quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A propósito de recordes


Primeiro foram os índios
Os negros de Palmares
Os homens do Conselheiro
Os jagunços cangaceiros
Do bando de Lampião
Seguiram-se-lhes os comunistas
os estudantes, os  padres, os seminaristas
que arrastados aos porões da ditadura
acusados de subversivos
desceram ao inferno das salas de tortura
de onde poucos conseguiram sair  vivos.
            Enquanto isso, nas delegacias especializadas
criminosos comuns tornavam-se notícia
manchetes de jornais que sem assunto
Sob os olhares complacentes da polícia
Anunciavam o surgimento de outro presunto
Depois vieram  os pivetes da praça da Sé
Os sem terra do Pará
O triste destino, do sono de morte, do índio Galdino
Junto à chacina do dia-a-dia
em que  o cidadão comum perde a vida
só por estar na hora errada
no trajeto de uma bala perdida
                                   Agora, na zona central da cidade
à noite, quando a rua está vazia
repete-se o grotesco espetáculo
assiste-se a outra cena de horror
o covarde massacre dos sem-teto
dos sem direito e sem dignidade
gente sem vida e sem alegria
refugiados sob um ralo cobertor
na esperança de se proteger da noite fria
E na calada da noite em que se perpetra o crime
E enterramos a esperança de uma sociedade solidária
O  silêncio ou o choro que emitimos
Tem como causa a perda de outra batalha:
não conseguirmos nesta Olimpíada
Quebrarmos nosso recorde de conquista de medalhas.

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