilegítimo do Planalto, é que sua secretaria pudesse exercer muito mais o papel de uma recepcionista. Essa, talvez, bela e recatada, mas não do lar...
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Já citei a entrevista concedida com exclusividade ao Fantástico, na noite de ontem.
Antes contudo, de fazer qualquer observação ou emitir opinião sobre o conteúdo da entrevista ou das respostas dadas, há que fazer, por nunca ser demais, uma homenagem.
Faço aqui, mais uma vez, como já fiz em outras ocasiões, uma homenagem a Raul de Matos Paixão, com quem tive o prazer de trabalhar na Superintendência de Estatística e Informações, da Secretaria de Planejamento de Minas Gerais, no grupo por ele liderado, de Análise de Conjuntura.
Disse-me o saudoso Raul, logo quando de minha chegada à equipe: "preste atenção a quem ganha, a quem se beneficia com as medidas de política adotadas. A partir daí, você terá condições de verificar quais os verdadeiros objetivos, por trás daqueles apenas declarados".
Sempre interessante relembrar que os objetivos declarados, em geral muito amplos, servem apenas para conquistar o apoio e a simpatia de tantos quantos forem afetados ou se dispuserem a analisar os projetos e ideias.
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Pois bem, antes de prosseguir o pitaco, quem se beneficiou, imediatamente com a movimentação que vimos assistindo, desde que a decisão de se suspender a presidenta eleita Dilma foi levada adiante, no Senado, e já que a adoção do termo golpe não é de bom alvitre, mesmo que não tenha havido o cumprimento exigido pela legislação em vigor, para a caracterização do crime de responsabilidade imputado à presidenta?
Inegavelmente, em primeiro lugar, beneficiou-se temer e sua equipe de ministros, já toda definida antes de o resultado da suspensão de Dilma ter sido votado, o que o próprio senador Cristovam Buarque reconheceu ter sido um açodamento constrangedor.
De carona, ganhamos eu e outros que passamos a conhecer melhor o senador Cristovam, atualmente representante do PPS, e pudemos perceber como o ressentimento pode levar um político a se rejuvenescer, de tal forma, que abandona seus ideiais de esquerda, classificados como envelhecidos.
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Devo fazer um comentário: que nossos partidos ditos de esquerda nos decepcionaram, não há como negar. Que o principal partido dito e tido e havido como de esquerda, o PT negou, no poder tudo que se pensava ou acreditava dele, fazendo composições esdrúxulas e alianças as mais improváveis, com tudo o que caracterizaria o atraso, em função da montagem de um governo de coalizão, de loteamento de cargos e crenças, também não há como negar.
Afinal, o próprio PSDB era também de esquerda, em algum momento da história política do país. A ponto de muitos terem chegado a acreditar que a solução para o país seria a fusão entre o partido tucano e o PT.
Mas, senador Cristovam, não foi a esquerda nem as suas ideias que envelheceram, nem os sonhos e as utopias.
O que está velho é a estrutura de poder, a mesma e de sempre, que fazemos questão de manter aqui no Brasil.
E que o senhor, por seu discurso e seu voto, na sessão do Senado da semana passada, ajudou a preservar.
Ou devemos achar, como talvez o senhor esteja achando, que temer representa o contrário de tudo aquilo que o senhor sabe estar na origem de nossa corrupção endêmica?
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O segundo grande beneficiário de todo o processo foi o pessoal do PSDB, indicados a cargos, no caso de Serra, ou na posição de indicar nomes para integrarem o ministério, como Alckmin, ou ainda de aparecer, mesmo que de papagaio de pirata nas fotos que oficializavam a usurpação de poder, via tapetão, como o senador mineiroca Aécio e seu ridículo papel na posse.
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Ganhou também a rede Globo, a que promoveu o golpe e se incumbiu de disseminar não as informações ou verdades, mas a parte daquilo que acontecia e que atendia a seus interesses.
A rede Globo teve como compensação já no dia seguinta à posse, a entrevista exclusiva com o então homem forte do governo e da economia, Meirelles.
É importante reconhecer que o prestígio da empresa é tanto, que só horas depois, o ministro repetiu tudo aquilo que já havia antecipado na tevê líder, na coletiva de imprensa que concedeu.
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Ganhou o mercado financeiro, com todo o conjunto de acenos feitos por Meirelles, embora ninguém tivesse a hombridade de reconhecer que seu discurso foi justamente muito semelhante ao de Joaquim Levy, quando assumiu a mesma pasta.
