terça-feira, 24 de março de 2015

Economia brasileira recebe selo de qualidade que a mídia e a oposição canhestras insistem em negar

Ao contrário do que temiam as aves agourentas do mercado, a agência de avaliação de risco Standard & Poor's manteve a nota de grau de investimento do país, conforme comunicado emitido ontem, em razão da crença de que a presidenta Dilma e sua equipe conseguirão restaurar a credibilidade do governo.
Alegam também a confiança em que Dilma conseguirá levar avante o programa de ajuste fiscal pretendido, cujas medidas deverão ser aprovadas pelo Congresso.
Ou não.
***
Ao voltar de suas férias, Jânio de Freitas, entre outras questões abordou exatamente essa questão, que é a mesma que já abordamos antes nesse espaço: a oposição, e nem é exatamente a oposição, que na campanha eleitoral tanto pregou a necessidade de uma guinada de direção da política econômica da presidenta, agora que teve suas recomendações atendidas, passa a criticar e ameaçar a aprovação do ajuste.
Pior. Nesse jogo de interesses vis e mesquinhos, em que os interesses do país estão no último lugar da fila, conta com o apoio dos partidos que compõem a base governista no Congresso, embora nessa último caso, menos pelo conteúdo do pacote, qualquer que seja, e mais pelo simples interesse em fazer chantagem.
E, a partir dos achaques, obter cargos e posições, ainda em maior quantidade no governo.
***
E ainda há gente que critica Cid Gomes,o ex-ministro da Educação que, conforme Zé Simão da Folha mostra em sua coluna, com muita sagacidade, foi punido por ter falado a verdade.
Ou não.
Afinal, como mostra o impagável Zé Simão, ao declarar a existência na Câmara de uns 400 deputados achacadores, Cid Gomes mostrou como uma autoridade do governo pode cometer um erro crasso. Pelos cálculos, deve ter errado por uns 50 deputados, que seriam, no mínimo, 450.
Cid Gomes pode não ter tido qualquer educação, é verdade, indo destratar os deputados naquilo que eles consideram a casa deles.
Mas, que estava coberto de razão, isso ninguém pode negar.
***
Mas, concordando ou não com a avaliação da agência S&P, e com a importância que é atribuída a tais agências, o certo é que a economia brasileira ganhou mais tempo para ajustar a situação interna, o que é positivo.
Particularmente, sou bastante cético a avaliações feitas por agências que mostraram, por ocasião da crise do 'subprime' nos Estados Unidos, não apenas que erraram feio, dando notas de rating elevadas para instituições que estavam já completamente falidas, como ainda que mostraram um lado mais perverso: a saber, que tinham interesses em jogo quando manipulavam informações e notas, visando obter ganhos escusos.
Desse jogo e desse comportamento completamente aético, não sobram nem agências, nem consultores financeiros, nem os analistas de mercado das grandes instituições cuja finalidade deveria ser, antes, estarem atentas à saúde, senão das instituições, ao menos de seus próprios clientes. O que não foi levado em consideração como o demonstra o documentário Trabalho Interno (Inside Job, na versão original).
***
Também, como já tive a oportunidade de manifestar aqui nos pitacos, não vejo nas medidas do pacote fiscal a importância e a urgência que lhes tem sido atribuída.
É verdade que as finanças públicas ficaram abaladas, tendo em vista que as desonerações de impostos que o governo adotou para estimular a economia não surtiram efeitos: nem a economia cresceu, nem os setores empresariais se animaram a investir no aumento da produção, com o agravante de a receita do governo ter apresentado queda espetacular.
Queda que não foi provocada apenas por uma má gestão do governo, mas por uma expectativa, que por incerta, não se realizou. Na verdade, como grande parte das decisões econômicas,  uma aposta. Que deu errado.
Foi assim com a desoneração de impostos, medida que foi levada longe demais, atendendo à reivindicação dos setores, especialmente, privilegiados, como a indústria automobilística. Afinal, quantas vezes foi anunciado que as alíquotas voltariam a se elevar, para depois o anúncio ser desmentido e o governo, sob pressão, ser obrigado a manter a política.
Em minha opinião, uma política que, privilegiando bens de consumo de preços mais elevados, estavam chegando ao limite do que poderiam gerar de estímulo ao crescimento das compras. Isso, porque, ao comprar  um carro, o primeiro, devemos lembrar que as famílias se endividam. Mesmo que não se deem conta do fato, ampliam seus gastos, que passam a incluir combustível, manutenção, seguros, impostos, estacionamento, etc.
Ora, dificilmente depois de grande parte da população já ter comprado o seu primeiro carro, irá comprar o segundo, ou terá condições de realizar uma troca de carro, por outro mais novo, ou mais equipado.
