São dúvidas, muitas, que venho carregando comigo e, de repente, percebo que não consigo mais ficar conservando-as.
Nesses momentos que antecedem o desfecho do golpe em curso, chego à conclusão de que só os mal intencionados não conseguem perceber que Dilma, por mais arrogante, destrambelhada, disléxica, o que for de depreciativo que puder ser lembrado para falar da presidenda ELEITA do Brasil, é muito superior à grande maioria dos senadores, seus juízes ou algozes, e nem posso falar do ponto de vista de moral, honestidade, porque aí seria mais uma covardia, semelhante à de sua presença no Senado ontem.
Assim nesse momento, trato de assuntos menos trágicos para a história e o futuro de nosso país.
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Por exemplo: até hoje, não entendi e gostaria de saber porque as Olimpíadas do Rio teve dois mascotes: Tom e Vinícius.
Vá lá. Tendo a concordar com o Fernando Meirelles, um dos responsáveis pela belíssima festa de abertura dos jogos, para quem homenagem é algo que ninguém é obrigado a fazer.
Parece-me que ele se referia à cobrança feita pela família do poetinha Vinícius, que sequer teve o nome citado ou um retrato, ou mesmo apresentado o boneco que servia de mascote dos Jogos, com seu nome.
É verdade, ninguém é obrigado a prestar homenagens a quem quer que seja, embora tenha ficado muito estranho que Tom tivesse seu nome e retrato apresentados. Seu neto, Daniel, tocou a música que reconhecidamente é de autoria de ambos. Um esquecimento no mínimo curioso.
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Mas, pelo que me lembro, nenhum dos dois mascotes participou da festa de abertura e, custo a me lembrar que tenham participado da de encerramento. Outra curiosidade, se nos lembrarmos da festa de despedida dos jogos de Moscou, 1980, onde o mascote Misha deixou rolar uma lágrima nada furtiva ou sorrateira, de tristeza.
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É verdade que durante as competições, especialmente Vinícius, apareceu e fez o papel simpáitco de embaixador, ou representante do jogos, agradando crianças e adultos.
E devo reconhecer um certo esforço de algumas emissoras darem destaque a Vinícius, à beira da raia olímpica, ou em algumas das quadras.
Mas, nem Vinícius nem Tom apareceram como mascotes oficiais que eram, dos Jogos do Rio. O que é muito estranho.
Ah! claro. Esqueci de dizer que parece que os bonecos foram muito procurados e muito vendidos. E ninguém falou para quem ficou a receita de tais lembranças.
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Uma segunda curiosidade é relacionada ao Atlético Mineiro e seu técnico Marcelo de Oliveira. E diz respeito a como ele anda escalando o time para iniciar as partidas. A primeira das partidas, com ele entrevistado antes do início do jogo, dizendo que estava poupando Maicosuel, atleta que estava apresentando muito desgaste físico. A última contra o Grêmio, em que, sob a mesma alegação, ele deixou Robinho de fora, na primeira etapa.
Ora, o que acho estranho é que, se havia a possibilidade de o atleta entrar em jogo, como de fato ambos entraram, Maicosuel, contra a Ponte Preta, no péssimo empate obtido pelo Galo, por acaso mandante daquela partida, e Robinho contra o Grêmio, afinal, que desgaste era o que o jogador estava apresentando?
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Outra pergunta tola que me faço e não consigo respostas, é porque não entrar com os dois jogadores, já sabendo que eles sairão do time na fase final, poupados, uma vez que, colocá-los em campo, quando o jogo está ainda se iniciando, no zero a zero e em fase de estudos é, ao meu ver, mais interessante e menos desgastante que colocá-los já quando o jogo está com placar contrário e nosso time precisando se desdobrar muito mais para conseguir reverter a situação.
Ou não?
Foi assim contra a Ponte, jogamos muito mal e tomamos o gol da Macaca. E depois Maicosuel teve de entrar em campo, para tentar já sem muita opção tática e mais na base do sacrifício e correria, conseguir alterar o panorama do jogo.
Vá lá. Maicosuel, em uma de suas arrancadas, serviu a Robinho, para o empate.
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Contra o Grêmio, novamente jogando abaixo da crítica, com um futebolzinho medíocre, para não ficar elogiando muito, foi a vez de Robinho entrar na segunda fase, para mais uma vez, salvar o técnico.
