quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Uma reflexão necessária sobre os resutados do Enem e o princípio da meritocracia. O Galo e mais um distanciamento do líder e o aniversário, ontem, da Constituição de 1988

O resultado do ENEM divulgado no início dessa semana impõe que sejam feitas algumas reflexões necessárias.
Menos pelo que ficou escancarado, a piora da qualidade da educação de nível médio em nosso país, em relação ao ano anterior, ou à baixíssima qualidade dos serviços prestados pela rede pública de ensino.
E não apenas pelo ranking em si, mas pelo fato de que mais de 90% das escolas públicas tenham ficado abaixo da média, número por si só preocupante, não fosse o fato de que quase um quinto, mais apropriadamente 17% das escolas privadas também não alcançaram a nota média.
Ou seja, o ensino médio no nosso país, entrou coitado, na UTI, nesses dias em que a saúde dá sinais de estar deseducadamente ruim.
***
Um dado curioso, é o fato de que as melhores escolas públicas, segundo as divulgações, foram as de ensino técnico ou as federais. O que levará muita gente boa a dizer que isso pouco importa, já que os números não mentem e a situação não é para se ter qualquer condescendência. O número de escolas ruins é muito grande e ponto.
O problema é que pela nossa legislação e a distribuição de funções por ente administrativo, a responsabilidade da prestação do ensino médio é de âmbito estadual, como a do ensino fundamental é do município, cabendo à órbita federal o ensino superior.
Nem precisamos dizer que, de longe, o superior é o mais bem atendido de todos, graças às universidades públicas. A questão é descobrirmos que o ensino médio melhor também é aquele gerido pela esfera federal. Razão para que, ao se discutir uma possível reforma para o ensino médio, que poucos irão afirmar que não é necessária, uma das questões que deveriam ser debatidas e, quem sabe até implementadas, é aquela que já foi objeto de algumas discussões até recentes, ou seja, a de se transferir para o âmbito do MEC, federal, a responsabilidade pelo fornecimento do ensino médio, por sua maior capacidade na área.
***
Aliás, vale uma observação, que cada vez mais fica evidenciada a necessidade de uma reforma do ensino médio, não se discute. E nem venham alucinados de toda espécie dizer que o resultado do Enem serve para mostrar tal urgência e que serve para derrubar os argumentos contrários de esquerda.
Isso é querer enxergar assombração onde as pessoas mais mal intencionadas estão muito vivas, e até escrevendo artigos para revistas semanais.
Ninguém em sã consciência pode ficar contra a necessidade imperiosa de se fazer uma reforma. Ninguém é contrário à extensão do horário da jornada escolar para o período integral. Ninguém pode ser contrário ao fato de que o ensino em país de dimensão continental como o nosso, e com tantas diferenças e problemas, inclusive para a inclusão e pior, para a manutenção dos alunos em sala de aula, deve ter matérias e currículos que atendam à necessidade específica regional, ou às demandas mais prementes da localidade onde os alunos moram e irão trabalhar.
Todas essas ideias, desde há muito tempo foram apresentadas por educadores que viam a educação como a ferramenta necessária para romper o atraso de nosso país, e o modo de conquista da inclusão social e da conquista da cidadania.
Desde as ideias de Anísio Teixeira, até os Cieps de Darcy Ribeiro no governo Brizola, não há como negar que alguns elementos anunciados da Medida Provisória já eram propostas, pensando o Brasil e a educaçao de sua população sem viés ideológico, exceto o de querer possibilitar o acesso ao conhecimento de qualidade a todos.
***
Em todas as propostas se teria um núcleo duro, central, de que não se poderia abrir mão e, daí em diante, abrir-se-ia um leque de disciplinas e matérias distintas, específicas e com conteúdos e grau de aprofundamento diverso, de forma a atender às demandas locais.
O problema maior seria em relação à preparação das escolas e do corpo de professores para cumprir tal tarefa.
Isso, porque, embora seja muito ruim para alguém que seja da área comentar, afinal o corporativismo campeia à solta, talvez o problema primeiro que teria que ser resolvido, já que poucos desconhecem sua existência é a qualidade muito ruim da formação dos professores, e a qualidade ruim, e não me refiro apenas ao ensino médio, que eles apresentam.
A ponto de achar que se fossem submetidos à provas do tipo Enem, os resultados dos professores seriam, digamos para contemporizar, algo surpreendentes. Por semelhantes.
***
Considerando-se esse problema gravíssimo, já percebemos que a implantação da reforma teria dificuldades muito sérias, o que poderia acarretar a concentração pelo menor custo ou pela maior facilidade, de oferta de matérias em algumas áreas gerais, nada voltadas para a especificidade que se procurava.
De mais a mais, em meio a uma sociedade que dá sinais de estar em rota de completa regressão em valores, costumes, posições políticas, etc. seria muito interessante ver as matérias complementares serem todas em áreas ditas tecnológicas, ou matemáticas, sem pessoal qualificado, apenas para evitar que conteúdos ditos políticos pudessem ser oferecidos.
