segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A venda de Tardelli, o que o Galo precisa e os juros altos no Brasil

Sejam 5,5 milhões de euros, ou pouco mais, a verdade é que o Galo perde um jogador referência e, por isso mesmo, importante para a disputa dos torneios que temos pela frente esse ano. A começar pela Libertadores, torneio para o qual a primeira fase do Mineiro é sempre um bom preparativo; a etapa de finais do Mineiro, desde que o time assegure a classificação e, principalmente, se o Cruzeiro também se classificar, caso em que torna-se uma obrigação a conquista do título; o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil, campeonatos que exigem um plantel maior e mais qualificado.
Entenda-se: qualificação não em termos de capacidade técnica apenas, mas também de experiência, malícia, catimba, especialmente para avançar na Libertadores.
Mas, além da grana que ajuda a tirar o Galo do sufoco, permitindo acertar a situação de pagamentos atrasados dos jogadores, não há como criticar a conclusão das negociações: afinal, Tardelli já tinha dado sinais evidentes de seu interesse em sair do Atlético.
E não há como criticar esse desejo, que representa a confirmação da independência financeira para o atleta que, como qualquer trabalhador, tem todo o direito de buscar melhorar sua remuneração.
E, atleta insatisfeito, como qualquer outro profissional, acaba vendo reduzida sua produtividade, principalmente quando a atividade exercida envolve doses elevadas de criatividade, inventividade, entrega física e emocional.
E é bom deixar claro que não se trata de uma reação de pirraça, de fazer corpo mole por ter sido contrariado em sua vontade, embora alguns jogadores possam até enfrentar esse dilema. Mas, por não se sentir devidamente valorizado o que, mesmo que inconscientemente, suga sua energia e afeta sua confiança e sua disposição.
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Com Tardelli, atleticano confesso, não seria diferente. Ainda mais quando sua esposa, que segundo comentários manifestava  vontade de voltar a morar no exterior, começasse a dar demonstrações de insatisfação, o que é capaz de minar a tranquilidade de qualquer pessoa normal.
Assim, que Tardelli encontre lá fora o sucesso de que é merecedor, e possa conquistar seus sonhos.
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Por outro lado, virada a página de mais essa passagem vitoriosa de Tardelli, cabe agora a Levir fazer um verdadeiro trabalho de análise dos recursos com que conta, para poder enfrentar os desafios grandes que terá pela frente.
Levir está consciente de que a Libertadores depende não apenas da vontade, da garra, da disposição, da juventude e entrega, da qualidade técnica que certamente existe no elenco. Ele sabe que dadas as circunstâncias que cercam jogos, as condições de campos, os locais e a presença até ameaçadora das torcidas, e principalmente as arbitragens é fundamental contar também com jogadores experientes, capazes de peitarem o juiz, se necessário. Capazes de fazerem catimba e levar o adversário à irritação. Um jogador capaz de dar bronca nos seus companheiros e, se necessário, até pegar a bola debaixo do braço, e de cabeça erguida mostrar que não está derrotado e ser capaz de levantar o moral do grupo. Um jogador malandro, capaz de cadenciar o jogo, e fazer a bola rolar de pé em pé, ou então dar o chutão candidato a ganhar o prêmio do "leitão" do jogo. quando necessário.
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Pode ser que tal jogador já esteja no clube, e já faça parte do elenco do Galo, podendo tanto ser o Guilherme, ou Maicosuel, ou mesmo Pratto. Mas, a par da grande qualidade de futebol de todos eles, não consigo imaginar esse papel de liderança sendo exercido por qualquer um deles.
E esse é o meu temor. Acho que falta alguém para chamar a responsabilidade e fazer virar o jogo.



Porque os juros do crédito bancário são tão elevados?

