terça-feira, 4 de outubro de 2016

As eleições e seu resultado como eu os vi

Inegavelmente o PT sofreu uma derrota acachapante nas eleições municipais do último domingo. .
Mas não é do PT que gostaria de tratar nessa postagem, uma vez que não há como brigar com os números. Meu interesse maior é em refletir sobre algumas das análises que tenho visto serem feitas por cientistas políticos de todos os matizes, especialmente nas redes de televisão.
Porque tal como Dora Kramer, em programa sobre as eleições na Band, não acredito que as eleições municipais desse ano de 2016, tenham o poder de influenciar, diretamente, as eleições de 2018, como muitos pensam.
Posso e até devo estar enganado, mas fora a esmagadora vitória de Alckmim em São Paulo, o que o credencia a reivindicar a candidatura do PSDB à corrida presidencial, acredito que ainda é cedo para tirar maiores conclusões.
No caso de Alckmim, a exceção, é importante lembrar que ele já vinha tendo vitórias e acumulando pontos a seu favor desde 2014, quando assegurou a Aécio a vitória em São Paulo, contra Dilma Roussef.
Importante lembrar que o candidato não havia ganho nos dois estados em que ele era mais conhecido, o estado em que ele fora governador, Minas e no Rio.
Então, Alckmim forçosamente deve ser tratado de forma diferenciada.
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Mas daí a todos os analistas considerarem que vivemos o fim do ciclo do PT, ou que o partido deverá conhecer uma situação de ostracismo, vai longa distância, além de dois anos completos, o que não é pouco.
A menos que algumas das opiniões que ouvi estejam expressando a opinião de que, derrotado inapelavelmente o Partido dos Trabalhadores, já apeado do poder, não há mais motivação para que a operação Lava Jato e o combate à corrupção em nosso país tenham continuidade.
Algo assim como, tirada a maçã podre, não há mais com que se preocupar no cesto, onde algumas frutas já haviam começado a apresentar sinais de contágio.
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Bem, como devem reconhecer todos os que têm  um mínimo de discernimento e que prezam pela aplicação da Justiça e do Direito, independente de quem esteja na berlinda, como investigado ou suspeito, se podemos tratar a Operação Lava Jato como uma das ações policiais mais exitosas e benéficas no nosso país, também não podemos deixar de observar, curiosos, que ela tem dedicado um tratamento desigual às suas investigações e às denúncias, aos materiais e provas coletados, em razão de ser ou não do partido que ocupava o governo.
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Porque não há como negar que delações feitas envolvendo outros partidos e caciques, além daquelas que se referiam a Lula e seu partido, tiveram pouca, se alguma consequência concreta.
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Mas, não é sobre a Lava Jato que gostaria de tratar, também. Embora como disse a jornalista Dora Kramer, já citada, ela ainda tem potencial para fazer muito estrago, caso seja mesmo levada adiante, criando uma situação completamente imprevisível para 2018. Inclusive, em relação a Alckmim, considerado por várias pessoas que o conhecem como um Santo, estranha coincidência com um dos apelidos da tão falada planilha da Odebrecht.
O que queria expressar e que tem sido pouco lembrado é que, já não é de agora, que a rejeição a Lula, em São Paulo é muito grande, mesmo ele tendo conseguido eleger um poste naquela cidade, na eleição anterior.
Apenas devemos considerar que era um poste que tinha um currículo acadêmico, que tinha feito um trabalho considerado de boa qualidade à frente do Ministério da Educação, e que era uma pessoa com um discurso bastante coerente.
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Mas, até por ser berço do PSDB, e onde encontram-se os principais líderes tucanos, São Paulo sempre foi avessa aos petistas. Vide as eleições de Jânio, de Serra, de Pitta, de Gilberto Kassab, à prefeitura do município.
Pontos fora da curva, talvez possamos considerar as eleições de Erundina, Marta e Haddad.
E, nesse panorama, é importante considerar que, embora concorrendo à reeleição, a gestão do prefeito paulistano foi muito sujeita a críticas, seja por questões ligadas ao aumento do IPTU, seja por questões ligadas ao aumento do preço das passagens de ônibus - não nos esqueçamos que era ele o prefeito das manifestações de junho de 2013, iniciadas com o problema dos vinte centavos.
Da mesma forma, preocupado com a humanização da cidade, foi o prefeito que estabeleceu o limite de velocidade nas marginais, o que foi condenado por todos que compraram carrões potentes, agora para serem obrigados a transitarem com a mesma velocidade dos carros populares de muito tempo de uso, além de fechar a Paulista aos domingos, transformando-a em espaço de lazer.
