sábado, 9 de abril de 2011

Possível racha do área econômica do governo é sonho do mercado financeiro, mas não parece ter crédito

Está noticiado na Folha de hoje, sábado. Em reunião com empresários do setor industrial, em que não estiveram presentes, mas se fizeram representar os ministros do Desenvolvimento Industrial e Ciência e Tecnologia, respectivamente, Fernando Pimentel e Aloísio Mercadante, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho recomendou aos empresários que pressionassem o governo para promover mudanças na política cambial.
Segundo a Folha, Luciano destacou que, por força da necessidade de controle da inflação, especialmente vinda de fora para dentro de carona nos preços de commodities, o govern o estaria deixando nossa moeda se valorizar perigosamente, o que poderia decretar perdas significatiivas para a produção industrial nacional.
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Não fosse a declaração feita por um importante membro da equipe econômica do governo Dilma, o que dá  margem a uma série de especulações quanto à existência de possíveis rachas no seio do governo, a declaração não traria mais que o óbvio.
Aqui mesmo nesse blog, em várias ocasiões já mencionamos que a elevação dos juros, patrocinada pelo COPOM, atrairia para nosso país um volume elevado de capitais externos que redundariam em elevação do valor do real e queda do dólar, com efeitos nefastos para nossa conta de transações correntes, nossa indústria, nossa produção e o nível de emprego e as taxas de crescimento, mas evidente efeito benéfico sobre a inflação.
Se, como lembra Luiz Carlos Mendonça de Barros, ouvido em reportagem em que o jornal repercute o assunto, essa política cambial fosse capaz de alcançar o principal vilão dos preços no interior de nossa economia, os preços de produtos não expostos à concorrência internacional, serviços e bens não comercializáveis (escrevi outro dia non-tradeables).
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Então, Luciano nada afirmou que não seja de conhecimento público, a respeito de uma certa tolerância maior do governo em relação à valorização do real. Tolerância que, mesmo em tese não sendo tida como uma medida correta de política econômica, acaba sendo reconhecida como talvez a opção mais viável, no momento e dadas as circunstâncias, de não permitir que os preços elevados de matérias primas internacionais joguem mais combustível na fogueira dos preços ardentes aqui no Brasil, por economistas do porte de um Belluzzo ou de um Reinaldo Gonçalves.
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Exortar aos empresários a pressionarem o governo a ficar atento ao câmbio, ou a tomar medidas destinadas a compensar a desvalorização do dólar, menos que mostrar uma divisão interna no governo, mostra apenas a visão de um economista que sempre esteve voltado menos para os interesses do mercado financeiro e mais para a defesa daqueles que geram a riqueza e a produção real do pais.
Nesse sentido, inclusive não há que se falar em divisão, quando o próprio Mantega, também em evento noticiado pela Folha, fala abertamente que, embora essa valorização do real  fosse uma política possível, não é a política de combate à inflação que o governo vem adotando.
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Mantega respondia a Maílson da Nóbrega, que depois que nada fez como Ministro da Fazenda (no período Sarney, quando se notabilizou por adotar a política do arroz com feijão, ou o" não fazer nada para ver como é que fica") foi atuar no mercado financeiro, de onde volta e meia emite opiniões como a de que o governo deveria deixar o dólar virar poeira, para usar as importações tornadas baratas como arma contra a elevação de preços.
Ora, ligado ao mercado financeiro, não há como cobrar de Nóbrega outra postura.
E a sua estapafúrdia sugestão, Mantega já deu resposta. Que coincide com a idéia de Luciano.
Mas, nada como o mercado financeiro tentar jogar numa possível divisão, para enfraquecer autoridades e, desestabilizando-as, conseguir capturar e trazer essas autoridades para rezar por sua cartilha.

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