Já há algumas semanas a Folha de São Paulo tem publicado, aos domingos, no caderno Mercado, uma série denominada "Questões Brasileiras" contemplando artigos, voltados a discutir temas econômicos, cuja solução passa por um debate mais amplo por parte de toda a sociedade. Temas como os motivos de o desemprego não estar se elevando, mesmo com a economia estando estagnada; ou a discussão da necessidade de uma reforma de nosso sistema de Previdência, que aborda a espinhosa questão da diferença de critérios de aposentadoria, em razão da diferença de gêneros, dentre outros.
No artigo publicado no dia de ontem, o professor do Insper, Marco Bonomo, abordou a questão das elevadas taxas de juros cobradas pelos bancos em suas linhas de crédito, tomando a cautela de diferenciar o segmento livre, em que as taxas são as de mercado, em contraposição ao segmento de crédito direcionado, que obedece às taxas estabelecidas pelo governo.
Conforme dados apresentados, a taxa média de um empréstimo á pessoa física ao final de 2014, era de 44% ao ano, o que revela uma taxa superior à inflação de 35% ao ano.
Para estabelecer as razões de taxas tão exorbitantes, o professor propõe que se divida a taxa em dois elementos: a taxa de juros básica, a Selic, que fixa o nível da taxa de captação ou o custo de financiamento dos bancos, e que é uma da mais elevadas do mundo. E, um segundo elemento, que é o "spread" bancário, ou a diferença entre o que o banco cobra e o que ele paga a título de "funding".
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O economista inicia mostrando que, pela moderna teoria monetária, o nível da taxa básica deveria flutuar em torno da taxa neutra, que é a que faz a demanda agregada igualar-se ao produto potencial da economia, considerada uma taxa natural de desemprego.
Para o professor, nossa taxa neutra é muito elevada, o que obriga à elevação da Selic, para que uma situação de agravamento da inflação seja evitada.
E, como razão para a manutenção em patamares tão elevados da taxa neutra, o professor propõe "a impaciência dos nossos consumidores, o que se traduz numa baixa propensão a poupar".
E porque o consumidor brasileiro não poupa?
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Bonomo regressa no tempo, ao período da experiência inflacionária do país, para alegar um "risco na atividade de poupar", seja pela experiência de retornos incapazes de superar a inflação, antes da existência do instituto da correção monetária, seja por que os índices de correção eram manipulados, seja ainda por consequências do confisco da era Collor.
A essa percepção o articulista agrega outra: o paternalismo do Estado e sua criação de mecanismos de poupança forçada e benefícios pré-estipulados, que levou a uma acomodação por parte da população.
Por fim, é aventada a contribuição do baixo nível de educação financeira da população, o que não é de se estranhar para uma população carente até mesmo da educação básica.
Como não poderia deixar de cutucar, de passagem, o economista acrescenta dois fatores conjunturais: a deterioração da política fiscal e a queda de reputação do Banco Central.
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Engraçado. Em meu raciocínio limitado, se comparado ao do professor, e lembrando-me das aulas de macroeconomia keynesianas mais básicas, sempre aprendi que a poupança é o resíduo. O que sobra da renda, depois de feitos os gastos de consumo da pessoa ou de sua família. Conforme a definição mais aceita, poupança é o não consumo.
Para alguns, não é o ato ou decisão autônoma do agente. Mas o que lhe resta da renda depois de assegurada sua sobrevivência.
Para Keynes, a poupança seria determinada pelo nível de renda. E esse seria o principal fator, inquestionavelmente o fator mais importante de quantos forem apresentados.
Ora, em um país em que o número de pessoas vivendo em estado de miséria absoluta era um assombro e merecedor de críticas de organizações tão consideradas como o Banco Mundial, ao menos até o início da gestão de Lula e seus programas de assistencialismo e bolsas, é difícil ver como o risco da poupança pode se fazer presente. Risco muito maior é o de se alimentar, já que para quem não tem nem o quanto necessário para poder fazer uma refeição decente, comer pode ser uma agressão ao estômago atrofiado.
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E, depois dos programas assistencialistas a que o professor deve, em parte, atribuir ao menos parcialmente alguma culpa pelo fator conjuntural da deterioração da política fiscal do governo, pessoas que nunca tiveram acesso a bens tão triviais para nós outros, passaram a consumir mais, não por serem perdulários, mas por carência de anos e anos em que nada tinham e, por isso, mal acostumados com a poupança forçada que o governo lhes impunha.
Faça-me o favor. Culpar mais de 45 milhões de brasileiros, quase uma França, que finalmente e a duras penas conseguiram uma inserção no mercado de consumo, por estarem gastando em excesso, por falta de educação financeira seria  cômico, não fosse a discussão de até que nível o humor pode chegar. Para não se transformar em tragédia.
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No tocante ao "spread" os argumentos do economista são todos corretos, talvez com mais peso para alguns que outros, algumas ponderações de relevância distinta da que o professor parece atribuir, considerando-se a posição do fator no texto.
A elevada concentração do sistema, uma das maiores razões, o professor expõe em último lugar, embora seja forçado a considerar a necessidade de políticas que incentivem a competição. Mas, aqui, apenas sugere a utilização do cadastro positivo, e à medidas de portabilidade, criticando a utilização dos bancos públicos e sua força concorrencial para quebrar o poder de mercado dos grandes bancos privados.
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Aborda a questão da inadimplência, que faz os bons pagadores pagarem pelos maus; trata do compulsório elevado, sem remuneração;  menciona o imposto indireto IOF; e critica as operações do segmento do crédito direcionado, que atendem a atividades como financiamento agrícola, ou da habitação. Ou seja, ao ajudar as populações com menor capacidade de suportar os riscos de seu negócio, como o rural, os bancos compensam ou desforram as taxas menores que são forçados a cobrar nos créditos do segmento livre.
Ao que parece, o autor do artigo, concorda com esse comportamento dos bancos.
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Fica muito clara a ideia por trás e quais os agentes econômicos que são o alvo de preocupação do autor do texto.
E não é ao povo inculto e bárbaro certamente que suas atenções se voltam.
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Melhor o texto do professor Belluzzo, no Valor da semana passada, comentando em entrevista que Dilma capitulou ao mercado.
Não houve nem traição nem estelionato, Apenas e tão somente, capitulação.
Desse texto podemos tratar amanhã ou outro dia, mas já pinço duas citações, que reproduzo:

"Valor: O sr. e um grupo de economistas de perfil heterodoxo assinaram manifesto em apoio à Dilma, que dizia que a população desaprovava políticas que afetavam os trabalhadores.
Diante da política econômica atual, o sr. se sente traído?
 Luiz Gonzaga Belluzzo: Não considero uma traição e sim, submissão.

Ela capitulou diante das pressões do mercado, assim como os líderes europeus e uma parte do PT."

E: 

"Valor: E o que fazer? 
Belluzzo: Com certeza, dá para dizer o que não fazer: um ajuste fiscal dessa magnitude. Porque querer reequilibrar a economia com um superávit fiscal quando ela está em recessão parece um desatino.
Isso para não falar dos problemas da Petrobras e das empreiteiras."

OU ainda:

"O que está na cabeça "deles" é tentar reequilibrar a economia com o aumento da poupança do governo. Acho que vai ser a maior prova de que essas teorias da poupança não funcionam: não é possível poupar com renda em queda. Mas eles precisam justificar o fato de que é a poupança que financia o investimento, o que é uma brutalidade. Todo mundo sabe que numa economia moderna quem financia o investimento é quem adianta os recursos líquidos.
E eles vêm com essa história da poupança. É um misto de estupidez com picaretagem. Para eles, o cara enriquece porque poupou.
Não, o cara enriquece porque investiu, produziu para enriquecimento dele e da sociedade. Quem poupa subtrai da renda e reserva isso como riqueza privada. O Keynes tinha horror a esse negócio."

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Um comentário:

Anônimo disse...

brasileiro nao poupa pois tem casa propria?