Não foi apenas isso que a gestão do petista fez, e teve coisas boas, acertadas, mas algumas das que ocuparam a atenção da midia foram essas.
Ainda assim, com todas as críticas a sua gestão, com o fato de ser do Partido que estava sendo execrado, tendo Lula como padrinho, inclusive comparecendo a eventos de campanha, com as pesquisas apontando que ficaria em quarto ou quinto lugar, o resultado para Haddad não pode ser considerado uma derrota acachapante.
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Tudo bem que o PSDB, pela primeira vez conquistou, ainda no primeiro turno a prefeitura. Mas, se Haddad tivesse ficado, como mostravam as pesquisas, atrás de Dória, de Marta, de Russomano, e caso quiséssemos somar os percentuais obtidos por tais candidatos, Haddad nãó teria tido uma derrota pior?
Ora, mesmo perdendo, ele ultrapassou a todos os outros candidatos, o que é mérito seu.
E, se o PT sempre teve um percentual de próximo de 30% na capital paulista, é importante lembrarmos que esse patamar deveria mesmo cair, tamanha a indignação que as coisas que vieram a público sobre a roubalheira em que o partido ou seus membros estavam metidos.
Mais uma vez devo frisar: apenas do PT.
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Quanto às prefeituras do interior, sempre ouvi dizer que, fora as grandes cidades, em número limitado, as eleições são sempre divididas entre aqueles grupos que dominam a política local, que se revezam no comando do município.
Pelas características, que inclusive motivaram ainda na época da ditadura, a criação das sublegendas e dos votos para Arena 1, 2 e até Arena 3, etc. o que ouvia falar era que, as sublegendas justificavam-se por permitir que famílias com tradição, mas inimigas pudessem ficar em lados opostos, mesmo sendo de mesmo partido.
A questão era que o pensamento dominante podia ser um apenas, mas a briga familiar era que impunha as diferenças significativas.
Quero crer que não deve ter mudado muito a situação nos dias de hoje. E que muitas pessoas procuram os partidos menos por uma opção ideológica, mas por ser o lugar que lhes coube, para não terem de se submeter à liderança de famílias inimigas. Bem entendido, muitas vezes inimigas apenas na política.
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Se se mantiver essa situação, como penso eu, não é difícil imaginar que as acusações de corrupção e roubalheira, estampadas pela Lava Jato, não teriam tanto peso assim, em conquista de prefeituras em cidades em que, ademais, os candidatos são todos conhecidos.
Embora há de se admitir que em milhares de pequenas cidades têm sido descobertas roubalheiras que fariam corar de vergonha muitos dos personagens envolvidos na operação Lava Jato, acredito que sejam ações de cunho mais municipal, no sentido de que acusações feitas em um caso mais nacional não teriam tanto como marcar o candidato do partido mais investigado.
Como disse, posso estar errado, mas acredito que a manutenção e até pequeno aumento de prefeituras do PMDB, revela bastante bem esse fato, mais que querer forçar a interpretação de que a população está apoiando temer, o usurpador, e seu partido.
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Insisto, o resultado dessas eleições, ao menos nos núcleos urbanos menores não deveria ser levado tanto em conta para se projetar 2018.
Até lá, embora eu tenha pouca expectativa em relação a isso, Lula pode conseguir se safar, mesmo sendo o real proprietário. Nesse caso, caso não surgissem provas, apenas convicções, ele poderia utilizar o discurso de que, depois de tão  investigado, ele teria tido uma certidão de bom comportamento da Polícia Federal e do MPF.
E os políticos de outras siglas poderiam ter seus nomes, finalmente, divulgados ou vazados, gerando uma sensação de revolta na população, cujas consequências são difíceis prever.
Apenas uma coisa deve ser sempre considerada: é nesse tipo de situações de descrédito generalizado em relação à classe política, que abre-se  a oportunidade para que surjam os verdadeiros aproveitadores e as piores soluções. ´
É nesse cenário que se criam as soluções mais dramáticas e dolorosas.
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Aqui outra observaçao: muito se fala da população desiludida, compareceu às urnas e anulou seu voto ou votou em branco.
O que revela uma profunda decepção com a política, os candidatos e partidos, com as insttiuições como a justiça eleitoral, e com o poder e até a dignidade do voto.
Afinal, há pouco tempo, 54,5 milhões de pessoas que votaram viram seu voto ser cassado pelo desejo de um bando de corruptos e 61 votos apenas.
No dia das eleições, vi postagens nas redes sociais, dizendo que era uma dureza ter de votar e depois ficar sabendo se o voto foi considerado apto para exercer seus efeitos pelos derrotados e chorões, pelos políticos de sempre, pelos tribunais eleitorais, etc.
