Primeiro
foram os índios
Os
negros de Palmares
Os
homens do Conselheiro
Os
jagunços cangaceiros
Do
bando de Lampião
Seguiram-se-lhes
os comunistas
os
estudantes, os padres, os seminaristas
que
arrastados aos porões da ditadura
acusados
de subversivos
desceram
ao inferno das salas de tortura
de
onde poucos conseguiram sair vivos.
Enquanto isso, nas delegacias
especializadas
criminosos comuns tornavam-se notícia
manchetes de jornais que sem assunto
Sob os olhares complacentes da polícia
Anunciavam o surgimento de outro presunto
Depois
vieram os pivetes da praça da Sé
Os
sem terra do Pará
O
triste destino, do sono de morte, do índio Galdino
Junto
à chacina do dia-a-dia
em
que o cidadão comum perde a vida
só
por estar na hora errada
no
trajeto de uma bala perdida
Agora, na
zona central da cidade
à noite, quando a rua está
vazia
repete-se o grotesco
espetáculo
assiste-se a outra cena de
horror
o covarde massacre dos
sem-teto
dos sem direito e sem
dignidade
gente sem vida e sem alegria
refugiados sob um ralo
cobertor
na esperança de se proteger
da noite fria
E
na calada da noite em que se perpetra o crime
E
enterramos a esperança de uma sociedade solidária
O silêncio ou o choro que emitimos
Tem
como causa a perda de outra batalha:
não
conseguirmos nesta Olimpíada
Quebrarmos
nosso recorde de conquista de medalhas.
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