Por um posicionamento que poderia ser chamado de nihilista, até, e que expõe em toda sua crueza os pés de barro da maior liderança política do Estado, o senador playbou, Aécio Neves.
Menos que optar por Kalil em contraposição a João Leite, o comportamento adotado por parcela importante da população de BH foi ratificar, de forma definitiva, sua repulsa à um tipo de política que não levou em qualquer instante em consideraçao a vontade, as necessidades, o interesse popular.
A discordância com uma espécie de político e de modo de se fazer política ultrapassada, de conchavos e acertos de pé de orelha, de conversa mole e vazia de conteúdo, de autocelebração, sempre e tão somente para poder buscar sustentação para alçar vôos maiores.
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Em minha opinião foi essa a característica mais marcante dos governos de Aécio, cujas práticas foram repetidas mais tarde por seu menino de recados, o também ex-governador Anastasia.
No caso de Aécio, um governo que se propôs a fazer um choque de gestão que acabou com a situação sólida de caixa estadual a ele legada pelo governo Itamar Franco, e que se preocupou mais com a ostentação e as obras, ainda faraônicas, como a construção da Cidade Administrativa e seus acessórios, como o Boulevard e a linha verde, que visavam, em primeiro lugar, a valorização de terrenos de uma região de nossa capital onde, por acaso, Anastasia, era proprietário de imóveis. (e não investigadas ou comprovadas por ora), por empreiteiros responsáveis por sua construção como origem de um canal de pagamento de propinas e utilização de caixa dois.
Importa frisar que não se nega alguma racionalidade à instalação, em um mesmo local, de todas as repartições públicas estaduais, responsáveis pela prestação de serviços ao público. A questão no caso específico da cidade administrativa foi a distância do centro da capital, onde o acesso seria muito mais facilitado. Isso, sem contar com a questão de que havia outros locais e até outras construções, já prontas que poderiam servir para alojar as secretarias e órgãos integrantes da composição da máquina de administração estadual.
O resultado, além de uma construção cara que estourou os orçamentos previstos, e cheia de problemas ao menos em seus primeiros anos de funcionamento, foi que não conseguiu centralizar, nem mesmo apenas concentrar em um mesmo lugar toda a atividade da máquina do Estado, que continua tendo a necessidade de alugar prédios mais próximos da população que deve ser atendida, com os custos daí decorrentes e que eram os que se desejava evitar.
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Mas, não foi apenas esse o problema do governo Aécio, que promoveu uma reforma administrativa, que entre outras medidas, propôs aumentos diferenciados que privilegiaram mais os ocupantes de cargos e menos os funcionários menos graduados, em uma política bem ao estilo do governador, de favorecimento a seus amigos e iguais.
Fenômeno que, aliás, teve como ilustração cabal a realização de um jogo de futebol, entre Brasil e Argentina, o mesmo jogo que marca a volta da seleção ao estádio onde passou seu maior vexame.
Já naquela oportunidade pelas eliminatórias de Copa anterior, os privilégios e distribuição de convites para os amigos foram tantos que valeram o comentário e a manifestação contrária do comentarista Jorge Kajuru.
Bem, como todos hão de se lembrar, Kajuru não foi apenas demitido da rádio em que trabalhava, como por pressões feitas pelo imperadorzinho que ocupava o Palácio da Liberdade, teve de sair do Estado.
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Na noite de ontem, em programa que analisava o resultado das eleições, um cientista político afirmava que o erro de Aécio foi, diferente de seu avô, não gostar de fazer política no interior, mantendo controle e pulso firme sobre os deputados de sua base de apoio e suas bases eleitorais.
Acredito que a diferença possa ser essa, em parte, já que o menino do Rio preferia mesmo estar na orla da praia, e nas festas cariocas, que cortando o interior do estado que dirigia.
Mas, há outra diferença maior entre avô e neto: o avô era um democrata, e lutava pela liberdade, como compromisso primeiro do mineiro. O neto é um mero menino mimado, oportunista e pior, GOLPISTA.
E foi também esse traço de seu caráter que sofreu outra, mais uma derrota, nas eleições de ontem.
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Perdeu o poroso Aécio, como já havia perdido as eleições para presidente na capital do Estado que governou com mão de ferro, por doze anos. Tanto no primeiro como no segundo turno. E perdeu o governo de Minas, para alguém politicamente de situação tão frágil quanto Fernando Pimentel.
E torna a sofrer uma derrota significativa para seus sonhos e pretensões, com o Leito Ninho. Derrotados por um arrivista, neófito e oportunista dono de um discurso com grande carga de perigo.
