terça-feira, 3 de março de 2015

O retorno dos pitacos que estão flutuando tanto quanto as bolsas

Mais uma vez, compromissos alheios a nossa vontade impediram-me de postar meus pitacos nesses últimos dias de muitas novidades.
A começar da sequência do pacotaço fiscal, com a mudança de critérios de contribuição previdenciária paga pelas empresas.
Embora travestida sob a forma de uma  opção, o que significa que não há uma imposição de retorno das empresas ao pagamento feito com base no cálculo de 20% sobre a folha de pagamentos, é importante assinalar, sempre, que o governo aumentou em mais de 120%, em média, as alíquotas para as empresas que desejarem permanecer contribuindo sobre o valor da receita bruta.
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Alegando que havia uma desoneração estimada em 25 bilhões de reais nesse ano de 2015, o governo resolveu retirar dos 56 setores a que foi dada a opção de pagar sobre o faturamento, o benefício que durante tanto tempo foi demanda do setor empresarial ao governo.
Especialmente os setores industriais mais intensivos em mão de obra, que sempre reclamaram do peso dos encargos sociais, dentre eles, especialmente, a contribuição ao INSS.
Como política destinada a manter o nível de emprego, e não de faturar, o governo adotou o novo mecanismo, para 6 setores.
Posteriormente, em 2014, o Congresso ampliou a possibilidade para 56 setores, aprovando uma lei que, por ser ano eleitoral, não mereceu veto do governo.
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Agora, está de volta a possibilidade de recolher a contribuição por um método ou outro, ou seja, sobre a folha de pagamento, pela alíquota de 20%, ou sobre o faturamento.
Tendo subido tanto a alíquota da opção de faturamento, a ninguém escapa que ao fazer o cálculo, o empresário descobrirá que a diferença entre os dois métodos deve ter caído para um mínimo.
Com isso, como disse o ministro em entrevista de péssimo tom, lembrando inclusive a entrevista da equipe econômica do confisco da poupança com a trupe de Collor, a Previdência volta a receber os valores a ela devidos.
Mas, devagar com o andor. Durante esse tempo de desoneração, a Previdência não deixou de arrecadar o devido. Apenas que o Tesouro Nacional é que complementava o valor não arrecadado. O que implica que, ou a medida era adotada, ou a Previdência passaria a contar com o rombo. O que é óbvio, deixa claro que o Tesouro não continuaria bancando. Dentro da sanha 'levítica', de obter um superávit primário para pagar os juros dos banqueiros.
Nada de novo no front, por esse ângulo, portanto.
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Outra medida que causou furor foi a autorização de novo aumento para as concessionárias de energia, algumas das quais poderão atingir percentual de reajuste de próximo de 50%.
Se precisasse de demonstração de que o governo está mais preocupado em poupar o Tesouro, essa medida era suficiente.
Mais uma vez, ao invés de repassar o custo para os consumidores de forma mais razoável, diluindo o valor no tempo para permitir percentuais menores de repasse,, o governo pratica um comportamento de choque, em minha opinião, desnecessário.
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Somados os efeitos da decisão de correção das tarifas de energia, cujos impactos sobre os custos industriais são evidentes, com aqueles da decisão que encarece o custo da mão de obra, justamente em momento em que o clima de pessimismo domina a economia, o que pode ser esperado é um aumento da taxa de desemprego. O que reforça a queda do nível de atividades, da redução da produção e das vendas, que trazem ainda a redução da própria receita tributária.
Isso significa que todo esforço do governo pode se transformar apenas em  um tiro no próprio pé. Em vão.
Razão porque achei muito boa a opinião de Vinícius Mota, secretário de redação da Folha, exposta ontem em sua coluna, mostrando que Joaquim Levy está indo com muita sede ao pote. Correndo o risco de provocar, por sua volúpia, a própria quebra do vasilhame.
Ao ler sua opinião, lembrei-me do time que vencendo partida fora de casa, pelo placar mínimo, parte com toda juventude e correria para a frente, para ampliar a vantagem. Quando o bom senso mostra que era hora de toda a correria ser substituída por algum jogador mais experiente, daqueles que colocasse a bola no chão, para rolar mansinha. Jogador que cadenciasse o esforço e, de quebra, pudesse enervar o time adversário, com catimba e malícia.
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Referência

Outra referência que acho importante fazer diz respeito à entrevista do Professor Bresser Pereira, na Folha de domingo, dia 1º de março. Na entrevista, o ex-ministro do governo FHC fala da necessidade de um pacto, a ser negociado, mais uma vez, na sociedade brasileira, para que o país possa decidir as medidas a serem adotadas para voltar a crescer.
Fala que o tal pacto, que com Lula teve uma última forma, foi destruído pelas classes mais favorecidas, especialmente revoltadas por estarem obrigadas a conviverem com um governo de esquerda, que governou para a esquerda.
Fala, ainda, da realidade que a última campanha eleitoral não consegue esconder, do ódio que os ricos passaram a nutrir pelo PT e por Dilma. Justo pela razão de o governo, pela primeira vez, não beneficiá-los.
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Conteúdo semelhante ao que o professor Tom Hartman já havia tratado em entrevista, já comentada aqui, para o Millenium do GloboNews.
Tema que, concorde-se ou não com toda a argumentação do professor Bresser, é de uma obviedade cada vez mais escancarada.


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Galo volta a vencer

Também o Galo voltou a vencer, embora contra o lanterna do Campeonato, o que acaba sendo uma conquista de menor vulto. Ainda mais depois de, durante todo o primeiro tempo do jogo, o Guarani ter dominado o jogo, embora tenha saído derrotado por gol de jogada parada, com Jemerson.
O problema é esse. Mais uma vez, a defesa tinha uma avenida pelo meio, que o Guarani aproveitou, embora sem pontaria.
A lateral direita era outra avenida, embora seja necessário reconhecer que Patric jogou bem, ao menos no apoio ao ataque.
A cabeça de área continuou não cobrindo o meio e protegendo os zagueiros, o que amplia o trabalho da defesa.
E achei Cárdenas mal posicionado. Fora de suas características.
Quanto ao segundo tempo, é verdadeiro que o Guarani cansou. Que Cesinha entrou muito bem no jogo, dando outro ritmo ao time do Galo, e que o time do Atlético voltou a apresentar lampejos do grande e vibrante time do final do ano passado.
Mas, muito pouco, ainda, para convencer ao seu torcedor que dá para vencer o bom time do Santa Fé, na Colômbia.
Quanto ao Cruzeiro, no próximo domingo, é um clássico. E, como sempre, pode dar qualquer coisa.
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Creio que agora voltamos aos pitacos com mais constância, passados os instantes de maior agitação, que não nos deixou tempo para poder apresentar nossa opinião.

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