sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Retomando a discussão: o professor e intelectual Rogério Cezar e nosso super herói brasileiro, o juiz de Curitiba

Ainda não havia tido a oportunidade de fazer qualquer comentário em relação a um dos assuntos que dominou as discussões havidas na semana passada, envolvendo o professor e membro do Conselho Editorial da Folha, Rogério Cezar de Cerqueira Leite e o nosso novo super herói da nação carente, o juiz Sérgio Moro.
Antes, é necessário esclarecer quem são os dois participantes da pendenga, para evitar que nosso pitaco venha dar margem a mais algumas das várias tolices que andaram sendo ditas e compartilhadas pelas redes sociais, por pessoas que, cada vez mais, insistem em aumentar a nossa decepção a respeito delas e de suas opiniões.
Pessoas que julgávamos, ao menos, mais esclarecidas, e que fazem questão de mostrar, em cada comentário e postagem nas redes sociais, o tamanho de sua ignorância e toda sua estreiteza mental, sob o manto da ideologia mais conservadora.
Pessoas que chegaram a partilhar a informação de que o professor teria publicado um artigo de opinião apenas por ser membro do Conselho da Folha, como se não tivesse autoridade para publicar fosse o que quisesse em que órgão da imprensa o desejasse.
Pior, chegaram a divulgar que o artigo do professor, contrário aos métodos e comportamentos do juiz Moro, se devia ao fato de ele ter sido integrante do governo da presidenta ilegitimamente afastada do poder, Dilma Roussef.
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Faz-se assim, necessário, começar a apresentação dizendo que o professor é Professor Emérito da Unicamp, tendo se graduado em Engenharia Eletrônica e Computação pelo prestigiado Instituto Tecnológico de Aeronáutica, e obtido seu doutorado em Física de Sólidos pela Sorbonne.
Como pesquisador, trabalhou nos laboratórios da Bell, e como professor tem passagens pela Universidade de Paris, Universidade de Montreal, a própria Unicamp, onde foi Diretor do Instituto de Física e Artes.
Na França, obteve a Comenda da Ordem Nacional do Mérito da França.
Ah, mas o artigo por ele escrito não era sobre Física, sua especialidade.
Sobre algumas das bobagens que foram ditas por quem não é capaz de fazer uma mínima busca na internet,
prossigamos com as informações de que ele foi vice-presidente executivo da CPFL no governo de Franco Montoro, e é membro do Conselho da Folha desde 1978, onde além de textos técnicos escreve sobre assuntos tão diversos quanto atuação de multinacionais, programa nuclear, ensino superior, transferência de tecnologia. Assuntos, na maior parte das vezes, polêmicos. Além de ser autor de vários livros.
Como colunista, publicou em vários órgaõs mais de duas mil publicações.
E, parece que não há muito como questionar se ele tem ou não currículo para tal atuação, mas uma olhada rápida pelo Wikipedia, nos mostra que ele ...

Foi Presidente do Conselho de Administração do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais), entidade responsável pela gestão dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), de Biociências (LNBio), de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e de Nanotecnologia (LNNano). Atualmente, é presidente honorário do Conselho de Administração do CNPEM. Foi membro de vários conselhos de entidades científicas , tais como SBPC e FAPESP. É consultor de várias agências estatais , tais como a FINEP, e de organizações privadas.

Ou seja: por sua capacidade, ele ocupou já foi membro em vários cargos em Conselhos, de vários governos, não precisando de defender a quem quer que seja, por ter participado do governo Dilma. Aliás, o governo que o indica para participar de tais órgãos tem mais a ganhar do que ele teria, caso fosse apenas e tão somente um puxa-saco, como muitos tentaram difundir.
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De outro lado, o juiz Sérgio Moro, sobre quem não há muito o que ficar falando, já que esse todo mundo já conhece, por estar há algum tempo sob a atenção e holofotes da midia. Apenas deixar claro que é um juiz que age de maneira autoritária, mesmo que bem intencionado. Que é um juiz que tem tido um comportamento sério, embora espalhafatoso demais, a ponto de cada vez mais dar demonstrações que maior que sua competência e seriedade, é o tamanho de seu ego.
Aliás, não fui pesquisar para saber a veracidade, mas postagens também no facebook, de alguém que se passa por seu antigo colega de escola ou conhecido, fala exatamente de como o nosso paladino da moralidade e da justiça é vaidoso.
Não há problema, vaidoso muitos são. Alguns que nem podem sê-lo. Parece que no caso de Moro há razões para a sua vaidade, embora não combine muito, esse tipo de postura, com a f unção e o cargo que exerce, que tem como premissa básica a discrição.
Fora isso, talvez seja necessário apenas lembrar que, mesmo antes de surgir no panorama nacional, e em todas as mídias de nosso país, ele já era um juiz com algumas posições que levaram a que ele fosse algumas vezes, questionado em instâncias superiores, quanto à legalidade de seu comportamento.
Especialmente nos dias de hoje, é justo se dizer que ele tem tido respaldo dos tribunais superiores, que têm mantido e aprovado as decisões que tem tomado.
Para terminar, também é importante dizer que, recentemente fez parte da lista de pessoas mais influentes no mundo, exatamente por sua atuação no processo necessário de se combater a corrupção em nosso país.
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Quanto ao artigo, que é de opinião, nada houve de mais grave, exceto a comparação do juiz, por seu modus operandi, a um padre que viveu na cidade de Florença no século XV, Girolamo Savonarola, famoso por ter incendiado, com seus sermões,  aquela cidade. A biografia do padre dominicano o apresenta como portador de um comportamento demagógico, conservador, ascético.
Pois bem, a história do padre informa que depois de ter sido preso e acusado de heresia, morreu por ordem do papa a quem atacava.
A história do religioso era relembrada, por seu discurso moralista, conservador que, na opinião do professor Rogério Cezar, tornava sua figura e seu comportamento muito semelhantes ao do juiz Moro.
Ou seja, a ideia de fundo do artigo era, penso eu, a de mostrar que de forma messiânica, o juiz tem adotado comportamentos que, podem por sua forma, estar desrespeitando questões que um magistrado não poderia deixar de atender.
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Vá lá. Que o professor tenha exagerado, ou que tenha carregado na comparação. Qual o problema de se tentar mostrar que o perfil que muitas vezes é adotado pelo juiz corre o risco de resvalar para uma ação autoritária, que supera a própria lei que o juiz prometeu cumprir?
Qual o problema de se alertar que tanta homenagem e elogios e palmas a ele direcionadas, parte das quais feitas de forma acrítica, não podem estar gerando um monstro, um homem que se acha superior a tudo e a todos, apenas por acreditar que seus interesses são superiores aos dos demais?
Qual o problema de se tentar mostrar a tantos que dão seu apoio a Moro, incondicionalmente, que todo apoio histérico é passageiro e pior, pode terminar mal?
Tais alertas não poderiam ser benéficos ao próprio juiz, para que ele fizesse  um exame de consciência e verificasse onde está, se assim o considerar, se excedendo?
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Mas não. Mostrando com bem salientou o jornalista Elio Gaspari, que talvez haja mesmo, algo de Savonarola na personalidade do super herói de um país cuja população precisa de construir ídolos e líderes, ou heróis, o juiz encaminhou carta à Folha de São Paulo, insinuando que o jornal não deveria aceitar publicar tais artigos, que inclusive ameaçavam sua segurança e integridade.
Ou seja, não apenas o juiz não entendeu o que estava lendo, ou não quis entender a linguagem figurada do artigo, como ainda não se atreveu a solicitar ao jornal o direito de réplica, publicando artigo em resposta ao professor. Optou pela mais cômoda coluna da carta dos leitores para, finalmente, deixar claro como é seu padrão de comportamento: mais voltado à censura.
A Folha deveria ter censurado o artigo. Essa a mensagem embutida na carta de reclamação do juiz. E como o colunista era do Conselho do jornal, o jornal não teve autoridade para fazer o certo, em sua opinião, não deixar publicar um artigo que o criticava. Logo ele, tão superior a maioria dos mortais...
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Essa parte final, é comentário meu, não do juiz, claro.
Mas, que é essa a imagem que fica transmitida, para mim, é sem sombra de dúvidas.
E claro, na mesma coluna do leitor, o professor respondeu ao juiz, curto e grosso, para mostrar que o juiz deveria primeiro ler o que estava expresso, e a partir daí interpretar como recomenda a boa leitura, não o fazendo ao pé da letra.
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E não é que muitos leitores e outras pessoas que nem conhecimento da questão resolveram opinar, tomando claro, o partido do nosso paladino mor da moralidade?
Apenas para, ao se manifestarem nas redes sociais e assemelhados, transmitir para os que os conhecem, a certeza do grau de ignorância de que são portadores. Ignorância que, até então era mera desconfiança.
É isso.


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