Sinal de que não valeu compor com a imprensa, dominar o fraquíssimo jornal Estado de Minas, dos Diários Associados, obter benesses da Globo (a quem tanto ajudou) ou da Isto é, nem mesmo manter uma censura férrea em Minas, como vez por outra, algum site internacional mencionava em denúncias que nunca puderam repercutir.
A censura de Aécio, outro traço de seu caráter marcado pelo autoritarismo, acabou, por linhas tortas, tornando-se de conhecimento público, tendo se espalhado como se espalhavam as apostilas de textos proibidos, pelas escolas, na época da repressão da ditadura militar.
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O Leite Ninho perdeu por estar em má companhia, por estar com políticos que a população já havia manifestado não desejar mais no comando da política mineira.
E perdeu por ter, entre outras coisas, em minha opinião, por ter mostrado pouca firmeza e muito destempero.
Que seu pai tenha sido militar, que ele tenha nascido e se criado na Vila Oeste, que tenha passado alguma dificuldade em sua juventude, nada disso impedia que ele reconhecesse, até por conhecer bem a origem sem apoios, ter sido sim, um lutador incansável dos direitos humanos daqueles que falharam e cometeram atos contrários ao convívio social.
E isso não significou, em momento algum, em minha opinião, estar passando a mão na cabeça de bandido. Apenas que, mesmo falhando, todos merecem uma chance de recuperação e, se ainda não se recuperarem para a vida em sociedade, merecem, no mínimo, serem tratados com a dignidade que merece um ser humano.
Afinal, cada vez mais não se fazem campanhas para se libertar animais do cativeiro, não se prendem e condenam e se denunciam maus tratos a animais, e a sociedade não se horroriza com atos de crueldade e castigos contra animais?
E que contradição é essa que parece defender que seres humanos, mesmo que criminosos, não tivessem um tratamento ao menos semelhante ao que se exige para os animais?
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Por isso, em eleições anteriores, votei no João Leite, que defendia o que eu acreditava como defendeu com brilho o gol de meu time do coração.
Mas Leite Ninho, talvez até influenciado pela responsável de sua campanha, agora no segundo turno, passou a negar esse seu comportamento merecedor de elogios.
Preferiu ficar como presidente da Comissão de Segurança, para prender bandidos, conforme dizia nos debates, do que admitir que tinha sim uma diferença com o discurso de Kalil, que também adotava comportamentos sociais abjetos ou criticáveis: a de não acreditar que bandido não tinha direito a um tratamento digno.
Perdeu aí, meu voto, negando seu próprio passado, que deveria deixá-lo orgulhoso.
E saiu para uma baixaria de acusações, muito típicas de campanhas em que Andréa Neves esteja presente, de deconstrução do adversário, para depois acusar esse mesmo adversário de ter iniciado as trocas de acusações.
A população mineira já aprendeu com a experiência que essas acusações, não são nem significam propostas que irão melhorar sua vida no futuro.
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Quanto a Kalil, nem coxinha, nem mortadela, agora kibe, não apresentou nada de propostas concretas, nem promessas que não iria cumprir.
Foi um discurso típico de um vazio completo de programa de ações. E perigoso, por alguns de seus comentários, seja acusando João Leite de passar a mão em cabeça de bandido, seja de que vai armar a guarda municipal, vai fazer um governo, conversando com todo mundo ... ou não conversando com ninguém, dado seu caráter autoritário até na hora que agradece por ter aprendido com o povo.
Pior, embora não seja cientista político, e seja apenas curioso no tema, acho que seu discurso dá margem à criação de verdadeiros aproveitadores da boa fé do povo, para alicerçar um governo populista, voluntarista, e muito próximo de alguns acontecimentos históricos que permitiram a ocupação do poder por alguns nomes como os de Hitler, Mussolini, e outros políticos autoritários famosos.
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Mas, isso é um risco apenas, e podemos como sempre nos surpreender com a administração e comportamento de Kalil.
E que seja uma administração de segurança e paz. Mas sobretudo respeito aos direitos humanos, e não alguém que trata presidiários ou bandidos, como ele deu a entender que deveriam ser tratados. Nem as mulheres, com o desrespeito que tentaram lhe imputar. Nem os trabalhadores, como o acusaram de fazer com os empregados de sua empreiteira.
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Aesse propósito, apenas gostaria de terminar, deixando uma mensagem gravada, para que ela não se perca, ao menos em minha memória, sem compartilhá-la com outros.
Diz que o menino pequeno perguntou ao pai: papai, se matarmos todos os bandidos vão ficar só os homens bons, não?
_ Não meu filho, respondeu o pai. Vão ficar os assassinos.
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É isso.
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