terça-feira, 18 de março de 2014

Copa do Mundo, pátria de chuteiras e uma seleção nacional descaracterizada

Qual o significado de uma Copa do Mundo com seleções nacionais de futebol, depois que os times participantes contam com jogadores vindos de vários outros lugares?
Não discuto o direito de qualquer pessoa escolher a nacionalidade que queira ter. Afinal, se não podemos escolher a família a que pertencemos, o lugar, a nacionalidade nem a época em que nascemos, ao menos em relação à nacionalidade ainda podemos tentar promover alguma mudança, aproximando a realidade de nossos sonhos ou desejos.
Assim, não acho nada absurdo que um jogador como Diego Costa queira se tornar cidadão espanhol, e assuma a nacionalidade do país que o acolheu e lhe deu tudo aquilo com que ele sonhava e não teve a oportunidade de conquistar em seu país de origem.
Também, cada vez mais ocorrem situações como a de Thiago Alcântara, o filho italiano de Mazinho que, por esse mesmo motivo é considerado um cidadão de dupla nacionalidade.
Aqui nesse caso, vale uma reflexão: que diferença significativa há entre o indivíduo que opta por uma nacionalidade e outro que opta pela nacionalidade de seu filho, muitas vezes, levando em conta questões como o fato de o filho ser um cidadão de um país de primeiro mundo, mais desenvolvido, ou de um outro, considerado da periferia do mundo?
E quantas vezes, já não ficamos sabendo de casos de pessoas que preferem, pelos motivos mais variados, alguns até mesmo ligados à questão de segurança pública e violência, mudar de armas e bagagens para outro país, com a intenção de constituir família, construir sua vida e adotar como domicílio definitivo?
***
Todas essas considerações que faço pretendem apenas retomar a questão que Juca Kfouri levantou no final de semana, a respeito do significado de um campeonato nacional de seleções, quando as nacionalidades estão tão embaralhadas.
Está certo que, para regular um pouco a questão, evitando abusos,  a Fifa proíbe que um jogador, mesmo que tenha assumido nova nacionalidade, possa competir pela seleção do novo país, caso já tenha participado anteriormente de competição oficial defendendo outra bandeira.
Tal medida serve para impedir que uma seleção poderosa tivesse a ideia de contratar a peso de ouro os melhores jogadores do mundo em cada posição, formando um time imbatível.
Situação que lembra muito as peladas que disputávamos nos intervalos de aula, no Colégio, em que em um par ou ímpar pra lá de manipulado, acabava permitindo que um dos times fosse formado pelos melhores atletas, que depois que iniciavam a brincadeira,  só saiam de quadra ao final do horário.
A experiência entretanto indica que, mesmo na época de escola, a formação de um time imbatível não era capaz de assegurar a invencibilidade em 100% das vezes. Afinal, como diz o ditado popular, o futebol é uma caixinha de surpresas, e às vezes, o Imponderável de Almeida acabava escalado para jogar no time contrário, que mesmo mais fraco, acabava tirando da quadra o "dream team".
***
Mas, ainda assim, acho que esse é um tema que deveria ser mais explorado, bem mais discutido por nossa imprensa, já que nos permite chegarmos à conclusão de que a seleção, qualquer que ela seja,  está longe de se tornar a pátria de chuteiras, se é que já foi em algum momento.
E pensar que já houve até guerra entre países, provocada por disputas vinculadas à disputa dos jogos da fase de eliminatórias da Copa do Mundo.
Ou que já houve boicotes e/ou ameaças de boicotes aos jogos, por problemas que nada tinham com o futebol, estando mais relacionados a religião, disputa por fronteiras, etc.
Ou análises como a realizada por David Nasser, examinando como o resultado do selecionado canarinho influenciava o grau de otimismo do povo, o que acabava tendo reflexos no panorama político. De forma que, a conquista de uma Copa do Mundo acabava coincidindo com um momento positivo da política do país.
***
Talvez por esse motivo, embora seja voz corrente que na época de Copa do Mundo todo mundo torce, inclusive aqueles que não gostam de futebol ou nada entendem, o que se verifica no meio de alguns torcedores é uma paixão muito maior com seu time que com o destino ou resultado dos jogos da seleção que representa seu país.

Nenhum comentário: