segunda-feira, 16 de março de 2015

Domingo de manifestações, jogão do Galo e Colunas e definições completamente distorcidas

Não há como começar nosso comentário sem tratar do movimento, popular e pacífico, que tomou conta das ruas e praças das principais cidades e capitais do país. No dia em que se comemorava os 30 anos de aniversário da volta da democracia, que havia sido aprisionada por 21 anos de governos militares, caracterizados pela violência, abusos, corrupção e autoritarismo, a população deu uma manifestação inegável de civismo. Coisa rara de se ver em nosso país.
Aqui em nossa BH, já desde cedo a rádio Itatiaia transmitia da Praça da Liberdade e suas proximidades, relatando a chegada de pessoas de todas as idades, de todos os lugares, famílias inteiras portando bandeiras e cartazes de 'Fora Dilma', 'Fora PT' e, mais importante, 'Abaixo a Corrupção'.
Pelo que falaram ao longo do dia, perto de 30 mil pessoas se deslocaram, em uma manhã que começou de céu aberto e foi tomando um aspecto nublado, sem conseguir tirar o ânimo e alegria de tantos quantos foram às ruas protestar.
Nas ruas e avenidas, carros portando bandeiras do Brasil e integrantes de camisas verde e amarelas passavam buzinando, vez por outra bradando contra o governo. 
Foi assim, especialmente na Avenida Senhora do Carmo, no cruzamento com avenida Uruguai, caminho que liga o Belvedere e parte do Santa Lúcia, São Bento, Sion, à praça, local da manifestação.
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Quanto àqueles que, por vários motivos não tinham interesse em participar ativamente da manifestação, assistiam de longe e em silêncio à passagem dos carros que tentavam puxar um buzinaço. Algumas vezes, apenas levantavam os dedos, em sinal de apoio, e seguiam seu trajeto e suas vidas. 
Fora dos caminhos que conduziam à Praça da Liberdade, eram raros, muito raros, os carros que passavam buzinando, em uma forma de apoio isolada.
Na Praça JK, no Sion, pessoas idosas faziam caminhadas, pais acompanhavam as crianças menores em brincadeiras de futebol, ou as ensinavam a dar as primeiras pedaladas nas bicicletas com rodinhas, ou a darem os primeiros passos, e levarem os primeiros tombos, dos patins.
Na área destinada ao encontro dominical de cães de todas as raças, os animais corriam soltos, sem coleiras, fazendo festa entre os donos.
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Enquanto isso, não sei o que se  passava na Praça, embora tenha ouvido dizer que foi uma manifestação ordeira.
Pelo que ouvi, pelos noticiários vespertinos, não houve os discursos inflamados de políticos, que sempre foram a marca das grandes manifestações e comícios a que estive presente. 
Também, não existem hoje oradores da capacidade de emocionarem e arrastarem multidões, como foram Brizola, Tancredo Neves, Ulisses, Pedro Simon, e tantos outros que puseram fogo no movimento em favor das Diretas Já, na Avenida Afonso Pena, próximo à Estação Rodoviária.
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Também pelo que noticia a Folha, o movimento impediu a realização de qualquer discurso de político, mais preocupado em apoderar-se e capitalizar em proveito próprio, das bandeiras dos protestos. Pelo que informa a Folha, foi assim com Paulinho da Força, em São Paulo e com Bolsonaro.
O que me leva a concluir pela completa falta de capacidade de ler e entender o que estava se passando: um grande protesto contra toda a política. Contra todos os políticos.
Nada contra a democracia. Muito pouco de apelo autoritário, de fechar Congresso e prender políticos. Menos ainda, já que uma minoria, querendo a volta dos militares. Talvez apenas para trocar os corruptos ou sua indumentária, substituindo o traje civil pelo de campanha.
Porque só quem não viveu, não quer ver, ou não quis se informar, ou não deseja saber das coisas, pode mesmo acreditar que não houve corrupção e corruptos no período trágico da ditadura militar.
Houve. E foi pior. E foi acompanhada pela censura.
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Enfim, foi um dia em que ficou clara para mim, a fadiga de material que acometeu toda a política. Todos os partidos, sem exceção. Todas as esferas de governo. E, principalmente o PT, em minha opinião, não por ser o pior ou único corruptível dos partidos existentes, mas apenas por ser o que responde pelo exercício do poder e por ser, quem vem respondendo por esse exercício nesses últimos 13 anos. 
O que convenhamos, é tempo suficiente para deixar qualquer pessoa ou agremiação completamente exposta.
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E o Galo começa a se ajustar