O mesmo pode ser dito em relação a bens de linha marrom ou branca, que foram beneficiados pelo governo e que, a partir de certo instante, não trouxeram mais o mesmo resultado benéfico do início do programa.
***
Mas, não foi apenas a desoneração que pesou, seja por meio da redução de alíquotas, seja por meio do adiamento do repasse de custos da energia mais cara para as contas de luz, seja por meio da contenção do preço dos combustíveis.
Provavelmente teve impacto também importante, para a adequação das receitas aos gastos visando o atendimento prioritário às demandas sociais, a ação do Congresso, retirando do governo a vultosa quantia representada pelos recursos provenientes da CPMF.
***
Alguém poderia alegar que a CPMF caiu ainda no governo Lula, até por despeito ou ciúme dos deputados da oposição.
Ou caiu por ser não o imposto mais importante do ponto de vista da arrecadação, embora sempre importante sua contribuição, mas por ser o que identificava a todos. Aquele que alcançava a todo mundo, não deixando de lado nem o honesto, nem aqueles que usavam o sistema financeiro para lavar dinheiro sujo, da corrupção, do tráfico, ou de qualquer ilícito que fosse.
Pensando bem, até seria importante que se pesquisasse, junto ao juiz da LavaJato, ou à equipe competente da Polícia Federal, ou mesmo da Procuradoria, se a CPMF ajudou, em algum momento, no cruzamento das informações financeiras que vêm permitindo que a origem e o destino do dinheiro sejam perseguidos.
***
Mas, a economia brasileira ganha uma trégua. À que se soma a importante decisão do FED, o Banco Central americano, de não alterar as taxas de juros de curto prazo nesse momento.
O que permite também que a prevista fuga de recursos de capital externo para a segurança representada pelos Estados Unidos, seja adiada. O que pode dar uma freada na valorização do dólar, tendo algum efeito positivo, óbvio, sobre o comportamento da inflação.
Quem sabe, ao ter algum impacto positivo sobre a inflação, ajudando as donas de casa a não ficarem tão alvoroçadas com os movimentos contra Dilma, cujo potencial instabilizador é muito grande.
Porque se os fundamentos da economia são apontados como na direção correta, não há como deixar de temer que uma crise institucional de maior profundidade não possa acabar levando a um rebaixamento da nota da nossa economia.
Como se sabe, para o bem ou para o mal, as regras do jogo internacional obrigam aos gestores dos fundos de pensões, dos credores institucionais (os que têm grandes carteiras de aplicações financeiras internacionais) a aplicarem recursos tão somente naquelas economias que têm grau de risco considerado baixo. Ou que ostentem como o Brasil, grau de investimento. Mesmo que ainda muito próximo de uma nota desabonadora.
***
Uma instabilidade política mais ampla, ou mais profunda, pode representar não só a derrota do governo na Câmara, com o pacote de ajuste não sendo aprovado, como uma situação de instabilidade que pode ensejar, como toda crise o faz, uma corrida dos donos do dinheiro para a liquidez. Ou seja, uma saída de investimentos financeiros do nosso país, em carreira desabalada, o que levaria o dólar a preços que nada têm com os chamados fundamentos econômicos, mas apenas com o medo.
***
Não nos esqueçamos também que, nesse exato momento, corre na Câmara, sob a presidência desse senhor cujo nome aparece nas listas de investigações da Lava Jato e cujas ações sempre foram muito pouco confiáveis, uma proposta de reforma política, que se deseja discutida e aprovada a toque de caixa.
Claro, com os interesses dos partidos e de seus caciques se sobrepondo aqueles interesses reais da população, como o demonstra a discussão quanto ao financiamento de campanha permanecer nos moldes atuais, ou se tornar totalmente público.
Isso, não bastasse a aprovação do Orçamento para 2015, finalmente concluída nesse mês de março, com um atraso de mais de seis meses, quase triplicar as verbas para o fundo partidário.
***
Mas, essa reforma, que traz entre outros assuntos palpitantes, a manutenção do voto obrigatório ou sua substituição pelo voto opcional; a manutenção do instituto da reeleição; o fim do vergonhoso voto proporcional, com a eleição de pessoas de carona na votação de outros; a questão do financiamento, mãe de toda a corrupção que temos assistido no nosso país, essa reforma que por sua importância deveria ser discutida sob a forma de uma Constituinte exclusiva para o tema, vai ficar toda nas mãos dos que mais interesses têm em mudar tudo, apenas para que tudo continue como sempre esteve.
Enfim. esse é o nosso país.
E é essa a nossa realidade, que devemos tentar mudar, com todas as nossas forças.

Nenhum comentário: