A mídia insiste, mas a bem da verdade, depois de ter de pagar IPTU, IPVA, material e uniforme escolar, renovar a taxa do transporte escolar dos filhos, ouvir dizer que agora, passado o carnaval, é que o ano de fato tem início, só pode ser considerada piada de péssimo gosto.
Anedota que tem seu sabor ampliado, a julgar pelas notícias que vêm de Brasília, mais especificamente aquelas do relator da dita reforma tributária que o usurpador temer tenta nos impingir, em nome de interesses cada vez menos inconfessáveis e mais notórios, a julgar pelo comportamento de euforia dos mercados financeiros e seus analistas de sempre.
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Claro, o comportamento do dito mundo real é bem diferente, já que segue em outra direção, o que Míriam Leitão se apressa em explicar na Globo: é que os mercados financeiros antecipam o futuro, embora para fazer justiça, ao comentar o comparativo dos resultados econômicos desses dois mundos, ela não se furtou a classificar a reação do mundo das finanças como algo exagerado.
Para a jornalista, com as reformas em andamento, o que destravaria nosso funcionamento dos mercados, e com alguns setores já começando a mostrar alguma reação, como por exemplo o setor de comércio de alimentos (que experimentou queda no faturamento nos últimos meses), que recolheu mais impostos nesse início de ano, há mais que indícios de para fazer a festa dos mercados financeiros. A cautela sendo recomendada apenas pela questão política.
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Mas, como a jornalista dá a notícia como compra ou passam para ela, sendo mera repetidora das mensagens que os interessados querem ver difundidas na mídia, não há qualquer informação quanto a esse montante de imposto recolhido, nem a que período se refere, nem quanto a sua base de incidência, etc.
É mera informação, e pode não guardar relação alguma com o movimento no comércio.
O que não nos impede de retomarmos nosso assunto original, da reforma tributária do ilegítimo ocupante da presidência da República. Para constatarmos com algum espanto, embora não tanto como seria de se esperar de um país e um povo sério, que o relator Hauly que na época do governo Dilma tanto vociferou contra o retorno da CPMF é agora o defensor da sua volta.
Panelas! Onde estão as panelas? onde o barulho das massas revoltadas com o aumento da carga tributária cuja única finalidade seria financiar a corrupção?
Onde as panelas, meu Deus, gritaria agora Beethoven, do alto de sua surdez!!!
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Bem, não há nem paneleiros, nem panelas disponíveis para qualquer protesto, já que os utensílios estão sobre as trempes dos fogões, repletas do alimento disponibilizado por temer, o inútil, e sua maravilhosa política econômica de salvação nacional.
Aquelas panelas que tiveram outra destinação, seus donos as venderam já que não tinham mais emprego, nem renda, nem grana, nem alimento que justificasse sua utilização.
A essas famílias, que temer e sua política favorável às classes mais privilegiadas conseguiu ampliar em quantidade, resta apenas uma imensa e terrível fome.
Uma fome que o carnaval conseguiu deixar esquecida, já que a época era de fantasia. E muita alegria.
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Por que Hauly, economista, tucano, tornou-se agora favorável à CPMF?
Simples. Porque o imposto é necessário, embora não se negue muitas das críticas a seu caráter cumulativo. Porque o PT já está fora do poder, atendendo ao germe nefasto representado pela figura do presidente de seu partido que, comportando-se como um garoto mimado, que não sabe perder, resolveu que ia impedir o governo Dilma de funcionar.
No que contou com a colaboração de gente tão séria quanto todos os que desejavam estancar a sangria da Lava Jato, ou os membros da nossa impoluta Justiça, interessada mais em expandir sua participação na geração da renda nacional e em sua destinação.
O Brasil ainda irá lembrar muito e a história fará justiça a essa figura minúscula de nossa política, aecim e toda a poeira que costuma cercá-lo.
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E pensar que em 2014 ele chegou a acreditar e até comemorava ter sido eleito.
O que o coloca em excelente companhia, junto à miss Colômbia, ao filme La la Land ...
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E vêm os tucanos de toda plumagem alegar que sempre pensaram e defenderam o Brasil?
Bem, em tempos de carnaval, a gente até aceita e sai acompanhando o bloco.
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Vimos então que o ano já começou, inclusive com Marcelo Odebrecht admitindo ter estado no palácio do Jaburu, onde o vice presidente da época solicitou-lhe apoio financeiro à campanha de seu partido.
O empresário nega que tenha falado em valores, tratando do assunto da doação apenas genericamente. Parece que foi seu auxiliar, ex-diretor do grupo, que se responsabilizou de, mais tarde, tratar dessas questões menores com o preposto de temer: Eliseu Padilha (nunca posso me esquecer de ACM, o Toninho Malvadeza e o nome carinhoso com que tratava o sombra de teme, Eliseu Quadrilha, como conta a lenda).
Pois bem, não é que quadrilha que participa de jantares, também participa de governos... e com alto cargo.
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E não é que não vi ninguém nos jornais destacando mais uma vez essa mistura vergonhosa entre a coisa pública e a privada, que é o vice presidente, no Palácio que é sua residência oficial, tratando de uma questão tão particular quanto muitas vezes muito próxima do que há de pior na política, que é o financiamento de campanha?
Porque ninguém pode ser tão ingênuo a ponto de achar que o político pede o dinheiro para a campanha e o recebe, sem assumir qualquer compromisso, mesmo que seja apenas tácito, de retribuir o favor? E o empresário contribui, ou melhor apenas faz os cálculos econômicos como é de praxe, ao tomar a decisão de realizar qualquer outro investimento?