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Ok. Como entender que tanta gente foi às ruas, ainda há pouco, para promover mudanças e expressar o apoio ao combate à politicagem mais rasteira e ao roubo e corrupção, e agora tamanha apatia se revele?
Como explicar a animação dos jovens de ensino fundamental e médio que as próprias televisões registram fazendo exercícios de cidadania, reproduzindo no espaço da escola, as eleições, com candidaturas, discursos, apresentação de propostas e eleição em clima de alegria e civismo?
Será que tudo aquilo é apenas farsa? Que não forja cidadãos que queiram votar e poder interferir em seus destinos?
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Acho que essas situações que descrevo mostram que, apesar de existir sim um certo desânimo em relação à questão do voto e a questão política, o cidadão manifestou-se contra o fato de que ainda há muito que ser investigado. Não duvido até que muitos querem que os outros delatados, suspeitos, acusados, de que partido forem sejam também identificados, presos, julgados, punidos.
Talvez o medo de votar hoje em alguém que amanhã descobrimos estar envolvido com o que não desejamos seja uma das explicações para o total de votos não válidos.
Prefiro achar assim do que pensar que o povo esteja dando um recado de que não deseja mais exercer o seu direito de opinar sobre as coisas que afetam sua vida diária.
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Curiosamente, é essa a análise que os cientistas políticos que as redes de teve vão ouvir nos apresenta: o povo não quer mais ter a obrigação de votar.
O que nega toda a manifestação que as próprias televisões mostraram e tanto alardearam de povo na rua, de adolescentes nas escolas em campanhas.
Parece-me que interessa aos donos dos meios de comunicação e a outros grandes empresários como eles, que o povo não vá votar. Para não correr o risco de eleger-se um novo Lula, ou alguém com propostas menos favoráveis aos mercados e seus interesses de mudar tudo, para manter tudo na mesma.
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Porque conscientes da importância do voto, apenas deixariam de votar aqueles que têm condições menos privilegiadas para entender a importância de seu gesto, ou as condições econômicas menos propícias para seu deslocamento até o posto de votação.
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No meio de todas as análises vi muito pouca gente tocando em ponto que considero crucial. As novas regras eleitorais de propaganda, impediram a manifestação de vários candidatos, impedindo que tivessem tempo para sequer se apresentarem, quanto mais para expor suas ideias e pensamentos, e os problemas a que iriam se dedicar e as soluções que sugerem empregar.
Embora a eleição para a Câmara Municipal, voz do munícipe fosse talvez a que devese ser considerada mais importante, pela importância da função legislativa, pelo menos em tese, esses candidatos não tiveram tempo algum. Excetuados aqueles que, talvez pela situação gerada de quase silêncio obrigatório, optaram pela galhofa pura e simples.  Protagonizando um show de horrores e bizarrices sem igual.
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Há que se mudar as regras porque como está, dentro em pouco tempo, artistas, jogadores de futebol, ou gente ligada aos esportes de maior visibilidade, jornalistas e os políticos tradicionais de sempre serão os únicos em condições de pleitearem votos.
Com o perigo de, por serem os mais respeitados pela tradição, os políticos de sempre, ou seus afilhados, senão familiares, verem assegurado seu direito quase exclusivo de se elegerem.
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Em meio a tanta novidade nas eleições, o crescimento do PSOL, ainda contribui para fazer surgir uma luz no fim do túnel.
A descoberta, aqui em BH, como nos Estados Unidos com Trump agora, que o candidato pode dizer o que quiser e prometer o que prometer, que não irá valer nada sua opinião, se não tiver apoio de políticos, especialmente daqueles que obtiveram, do povo, o direito de representá-lo nos órgãos responsáveis pela fiscalização dos atos do Executivo, como são as Câmaras de Vereadores.
Que como sempre no nosso país, o candidato que sai batendo no outro transforma suas acusações em bumerangue, já que tornam seu advesrário um coitadinho.
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Por fim, temer não ganhou nada, apesar dos comentaristas seus amigos dizerem o contrário. Afinal, os verdadeiros embates vêm agora, com as medidas que visam aliviar o lado dos donos do capital e os grandes empresários, com evidentes ônus para a classe trabalhadora.
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Finalmente, amanhã comento a ideia nada nova, da Conmebol, copiando a CBF do Almirante Heleno Nunes, para quem se o partido da ditadura ia mal, um clube no campeonato Nacional.
Heleno Nunes foi o responsável pelo inchaço do campeonato brasileiro cujas consequências, embora possam ser consideradas remotas, ajudam a explicar a queda de qualidade técnica de nossos times e nosso futebol.
Talvez até os 7 a 1, de tão trágica memória.
É isso.

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