O que leva um rapaz de 20 e poucos anos, a entrar em uma escola armado, com farta munição, andar livremente por corredores, ser reconhecido e conversar brevemente com uma professora, pelas fotos, parece ter alcançado um andar superior ao nível da rua, entrar em uma sala e provocar uma matança como a que aconteceu ontem em Realengo, Rio de Janeiro?
Uma série de circunstâncias que poderiam ser atribuídas a um mero acidente fortuito? Uma psicopatologia qualquer, que nada explica mas justifica o ato insano a que todos poderíamos estar sujeitos, como vítimas?
Em minha opinião, e apenas acompanhando perplexo, de longe, como tantos outros milhares de brasileiros, o desenrolar dessa tragédia, há questões que não podem ser postas de lado, nessa hora. E, felizmente, a comoção está fazendo essas questões todas aflorarem, como não poderia deixar de acontecer.
Primeiro: a questão da arma. Mais que procurar saber como o rapaz obteve treinamento para lidar com armas de fogo, mais que se questionar onde teria obtido as armas e a munição já que a ninguém passa despercebido que existe um mercado para esse tipo de produtos, mesmo que marginal, operando sob sombras, o problema que acho que deve ser discutido é o porte de arma.
Digo isso, por existir uma lei em nosso país, que pune ao portador de armas, sem autorização. Ou deveria punir. O que torna essa lei um exemplo daqueles outros tantos de leis que pegam.
Mas pior que a impunidade, é o fato de que, mesmo pessoas esclarecidas, algumas até de nosso convívio e a quem temos respeito e amizade, insistem ainda em dar prosseguimento a campanhas favoráveis ao porte de arma.
Se o porte de arma é uma excrescência, de mesmo nível ou até pior é a admissão da existência de um mercado de armas, mesmo às margens da lei, a ponto de ser considerado o segundo maior mercado, atrás apenas do mercado de drogas.
Porque não se debater e estudar medidas destinadas a criar o máximo de obstáculos não apenas à existência da circulação, mas da própria produção de armas, estreitando cada vez mais os controles da fabricação, inclusive, atribuindo parcela da responsabilidade do mal uso do artefato ao fabricante e comerciante?
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E o que falar do nível de segurança das escolas? Como em um ambiente em que se reunem crianças, adolescentes, jovens, o trânsito é livre, a ponto de qualquer pessoa poder entrar, circular livremente, inclusive portando uma mochila ou mais de uma?
Era um ex-aluno da instituição, tanto que foi reconhecido por uma professora, mas podia ser um tarado, ou um pedófilo, ou o namorado de alguma das meninas não aceito pela família, ou apenas rejeitado... São tantas as possibilidades, que fico assustado em perceber a fragilidade do controle de portaria - se existia algum, ou o controle de acesso ao prédio nessa escola.
Alegar que estava indo fazer uma palestra e passar impunemente... Ora, e quem convidou, que palestra, para que ano, ligado a que tema, em que horário, em que local, em um auditório? E existia auditório?
Aqui em Belo Horizonte, namorados ou ex-namorados entraram nas salas de aula e estapearam, apontaram armas, chegaram a atirar em alunos.
Um professor foi morto, em discussão no corredor da escola. Mas aí, por um aluno inconformado com a nota que lhe foi atribuída.
No Rio Grande do Sul, professores foram vítimas de espancamento e agressões, também por alunos.
Em São Paulo, na Uniban, o comportamento completamente selvagem e irracional de alguns alunos criou esse monstro que hoje todos temos que aturar nas telas de tv, a Geisy Arruda.
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Parece que todos esses acontecimentos foram no estrangeiro, longe daqui. Ou a escola carioca, preocupada em lecionar e transmitir conhecimentos não viu, não se informou e não tinha conhecimento de fatos tão atuais?
O problema maior, em minha opinião foi da segurança da escola, completamente inoperante. Diria até, irresponsável.
E se fosse pai de qualquer das pequenas ou jovens vítimas, a direção da escola seria a primeira a sofrer um processo por omissão. Cabal e insofismável.
E, por ser pública a escola, a Prefeitura do Rio seria a maior responsável pelo nefasto acontecimento.
Razão para as autoridades começarem já a tentar atribuir a atitude do agressor, a uma ação maior ou uma reação, coordenada pela facções do crime organizado que continua agindo no Rio de Janeiro.
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