E, se em Levy as propostas foram recebidas com agrado pelo mercado financeiro, mas trituradas pelo mundo político e pelos derrotados e maus perdedores das eleições anteriores, sob a pecha de serem a parte principal do estelionato eleitoral de Dilma, agora elas são saudadas como corretas.
De minha parte, mantenho hoje a mesma opinião da época de seu anúncio pelo ministro de Dilma: não funcionarão. Penalizam os mais pobres e os setores empresariais produtivos, em benefício dos interesses financeiros.
O Brasil não pode se submeter e tentar, até porque cada vez mais tardiamente, adotar o receituário liberal que jogou Grécia, Espanha e tantos outros países em situação caótica, seja no tocante ao nível de emprego, ao crescimento econômico e a outros indicadores de desenvolvimento econômico e social.
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Ganhou Meirelles, que tantas vezes esteve indicado para assumir o governo Dilma, para o mesmo cargo, por indicação de Lula e seus novos amigos, integrados por todos os que pagam suas propriedades e reformas e etc.
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Ganharam vários dos ministros que com citações nas delações da Lava-Jato, poderão obter o foro privilegiado que foi negado a Lula. Aquele que não pode tomar posse por obra e graça do divino gilmar mendes.
Geddel Vieira Lima, para citar apenas um, deve estar rindo efusivamente por ter conquistado o foro especial. A ponto de dizer que deseja procurar e se encontrar com Lula, para solicitar ao ex-presidente, o seu apoio.
Escárnio puro.
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Ganha Jucá, que ontem no Fantástico mostrou a todo o Brasil, que temer não é covarde, como não foi sua antecessora, e não vai deixar o amigo na mão, caso ele se torne réu.
Vai apenas estudar o caso, se ele vier a se concretizar.
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Novamente ganhou Aécio, que teve os argumentos de sua defesa aceitos, o que motivou gilmar, o imaculado, a mandar paralisar as investigações contra sua pessoa.
E teve em Teori o auxílio que necessitava, de resto, para não confundir as delações, mesmo as feitas na operação Lava Jato, com outras de outra espécie, o que levou o ministro Zavascki a sugerir a remessa dos detalhes da investigação a quem? quem? o sacrossanto gilmar...
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Ganhou também Moreira Franco, responsável por toda a parte de venda de ativos, concessões, etc, do governo liberal de temer, em razão de sua experiência e de tanta manobra interessante por ele posta em prática, quando governava o Rio.
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Ganham também todos os brasileiros que se deixarem iludir que o país vai receber investimentos, que permitirão a retomada do crescimento econômico e da geração de emprego, como que por um passe de mágica.
Ganham aqueles que irão pagar mais impostos, por saberem que isso será apenas de forma provisória, como a CPMF.
Ganham os que acreditaram que o pato da Fiesp era aliado na luta contra a corrupção, logo ela Fiesp, que também tem apoio de recursos públicos, além de pagamentos compulsórios, muitos deles, feitos por empresários que não entendem porque irão pagar mais, se foi contra isso que sua representação deveria estar criticando.
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Ganham todos os ingênuos, que acreditarem que o Estado deve parar de investir em Cultura, mesmo que nessa questão, poucos saibam que a Lei Rouanet, de anos antes da chegada do PT ou PSDB ao poder, concede incentivo fiscal, que consiste em parte (6% do imposto de renda de pessoa física e 4% de pessoa jurídica) do valor de imposto devido à União. Que tais recursos é que permitiram que nossas artes apresentassem uma evolução recente não desprezível.
Ganham os que acreditarem que vai parar a corrupção em nosso país.
Ganham os que acreditaram que todo o mal do mundo teve início com a chegada do PT ao poder, e que desconhecem que, até o famoso estelionato eleitoral que o PSDB tanto criticou no ano passado, já havia sido testado e usado por ele mesmo, em 1999, na crise cambial vivida pelo país, como reconhece, agora o ex-presidente FHC, nos volumes de seus diários na presidência.
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Perdemos nós, o povo, que deveríamos estar mais presentes nas discussões, menos sujeitos a manipulações de informações, e mais informados (que deformados) quanto às verdadeiras questões que estão por trás da crise da Previdência - que é real, e merece ser discutida amplamente, para ter a aprovação de todos que nutrem o sonho de uma velhice tranquila.
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Por fim, perde o povo trabalhador, que se sujeitará a uma reforma trabalhista, a tal flexibilização que, a título de contribuir com o aumento de produtividade do trabalho, irá precarizar os direitos de uma população que tem como principal responsabilidade, o de não ter tido a educação com a qualidade que merecia, a qualidade capaz de elevar sua produtividade de forma sustentada.
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