E mais uma vez, o time não merecia. Estava mal e só que deseja tapar o sol com a peneira ainda acredita em Marcelo e suas entrevistas, de que o time estava em um bom momento, etc. etc.
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Em ambas as situações, o time estava de uniforme todo branco, sem utilizar a camisa alvi-negra, de tanta tradição e muito mais ligada a nossa história.
E antes que me digam que os jogadores importantes e, quando entram estão em condições físicas melhores que os do time adversário, o que lhes seria benéfico, é apenas querer esconder a realidade, ou querer acreditar em contos de fadas. A menos que, a gente combinasse com o outro time, que não poderia haver, para eles, qualquer substituição, ou a entrada de sangue novo no time, que seria permitida apenas para a gente...
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E, desnecessário dizer, o Atlético está muito mal. Joga mal. Não tem estrutura de jogo. Não apresenta jogada ensaiada. Não mostra conjunto. E isso contra o seu xará paranaense, contra a Ponte e contra o Grêmio.
Já é hora de alguém chamar Marcelo para apresentar alguma justificativa. Que não seja a de que está com jogadores no Departamento Médico ou suspenso. Já que ele não coloca o time completo mesmo podendo, por opção, quando já tem desfalques importantes.
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Terceira curiosidade: a insistência de setores da mídia, do empresariado, em referir-se ao início da retomada econômica em nosso país, após resolvida a questão do golpe que estão aplicando em nossa fragilizada democracia.
Eu gostaria que me explicassem como se explica a uma criança pequena, quem sabe até por algum desenho, como e porque os empresários que até aqui nada investiram, mesmo com a concessão de muitos benefícios pelo governo Dilma, subsídios, desonerações, etc. irão mudar, de repente, de comportamento, para passarem a desengavetar projetos de investimento que lotam seus arquivos?
Acho estranho porque sabe-se que os empresários reagem às expectativas de demanda que criam, todas em funçao de análises e leituras do ambiente em que atuam.
Não creio que, exigindo do governo o corte de gastos públicos, e com a promessa de que tais cortes deverão ser aprovadas, embora sabe-se lá quando... e sabendo que do ponto de vista da renda pessoal, dos gastos em consumo, a economia está longe de apresentar qualquer recuperação, especialmente tendo em vista os níveis de desemprego, e as restrições ao crédito (a maior delas, a escandalosa taxa de juros), que estímulo se vislumbra no horizonte, para a pretensa retomada.
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Alegar-se que seria pela mudança de ambiente político, agora capaz de inspirar mais confiança é, em minha opinião, uma ironia. Mas não me recuso a analisar a hipótese. Afinal, sabe-se que a proposta do usurpador é a de não elevar a carga de impostos, apesar de avisos e sinalização de seu ministro da Fazenda para a ocorrência de tal possibilidade.
Talvez, sem ter que pagar o pato, a Fiesp e seus líderes, passem a investir.
Será?
Mas porque não investiram quando não recolhiam os impostos que sonegavam? Ora, só de sonegação, mais de 400 bilhões de reais deixaram de entrar nos cofres públicos, nos últimos anos. Valor que daria para cobrir os dois resultados negativos, de déficits primários em 2015 e 2016.
São estudos do IPEA que mostram tais dados. Como mostram que a nossa dívida ativa está pela casa de 1,4 trilhão. E porque o governo não age com a energia devida para recuperar essa pequena soma de recusos que, por seu vulto e porte, deve ser dinheiro deixado de ser pago ao Erário por trabalhadores assalariados.
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É verdade que o ambiente vai melhorar, já que assegurar-se-á, cada vez mais, recursos para atender a interesses das classes mais privilegiadas, para compensar os cortes exigidos e cada vez maiores de programas voltados a acabar com nossa malsinada distribuição de renda.
Distribuição que faz com que algo como 71 mil pessoas, apropriem-se de quase 8% da renda nacional.
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Acreditar que a recuperação vai se dar, como vinha acontecendo, pelo lado da recuperação das exportações, embora factível, não permite muita esperança, tendo em conta que o dólar não deve manter a valorização que vinha apresentando, sob pena de a inflação fugir ao controle.
E sabemos todos que a inflação depende muito pouco de uma taxa de juros elevada, cuja finalidade seria derrubar uma demanda exageradamente elevada, o que não acontece.
