quarta-feira, 16 de abril de 2014

Como o caso Petrobras e a desinformação prestada pela imprensa alimentam a visão de uma lei de controle das comunicações

No mínimo controversas as notícias que a midia continua a repercutir em relação à negociação que envolveu a aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas, efetuada pela Petrobras. Ou no lugar de negociação seria mera negociata?
De minha parte, continuo considerando-me incompetente para abordar a compra em si, sua motivação e principalmente os valores envolvidos. Afinal, ao contrário do que deveria ser o seu papel em uma situação como a que envolve nossa principal empresa nacional, a imprensa está mais a serviço da desinformação que de procurar desvendar e esclarecer os fatos.
Senão vejamos, embora tudo que eu vá comentar aqui, já foi objeto de considerações minhas em outra postagem.
Como todos sabem, essa espécie de negociação, que envolve inclusive parcerias internacionais, devem sempre ser realizadas com a participação de grupos de consultoria e negócios, responsáveis pela análise tanto da compra em si, como também da questão da avaliação. Em geral, e quero crer que no caso da Petrobras em especial, a contratação de tais escritórios deve se sujeitar a algum tipo de concorrência ou licitação, inclusive de caráter internacional. E, em geral, mais de uma empresa. 
Bem, no caso da compra de Pasadena, parece-me que foram utilizados os serviços de ninguém menos que o Citybank e de uma empresa denominada BDO. Digo parece-me porque as referências da imprensa a tais empresas, embora existam são esparsas, e não informam o exato papel de cada uma delas, nem como foram contratadas, nem para que tipo de avaliação, ou seja, silêncio total.
Embora creio que seria um grande esforço no sentido de bem informar e uma grande contribuição para a formação de um juízo melhor de valor da operação, se algum órgão procurasse tais escritórios para ouvir agora sua opinião. 
Pelo que lembro de ter lido, toda a negociação foi recomendada por tais consultorias e escritórios de avaliação. 
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Por outro lado, sabe-se também que a decisão de compra não é atribuição exclusiva da presidenta do Conselho, que é apenas mais um membro daquele colegiado. Talvez com um jeton mais elevado, talvez com mais poderes, e mais visibilidade, mas apenas um voto. Que pode, em razão das circunstâncias ser vencido.
Pois bem, no Conselho da Petrobras, além de Dilma, ministra na ocasião e hoje presidenta da República, tinham assento empresários do porte de um presidente do grupo Abril - esse mesmo da cada vez pior revista Veja, empresários como o presidente do grupo Gerdau, entre outros que a imprensa até foi procurar ouvir. Senão toda a imprensa, ao menos alguns jornais que se pretendem mais sérios.
Do que li da opinião dos conselheiros, todos concordaram em que a aquisição era um bom negócio.
Porque um bom negócio, se o preço pago pela empresa parceira, belga foi de algo em torno de 42 milhões de dólares um ano antes; a Petrobras pagou algo como 300 e tantos milhões, um ano depois e, ao final, quando do desacordo e da entrada em vigor da cláusula prevista contratualmente para dirimir tal desacordo, a empresa brasileira teve de pagar mais de um bilhão pela refinaria?
Que justificativas podem haver para tamanha elevação de preço de  uma companhia, exceto alguma maracutaia?
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Quem sabe a resposta não estivesse nas explicações de Gabrielli em depoimento sobre a operação, ele que era presidente da Petrobras à época. Depoimento que, embora noticiado, não mereceu mais análises, mais investigação para que os noticiários pudessem confirmar e corroborar ou desmentir as informações ou desculpas do petista.
Ora, o que Gabrielli afirmou é que os preços estão todos falseados,  já que as cifras incluem, além das instalações, o valor dos estoques de barris de óleo, que como todos devem imaginar, variam com o preço do produto no mercado internacional. 
Os números apresentados pelo ex-presidente da empresa mostram valores tão destoantes daqueles que dão origem às teses de roubalheira que, no mínimo, mereceriam mais análise. Até para que o mentiroso fosse punido, caso constatado que afirmava inverdades.
Nada disso a imprensa fez.
Ao contrário, fica é afirmando que a gestão atual fez a companhia ser vítima de mais de uma perda de seu valor de mercado. 
Que valor de mercado é esse, que usam como parâmetro? O preço das ações em dado momento, que poderiam estar superavaliados em relação ao valor real da empresa? O que justificaria que o valor das ações se acomodassem em patamares mais baixos?
E tal preço é o mais confiável para uma avaliação e um julgamento do tipo que está sendo feito, considerando-se que a Bolsa brasileira está enfrentando um período de queda de cotações geral?
Ou tal queda, que é geral e atinge indistintamente a todos os papéis e cuja explicação guarda relação inclusive com a prometida mudança da política monetária nos Estados Unidos, já foi descontada da baixa de preço das ações da Petrobras?
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Parece que querendo apenas tumultuar e não informar corretamente ao público, talvez porque o assunto por ser técnico não venda jornais, a imprensa optou por dar destaque a uma possível contradição entre a afirmação de Dilma, de que não teria aprovado a realização da operação caso estivesse ciente de todos os detalhes e condições do negócio, e a da atual presidente da empresa Graça Foster e do ex presidente, para quem a operação seria recomendada por ser estrategicamente interessante para a companhia.
Com quem estaria a verdade?
Dilma estaria mentindo? Ou Graça Foster?
Nessa linha, um jornalista como Boris Casoy, cada vez mais interessado em fazer política a favor de interesses pessoais que em dar informações, aparece todo satisfeito, ao informar que, ao menos ontem, no depoimento prestado na Câmara, a presidente da Petrobras já voltou atrás, e acertou sua versão com a de Dilma, dando força à opinião da primeira mandatária do país. 
Como se Foster, influenciada por Dilma mudasse sua versão apenas para agradar à chefa.
Ora, será que Foster é tão insignificante a ponto de sua opinião não merecer mais exame? Será mesmo que ela disse aquilo que foi interpretado por essa imprensa marrom, não por levar dinheiro mas marrom de sujeira?
Posso estar enganado, mas o pouco que foi mostrado nos noticiários é que ela admitiu que um negócio que teve perdas reconhecidas em balanço de mais de quinhentos milhões não pode ser considerado um bom negócio. Foi um péssimo negócio, claro.
Agora, depois de anos de a decisão ter sido tomada. 
Mas, não é assim que funciona o capitalismo e as decisões empresariais, segundo o economista considerado dos maiores economistas do século XX, Lorde Keynes?
Não foi Keynes quem afirmou que os empresários tomam decisões à luz de expectativas que formam e que podem se mostrar completamente equivocadas, depois de algum tempo?
Ou nenhum empresário nunca quebrou por acreditar que um negócio seria lucrativo e depois as circunstâncias e as hipóteses que alicerçaram seu palpite não se mostraram infundados?
Dizer que a compra foi um erro agora, nos dias de hoje, significa que teria sido possível ter formado opiniões diferentes, positivas há anos atrás, quando da tomada de decisão?
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Infelizmente a imprensa está mais a favor de seus interesses próprios, que implicam inclusive em criar um ambiente que favorece a um candidato ou a um partido ou a um conjunto de interesses de um grupo social, que cumprir seu papel de prestação de serviço de utilidade pública. Ou seja, destinado ao público e à formação da consciência pública. 
Uma pena. Porque cada vez mais alguns vão começar a dar razão aos que pregam a necessidade de o interesse maior do povo ter que ser resgatado, o que irá conduzir inevitavelmente à proposta de controle dos meios de comunicação. 
O que, desde já, não pode ser confundido com restabelecimento de censura, o que o diga a existência de legislação do gênero em um país de tradições tão liberais como a Inglaterra. 
Embora, também aqui, a midia marrom de tão suja com pau de galinheiro irá gritar que está sendo censurada. 

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