Formaríamos assim, mal formados, pessoas que pouco saberiam do conteúdo técnico, já que alunos de alguns mestres que tampouco saberiam do conteúdo que estariam ministrando, tudo para escapar da discussão de filosofia, sociologia, até história, matérias que trazem um conteúdo sempre de contestação, de crítica, de visão ideológica e comunista???!!!
E com isso, a escola sem partido poderia ser implantada apenas por estar na mão das escolas das distintas regiões, o que elas consideram que seria mais benéfico para os filhos dos.... pobres cuja submissão deveria ser assegurada.
Para que isso possibilitasse o aumento da produtividade, fruto da disciplina do trabalho. Ou de simples domesticação.
***
A opção de ofertar as disciplinas complementares sob a responsabilidade das escolas, de um lado, permitiria que os alunos de 14, 15, até 17 anos, ingressantes no ensino médio tivessem que decidir o que gostariam de cursar tendo em vista sua perspectiva de vida.
Tal decisão na idade que deveria ser adotada, já seria um crime, já que nesse momento de vida, ninguém em sã consciência pode acreditar que os jovens têm como saber o que será melhor para eles. Afinal, nem mesmo sabem bem o que querem, depois, quando da escolha de que curso superior que irão fazer.
Mas, tal problema nasce resolvido, por que a decisão será da escola e, com poucas oportunidades para fugir do que será o bloco de escolhas de matérias mais comuns, os alunos ficarão a mercê daquilo que lhes for apresentado.
***
Sem me alongar muito mais, uma reforma que fosse trazer resultados deveria consultar, primeiro a professores, educadores, orientadores, psicopedagogos, pedagogos, etc, diretores e proprietários de escolas, e até chegar à consulta popular mais ampla, não devendo ser decidida da forma autoritária que foi, através do envio de uma medida provisória.
***
Outra questão relevante a se discutir, e refletir, tendo em vista as notas do ENEM é aquela que as peneiras tentam, tentam, mas não conseguem impedir de vazar a luz do sol, ou a cristalina água.
Trata-se da questão sempre clamada da meritocracia, em geral, cobrada por todos aqueles que não vieram de escolas públicas, não tiveram ensino de qualidade tão ruim, vieram dos níveis de classe social e de renda que permitiram a eles frequentar as escolas que obtiveram melhor nota nos exames realizados.
Ou seja, fica cabalmente demonstrado que todos os que cobram a implantação do regime de mérito o fazem apenas por interesses próprios, egoísticos, ou até corporativos, de grupos sociais de que fazem parte.
Não pode existir mérito, em quem não tem acesso a qualquer conteúdo de qualidade da transmissão do ensino, ou da apropriação do conhecimento.
E aqui mais uma vez, percebemos a necessidade de, em nosso país e nossa sociedade, os fatores de produção, o conhecimento assim considerado, ser mais acessível à ampla maioria da população. E não apenas dos eternos proprietários de terras, máquinas, indústrias, e saberes.
Sob pena de nunca conseguirmos evoluir para uma sociedade mais justa, capaz de contemplar e lidar com todas as suas desigualdades. Claro, desde que tais desigualdades não sejam tão gritantes, a ponto de criar verdadeiros párias, multidão de analfabetos funcionais e políticos, e pessoas sem qualquer dignidade e cidadania.
***
Outro ponto que merece destaque, é se verificar que a grande maioria dos colégios particulares, são escolas que, embora algumas voltadas para preparar alunos para o vestibular, para concursos e provas, e não para a vida, têm a preocupação de fazer essa preparação ao longo de todo o tempo de curso, e não apenas na base de cursos de recuperação ou intensivões, de fim de ano.
A maior parte das escolas bem qualificadas é de escolas que são consideradas sugarem exageradamente os seus alunos em todo o período de formação, abusando de exercícios, provas, deveres de casa, etc. Ou seja, são consideradas muitas vezes máquinas de criar doidos ou frustrados, o que lhes vale muitas críticas.
Algumas não deixam as crianças ou jovens aproveitarem seu tempo de juventude e infância, mas aprovam. Isso é o que conta quando os rankings tornam-se tão importantes.
O que me leva a perguntar porque as notas de cada aluno ou as médias de cada colégio não são mantidas sob informação apenas do próprio colégio, o principal interessado a saber em que matérias ou conteúdos seus alunos estejam mais ou menos preparados.
Por que a divulgação feita e a transformação das notas em ranking ou concurso apenas é mais um lance de espetacularização do que deveria ser tratado de forma menos espetaculosa. Por seu próprio bem.
***
Ninguém fez uma outra análise, que me chamou a atenção em relação, ao menos de escolas bem avaliadas em Belo Horizonte, minha cidade.
Trata-se de que, grande parte das melhores escolas avaliadas é confessional, ou seja, ligadas à secular tradição de prestação de serviços de ensino de colégios religiosos.
Dentre as escolas bem classificadas encontram-se o Colégio Santo Antônio, o Loyola, o Santo Agostinho, em várias de suas unidades, o Santa Dorotéia, o Santa Marcelina, etc.
Não vi em outros estados, mas sabemos que Santo Inácio e outros colégios religiosos são sempre considerados entre os melhores.
Não são os únicos e nem os melhores ou primeiros classificados - posição ocupada pelo Bernoulli em BH.
Mas seria interessante comparar esse tipo de ensino que, até pela sua origem, não deveria ser muito preocupado apenas em ensinar nossa juventude a fazer provas e concursos.
***

