quarta-feira, 25 de março de 2015

Quem precisa de oposição quando um partido anão (em dignidade) é que é maioria no Congresso?

Convenhamos que ter como aliado um partido como o PMDB é o mesmo que governar com a oposição.
Porque a sede de poder desse partido-busão é tão grande que se for necessário criar uma crise por dia, para não dar tranquilidade ao governo, ameaçando-o permanentemente com a ausência tão temida da governabilidade, ele o fará.
Que distância, quilométrica, para o partido que um dia foi o depositário de todas as esperanças das forças democráticas do país, ainda sem o P à frente da sigla. Quando, embora consentida, era um capaz de fazer uma oposição que podia se vergar,  mas não se quebrava.
Oposição que tinha a altivez como característica, o que valeu, por exemplo, a decisão de não autorizar a abertura de processo contra um de seus deputados, Márcio Moreira Alves, o que valeu a decretação do AI-5.
Oposição que, para ter condições de acesso à mídia e aproveitar a oportunidade de denunciar os abusos do poder autoritário e especialmente as agressões aos direitos humanos e as torturas que aconteciam nos porões da repressão, lançou candidatos à presidência, como o general Euler Bentes Monteiro, e até anti-candidatos, como Ulisses Guimarães, pessoas que colocaram a própria vida em risco.
Partido que tinha nomes da estatura de um Nélson Carneiro, Paulo Monteiro de Barros (o Arthur da Távola), Saturnino Barros, Franco Montoro, Mário Covas, Severo Gomes, Marcos Freire e o saudoso menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela, além de um Itamar Franco ou de um Tancredo Neves.
Partido que foi perdendo, aos poucos, todo e qualquer decoro, toda decência, atento à máxima de seu líder Robertão Cardoso Alves, quando da Constituinte de 88, apropriando-se da frase de São Francisco, de que é dando que se recebe.
Partido agora entregue às mãos de um Eduardo Cunha, de folha corrida da qual é melhor sair correndo para distante. De um Renan, mais uma dessas pragas políticas que devemos creditar ao período collorido do poder.
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Enfim, o que esperar de um partido que renega seu passado, suas páginas de luta e glória, para tornar-se meramente um bando de achacadores, 300 ou 400, em contagem imprecisa do ex-ministro Cid Gomes. Vários deles, remanescentes dos 300 picaretas de Lula. Exatamente esse Lula que prega hoje a maior aproximação do governo dos integrantes desse grupo de homens dispostos a adotarem as práticas mais espúrias, tão somente para criar o caos. E poderem, muitos cargos e ministérios e diretorias de estatais muito poderosas depois, garantir a votação capaz de assegurar a governabilidade.
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Que o PMDB tenha conduta de partido de oposição, nada a questionar. Desde que largue o osso.
Que queira assumir o poder, levando a presidenta Dilma ao isolamento completo, nada contra. Apenas a curiosidade de saber porque nunca decidiu concorrer como cabeça de chapa à eleição para o cargo mais importante do país, admitindo sempre ficar em segundo plano. Atrás do cenário, de onde tem condições mais favoráveis para observar todo o palco, a platéia e fazer o jogo que mais favorece ao interesse individual do projeto de poder de seus líderes.
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E é bom esclarecer que todo esse pitaco não tem a preocupação de criar condições de governabilidade para a presidenta Dilma, que já provou, em inúmeras ocasiões, que é completamente avessa a qualquer composição. Que não sabe fazer política, não sabe negociar. Razão por ter uma relação conturbada com o Congresso como um todo.
Na verdade, Dilma está colhendo o que plantou. Em todos os sentidos, a começar da mudança de discurso e da guinada radical que protagonizou logo que eleita.
Mudança que, como vários observaram na ocasião, mas já se esqueceram, foi tão abrupta e estranha que causou constrangimentos à própria Dilma. Que passou um bom período fugindo dos holofotes, em mais um de seus desacertos de marketing, ou de respeito ao seu eleitorado.
Então, se a minha preocupação não é em salvar a pele da presidenta, nem resgatá-la da sanha dos seus aliados, o que justifica esse pitaco?
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A resposta é simples. A aprovação da adoção de novo texto legal que altera os índices da correção das dívidas estaduais pode ser muito importante. Parece até que foi uma das mais importantes promessas que Eduardo Cunha fez aos governadores, quando viajou por todos os estados do país, procurando conquistar votos. E note bem: conversando não com os seus eleitores, seus colegas deputados. mas com governadores, prefeitos.
Todos que têm a caneta, em seus estados, para  premiar os deputados amigos, com nomeações de seus indicados e apadrinhados para cargos no governo.
Ora, não é de hoje que se sabe, até pela pressão maior que sofrem da sociedade, que prefeitos e governadores gastam mais. Que Estados e municípios estão mais propensos a não cumprirem as metas orçamentárias.
E justo nesse momento em que todo o governo federal se propõe a fazer um severo ajuste fiscal, aprovar-se a entrada em vigor de um redutor da dívida dos Estados, que vai provocar grande perda de transferência de recursos para a União, é no mínimo, emitir um sinal à sociedade e a todos aqueles analistas que acompanham nosso país e seu comportamento e evolução que o governo não deverá ter condições e força para cumprir o que se propôs.
Não terá condições de organizar suas contas. Não conseguirá dar aos credores externos, a tranquilidade e segurança que eles cobram para manter seus recursos aplicados em nosso país.
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Quem me lê sabe que não sou favorável ao ajuste fiscal no grau de severidade que está sendo proposto. Sabe que acho que entre o interesse da população brasileira, especialmente daquela parcela menos privilegiada, e os interesses dos credores internacionais, sou muito mais favorável à primeira opção.
Sabe que acho que a culpa de tudo isso é também e, talvez mais ainda, do PT, que aceitou negociar as dívidas e até transformar em lei os resultados da negociação com governadores, tudo para poder obter algum apoio eleitoreiro.
Mas, a verdade é que se a medida votada ontem, e o esforço concentrado para que seja aprovada nas duas casas legislativas uma PEC para obrigar o governo a aplicar o novo índice, fosse proposta e fosse fruto de ação da oposição, nada teria a abordar. Se fosse a oposição que estivesse por trás de mais essa derrota do governo, não haveria muito o que reclamar, já que faz parte do jogo.
Mas, sendo de partido aliado, da principal agremiação de apoio ao governo, ao menos o  maior partido da base de sustentação, só dá para entender como uma grande chantagem.
Para conseguir mais cargos, para conseguir mais benesses, para encurralar a presidenta e seus ministros, para mostrar que o governo está nas mãos do Congresso e do partidozinho que o comanda, com suas figuras de liderança anãs.
Ou para jogar mesmo o país no caos, forçando a saída de Dilma e sua substituição por um Temer ou pior, pelo presidente do Senado, caso também Temer venha a aparecer na linha de tiro.
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Pior é que, instalado o caos, nesse caso por culpa exclusiva da goela aberta por cargos, dos integrantes do PMDB, nem a oposição, e muito menos o PMDB conseguirão tirar o país da crise econômica.
A menos que a ação seja muito mais uma jogada especulativa, com a finalidade de causar alguma desconfiança nos agentes econômicos quanto à capacidade do governo de entregar o que prometeu. Sinal de que alguns poderiam correr para retirar desde já seus recursos, o que iria fazer nova onda de majoração do no dólar.
Claro que muita gente, que aposta no pior, melhor, já está comprado em dólar, para aproveitar dessa rebeldia do PMDB.
O que cria um clima sempre e permanentemente instável, mesmo que, conquistados seus objetivos, o PMDB e seus líderes voltem atrás e assegurem ao governo condições de cumprir as promessas refeitas. Até que surja a oportunidade para a fabricação de nova crise.

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