Então, a taxa de juros visa, como é sobejamente conhecido, em remunerar as poupanças mantidas sob a forma de títulos e riqueza financeira, em ativos líquidos e não reprodutíveis, das classes mais ricas.
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Logo, não entendo como os empresários vão desengavetar planos de expansão de negócios, ainda mais quando se leva em conta que temer terá muito que acertar de suas negociações nebulosas junto ao impoluto Senado da República e em outras instâncias que participam da trama do golpe.
Parece até que, tendo tais compromissos de elevação de gastos já acordados, deverá o usurpador conceder também algum aumento aos magistrados. Não em função de qualquer participação na ruptura democrática, mas para que não se tornem a única categoria sem aumento.
Ainda mais um aumento tão ínfimo, da ordem de perto de 40%, como se aventa.
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Talvez os empresários tenham lido ou sido assessorados, por algum economista que tivesse lido Kalecki, e tenham percebido que, como ensina o economista polonês, os empresários ganham o que gastam. Ou seja, qualquer recuperação de produção ou renda, deve ter como base para sua sustentabilidade o gasto capitalista. Preferencialmente na aquisição de bens de capital, ativos reprodutíveis e capazes de gerarem emprego e renda e um círculo virtuoso de crescimento.
Ou tenham lido Keynes, não o corrompido dos manuais, mas o verdadeiro, aquele para quem só criadas as condições para que o empresário gaste em investimentos e gere emprego e mais renda, ao mesmo tempo, estará em curso um processo que permita que a renda ampliada possa ser parcialmente não consumida. E da poupança assim gerada, possamos chegar ao final, com um montante de poupança equivalente ao do investimento.
Sem esquecermos de que, conforme Keynes, a poupança gerada no processo deve assumir alguma forma, de manifestação, normalmente, a forma de ativos liquidos, do mercado financeiro.
Mas compete ao governo a criação de um ambiente positivo, para que a taxa de retorno própria do bem de capital seja mais segura, menos eivada de incertezas, e maior que a taxa de juros do título financeiro.
Ou seja, ao contrario da proposta de quem orienta o usurpador, nada que seja liberal a ponto de dispensar aquele agente que é o principal responsável pela saída de qualquer grande crise. e pelo início da recuperação.
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Bem, de tudo isso, de todas as minhas dúvidas, a certeza que me resta é que Dilma ontem deu um show, embora menos por suas qualidades, que existem, e mais por estar tratando com pessoas, algumas sem estatura moral, outras sem qualquer conhecimento ou respeito pela coisa pública. Outros por mero respeito e obediência a seus patrões e interesses, alguns que os ajudaram a chegar até onde chegaram.
Esses, ao menos dedicam lealdade a seus patrões, o que, em certas situações é elogiável, devemos reconhecer.
Dilma deu um show, e a farsa terá curso hoje, com juizes que, na verdade, deveriam ter se declarado impedidos, desde o início da trama.
Uma tragicomédia que irá, mais cedo que se imagina, passar para as páginas dos livros da história como mais um golpe das elites mesquinhas contra ampla fatia da população.
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Embora eu ache que isso, cada vez mais é brincar com fogo, porque pode levar a população a perceber que, enquanto não tomar em suas mãos o seu destino, seus interesses não serão respeitados.
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Já que fiz acima, um vaticínio, dou-me ao luxo de fazer outro. Mais limitado e mesquinho, como aquele a quem envolve. Acho que Cunha se safa, para o bem da dignidade nacional, e o decoro do Congresso.
2 comentários:
Meu ídolo, matei saudades dos seus textos lendo essas tantas e tantas linhas. Não estou à altura de dirimir dúvidas suas, mas me arrisco a algum vaticínio.
É possível que, daqui a alguns anos, repitamos a frase do ex-presidente Médici: "a economia vai bem, mas o povo vai mal". Não duvido de alguma mudança de postura de alguns dos responsáveis pelas forças produtivas, em troca da mudança de cenário político que está sendo construída exatamente hoje.
Tudo muito triste. Menos para mim do que para outros, que talvez estejam até aplaudindo este circo trágico, sem saber o que vem por aí.
Mas, mesmo triste, fico aliviado em não fazer parte disso, e em estar o lado de cá do muro. Muito bem acompanhado e muito bem desacompanhado, diga-se.
(agora que vi que minha assinatura é "Gastão", meu apelido. Aqui é Ewerton, do Banco Central)
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