Mais tarde, no mesmo domingo, pudemos constatar como que uma ou duas peças são importantes para dar outra configuração a todo um conjunto. 
Falo da volta ao time do Galo do melhor lateral direito em atividade no país, Marcos Rocha, o que não deve ser surpresa alguma para quem já me ouviu fazer comentários do time do Atlético. Afinal, nunca escondi minha preferência por Marcos Rocha, a quem sempre fiz questão de defender. 
Mas, não foi apenas o lateral que retornou ontem, dando outro ritmo de jogo ao time. 
A volta de Lucas Pratto também deve ser festejada, principalmente por transmitir a certeza de que, agora, lá na frente, há um jogador que, mesmo não sendo um centro avante fixo, sabe atuar no meio da área, enfiado e incomodando a defesa adversária. Mais que isso, há um jogador que sabe voltar para receber a bola, e abrir o jogo, em função de sua visão do que está acontecendo em campo.
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A volta de Pratto na frente, e Marcos Rocha na lateral, conseguiram dar outra dinâmica ao time do Galo, razão que permitiu o crescimento do futebol de Luan, eleito pela imprensa esportiva o melhor em campo.
Mas, se não foi dado destaque a sua participação em campo, para mim, o jogador que fez realmente a diferença foi Josué. Infinitas vezes melhor que Donizete, embora cometendo tantas faltas quanto o considerado titular.
Apenas que ao contrário de Donizete ou Pierre, Josué comete faltas com uma carga muito menor de agressividade, o que permite evitar cartões e a preocupação de Levir,  com um cabeça de área sempre amarelado.
Quanto aos passes, e à saída de bola, a diferença entre ambos é tão gigantesca, que impossível fazer qualquer comparação.
Josué deu tranquilidade e fez o futebol da defesa ficar mais seguro. Sem errar passes à frente da área, deixou todos menos preocupados em ficar marcando o próprio companheiro. E permitiu ainda que Rafael Carioca pudesse jogar com liberdade.
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Mesmo sabendo que o time da URT é muito fraco, e mostrou um futebol de pouca qualidade técnica, Josué, na minha opinião, o melhor. Luan, Marcos Rocha e Pratto foram uma grata presença em campo. E uma esperança para o jogo dificílimo e decisivo, contra o Santa Fé, na próxima quarta.
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Estelionatos eleitorais e outros tipos de estelionatos

Foi Paul Davidson, famoso economista e professor americano, da corrente pós-keynesiana que disse certa vez que alguns economistas vencedores de premiações, como o Nobel de Economia, mereciam mais o prêmio de estelionato intelectual.
Lembro-me desse episódio, em razão do artigo de ontem, na sua coluna do caderno Mercado, da Folha, de Samuel Pessôa.
Pois, o professor do Insper resolveu abordar, na coluna de ontem, o estelionato intelectual de Dilma, começando por determinar que estelionato intelectual é uma definição que se aplica à questão das contas públicas e sua desordem. 
Logo, a presidenta mentiu ao dizer que as contas estavam todas em ordem e que a situação fiscal do governo era boa. Eleita, e em reconhecimento de que seu discurso visava apenas agradar a população e ganhar votos, adotou as medidas de arrocho necessárias para reduzir o rombo das contas orçamentárias.
Comparando esse comportamento, com o que foi adotado por Fernando Henrique, em meados de 98, deixa claro e até transcreveu trechos de discursos feitos por FHC, ainda em campanha, afirmando que teria que adotar medidas fiscais duras. 
Logo, FHC não cometeu qualquer estelionato. Apenas Dilma o fez. 
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Timidamente e envergonhado, ao término de sua coluna, até reconhece que alguns falam de estelionato cambial, aplicado por FHC, procurando justificar o que o candidato à reeleição fez. 
Afinal, como diz o professor colunista, ninguém que atua com câmbio fixo, pode dar a entender que irá mexer no câmbio. Aqui ou lá fora. E dá a entender que isso é que dá sustentação ao câmbio fixo, de forma a evitar corridas contra a moeda. 
Logo, FHC não podia dar declarações contrárias às que emitiu, em 1998, antes da reeleição. E, por isso, embora alguns até achem que ele cometeu estelionato sim, Pessôa, o absolve.
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Usando tais argumentos, ocorre-me apenas, a frase de Davidson. 
E pior, há certas pessoas que nem percebem que estão cada vez mais perto de, com argumentos desse tipo, completamente distorcidos e imparciais, se tornarem mais um dos vários espertalhões que infestam nossa sociedade, com risco de jogar fora sua própria carreira ou reputação. 

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