Ou somos todos tolos e acreditamos que temer não sabia o que estava pedindo e de onde viria o recurso, e que Odebrecht sabia o retorno de cada um daqueles 10 milhões, dos quais 4 entregues em nome de eliseu? No escritório de Yunes, o amigão de temer que agora confessa a trama?
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Mas se a imprensa não comenta nada desse assunto, não é por que na época temer não estava no poder, o que não valeria, por exemplo, para uma acusação de crime de responsabilidade. Porque com ele no poder, ficou muito clara sua intervenção ou por ação, ou até mesmo por inação no caso do anão Geddel, também seu amigo.
Assunto que morreu. Não por que foi encerrado. Mas porque com esse governo os delitos e acusações não param. Apenas se acumulam, e um a cada dia, o que não permite nem mesmo dar a cada um deles a atenção devida.
Ou porque, independente de qualquer mácula, seja original na chegada ao poder, seja no exercício desse mesmo poder, o que importa é que as ditas reformas salvadoras para as quais o mesoclítico usurpador foi instalado onde se encontra sejam levadas adiante.
Para o bem ou para o mal do povo brasileiro, o governo temer é o governo da redenção do grande capital e da manifestação de sua hegemonia.
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Daí a reforma tributária, que só em nosso país só foi efetivada em momentos de crise institucional, ou de golpes, amparado por um autoritarismo que mesmo disfarçado não deixou de mostrar seus dentes.
Pois agora, em que vivemos tempos estranhos, de grande divisão na nossa sociedade, o autoritarismo se instala sub-repticiamente, jogando exatamente com a divisão forjada.
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Entretanto, pior ainda que essa reforma tributária é a da Previdência, que de tão ruim, nem mesmo os deputados da base se atrevem a manifestarem-se favoráveis, como mostrou pesquisa ontem da Folha.
Reforma proposta e relatada por quem trabalha ou participa da administração ou teve sua campanha financiada por fundos de previdência privada e bancos. Os grandes bancos, cujo maior interesse é abocanhar esse filão da seguridade social.
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Mudando de assunto, em tempos de carnaval, vimos o goleiro Bruno ganhar as ruas, não sem antes admitir aquilo que alega não ter feito. Sua declaração de que sua prisão não trará de volta sua ex-amante, é o reconhecimento expresso de que ela está morta, mesmo que algumas pessoas ligadas ao goleiro pudessem alegar não ter havido crime, por falta de corpo.
Do alto de sua reconhecida arrogância, o ex-atleta faria melhor se desse indicações precisas de onde estão os restos de Eliza, ao invés de vir a público para informar que irá lutar para ficar com a guarda de seu filho, Bruninho. Aquele mesmo que o levou aos vários crimes de que foi vítima Eliza Samudio.
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Quanto à decisão de Marco Aurélio de conceder habeas-corpus a Bruno, há que se levar em consideração não o absurdo da decisão. Pior, muito pior é o atraso injustificável; a morosidade da justiça em nosso país, que mantém um homem - seja ele quem for - por quatro anos aguardando uma decisão para seu recurso.
Desse ponto de vista, embora julgado e condenado em primeira instância, e por mais que tenha sido revoltante todo o caso, Bruno sem sombra de dúvidas é dos poucos brasileiros que pagaram, ao menos em parte o seu erro.
Por que não foi esse o comportamento da Justiça com o jornalista do Estadão que matou sua ex-namorada, em caso que ficou célebre em São Paulo, nem foi esse o enredo com tantos outros criminosos que ficaram conhecidos, como Gil Rugai etc. parra não me estender muito.
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Deixar Bruno livre pode não ser o que gostaríamos de ver no debate em relação à impunidade, mas ele ficar preso, enquanto outros podem aguardar em liberdade por seus infindáveis recursos é para se pensar. E, dada a morosidade da Justiça, injusto.
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Como injusta a situação de todos os delatores da Lava Jato, corruptos e bandidos que cumprem penas domiciliares em verdadeiros spas, enquanto outro, mais especificamente quem os corrompeu, como Odebrecht, amarga uma cana há mais de quatorze meses. Algo que só na justiça de nosso país, onde desponta um homem com o grau de autoritarismo e messianismo de moro, pode permitir.
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Claro. Depois de tantas críticas às reformas executadas por Lula no Alvorada, e dos jardins de gosto duvidoso de Dona Marisa, não poderia me furtar a dar um pitaco sobre a reforma patrocinada na mesma residência pela família temer, sob o comando da elegante, bela, recatada - bem nem tão recatada assim, depois da notícia do vazamento de suas imagens - e do lar, Marcela.
Que desfigou a fachada do Palácio com a colocaçao de redes para o "enfant terrible", Michelzinho.
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Já ouvi até dizer que o Palácio é completamente desfuncional e que é um castigo ter de morar naquele espaço. Já ouvi dizer que o que tinha de beleza e leveza nos traços de Niemeyer nunca conseguirá compensar a falta de funcionalidade de seus projetos.
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Mas, nem bem concluída mais uma reforma, saber que Marcela não se adaptou ao palácio e já está de mudança, novamente, para o Jaburu é, no mínimo, um acinte. Principalmente em um governo que zela pela contenção de gastos públicos. E pelo rigor nesse gasto.
Fico pensando se fosse com Dilma ou Lula, o que estaríamos vendo de carnaval na mídia.
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E as panelas? Onde estão as panelas, pergunta um Beethoven surdo e aflito?
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