Alterando o rumo da prosa

Vá lá que o time estava sem 7 titulares recentes, já que Luan, Marcos Rocha não podem ser considerados como desfalques tão pouco jogaram durante o ano.
O que me leva a questionar o que anda acontecendo com um time que tem, conforme consta, um dos melhores, senão o melhor preparador físico do país, o médico da seleção brasileira, um departamento médico e equipamentos de fisioterapia de primeiro mundo, e que o jogador que acaba de ser liberado, já na primeira partida se contunde e volta para o estaleiro?
Algo estranho e curioso anda acontecendo no Galo, e a última vítima de tanto problema foi Maicosuel.
Mas, mesmo com tanto reserva em campo, o meio campo tinha Leandro Donizete que acho muito ruim para um time da qualidade técnica do Galo, mas que ontem jogou bem, com disposição, garra e fazendo sua função, de dar o combate direto antes da zaga.
Tínhamos Robinho, Fred e Clayton, todos que vêm jogando há vários jogos e nosso ataque simplesmente não existiu. No segundo tempo, então, nem parece que o time estava em campo. E falo do ataque, que todo mundo sabe e concorda que é o melhor que o time tem apresentado em todo o campeonato.
A rigor, apenas dois lances bisonhos de Hyuri, muito pouco para 90 minutos de jogo.
A defesa esteve bem, com a exceção de Fábio Santos que me convence, a cada jogo, que o Atlético fez mal em vender Douglas Santos, muito mais jovem e com futuro mais promissor.
***
E não me venham dizer que o Atlético estava jogando com 10, porque isso só aconteceu a partir dos 30 e tantos minutos do segundo tempo, depois de o Galo já não ter feito nada até aquele momento.
Mas, mais uma vez, Marcelo trocou mal, pondo Patric, ao invés de já ter entrado de uma vez com Dátolo. E deixando de por Carlos Eduardo, para jogar, e não ter que reclamar depois que a bola não chegava até Fred.
***
O Galo está cada vez mais distante, e se afastando mais do líder, o Palmeiras, e até deixando que o Flamengo se distancie. E as falhas são nossas, o que é uma pena.
Mais uma vez que nossa incompetência está impedindo que o sonho de voltar a repetir o feito de 1971 se torne realidade.
***

Enquanto isso

No Supremo, ao invés de se cobrar mais agilidade na análise e resolução dos recuros, ou como o fez o miinistro Celso Mello, ao invés de se cobrar modificações na legislação que cuida do processo recursal, ou da mudança de leis que possam dar cobro ao número absurdo de práticas meramente delongatórias, os defensores da Constituiição patrocinaram a negação de um dos princípios ali inscritos.
Até entendo que agiram de acordo com a cobrança cada vez maior da sociedade para que se acabe com o que se chama paraíso da impunidade no país. Mas, devemos admitir que a maioria da sociedade ao cobrar a adoção de medidas mais eficazes do Supremo para punir os culpados, têm em vista apenas a questão dos políticos que recentemente dominou a atenção de todos.
E, com a adoção cada vez mais de um comportamento conservador, de cunho regressista, é lícito supor que não seria a sociedade, nessa hora,  boa conselheira para que se interpretasse aquilo que a Constituição traz de forma cristalina, como o seu oposto. A negação da lei maior, isso por quem a jurou interpretar para fazer cumprir.
Esse o presente que o Supremo deu à Constituição cidadã, no dia de seu aniversário de 28 anos.
É isso.

Nenhum comentário: